I Will Be Waiting escrita por JotaBe


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

POV DA JANE ACRESCENTADO :3 Capitulo dois, pronto! Sofri pra continuar! Mas espero que gostem, boa leitura meus bebes.



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ADAM CARTER

Los Angeles – Califórnia: 5 de novembro, 2010.

A luz do sol incendiou o quarto e refletiu tudo em que nele estava. Tentei levantar, mas não tive muito sucesso, cai sentado em minha cama atordoado e semi-consciente. Levantar seria um problema agora. Minha cabeça doía e eu tinha ânsia de vômito. Corri meus olhos pelo quarto, havia duas garrafas de vodka pela metade, uísque nos copos e dois cigarros – que eu tinha certeza que eram muito mais do que apenas tabaco – e roupas espalhadas pelo chão, algumas não eram minhas. Não me lembro de usar sutiã. Olhei para o lado e deparei-me com o corpo nu de uma mulher, deitada, respirando tranquilamente. Devia ter uns 25 anos, cabelos negros, e pele clara, quase raquítica mas muito bonita.
Essa seria a centésima vez do ano que tento reconhecer alguém que por mera coincidência acabou nua em minha cama. Ela começou a se mexer. Respirei fundo. Qual seria o mais apropriado? Bom dia, ou quem diabos é você?

Ela abriu os olhos e sorriu pra mim. Ao menos eu era um rosto familiar para ela.

– Estava me vendo dormir? – ela perguntou ainda sorrindo.

‘’Não. Só pensando na maneira mais rápida de te tirar do meu apartamento’’, pensei.

Permaneci quieto.

Ela veio engatinhando até mim, beijava meu pescoço enquanto dizia:

– Ontem, foi à noite mais maravilhosa da minha vida.– sussurrou – Eu sinceramente poderia dizer que te amo.

Empurrei-a, como se fosse um reflexo às suas palavras.

– Se vista. Vou chamar um taxi pra te deixar em casa.

Ela me olhava aturdida.

– Mas...

– Quer que eu desenhe? – perguntei irritado.

Levantei-me, entrei no banheiro e fechei a porta com força. Cada problema em que eu me meto. As noites sempre são divertidas, já as manhãs...
Abri o chuveiro, mais quente o possível, para ajudar a me limpar. Eu me sentia... Sujo e tinha nojo da menina no outro cômodo, como se ela tivesse culpa. Eu devo ter dito-a tantas coisas ontem à noite, para fazê-la chegar até aqui, tenho certeza que ela acreditou em cada palavra. Não devia.

Ouvi um barulho na porta.

– É assim que as coisas vão terminar? – ouvi sua voz abafada pela porta, e baixa, devido ao barulho do chuveiro.

– A culpa foi sua de querer começar. Sabia onde estava se metendo – retruquei.

– Eu não sabia! – ela começou a chorar.

– Pois devia saber. E não diga que você não pediu por isso!

– O que? - ela gritou.

– Só as meninas de respeito não vão pra cama com alguém no primeiro encontro, pelo que vi ontem, você não é uma.

Ela começou a soluçar.

– Eu odeio você! Odeio homens, odeio tudo que venha deles! Tudo que vocês sabem fazer é nos usar! – ela ainda gritava.

Desliguei o chuveiro, enrolei uma toalha em minha cintura e abri a porta. Ela estava sentada no chão, os olhos inchados, apenas com um roupão. Quando olhou pra mim, seus olhos transmitiram o quanto ela estava perdida.

– Se nem você mesma se respeita, porque os homens deveriam? – estendi minha mão pra ajuda - lá a se levantar. Ela afastou minha mão com raiva.

Revirei meus olhos. Essa é uma das mais difíceis. Continuei andando, em direção ao meu closet.

– Ontem... - sua voz tremia. – Você me chamou de Jane.

Sua frase me fez parar. Senti minhas costas queimarem, ela esperava que eu me virasse e olhasse pra ela. Tentei me recompor. Ela percebeu a oscilação do meu humor.

– Quem é Jane? – perguntou.

Virei-me e a encarei com a expressão mais sarcástica que eu tinha.

– É a garota da semana passada. Hoje à noite vou dizer seu nome pra outra – dei uma pausa. – Se eu me lembrar dele – sorri pra ela. – Agora ponha sua roupa e ache a porta por conta própria.

