Entre O Amor, A Razão E O Coração escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 8
Capítulo 8. Sinfonia Agridoce


Notas iniciais do capítulo

" Logan, espera! Veio de carro? perguntei. Quem sabe ele queria uma carona.
não, mas tudo bem vou encontrar uma garota na lanchonete.
ah.
Não sei por que, mas senti algo estranho quando ele disse isso."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/250215/chapter/8

Em pleno sábado de manhã e eu acordada tentando achar algum lugar que dê aulas de música, um pouco difícil, acho que ninguém na cidade era professor de música, mas eu tinha que achar um lugar pelo menos na cidade vizinha.

Eu já estava ficando enferrujada no violino, as sinfonias não eram as mesmas, elas não saiam com perfeição. Eu não podia permitir que o fato de eu mudar de cidade fosse agitar tanto assim a minha vida, mas enfim, era o que estava acontecendo.

Eu pensei a um mês que o fato de eu estar me mudando fosse inteiramente para atrapalhar os planos que eu carregava a vida toda. Quando eu terminasse a escola, eu entraria para a faculdade de música e tentaria fazer carreira em uma orquestra sinfônica. Agora, meus sonhos parecem estar tão longe...

A única coisa com a qual esta valendo a pena ocupar a cabeça é Nick.

Alias, é a única que eu penso desde a noite do cometa. E isso já faz uma longa semana. E que longa semana! Eu falei com ele uma ou duas vezes na escola, estava difícil da gente se ver, era como se o destino estivesse nos separando, e não o ver era só um artefato bom para minha mente começar a imaginar a hora que eu o visse.

Na terça-feira quando eu o encontrei saindo do treino de futebol mal deu pra gente conversar, trocamos meia dúzia de palavras envergonhadas e tivemos que nos separar, ele pro vestiário, eu pra aula. Na quinta-feira quando nos vimos de novo foi só de longe, ele estava saindo de uma cafeteria no centro da cidade e eu estava no carro com Fred e minha mãe, desejei que o pneu furasse ou acabasse a gasolina para eu poder correr atrás de Nick.

Que ridícula!

Eu só podia estar apaixonada por esse garoto. Depois de tantos avisos das pessoas, tantas repreensões eu ainda assim estava convencida de que ele era um cara legal. Ele de fato se mostrou uma cara legal na clareira. Ele foi um cavalheiro, um amor, um doce, um amigo, queria que as pessoas vissem isso! Menos as garotas, eu não quero que nenhuma garota descubra o quanto Nick pode ser romântico.

Essa é a velha insegurança tomando conta de mim, só que dessa vez o motivo é outro. Eu tenho medo que ele não esteja sentindo o mesmo que eu. Isso é de assustar qualquer garota, principalmente se depois de um quase primeiro beijo eu não tenha conversado direito com ele. Me sinto insegura.

Por isso estou tentando ocupar a cabeça com coisas que eu fazia em Los Angeles. A aula de música é só a primeira delas. Larguei a lista telefônica no chão do quarto e peguei Cat no colo.

– está com fome, Cat?

Ele miou manhoso.

Levantei da cama em um pulo e levei Cat para a cozinha comigo, eu estava com fome também, e certamente estavam todos dormindo. Quem acorda as cinco horas em um sábado? Só eu mesmo!

Dei ração para o gato e preparei um cereal pra mim, fui ver qual era a daquela gororoba que Logan come todo dia de manhã, o cereal não era dos piores, tinha gosto de aveia e mel, deixava a boca adocicada. Comi a tigela, pus na pia e voltei pro meu quarto, Cat saiu correndo na frente e pulou nos meus travesseiros antes de mim. Resolvi que iria navegar na internet um pouco, quem sabe eu não achava uma escola de música por perto?

Procurei por escolas de música uma infinidade delas, todas em cidades mais longes. Até que havia uma perto, cliquei no link “Estúdio de artes Riddle, fundada em 1956 por Cordélia Riddle, falecida em Janeiro de 2009”. Acho que o mais me chamou atenção foi o nome da escola, Riddle era o sobrenome de Nick.

