Entre O Amor, A Razão E O Coração escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 7
Capítulo 7. A noite do cometa


Notas iniciais do capítulo

" eu não odeio você. me peguei falando. mas tenho que admitir que você me deu motivos pra isso(...)"



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– aonde vai? – perguntou minha mãe quando me viu arrumada para sair. Logan apareceu logo atrás de mim também arrumado. – aonde vão? – corrigiu ela meio espantada.

– é noite do cometa. – explicou Logan.

– você vai, Kath?

– se importa se eu for? Logan vai me levar no carro dele. – falei meio insegura, eu não queria que minha mãe começasse a me impedir de sair, aquela era a primeira noite que eu saia de casa com algum amigo.

Ela sorriu.

– não, não me importo. Fico feliz que você tenha alguns amigos aqui. – ela disse. Claramente ficando feliz.

E eu também fiquei feliz, passei o dia na expectativa de ver Nick e saber o porquê eu devia estar com sapatos fáceis de tirar. E por falar nisso estava com uma sapatilha, bem fácil de retirar, vesti uma bermuda jeans escura e uma blusa de algodão com algumas rendas pregadas ao longo do comprimento.

– vai ficar com frio – disse Logan quando estávamos no seu carro a caminho da clareira.

– por que não me disse isso antes? – perguntei.

Ele riu. – desculpe.

O carro de Logan era prata, um modelo meio esportivo, combinava com ele. E ele corria ao estilo piloto de formula 1. Por que homens têm mania de pisar fundo no acelerador?  Atentar a vida deve ser uma coisa divertida pra eles. Me indigno. As matas que cercavam a estrada era um borrão pra mim, não vi nada além de verde e alguns campos de pastos rasos que se estendiam por quase todo o caminho.

Quando Logan começou a diminuir a velocidade notei que estávamos chegando perto da onde tínhamos que ir, e também começaram a surgir veículos de todas as partes. Todos seguiam por uma estradinha de chão batido cercada por um mato escuro de árvores que me fez ficar morta de medo. E sim eu estava começando a ficar com frio também.

 – nossa como é longe essa clareira!

– fica perto da praia. Na realidade fica em um precipício, é o ponto mais alto dessa região, mais fácil de ver o cometa. – explicou Logan.

– é seguro? – perguntei.

– tem cercas de ferro em torno de toda a beirada, não se preocupe ninguém nunca morreu lá.  Tive esse mesmo medo na primeira vez que fui.

– assim eu fico mais tranquila. – falei.

Logan estacionou o carro em um lugar onde estavam vários outros carros, talvez o resto da trilha tivesse que ser a pé, então descemos ali, muitas pessoas em volta dos seus carros, bebendo um pouco, não sei por que mas acho que adolescentes e bebidas não é uma coisa que acabe bem.

Eu e Logan seguimos por uma trilha curta, um caminho que certamente carro não passa mesmo, talvez uma moto. Tinha muitas pessoas caminhando na nossa frente, e não dava para ver quase nada. O mato era cerrado mesmo, só essa pequena trila parecia dar ao tal lugar onde veríamos o cometa.

– ali. – apontou um garoto que estava atrás de nós.

A primeira coisa que eu vi foi a lua cheia que beijava o mar ao longe. Uma visão espetacular. À medida que nos aproximávamos minha visão ficava mais clara da beleza daquele lugar. A tal clareira realmente ficava no ponto mais alto da cidade, e todos estavam ali, sentados em cadeiras e baquinho de praia, alguns estavam sentados em pedras e outros em toalhas espalhadas pelo chão. Havia muita gente ali!

Logan pegou minha mão para que a gente não se separasse no meio da multidão, no meio do caminho notei que April e os outros não estavam. Será que eles viriam? Acho que sim, talvez mais tarde. Outra pessoa que eu procurei no meio da multidão era Nick, aparentemente ele não estava em lugar nenhum. Será que ele furaria comigo? Bom, ele não disse que ia à clareira, só disse que era pra eu ir com um calçado fácil de tirar. Nem sei por que eu estou me importando com a presença dele, ou a falta dela.