Entrei no closet e me tranquei por dentro. Jane. Faz uma semana que não vou pra boate e nem falo com Jeff, porque diabos eu a chamaria de Jane? Garota estúpida. Quem em sã consciência recusaria tanto dinheiro? Espero que apodreça naquele lugar.

‘’Acho que preciso ser mais clara. Eu não dormiria com você, nem por todo dinheiro do mundo!’’

É o que veremos...

– Meu nome é Samantha – ela gritou do lado de fora.

Ouvi a porta da frente bater.

’’Adeus Samantha. ’’

Coloquei minhas roupas e fui direto ao telefone. Disquei o número conhecido, a cada toque do telefone eu ficava mais agitado.

– Alô?

–Peter, graças a Deus. Preciso falar com você.

Escutei um riso abafado.

– Qual é o problema dessa vez? Deixe-me adivinhar, finalmente matou sua mãe?

– Como você é capaz de rir e tratar com tamanha insignificância meu desespero? Que tipo de amigo é você?

Houve uma pausa.

– Matou? – ele perguntou sério dessa vez.

– Ora! Lógico que não seu idiota! É algo muito mais importante.

Ele relaxou e riu novamente.

– Precisa de meus conselhos?

– Não, nunca precisei. O que eu preciso é de suas habilidades como advogado. Sua persuasão – mantive a voz interessante.

– Adam, a última coisa que eu preciso é de problemas. Espere a poeira abaixar entre mim e Carol, e...

– Eu não ligo para o andamento do seu vigésimo divórcio!

– Tem muito dinheiro em jogo, você sabe disso. A vadia está quase conseguindo tirar tudo o que queria de mim.

– Não me importo. Aliás, eu avisei. Você não me ouviu, disse que estava ‘’apaixonado’’ – fiz um som de escárnio.

– Realmente, toda minha vida tem sido uma ironia. Me apaixonei e acabei na pior, sou o advogado e eu que estou me divorciando e tenho a pessoa mais desprezível do mundo como melhor amigo e, mesmo assim, não consigo ficar sem ajudá-lo.

–Me comoveu Peter, sério. Lágrimas estão escorrendo incontrolavelmente pelo meu rosto...

– Cale a boca e diga logo o que precisa – ele disse impaciente.

Sorri comigo mesmo.

– Venha até meu apartamento.

– Precisa ser agora?

– Precisa Peter. Mande embora quem quer que esteja com você.

Ele suspirou.

– Me dê quinze minutos.

– Nem um segundo a mais – desliguei o telefone.

Peter Stanford, o único que realmente faz parte da minha vida. Somos amigos há quase seis anos. Nasceu em New Jersey, de família pobre, sem nenhum centavo no bolso, tudo o que tinham eram problemas, um pai alcoólatra e violento, até que umdia ele fugiu. Eu vi Peter se tornar o mais bem sucedido advogado de Los Angeles, apenas com sua força de vontade. Passou por cima de tudo e de todos para realizar seu sonho.

Nossas almas são idênticas, ele talvez seja um pouco mais complacente e tenha se acalmado nos últimos anos, mas o único motivo de ele conseguir me suportar por tanto tempo é porque somos exatamente iguais. Peter me acompanhou por todas as minhas vinganças, façanhas, mulheres, brigas; sabe meus segredos mais obscuros e até faz parte de algum deles, e eu sou o mesmo pra ele.

Nesses últimos anos ele decidiu se estabilizar. Arranjou relacionamentos de verdade e já não me acompanhava mais nas saídas da noite. Casou-se quatro vezes, nenhum dos casamentos deu certo. No final ele sempre se dava conta que era tão instável quanto eu e que era homem de poder e de muitas mulheres, não de uma somente.

Peter é minha consciência, meu grilo falante, o mundo alternativo pra minha solidão.

Tem a minha idade – vinte e quatro anos – é um destaque por ter uma carreira maravilhosa, tão novo. É muito inteligente, passivo e sensível, quase uma mulher. Também é manipulador, pode ser um tremendo mentiroso e o que mais me irrita em sua personalidade é seu altruísmo exagerado.

Tem um único defeito em particular que o prejudica: suas namoradas. Ou são órfãs, paraliticas, ou estão morrendo. Peter procura esses tipos de problemas e constrói seus relacionamentos em cima de um ato de caridade. Diz que precisa compensar por todas as coisas ruins que fez para chegar onde está.

