–O que tá rolando? –Ju interroga nos encarando curiosa. Agora todos, repito: TODOS os olhos de pessoinhas presentes na garagem estão sobre nós e eu estou agarrado na cintura de Alice, afinal acabei de impedi-la de cair.

–Carma. –Alice e eu sussurramos ao mesmo tempo.

–E-eu tive uma tontura. –Alice disse se afastando rapidamente de mim e levando a mão á cabeça.

–Ai meu Deus Alice. –Ju se aproxima e põe a mão na testa de Alice com uma expressão preocupada. –Você tá melhor?

–To sim. –Alice responde meio sem jeito.

–Olá A-li-ci-nha! –Glória berra e então se gruda em Alice. –Me conta mais sobre a noite de ontem.

–G-Glória. –Alice encara a ruiva estabanada em pânico.

–Nada de papos sobre garotos aqui. –Sean diz chegando e dando um tapinha na nuca de Glória, que se vira para beija-lo.

–E aí Sean, já decidiram? –Alice interroga o que eu estava louco para perguntar.

–Sim... –Sean faz uma cara meio triste e abaixa os olhos.

–Aff, não vai me dizer que só por causa do Mike vocês-

–Ele tá dentro!

Logo Jerry vem e me levanta do chão com um abraço de urso. Juro que não to acostumado com esse tipo de coisa.

–Jerry será que posso falar com você a sós? –Interrogo e Jerry acena um sim, então caminhamos até o quintal.

–Não vai me dizer que desistiu da ideia da banda, cara. –Ele interroga quando já estamos no quintal.

–Não é isso. Preciso falar com Alice e resolver essa coisa toda, mas com a Ju por perto não tem como eu-

–Aí agora sou a distração de plantão do casalzinho, vê se pode. –Jerry joga o cabelo para trás com uma cara engraçada e então se afasta. Ele volta para perto do resto do grupo e sai arrastando Julie pelo braço. Eu deveria sentir ciúmes desse relacionamento dos dois...

–Glória será que posso falar com Alice a sós? –Pergunto e Glória faz cara de zangada e se afasta sussurrando um “to de olho”.

–Vocês já se conheciam? –Alice pergunta assim que ficamos a sós.

–Eu conheci Glória e Ju ao mesmo tempo.

–Ah sim. Então... Agora você é oficialmente parte da banda. –Ela diz meio sem jeito.

–Pois é...

–Legal.

–Né? –O que? É complicado falar alguma coisa sendo que nem consigo pensar direito.

–E como a gente fica? –ela dá um tapinha na testa como se tivesse falado a maior besteira do mundo. –Quero dizer... A gente não fica, mas... Hã eu não quero ficar te ignorando, você é um cara legal e a gente se entende bem, e agora vamos nos ver com frequência e... Bem...

–Podemos tentar ser amigos, o que acha?

–Perfeito. –Alice sorri e me dá um beijinho no rosto. Pense em uma missão mais impossível que esse lance de “só amigos”...

Maldita ideia idiota. “Nhénhénhé vamos ser só amigos”. Onde eu tava com a cabeça? Dois meses se passaram desde essa sugestão, dois meses carregados de tensão sexual, momentos constrangedores e a porcaria do “só amigos”.

Não que eu não goste de ser amigo da Alice, nossa amizade é perfeita e somos capazes de passar horas conversando sobre bobagens ou assuntos filosóficos, sobre tudo e nada.

Mas... Porra, é quase impossível estar perto dela sem querer toca-la, beija-la e... Bem, melhor parar por aqui.

E meus sonhos com ela ocorrem pelo menos duas vezes por semana, e alguns deles não têm nada a ver com amizade ou momentos fofos.

Para ser mais claro: enquanto o resto da banda e Alice discutem sobre a mudança de nome da Diamond Lie (o nome não agradou alguns “prováveis clientes” ou algo assim, eles acharam fraco) eu estou desenhando um desenho nada puro baseado em um sonho que tive na noite passada.

–Cara... Que porra é essa? –Jerry interroga se curvando em frente ao meu caderno e analisando meu desenho. Quando ele chegou tão perto que não notei?

–É um desenho, oras. Jer você já ouviu falar em privacidade?

–Já, mas não gosto dessa palavra. Cara... Essa garota acorrentada é a Li? –O que? Eu não consigo controlar meus sonhos. E em minha defesa declaro que sou um cara romântico e q eu não fazia ideia de que um lado meu tinha uma queda por BDSM¹

–Alice acorrentada? Como assim. -Sean interroga com uma sobrancelha erguida enquanto Mike faz cara feia e Alice me encara.

–Não-é-ela! –Digo destacando cada palavra. Claro que é ela, mas não sou doido de assumir isso e morrer aqui.

–Parece ela... –Jerry diz e então puxa meu caderno com tudo, mostrando aos outros. –O que vocês acham?

–É ELA. –Mike diz irritado enquanto ele e Sean se aproximam. Mike e eu ficamos amigos de uns tempos pra cá, mas quando o assunto é a Alice a tal amizade é esquecida.

–Layne seu pervertidinho safado. –Sean diz enquanto se aproxima e me dá tapinhas na cabeça. Acho que de tanto andar com Alice peguei a má sorte dela. - Como você quer que eu te mate? - Ele interroga com um sorriso malicioso.

–Não é ela. –Repito

–O que você acha Alice? –Jerry interroga mostrando o caderno para ela e Alice levanta uma sobrancelha com um olhar meio perdido.

–Se ele diz que não sou eu, é porque não sou eu, oras.