Li um pouco mais sobre a escola, e então resolvi pesquisar por Cordélia Riddle. Nada de mais na biografia dela da Wikipédia. Ela tinha meia dúzia de palavras que diziam exatamente o que eu havia lido no link.

Cordélia Riddle (1924-2009), nascida na Virginia, EUA. Criou a escola de dança, inicialmente para meninas, em 1956, aos seus 32 anos. Viúva aos 45, deixou um legado de dois filhos, o mais velho Edward Riddle e o mais novo George Riddle, ambos deserdaram o estúdio que hoje está abandonado as margens da rodovia.

Resolvi pesquisar pelo nome dos filhos, o mais velho Edward Riddle, será que esse era o pai de Nick? Comecei por ele, apareceram vários Edward Riddle, então acrescentei um Virginia na pesquisa, o link de uma empresa de autopeças apareceu. Não era o pai de Nick, a empresa tinha endereço em Nova York e havia uma foto do dono com a sua família, ele a esposa e duas meninas gêmeas de mais ou menos 10 anos de idade. Certamente não era esse o pai de Nick. Coloquei George Riddle, Virginia. E o que apareceu foi um site policial com a inscrição “suspeitos de fraude”.

Cliquei ali meio receosa. A foto de vários homens com terno preto apareceu, um com mais cara de poderoso que o outro. Lembrei das palavras de Logan “Todo mundo que tem um pouco de controle e poder nas mãos pode ser considerado perigoso”. Será que os boatos estavam certos? Nick era mesmo o filho de um mafioso?

A foto de George Riddle estava logo na primeira página, embaixo estava escrito: suspeito por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Tremi da planta dos pés a raiz dos cabelos. Será que Nick sabia disso? Provavelmente não, ou ele já teria tomado uma providência.

Resolvi que iria dormir de novo, Cat estava deitado tão preguiçosamente na cama que me deu sono também. Olhei para meu quarto tão miraculosamente branco e fofo, eu era uma garota muito mimada! Suspirei.

Me surpreendi ao acordar seis horas depois com o sol a pino na janela, alguém tinha entrado ali e aberto a cortina. As minhas pálpebras ainda fechadas estavam laranja com a luz forte, me espreguicei devagar e enfim abri meus olhos.

– meu bem.

Dei um pulo, minha mãe estava parada na janela atrás da cama.

– mãe! Que susto!

– desculpe.

– o que foi? – perguntei. – aconteceu alguma coisa?

– não, um garoto ligou. – ela disse.

– ligou? Qual o nome dele?

– sim, Marcus. – ela respondeu. – estou morta de curiosidade!

– ai meu Deus, jura?

– aham. Ele disse que era da Califórnia. Seu pai que deu o número, pelo jeito ele é importante pra você. – disse ela com aquele sorriso malicioso que as mães dão. – ele é?

Sorri meio boba. Marcus me procurou? Nossa! Será que ele sentiu saudades de mim? Pensei.

– ah mãe ele não é exatamente um garoto, já tem seus 25 anos, por ai. E sim ele é importante pra mim, ele era meu professor de música! – falei entusiasmada. – mas me diga o que ele queria.

– bom, ele perguntou se era a casa da Senhora Petrova, eu corrigi e disse que era a casa da Senhora Baines. – ela falou com orgulho. – daí ele perguntou por você.

– ok, mas exatamente o que ele perguntou?

– ele disse assim “Kath está?”

– e você?

– eu respondi que você estava dormindo. – ela falou como se fosse obvio.

– ah mamãe! Por que não me acordou?

– hum, então ele é mais importante do que eu pensava. – ela falou maliciosa.

– mãe, não tente ver romance onde não há!

– ai meu bem! É que eu estou tão entusiasmada, eu quero ver você se apaixonar pelo menos uma vez, quero poder te dar conselhos!

Eu ri alto e ela mordeu os lábios demonstrando receio. Emily é mais parecida comigo do que eu previra.

– ok, vou te contar uma coisa, mas não tem nada haver com Marcus tem haver com outra pessoa.