Sua ultima esposa era uma prostituta, que alegava querer mudar de vida, estudar, ser uma pessoa melhor. Peter fez de tudo por ela, inclusive passar alguns bens para o seu nome, para provar sua confiança. Duas semanas depois, ela tentou matá-lo para ficar com o dinheiro. Não foi por falta de aviso.

As pessoas nunca mudam, são o que são desde o momento de seu nascimento até seu ultimo suspiro.

É uma ilusão pensar que as pessoas podem melhorar ou piorar, sempre serão como a vida as fez, nenhum padre, tratamento psicológico, trauma ou relacionamento pode mudar isso.

Já tive que lidar tantas vezes com isso. Meu pai é o melhor exemplo que tenho. Às vezes você pensa que conhece alguém...

Isso não acontece porque as pessoas mudam, acontece porque nós temos a irritante mania de ver somente o que queremos ver, a confiança nos cega, nos consume e logo após nos destrói.

Ouvi um barulho distante de um molho de chave em minha porta, meu corpo ficou tenso. Prendi minha respiração e o mais rápido e silenciosamente que pude fui até a gaveta em que eu guardava minha arma - de porte ilegal, claro. Esse era um daqueles momentos, onde seu cérebro funciona incrivelmente rápido, repassando uma quantia gigantesca de informações, que me davam a certeza que ninguém mais tinha minha chave além de mim. Permaneci quieto para tentar ouvir tudo que se passava, mas minha respiração alta impedia que eu me concentrasse. A porta se fechou devagar com um ruído assustador e aos poucos comecei a ouvir passos que ficavam cada vez mais altos, vindo em minha direção. Carreguei a arma lentamente, o estralo do gatilho me fez tremer. Apontei-a para a porta.

– Adam... Mas que diabos! – Peter se agachou e cobriu a cabeça com as mãos, deixando sua maleta, chaves e celular caírem no chão – Não atire pelo amor de Deus!
Olhei pra ele e senti uma vontade absurda de rir.

Ele levantou a cabeça com cautela e tentou se recompor. Levantou-se, e olhou pra mim, desnorteado.

– Mais uma vez... Que porra foi essa? – ele me deu um olhar assustado.

– Se não tivesse sido tão engraçado seu desespero, eu quebraria sua cara – descarreguei a arma e a joguei em cima da cama, ainda rindo – Eu é que devia perguntar. Que porra você está fazendo com as minhas chaves? – olhei pra ele irritado.

– Cópia das suas chaves – ele corrigiu.

– Não interessa!

– Meu Deus, não seja melodramático – ele juntou suas coisas e foi andando até a sala, o acompanhei. – Tomei a liberdade de fazer uma cópia quando te trouxe carregado para casa, pela milésima vez, você voltou a beber com muito mais freqüência do que o normal. É para o caso de emergências.

– Esquece! Depois eu resolvo isso, não é importante agora. Eu te chamei aqui pra outra coisa.

– Eu sei, eu sei. Precisa de mim como advogado. Quem te processou dessa vez? Ou melhor, o que você fez? – ele se sentou.

Preparei um copo de uísque e entreguei em sua mão.

– Uau – ele mexeu o copo – O assunto deve ser bom. Agora eu fiquei curioso.

Assenti com a cabeça. Fui direto ao ponto.

– Jeff se recusa a vender seus funcionários. Ele quer ser meu sócio.

– Por quê? Ele acha que você vai demitir todos eles?

Eu ri.

– Ele não podia ligar menos para os funcionários, ele não quer saber se eles vão perder o emprego ou não, ele só é orgulhoso e não quer me entregar tudo.

– O que não é muito esperto da parte dele – Peter concordou – O seu dinheiro levantaria aquele lugar e eliminaria todas as dividas dele de uma vez por todas.

– Ele me disse que é por motivos pessoais. Negócio de família.

– Deixe-me ver se eu entendi. Você quer que eu o convença a vender tudo pra você?

– Exato – assenti.

– Mas, porque seria tão ruim ter um sócio? A maior porcentagem de lucro iria pra você, enquanto Jeff cuida do local e dos funcionários. Fazendo o lugar funcionar perfeitamente e cuidando dos problemas insignificantes. Você não teria que se preocupar com nada! – Peter estava começando a se intrometer em meus propósitos eu odiava quando ele fazia isso.

Eu precisava arranjar uma explicação razoável, em que ele acreditasse.