Ficamos perto do precipício, dava para ver o mar bater nas pedras logo abaixo. Conversar com meu meio irmão era fácil e bom, ele me fazia bem e eu podia, depois desse mês que passei com ele, considerá-lo meu amigo. E como minha mãe disse, é bom eu ter amigos por aqui.

Meu coração deu um salto quando ouvi a voz de Nick sussurrando no meu ouvido, e não foi só o meu coração eu também dei um pulo. Oi, ele disse.

– ai meu Deus! – me virei para ele. – quer me matar do coração?

Ele riu meio desconfortável. – ainda com medo de mim?

– não.

Dessa vez eu não estava mentindo. E ele que estava olhando nos meus olhos quando respondi ficou procurando resquícios no meu rosto que pudessem me incriminar, mas pelo sorriso que ele fez, talvez tenha acreditado que eu não estava mentindo.

– isso é bom. – ele admitiu.

Dei de ombros.

– o que é bom? – perguntou Logan.

– nada. – disse Nick. – Logan, posso roubar sua irmã por alguns minutos?

Logan não pareceu feliz. Mas deu de ombros e saiu de perto de nós, me dando um breve abraço, ele nunca tinha me abraçado. Nick o ignorou, ele se sentou onde Logan estava sentado ao meu lado, fiquei um pouco nervosa com a proximidade em que estávamos.

– pensei que você não ia vir. – admiti.

– e perder a chance de ver que você me obedeceu? – disse olhando para minha sapatilha.

Revirei os olhos.

– você quase me implorou pra eu vir com um sapato fácil de retirar – falei com voz de deboche.

Ele riu. – talvez... Enfim, que bom que veio com os sapatos.

– é? Por quê? – perguntei.

– quero te mostrar um lugar melhor ainda para assistir o cometa. – ele disse.

– hum. – falei meio hesitante.

Ele tocou meu rosto com a mão direita e afagou meu maxilar com o dedo. Pensei que eu fosse ter uma hipotermia por que de repente eu estava tremendo.

– pensei que você não tivesse mais medo de mim. – ele falou.

– e eu não tenho. – admiti.

Ele sorriu com o canto dos lábios e retirou a mão do meu rosto. – então vamos? Aceita ir comigo? Prometo que nada de ruim vai acontecer a você.

Sorri fraco. – tudo bem. Vamos!

Meu coração martelava em ritmos diferentes, Nick estava incondicionalmente bonito naquela noite, seu cabelo não estava espetado, estava liso e caia no rosto, eu nunca tinha o visto com aquele tipo de visual. Os olhos castanho-esverdeados estavam mais claros, dava para se dizer que eram verdes. Ele estava com uma roupa meio social, meio esporte. Vestia uma camisa azul de algodão remangada na altura do cotovelo, bermudas pretas e sandálias masculinas. Sapatos fáceis de tirar. Pensei.

O segui por um caminho meio estreito no meio da floresta, quanto mais entravamos no mato, mais eu ficava com o coração agitado, mas não era medo, pelo menos não de Nick. Ele prometera que nada de ruim iria acontecer comigo. E eu acreditei na sua promessa.

A pequena trilha nos levaria há um lugar, que ela nos levasse antes das dez horas, por que era nessa hora que o cometa passaria pela cidade. Olhei as horas no celular – que estava completamente sem sinal –. Nove horas e dezessete minutos, marcava. Nick me guiava pela mão sem dizer uma palavra, eu não me incomodava com o silêncio, não era um silêncio desconfortável.

– aqui, você vai ter que ter uma pequena ajuda.

Havia uma fenda no chão, uma fenda não muito funda, mas que se eu caísse poderia muito bem quebrar uma perna, ele se apoiou em uma árvore que estava próxima e segurou em minha cintura para que eu tivesse mais impulso e pular a fenda. Tudo certo eu estava do outro lado sã e salva. Ele tomou distância e saltou também.

– viu não foi tão difícil. – ele disse rindo.

– difícil está sendo andar com essas sapatilhas. – confessei.