Ela sentou na minha cama mais empolgada do que uma adolescente cheia de hormônios. Acho que eu poderia contar sobre Nick para minha mãe e toda essa história de mafioso e em como ele fazia eu me sentir. Então foi o que eu fiz, despejei tudo o que estava entalado na garganta e no coração.

Quando terminei de falar Emily me olhou cautelosa e fez a seguinte pergunta “Riddle?”. Senti que ela deu para trás na conversa, por que todo mundo teme a família Riddle?

– meu anjo, você acha certo?

– eu gosto dele mãe, não me importo com o que as pessoas dizem. – falei.

– eu te entendo. Eu sou como você estou sempre querendo o que não posso ter. – falou compreensiva.

– você acha mesmo que eu sou assim?

Por um instante concordei com ela, mas daí eu pensei. Quem disse que eu não posso ter o Nick? E então eu discordei completamente dela.

– não, mãe eu não vejo o motivo de eu não poder... De eu não poder namorar o Nick.

Ela me olhou cautelosa.

– escute filha, eu te amo, e não quero você esteja se metendo em caminhos que não deve. Esse Nick, já o conheço, ele veio visitar o Logan várias vezes. É um bom menino e...

– espera! Caminhos que não deve? Como assim mãe?

– e se o pai dele for mesmo um mafioso, você não acha que Nick pode ser também? – argumentou.

– papai é advogado e eu sou violinista! – contra-argumentei

– ok, Kath, você venceu! Se o romance de vocês ficar sério, vai ter todo o meu apoio.

Naquele momento eu vi que não importava se o Nick fosse filho de um terrorista, eu ia gostar dele do mesmo jeito. Por que de certa forma eu via em seus olhos que ele não era má pessoa e eu estava disposta a mostrar pro resto do mundo o lado bom dele.


Era sábado a tarde quando recebi outra ligação, dessa vez para meu celular, o número era desconhecido então pensei em duas opções: Marcus ou Nick. Eu estava morta de saudades de Marcus, mas eu queria muito ouvir a voz de Nick.

Fiquei meio desapontada quando atendi e quem estava do outro lado da linha era Logan.

– hey, é o Logan! Dá pra perceber que eu não estou em casa né. – ele riu.

– sim você não estaria ligando do quarto ao lado, mas por que ligou?

– achei uma escola de música. – ele falou todo entusiasmado.

– ai meu Deus, jura?

– é, estou aqui nesse momento. Faça o seguinte, te dou o endereço e você vem, pode ser?

– pode sim. – eu concordei

Peguei o endereço, ficava perto da galeria de arte, como eu nunca tinha visto antes? Pelo menos ela não estava nas páginas amarelas da lista telefônica. Folhei aquelas paginas umas quinhentas vezes! Enfim, anotei o endereço, peguei as chaves da Joaninha na mão e saí a procura desse tal estúdio de dança. Quando estava descendo do elevador me deparei de cara com Fred e minha mãe, eles perguntaram onde eu estava indo, e eu lhes falei. Minha mãe comentou que havia mesmo um estúdio de música perto da galeria e que eles haviam acabado de abrir, então por isso não estavam na lista telefônica, fiquei mais tranquila, pelo menos eu estava indo para um lugar onde eu pudesse ser raptada.

Dobrei algumas ruas, um caminho já conhecido por mim, pois tenho boa memória. E então cheguei na frente de um prédio meio antigo, mas com a fachada nova e bem pintada de amarelo. Um nome estava logo acima, Estúdio de Dança. Nada de estranho aparentemente, tudo normal. Quando entrei no hall Logan estava sentado em um sofazinho verde folheando uma revista.

– Logan?

– ah oi! – ele falou

– então como foi que achou essa escola de dança? – perguntei.

– é uma história meio longa. – explicou cheio de pausas na língua.

– hum. Ok. Muito obrigada!

– de nada. Bom, agora que você está aqui vou... Bom, vou indo. – ele disse.

– Logan, espera! Veio de carro? – perguntei. Quem sabe ele queria uma carona.

– não, mas tudo bem vou encontrar uma garota na lanchonete.

– ah.

Não sei por que, mas senti algo estranho quando ele disse isso. Ignorei essa pequena parte de mim e me dirigi a moça no balcão. Eu acho que já tinha visto aquela garota na escola, uma meio loura, se eu não me engano seu nome era Jane.