– Ele seria uma inconveniência – contestei. – Você sabe como eu odeio ter que depender da aceitação dos outros pra fazer o que eu quero. Eu precisaria da aprovação dele pra várias coisas.

Ele me olhou torto.

– Adam, eu te conheço. Tem algo mais nessa história – apontou seu dedo indicador pra mim.

Revirei meus olhos.

– Eu preciso que você vá falar com Jeff pra mim. Apresente pra ele um contrato irrecusável, aonde ele vai se sentir obrigado a me vender tudo! Eu quero ele fora daquele lugar.

– Você não vai me mandar pra um puteiro! Eu corro risco de vida naquele lugar! Principalmente se eu for pra chantagear o cafetão!

– Peter, me poupe você já esteve em lugares piores.

Ele pensou em revidar, mas não teve tempo, meu telefone tocou. Atendi sem nem olhar o identificador de chamadas.

– Carter. Ok. Sim – Tentei manter monossílabo, pois Peter me olhava com curiosidade – Estou indo. Ok, eu já vou! Não me enche o saco Melinda! Chego em 20 minutos!

Peter olhou pra mim esperando por uma explicação.

– Aparentemente hoje é quinta-feira e eu trabalho em dias de semana – suspirei.

Peter riu.

– Adam...

– Peter! Eu preciso que você vá hoje. Você sabe que eu não estaria pedindo se não fosse importante pra mim.

–Eu sei Adam, eu sei. O problema é que poucas coisas são tão importantes assim pra você e o que me intriga é o motivo dessa importância.

– Fique fora disso e por favor, pelo menos uma vez, faça o que eu peço. Eu prometo que te explico tudo depois. Tranque tudo ao sair.

– Mas, o que? – Peter me olhou assustado.

– Você tem a chave – sorri.

Peguei minhas chaves e sai apressado para chegar a tempo no escritório.


PETER STANFORD

Los Angeles – Califórnia: 5 de novembro, 2010.

Adam Carter! Esse babaca conseguia me arrastar em todas suas façanhas e como sempre se algo desse errado seria eu quem iria arrumar a bagunça. Conheci Adam cerca de cinco anos atrás. Aos 21 anos de idade minutos antes de assumir o controle da empresa foi sequestrado pela máfia Italiana que residia a anos aqui nos Estados Unidos, desde 1986. Os Cordopatri. Originalmente a família Cordopatri tinha largado o ciclo mafioso a muito tempo, mas com novos herdeiros surgindo cada vez mais resolveram voltar a ativa; tinham como principal atividade a venda de armas, mas isso se tornou algo de um passado muito distante. A máfia se fortalece cada vez mais e em pleno século 21 começaram a usar a cabeça e agora são donos de mais de metade da cidade, dominando todo o comércio. Mercados de açougue, construtoras, imobiliárias, exportação e importação no mercado negro e sem deixar de mencionar o tráfico de drogas. Como as empresas Carter's é hoje uma das maiores construtoras do mundo, assim que Adam anunciou a criação de uma base nos Estados Unidos a família Cordopatri enlouqueceu, seria uma baita de uma concorrência e não podiam perder o trono de maneira alguma. O objetivo deles era eliminá-lo. Mantiveram-no em umcativeiro por sete dias, onde foi torturado e teve a mão esquerda pregada a um pedaço de madeira, ainda hoje tem marcas e cicatrizes pelo corpo todo.

Assim que foi resgatado, o pai de Adam, Josh, não conseguiu suportar tamanha desgraça e quis vingança de imediato. Foi assim que convocaram Enzo Cordopatri - o líder, que havia acabado de assumir o lugar do avô recém falecido - aos tribunais para ser julgado por ter torturado tão cruelmente Adam Carter, a história causou escândalos na mídia por meses e fez de Adam um herói.

Como todo tribunal requer excelentes advogados, os pais de Adam recorreram a mim, no auge de minha carreira. Toda Máfia tem seu advogado exclusivo que toma conta de todos os casos e acusações. Os Cordopatri tinham Luigi Andreatta. O homemera um furacão. Em toda sua história jamais havia perdido um caso. Ninguém tem detalhe algum de sua vida, tudo que sabem sobre Luigi é que ele é o advogado mais bem pago de toda a América do norte e que sua persuasão é seu dom. Não existia uma única pessoa que não poderia ser convencida por suas palavras, sua voz forte e decidia, ele não gaguejava uma vez sequer e algumas vezes era até aplaudido no tribunal.

