Melanie se atirou nos braços do marido como uma criança faz no colo de um pai quando está com medo. A mulher derramou grossas lagrimas e dessa vez deixou cair toda a mascara que mantinha diante de todos. Belinda estava sentada no sofá com a cabeça apoiada nos braços que estavam sobre os joelhos e Suzane estava sentada na poltrona individual com uma expressão derrotada no rosto.

Os homens estavam com expressões indecifráveis no rosto. Alguns notariam de cara uma expressão de fúria, e outros veriam descontentamento, mas para os mais observadores, o sentimento encoberto nos olhos daqueles homens era de orgulho.

Orgulho sim. Orgulho de terem criado homens e mulheres fortes. O trabalho deles estava cumprido. Eles podiam ver em cada filho, que eram homens e mulheres de fibra, que mesmo tendo passado por alguns obstáculos no caminho, conseguiram superar tudo e agora estavam ali, diante deles mostrando o quão forte a vida os havia tornado.

Quando chegaram a cidade e viram tantos outdoors e catálogos ou revistas de propaganda, sentiram que algo novo estava por vir. Eles se mantiveram distantes fisicamente por um longo tempo. Eram culpados por todas as coisas das quais foram acusados por seus filhos, mas na mente deles, aquilo era o certo a se fazer.

A idéia era torná-los fortes, mas eles tinham em mente que nos primeiros problemas suas crianças fossem correr par ao colo deles, mas eles fizeram o oposto de tudo isso. Ele se agarraram uns nos outros e criaram um vinculo tão forte que foi capaz de suprir toda a falta que eles deveriam fazer.

Na cabeça de Melanie, era havia falhado. Para Suzane, nenhuma realização que ela poderia ter na vida seria maior do que o desprezo que estava recebendo da filha. No caso de Belinda, era culpa o que ela carregava, culpa por ter conseguido tornar um pouco mais duro o coração de ouro que seus filhos possuíam.

–Vamos acabar logo com isso Melanie._Julius se pronunciou._Gostando ou não eles ainda são nossos filhos e tem que nos ouvir.

Melanie sorriu triste e balançou a cabeça em negação.

–De nada adianta agora Julius... A casa é deles e eles são de maior. Podem nos tirar daqui a hora que bem entenderem.

–Kassandra e Samantha ainda são de nossa inteira responsabilidade, e a minha filha vai pra casa comigo agora mesmo._John disse com a expressão pesada.

–Acaso esqueceu que SUA filha agora é de inteira responsabilidade do irmão dela, que por sinal é o SEU filho?_Belinda se alterou._Saímos dos país e por isso Kayle se tornou responsável legal por ela, assim como o Peter deu a Anelize a responsabilidade sobre Samantha. Nenhum de nós está em posição de exigir nada.

–Fale por você Belinda._Suzane disse se levantando._Eu sei o que farei.

–E o que pretende?_Peter perguntou.

–Fazer a única coisa que a minha posição atual me permite._A mulher disse rumando para as escadas.

–E o que seria isso Suzane?_Melanie perguntou.

–Pedir desculpas a minha filha e pedir a Deus que ela aceite.

Ao dizer isso a mulher seguiu rumo ao andar de cima e passou por vários quartos diferentes.

O primeiro dizia: Princesa do Kay, e ela identificou como o quarto de Anelize.

O segundo dizia: Pirralha do Bry, e ela identificou como o quarto de Kassandra.

E o terceiro dizia: Nanica do Brand, e ela percebeu que era o quarto de Samantha.

Todos estavam vazios.

Do outro lado do corredor havia mais quartos, aparentemente do mesmo tamanho.

Na porta do primeiro dizia: Mantenha distancia caso não queira que a Ize te mate. Era com toda certeza o quarto de Kayle.

O segundo dizia: Propriedade privada da Kassie. E era sem duvida o quarto de Brian.

Por ultimo no terceiro quarto dizia: O ursinho da Sam. Bear Brand. E era o quarto de Brandom.

Suzane notou que não era a única naquele corredor. Suas irmãs, seu marido e seus cunhados também estavam ali e a maioria deles sorria com os nomes nas portas.

Por mais que eles demonstrassem amadurecimento, era notável que na alma ainda eram as mesmas “crianças” brincalhonas de sempre. Era estranho pensar nos filhos como casais, mas no fundo sempre souberam que isso aconteceria. Não que fosse algo que eles aceitariam de bom grado caso tivessem escolha.

Ouviram o barulho de vozes no final do corredor e devagar seguiram o caminho do som baixo.

–Eu não consigo Bry..._Kassandra chorava compulsivamente nos braços do rapaz._Eu estava com tantas saudades, e agora está todo mundo triste.

–Não chore Kassie, por favor, eu preciso que seja forte meu amor._Brian tentava consolar a garota._Por nós.

–Vai passar Kassie._Kayle dizia enquanto afagava Anelize que ainda soluçava em seus braços._Como sempre passa.

–Não Kay..._Foi Anelize que respondeu._Eu sonhei tanto com essa noite._Ela dizia entre soluços._Sonhei com tudo. Com o nosso desfile... Mas sonhei ainda mais com a volta deles. Eu ainda tinha esperanças amor. Esperanças de que eles diriam que estavam orgulhosos e que nunca quiseram abandonar a gente assim.