– você pode tirar, não é ruim caminhar de pés descalços. – disse-me ele, e depois seu rosto se iluminou como se tivesse tido uma ideia tentadora. – que tal uma carona?

– o que? – perguntei. Minha voz deu uma desafinada e ele riu.

Nick apoiou a mão em minhas costas e passou o braço por baixo das minhas pernas, ele me ergueu rapidamente em seu colo mesmo com meus gritos de protesto. Forcejando um pouco ele saiu andando comigo. Não sou pesada, mas ele não aguentaria muito comigo no colo.

– eu pareço uma criança! – reclamei.

– parece sim, você é muito birrenta. – falou.

– ah sim, eu? – ironizei.

– já estamos chegando, não se preocupe.

Fiquei em silêncio apenas observando seu rosto a meia luz da lua, o perfil do seu nariz era muito imponente, era reto e com a ponta arredondada, as maças do rosto eram lisas e pouco salientes, os lábios eram tão... Beijáveis. Ai meu Deus o que eu estou pensando? Virei meu rosto para frente e para minha surpresa eu via a luz da lua, acho que enfim chegamos onde tínhamos que chegar.

Ele parou e me pôs com cuidado no chão.

– estamos perto, agora você pode ir andando.

– ok.

Ele entrelaçou nossos dedos, o que me fez olhar subitamente para seu rosto, ele estava com um sorriso de cantos de lábios, metidinho e tão sedutor. Com a mão livre ele acariciou as maças do meu rosto. Quando ele fazia isso, eu tremia.

– está com frio? – perguntou.

– não.

Ele apenas sorriu e me puxou pela mão até a o fim da trilha. Eu não podia controlar o mix de emoções que se passava na minha cabeça, no meu coração. Estava difícil de pensar e agir, eu apenas estava sendo guiada.

De repente ele parou, se aproximou do meu ouvido e sussurrou “feche os olhos”. Obedeci de imediato. Seu hálito quente fez meu corpo se arrepiar, e eu fiquei meio receosa. Segui em frente com os olhos fechados e guiada por sua mão, que parecia se dar tão bem com a minha. “agora abra” ele disse outra vez.

A visão clara do mar, a brisa quente que soprava em meus cabelos, aquilo foi só o começo das coisas lindas que estavam por vir. Dava para ver tudo dali! Aquele sim era o ponto mais alto da cidade, porém não parecia que muitas pessoas o conheciam, não havia ninguém. Perto da beira do precipício, uma sanga corria com águas cristalinas, e descia algumas pedras e enfim desembocava no mar.

 Ele ficou olhando minha reação, apenas sorri.

– é lindo! – falei. Aproximando-me da sanga.

Ele me segurou pela cintura. – cuidado, não vá muito na ponta.

Me afastei da beira. – como você achou esse lugar?

– eu acampava muito com meu pai. – ele explicou com o olhar baixo, vi que falar do seu pai não era algo que ele gostasse. Ele deu de ombro meio nervoso. – agora você pode tirar os sapatos!

– ah. – falei, tirando minhas sapatilhas. – exatamente por quê? 

Ele tirou as sandálias e com os pés descalços e se sentou na beira da sanga. Fiz o mesmo ficando do seu lado. A água estava gelada, mas não liguei para isso, eu estava gostando da companhia.

– então, gostou?

– sim.

– que bom, eu adoro esse lugar, eu ia vir aqui para ver o cometa de qualquer jeito, mas achei que a sua companhia fosse melhor que a solidão.  – disse, depois ele olhou fundo nos meus olhos e continuou: – mas eu estava errado, a sua companhia é melhor do que qualquer coisa.

Eu não tinha um espelho, mas acho que depois disso, eu estava corada de vergonha. Dei um sorriso tímido e voltei meus olhos para frente.

Ele pegou a mão que estava na grama. – está com medo de mim?

– já falei que não tenho! Por que eu teria? As pessoas não sabem o que falar, você é um cara legal bem diferente da imagem Bad Boy que está vendendo por ai.

– nem tão diferente.

– como assim? – perguntei.