– oi Kath.

– er, oi Jane.

Ela sorriu então seu nome era mesmo Jane.

– eu vim ver como é que a escola, e quero saber se tem um professor ou professora de violino. – expliquei.

– ah sim, bom. Eu não sei ainda estou um pouco por fora das coisas. Desculpe.

– você não pode chamar um responsável ou coisa assim?

– ah, claro o filho do dono daqui a pouco está chegando. – ela falou pensativa. – quem sabe você não espera ali na sala de música?

– ok.

Jane me levou a uma sala um pouco escura, apenas uma luz iluminava um enorme piano de calda no centro da sala. Nas paredes violões, guitarras e um suporte de violino e acordeom. Havia também flautas e uma bateria no canto da sala. Aquilo sim era uma sala de música, sem falar nos espelhos que rodeavam onde não tinha instrumentos.

Sentei ao piano enquanto esperava, observei um pouco a sala, mas estava sem fazer nada. Toquei nas teclas pretas e brancas do lindo piano. Eu arriscava umas notas quando treinava com Marcus ele me explicou músicas básicas e fáceis de tocar.

Dedilhei um pouco nas teclas. Nenhum som que pudesse se tornar uma canção. E então ele apareceu.

– linda sinfonia! – me virei na direção dele. – um pouco triste, um pouco feliz, digamos que é uma sinfonia agridoce.

Sorri.

– Nick. – sussurrei.

Ele estava parado na porta, e veio andando na minha direção como um gato manhoso, lentamente, mas com o olhar muito compenetrado. À medida que ele se aproximava os meus batimentos cardíacos aumentavam freneticamente. Escola de música? Ultimo lugar que eu pensei encontrá-lo.

Nick se aproximou de mim e sentou do lado no piano, logo ele estava tocando uma música que eu só pude perguntar depois que ele deixou de me hipnotizar.

Senti como se fosse ter um ataque. Meu coração martelou, minha respiração parou, estava tudo pronto para eu ter um enfarto, até que quando seus lábios tocaram os meus, tudo pareceu se estabilizar. O mundo pareceu parar.

Descrever o tremor que correu por todo meu corpo é algo quase impossível, eu pude ouvir o sangue correndo nas minhas veias, meu cérebro gritando que aquilo era bom de mais para ser verdade, eu ouvi meu coração bater em lugares que eu nunca pensei que fosse bater. Minhas pernas amoleceram e se eu não estivesse sentada na hora, acho que eu cairia no chão.

Depois que a música parou, ele segurou meu rosto com muito cuidado, como se eu fosse quebrar, com os olhos fixos no meu. ele ficou me encarando e outra vez seus olhos estavam quase verdes, talvez seus olhos fossem verdes mesmo. Eu estava muito confusa e cheia de expectativas para pensar em alguma coisa, eu só queria que ele me beijasse.

E ele me beijou.

Na hora em que ele se afastou meio hesitante eu acordei e foi como acordar de um sonho bom.

Ficamos em silêncio, eu não sabia o que falar. Então eu disse:

– deixa eu adivinhar, filho do dono?

Ele pegou uma mecha do meu cabelo para pôr atrás da minha orelha.

– sim. – respondeu sorrindo. – aluna nova?

– foi assim que Jane me apresentou? Certeza de que ela não disse Kath está na sala de música?

– nem lembro. – ele falou mexendo nos meus cabelos aproximando os lábios da minha orelha. – se importa se eu te beijar novamente?

– isso lá é pergunta que se faça. – respondi.

– isso é um sim?

– talvez.

Ele riu. – você é muito teimosa!

Beijei o lado direito do seu rosto – sou teimosa... – beijei o outro lado – birrenta – beijei sua testa – egoísta e...

– e linda! – ele disse me puxando, caí deitada em seu peito rindo como uma idiota, então ele beijou a ponta do meu nariz e afagou o polegar nas minhas bochechas, eu estava certa, ele é um cara legal. E romântico e lindo.

Eu sempre soube disso.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre O Amor, A Razão E O Coração" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.