Não era um homem de aparência, era gordo, de baixa estatura e completamente calvo na casa de seus 50 anos e mesmo assim conquistava juris por anos e anos. Meu nervosismo tomou conta de mim, eu jurava que jamais conseguiria vencê-lo. Passei semanas em claro estudando o caso repetidamente para ter certeza de que não havia nenhuma falha. No dia do julgamento eu me encontrava adoentado por culpa das noites mal dormidas e da quantia de álcool ingerida. Final da história? Eu o venci. Meu nome apareceu nos jornais, nos noticiários e por todos os lados por ter sido o primeiro homem a derrotar o implacável Luigi Andreatta. Infelizmente, a mídia não foi o único lugar em que meu nome apareceu, até hoje recebo sérias ameaças da máfia e fico a espreita e tenho medo todos os dias de quando virão atrás de mim. Sempre quando acho que esqueceram alguma carta inesperada aparece, deixando-me ciente de que serei o próximo. Naquela noite Adam e eu saímos juntos para comemorar e foi assim que nossa relação cresceu, há 4 anos tenho sido fodido para salvar a pele de Adam e garantir que ele consiga o que queira feito uma criança mimada.

E aqui estava eu mais uma vez, prestes a entrar em uma casa deprimente de striptease. Todas as vezes em que eu pisava em lugares assim começava a suar frio pois tinha certeza que um dia tombaria com aquele italiano filho da puta e ele se livraria de mim no mesmo instante que me visse.

Jeff's Club era um lugar confuso e obsceno. Além da música eu podia ouvir gemidos abafados vindo de algumas mesas, as luzes eram semelhantes a de uma boate noturna e me cegavam aos poucos. Parei por alguns segundos perto do bar, tentando me localizar e comecei a observar o palco, onde duas meninas maravilhosas se beijavam e se esfregavam uma na outra, dançando em sincronia. Como qualquer homem que dê valor a própria raça permaneci compenetrado na apresentação, até o fim, guardando todas as minhas melhores fantasias para mais tarde.

Uma delas desceu do palco e veio em minha direção, senti-me surpreso e excitado, ela tinha um corpo estonteante. Uma certa eletricidade passou por dentro de mim, mas tudo que ela fez foi sentar-se no bar e pedir uma bebida. Aproximei-me dela e tentei observa-la mais de perto. Seus cabelos dourados e ondulados corriam levemente até sua cintura, parecia ser muito mais nova que qualquer uma das garçonetes ou dançarinas. Podia ser incrivelmente sensual, mas eu consegui enxergar uma doce infantilidade em seu jeito de se mover. Virou-se e me fitou por alguns segundos onde expôs os olhos verdes claros mais lindos que eu já havia visto. Ela era de tirar o fôlego.

Antes de falar qualquer coisa respirou fundo duas vezes e finalmente perguntou:

– Posso ajudar?

– Você é tímida, eu gosto disso – sorri tentando deixa-la mais confortável.

– Não sou tímida, só estava melhor entretida com meus pensamentos suicidas até você começar a me encarar – disse sarcástica.

Sorri de leve e assim que a iluminação no bar aumentou, notei pequenos cortes em sua boca e em seu rosto. Ela parecia exausta.

– Onde posso encontrar Jeff?

Ela me fitou por um momento, cuidadosamente.

– Você está usando um terno.

– Você é ótima com os detalhes – soltei uma risada, já que sua observação mostrava o óbvio.

– Está aqui em algum tipo de reunião?

O Barman, um transexual negro e muito musculoso gritou de um canto do bar.

– Jane! Não se intrometa garota.

Ela ignorou e seu humor mudou de imediato, agora parecia curiosa e agitada.

– Eu posso te levar até ele. Se quiser. Do que se trata?

– Adam Carter me enviou aqui para tratar de uma papelada. Nada muito importante. Uma conversa informal – sorri.

– Adam – ela assentiu com a cabeça – É claro – voltou a se sentar.

– Conhece Adam?

– Fomos apresentados – ela forçou um sorriso que mais pareceu uma expressão nauseada.

– Qualquer coisa que ele possa ter feito, eu peço desculpas por ele. Adam é mimado e egocêntrico, mas eu tenho certeza que você lida com esse tipo de gente o dia todo.

– Acertou essa.

Observei-a atentamente.

– Quantos anos você tem?