– gosto de ser temido. – ele admitiu rindo. – mas eu não queria que você se afastasse de mim como os outros fazem. Eu gosto de você!

– ah.

– eu queria pedir desculpas. – falou.

– pelo que?

– por ter sido tão idiota com você no seu primeiro dia. Eu sou assim mesmo. Aquele dia eu não tinha visto quem era a motorista do carro, mas quando você desceu dele, foi como se eu tivesse levado um soco no estômago. Eu só sabia que eu queria te conhecer, então me apresentei daquela maneira meio descolada.

– você me enganou aquele dia. – falei.

– eu não queria que você me odiasse sem nem mesmo me conhecer, é como os outros fazem.

– eu não odeio você. – me peguei falando. – mas tenho que admitir que você me deu motivos pra isso.  Pelo menos até hoje de manhã.

Ele sorriu.

– eu não sou bom com as palavras, e pelo jeito nem com as atitudes. O lance do carro, não foi legal.

– concordo! – falei. Ele abaixou olhar. – mas eu não estou mais com raiva de você. – continuei.

– isso é bom. – ele falou sorrindo. Nick olhou o relógio e disse: – é agora.

Olhamos para o céu, e ao longe muito longe dava para ver algo se mexendo, no início pensei que fosse um avião, por que era muito pequeno, mas a medida que ele se aproximava dava para ver o brilho da calda. O cometa era meio azulado, ele passou muito rápido por nossa cidade, logo ele já estava indo em direção ao outro estado, sempre costeando o oceano atlântico em direção a America do Sul.

– faça um pedido! Rápido, antes que ele desapareça. – disse ele.

Eu ri, mas obedeci, fechei os olhos pensando em milhares de coisas que eu poderia pedir. Uma mais idiota que a outra. Rica eu já sou, digo, meu pai é. Família unida, por enquanto eu tenho uma, felicidade, eu sinto isso toda vez que estou perto do... Nick. Desejei.

Abri um olho para poder ver se ele ainda estava ali, e meu coração deu um salto quando seus olhos abertos estavam em mim.

Corei.

– o que foi? – perguntei envergonhada. – pare de me olhar!

Nick passou a mão de leve acariciando as maças do meu rosto, a expressão não mudava, ele encarava fixamente os meus lábios. Lembrei do que eu havia pensado sobre os seus tão beijáveis. Sorri. Ele aproximou meu rosto com cuidado para perto do seu e encostou nossas testas.

– o que você pediu? – perguntei.

– só conto quando se realizar. – ele disse com um olhar travesso.

– depende de outra pessoa? – perguntei novamente, ele fez que sim com a cabeça. – de quem?

Agora quem estava com o olhar fixo era eu, fixamente em seus olhos. Eu esperava por uma atitude dele, uma aproximação. Na verdade eu o desejei, e meu desejo estava muito próximo de se realizar, eu acho. Ele não respondeu minha pergunta, encostou nossos lábios de leve, mas antes que o beijo enfim acontecesse, o seu celular tocou.

Nick se afastou meio hesitante, ele quis me beijar mesmo com o celular tocando, mas achou que a ligação poderia ser importante. Então atendeu.

– pai? – ele perguntou meio inseguro. – estou ocupado agora. – ele dizia. – eu já falei que estou ocupado!

Fixei meus olhos no mar.

– tudo bem. Já estou indo pra casa, não se preocupe.

Senti uma pontada de raiva quando ele disse aquilo. Eu queria continuar ali com ele. Nick desligou o telefone mexeu nos cabelos e me olhou meio inseguro.

– desculpe, eu preciso ir. – falou.

– tudo bem. – concordei com voz de zangada

Ele riu. – viu, você e muito birrenta.

Sorri com os cantos dos lábios. Meio zangada ainda.

– ok. Você tem razão! – admiti.

– sobre o que? – perguntou tocando meu rosto. Senti aquele calafrio que me fazia parecer estar com muito, muito frio.

– nada. – menti. Minha voz não mudou e nem minhas narinas tremeram, acho que eu estava evoluindo. 

Ele sorriu. – vamos, Kath, vamos encontrar o Logan


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