–Que se pudesse voltariam no tempo e concertariam tudo._Samantha completou em lagrimas.

–Não pensem assim meninas, por favor._Brandom se pronunciou._Se aconteceu assim é por que devia ter acontecido. Pensem em tudo o que passamos sim, mas pensem também em tudo o que conquistamos, e que se tivesse sido diferente, talvez nada do que temos hoje nós teríamos agora. Nada.

–Que foi difícil não da pra negar, mas também é inegável que cada um de nós cresceu como jamais imaginou que poderia crescer na vida. Crescemos em todos os sentidos da palavra._Kayle disse fazendo os meninos segurarem uma risada e os homens que ouviam a conversa torcerem o nariz._E agora podemos fazer nossas escolhas.Somos livres para escolher. As meninas podem quere voltar para casa, ou trocar a faculdade. Qualquer um de nós pode. O que temos que considerar é o que teríamos que deixar pra trás para podermos voltar a ser como antes.

–Eu não me arrependo de nada._Brian disse com um sorriso triste._eu faria tudo o que fiz outra vez e quantas vezes fosse necessário, pois se nada do que aconteceu tivesse acontecido, agora provavelmente não poderíamos estar tendo esse momento.

–Somos uma família agora._Brandom se pronunciou._E devemos agir como tal.

–Faremos isso meu amor._Samantha enxugou as lagrimas._Como temos feito há tanto tempo.

Nesse momento seis figuras entraram no campo de visão deles. Belinda Haines correu até a filha e a tirou dos braços de Brian. Olhou nos olhos da menina e a puxou para um abraço cheio de lagrimas.

–Eu também estava com saudades meu amor. De você e do seu irmão. Dos seus primos e de tudo isso meu amor._A mulher disse fazendo a menina voltar a derramar grossas lagrimas.

–Eu me orgulho de você Anelize._Melanie começou._Me orgulho de Brandom e me orgulho de Brian. Me orgulho das pessoas que vocês se tornaram e me envergonho por saber que a minha contribuição pra isso foi quase toda negativa.

–Uma coisa é inegável._Suzane tomou a palavra atraindo a atenção de todos._Nós amamos vocês.

Samantha se soltou dos braços de Brandom e correu ao encontro dos pais. Se jogou nos braços do pai e abraçou carinhosamente a mãe que chorava compulsivamente.

Kassandra abraçou a mãe com um tanto de receio, mas foi apertada por um abraço inesperado do pai que parecia querer nunca mais soltar a garota.

Anelize sorriu e caminhou em direção a mãe que a recebeu em um saudoso abraço.

Os rapazes olhavam a cena com sorrisos estampados no rosto. Os mais velhos sabiam que seria muito mais difícil reconquistar a confiança dos rapazes, visto que as meninas eram mais sentimentais que eles e por isso perdoaram com mais facilidade. Sem contar o fato de que toda a responsabilidade foi jogada sobre os ombros dos três jovens em questão.

Belinda beijou carinhosamente o rosto do filho e dos sobrinhos em um pedido mudo de desculpas. As outras duas mulheres repetiram o gesto.

Julius apenas deu tapinhas amigáveis nas costas dos dois filhos e lançou um sorriso nada amigável na direção de Kayle.

John repetiu o gesto do cunhado e Peter apenas lançou um olhar ameaçador para Brandom.

Os jovens ignoraram os respectivos “sogros” e voltaram a puxar as meninas para si em um ato visivelmente possessivo e protetor.

–Me desculpe mamãe._Anelize começou._Não devíamos ter mentido.

–Não se preocupe querida._Melanie sorriu amarga._Demos essa liberdade a você no dia em que cruzamos as fronteiras para fora desse país.

–Eu sei que esquecer é impossível, mas queríamos uma chance para recomeçar._Belinda pediu.

–Tentem não sumir outra vez._Kayle sorriu de lado e caminhou rumo à porta.

–Tem quartos de hóspedes arrumados caso queria ficar essa noite._ Brandom disse apenas.

–Vamos dormir._Brian disse em tom de ordem.

As meninas assentiram e todos caminharam rumo aos quartos.

–Eu ainda estou aqui Kayle._Julius disse alto._É bom manter distancia do quarto da minha filha.

–Com prazer._Kayle deu de ombros e puxou Anelize para o quarto dele e em seguida fechou a porta.

Os outros seguraram uma risada no momento em que Julius ameaçou querer derrubar a porta.

–Deixe disso querido._Melanie disse e John sorriu de canto, orgulhoso da coragem do filho._Eles já estão bem grandinhos.

Brandom e Brian riram disfarçadamente do duplo sentido encontrado nas palavras da mãe, que por sinal Julius também entendeu, e aumentou ainda mais a carranca.

–Boa noite_Brandom disse alto.

–Nos vemos mais tarde no seu quarto._Brian sussurrou alto o suficiente apenas para irritar o tio, que cerrou os punhos.

Erros não justificam erros, mas motivos às vezes podem mudar uma opinião.