– Não é da sua conta – ela se levantou mas puxei-a pelo braço, para que olhasse para mim.

– Quer ver Jeff? A sala dele é no final do corredor...Agora se me da licença – ela tentou puxar seu braço de meu aperto, segurei-a com mais força, mas não o suficiente para machuca-lá.

– Algo me diz – sussurrei – Que aqui não é o seu lugar.

Existia alguma força, alguma energia nessa garota que a tornava irresistível. Com as luzes um pouco mais claras dentro da boate agora eu podia ver o quanto ela era juvenil. Não podia ter mais de vinte anos. Escondia muito bem sua angustia e sofrimento, mas seus olhos a entregavam, havia muito ódio la dentro.

Ela não respondeu. Estava paralisada, como se agora, realmente estivesse prestando atenção em mim, em quem eu era e o que dizia.

– Se eu fosse você, estaria bem longe daqui – tentei tocar os cortes em seu rosto, ela afastou minha mão bruscamente.

Fitou-me em silêncio por um longo momento.

– Você não sabe nada sobre mim – puxou seu braço com força e se afastou.

Suspirei. Ela ficaria na minha cabeça por um longo período de tempo.

Fui em direção a porta que ela havia indicado, estava fechada. Estava prestes a bater quando os gemidos vindo do escritório ficaram um pouco mais altos que a música. Ótimo. Direi a Adam que não o encontrei. Observei atentamente o palco, as mesas, as bebidas, as dançarinas e garçonetes. O lugar não era tão ruim. Foda-se. Meu divórcio está quase pronto, não vai fazer mal algum eu ficar por algumas horas.

CATHERINE JANE SCOTT
Los Angeles – Califórnia
: 5 de novembro, 2010.

Corri nauseada e irritada até meus aposentos e fechei a porta com força. Quem ele pensava que era? Eu ainda podia sentir sua pele contra a minha, uma tremedeira me atingiu as pernas fazendo com que eu me sentasse. ‘Algo me diz que aqui não é o seu lugar’’, estremeci. Lembrar da sua voz aos sussurros me excitou. Adrenalina percorria todo meu corpo.

De onde essas pessoas surgiram? Durante anos trabalhando nesse buraco sempre me encontrei com os mesmos tipos de homens, vazios, patéticos, inúteis, completos animais viciados em sexo. Até mesmo os que eram bem sucedidos, sempre discretos e apenas me observando a distância. Dessa vez, em menos de uma semana, conheci os dois homens mais intensos e hipnotizantes que podiam existir. Minhas aversões por esse lugar, por essas pessoas, por esse mundo estavam sendo contrariadas. Eu queria me arriscar, eu queria ir até lá e dançar para ele. Eu queria sentir seus olhos em mim.

Tentei me recompor, eu nunca tive uma agenda. Passar despercebida por aqui sempre foi meu único objetivo. Agora não mais. ‘’Tudo acontece por um motivo, Cathy’’ minha mãe costumava dizer. Eu espero que você esteja certa. Onde quer que você esteja.

Voltei ao salão e Jack gritou de alivio a me ver.

– Ai está você garota! Hora de trabalhar – ele me entregou uma bandeja.

Encarei-o perplexa.

– Hoje é meu dia de palco – contestei.

– Não mais, boneca – ele sorriu – Claire substitui você.

Olhei para o palco, lá estava ela. Nossa ‘’prostituta de atenção’’. Se contorcendo e sorrindo como se amasse o que fizesse. O prazer da vida dela era me contrariar.

– Vadia – murmurei.

Jack se aproximou e acariciou meus cabelos.

– As mesas não vão se servir sozinhas, queridinha. – ele sussurrou.

– De que lado você está? – perguntei com nojo.

Ele riu alto.

Travestis são perigosos. Segurei a bandeja e olhei ao meu redor, o lugar nunca esteve tão cheio. Procurei-o em todas as mesas, mas as luzes não me deixavam reconhecer ninguém. Todas as feições estavam contorcidas e apagadas. Talvez eu esteja um pouco bêbada. Respirei fundo, três vezes, concentrei toda minha força em minhas pernas para que eu não tropeçasse em meus próprios pés e segui em frente, de mesa em mesa. Ignorando os comentários maliciosos que vinham dos homens mais repugnantes e as mãos que acidentalmente esbarravam em minhas coxas. O que me incomodava era a excitação, aquela ansiedade adolescente que tomava conta do meu corpo, eu sentia meus hormônios borbulharem, pois eu sabia que a qualquer momento passaria pela mesa dele.