–Ela deve ter gostado isso sem. - Mike diz indignado. –Alice tem uma queda por BDSM, essa pervertida com tara por arranhar e morder. –Nossa legal saber que ela já teve momentos tão íntimos com o Mike...

–Mas minha irmã faz o tipo dominatrix, não? –Sean diz fingindo indignação. –Ela jamais se permitiria ser acorrentada.

Logo um par de tênis voa em nossa direção, por pouco um deles não me acerta.

–Parem de falar da minha vida sexual.

–Se você ao menos tivesse uma... –Sean diz com um sorriso maldoso. Sean é o irmão mais fofo desse mundo, só que não.

–Ora seu-

–Gente até que soa legal. –Jerry diz e logo sente nossos olhares todos em cima dele. –Alice, correntes... Alice in Chains². Soa legal, não acham.

–Principalmente se isso fizer ela ficar quieta. –Sean diz rindo e logo leva um tapa na nuca.

–Não, não é disso que to falando. O nome pra banda, Alice in Chains. –Jerry diz sorridente.

–Sabe que eu gosto da sonoridade desse nome? –Digo e logo me arrependo, Alice está me encarando furiosa.

–O que vocês andaram fumando hein? É meu nome.

–A gente sabe. –Mike diz e sorri. –Mas é o nome da banda também á partir de agora.

–Sean uma ajudinha aqui.

–Eu acho que fica legal Alice... Mas se você quiser ainda mato o loirinho. –Sean diz me apontado.

–Cara se você fizer isso a gente vai precisar de um novo vocalista e um novo baterista, afinal não vai dar pra você tocar da cadeia.

–Droga, é mesmo. Mas to de olho hein, loirinho. –Sean faz cara de mau e levanta os punhos. Não consigo evitar o riso.

–Então vocês vão mesmo deixar o nome da banda ser Alice in Chains? Já pararam pra pensar que quem arruma os shows pra vocês sou eu e que os clientes vão relacionar o nome da banda á minha pessoa.

–Considerando que os clientes em questão são caras que já foram afim de você, senhorita princesa do gelo. Eu diria que eles já imaginaram coisas assim... Ou piores.

–Sean eu te odeio.

–Mentira, você me ama insanamente e não sabe o que seria de sua vida se não fossemos irmãos. Ou talvez você tentasse se casar comigo caso não fossemos.

–Aff que nojo Sean. Mas é sério, vocês vão mesmo usar esse nome?

–Faz o seguinte, a gente usa uma vez, e se não der certo mudamos. –Jerry diz.

–É, quais são as chances do povo aceitar um nome tão pervo sendo todos tão fingidos a puritanos? –Mike sorri e bagunça o cabelo de Alice. Não Layne, você não está com ciúmes, não está.

–Então é isso. –Sean ergue as mãos e sai correndo ao redor da gente de um jeito engraçado. –Sério esse cara precisa de um psiquiatra. –Vamos comemorar a decisão do nome, bora chamar a Glória e a Ju.

Todos saem andando e eu fico para trás, segurando o braço de Alice para que ela fique também.

–Desculpe, eu não imaginei que isso pudesse acontecer. Se eu soubesse que Jerry iria ver meu desenho eu-

–É isso o que sou?

–Oi?

–É isso o que sou Lay? Uma fantasia erótica?Sua relação comigo é algum tipo de fetichismo? Eu achei que o lance entre nós fosse mais que isso.

–E é Alice.

–Bem, não parece. Agora a banda de vocês tem meu nome envolvido com correntes graças á um desenho seu.

Ótimo, me sinto um babaca. Eu gosto da Alice, gosto mesmo. Gosto de estar com ela, de observar seu sorriso, seu olhar... Ela é... Importante. Mas como posso deixar isso claro?

A puxo para perto de mim e encosto minha testa na dela, sua respiração fica mais forte e ela tenta se afastar, mas não deixo.

–Você é importante, você é bem mais que isso, e eu adoraria passar horas citando coisas que gosto em você que não tem nada a ver com o fato de você ser gostosa.

Alice me encara com um olhar confuso e então aliso seu rosto.

–Layne o que exatamente você quer dizer?

–Alice eu... Eu acho que estou... –Diga Layne, de uma vez só e tudo ficara mais fácil. É simples dizer “acho que estou apaixonado por você”. Então desenrola, anda.

–Alice eu acho que eu estou...

–Sério Ju, eu acho que eles já foram. –Ouço a voz do Jerry dizer bem alto, como se fosse um aviso.

–Eu vim pela rua do bar e não vi eles por lá Jerry. Oi gente! –Ju chega toda alegre agitando os braços para nós dois. Porra, a ligação do Sean foi tão rápida assim? Tinha que ser logo agora? –Falei que eles estavam aqui? –Ju diz com um ar de vitoriosa.

–Ah é, eles estão.

–Porque vocês ainda estão enrolando aqui? Os meninos falaram que temos algo a comemorar.

–Ah, não, é que eu tava falando pro Lay que vou amarrar ele em uma cadeira e obrigar a comer algo quando chegarmos lá no bar, ele tá meio magro. –Alice sorri E bagunça meu cabelo. Não é anormal pra Ju nos ver agindo assim, pois ela sabe que somos amigos e não é de ficar bancando a maníaca ciumenta.

–Talvez você devesse comer também, pra ver se cresce mais. –Mostro a língua para Alice e a coloco no ombro, carregando-a enquanto Ju e Jerry dão risadas.

Quero dizer para Alice que gosto dela, mas como podemos tentar algo sem estragar nosso grupo?