– Hey, boneca! Che cosa stai facendo? – um italiano, careca, que não podia pesar menos de duzentos quilos gritou comigo alto o suficiente para me tirar de meus devaneios. Percebi que eu havia derrubado metade de sua bebida.

– Desculpe-me – sussurrei, limpando a mesa rapidamente com um pano. Eu não queria problemas com italianos.

– Sei bellissima – ele acariciou meus braços, seus olhos ferviam - Sei bella ma stupida – voltou a aumentar o tom de voz.

Afastei sua mão de minha perna, mas ele segurou meu pulso com uma força extrema.

– Você está me machucando – murmurei.

– Faça seu trabalho – mandou ele com um sotaque horrendo – Sente aqui – bateu de leve em seu colo, abrindo um sorriso desprovido de alguns dentes.

– Tire suas mãos de mim – soei mais firme do que pretendia.

Ele se levantou abruptamente para me agredir, mas para minha surpresa, alguém surgiu por trás e se colocou entre nós dois. Acariciei meu pulso que agora tinha a marca das mãos grandes e gordas do italiano.

– Deixe-me explicar para você como as coisas funcionam por aqui. Ela te serve, você agradece e a observa partir sutilmente. Capiche? – ele disse com acidez. Mais uma vez sua voz me causou arrepios.

Algo me diz que aqui não é o seu lugar’’

– Peter Stanford – o italiano riu ameaçadoramente – Nós estávamos procurando por você.

– Bem, Luigi, você me encontrou. E sempre poderá me encontrar por aqui – ele sorriu calmamente.

– Eu me lembrarei disso. Capiche? – ele riu.

Ninguém nunca havia me defendido com tanto fervor. Eu não conseguia tirar meus olhos dele. Agora com mais calma, pude observá-lo atentamente. Ele usava uma parca preta que chegava aos seus joelhos, e por de baixo eu imaginava que estava seu terno cinza. Era alto e muito mais encorpado que Adam, a diferença entre eles? Adam tinha feição de um adolescente, aventureiro. Peter tinha todos os traços de um homem. Sério e intenso, esbanjava confiança a cada passo que dava.

Peter assentiu com a cabeça e segurou de leve em minha mão, me arrastando para o lado de fora da boate. A madrugada havia acabado de cair, a rua estava vazia e o ar frio e congelante.

– Alguém já te disse para nunca retrucar a máfia italiana? – ele perguntou com seriedade.

Minha única reação foi sorrir. Ele pareceu surpreendido.

– O que foi? – perguntou confuso.

– Esse tipo de coisa acontece – dei de ombros.

– Tenha cuidado – ele me encarou fixamente com seus olhos azuis por um longo período de tempo.

Uma corrente elétrica percorreu todo meu corpo. Foi uma sensação deliciosa.

– Como ele te reconheceu?

– Nunca me disseram para não retrucar a máfia italiana – ele sorriu com leveza – Por isso estou te avisando. Não repita meus erros.

– Eles irão te caçar até o fim, não é? – perguntei temerosa.

– Então você sabe como funciona – ele riu – Eu sei me cuidar.

– Você sacrificou sua descrição por mim Stanford. Aparentemente, não sabe.

– Não se preocupe Catherine.

Só minha mãe me chamava de Catherine.

– Como sabe meu nome?

– Por favor, me chame de Peter. Te vejo por ai – ele se aproximou e encostou seus lábios frios em meu rosto e partiu. Observei-o atravessar a rua, até que desaparecesse.

O nojo que eu sentia por esse lugar, a dor de acordar todos os dias e me deparar com tudo isso finalmente se transformaram em uma pequena excitação. Uma ansiedade incontrolável, com um pingo de esperança, porque depois de tantos anos, as coisas estavam começando a mudar para mim. A mesmice havia sido excluída de minha vida, agora, eu tinha certeza, de que nada mais seria o mesmo.


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Notas finais do capítulo

REVIEWS!! Peço desculpas se eu demorar pra postar o terceiro capitulo, minhas aulas voltaram, mas farei de tudo pra postar nesse final de semana. Pra conseguir acompanhar IntheDark Beside You, para os leitores de I'll be waiting, vão lá dar uma olhada em In the Dark também, minha outra história e me dizer o que acham! Reviewsssssss! Amo vocês.



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