Entre O Amor, A Razão E O Coração escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 5
Capítulo 5. Aproximação


Notas iniciais do capítulo

"Agora as lágrimas fluíam livremente na pele branca e quase sem rugas do seu rosto. Os olhos vermelhos e inchados.
Engoli em seco outra vez. Meu coração estava angustiado. Não conseguia vê-la assim... Tão fragilizada."



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Estacionei joaninha em frente a um prédio de formas estranhas e ao mesmo tempo exuberantes. A galeria de arte. Me senti em casa quando me familiarizei com o lugar.

Emily me levara várias vezes ali. Era o único lugar na cidade que eu não me sentia estranha. Quando entrei fui tomada por aquela sensação de estar em outro mundo.

Telas por todo lado. Telas, esculturas, objetos estranhos que davam muita vontade de rir. Tudo como deveria ser uma galeria de arte moderna. Passei por corredores admirando cada obra, cada quadro que ia do mais estranho formato abstrato ao fiel de uma paisagem.

Uma tela que ficava no fim do corredor e ocupava a metade da parede foi a que mais me chamou atenção. Era um retrato, o meu retrato.

Incrível!

Algo realmente extraordinário e fiel a imagem que eu estava acostumada a ver todos os dias no espelho. O sorriso, as maças do rosto, na tintura, rosadas como se eu tivesse acabado de ficar envergonhada. E os olhos verdes de ressaca, naquele meu olhar mais penetrante de baixo. Foi como me olhar em um daqueles espelhos que aumentam o tamanho da imagem.

Aproximei-me da tela, o nome dela estava lá, como eu imaginei, o nome da minha mãe, ainda com o de solteira. Ao lado da pintura alguns detalhes da obra, o nome: Meu Anjo.

Engoli em seco, sentindo um grande choque percorrer meu corpo.

– é você.

– mãe. – era bom ouvir sua voz.

– você gostou? – ela estava com os olhos vidrados na pintura, parecia estar se lembrando da sua criação, ou algo parecido.

– claro, está...  Idêntica a mim há uns anos atrás.

– é você com 15 anos. A época em que nós... Bom, nós não estávamos nos falando.

Mordi os lábios, eu havia apagado aquilo da memória, não queria que voltasse a tona agora. Antes que eu respondesse alguma coisa, ela continuou.

– eu senti muito a sua falta naquela época. Muito. Fiz essa tela na esperança de ter um pouco de você nela.

Ela fechou os olhos.

Continuei estática olhando para seu rosto sem reação nenhuma. Outra coisa que eu não queria: ter esse tipo de conversa com a minha mãe no momento.

– está ótima mãe. – eu não sabia o que lhe falar. As palavras, as ideias, a compreensão pareceu fugir de mim, só o que eu sentia era tristeza.

– desculpe ter sido tão ausente na sua vida Kath.

E então ela estava chorando.

A abracei forte. – não chore mãe! Não, por favor. Você esteve presente o quanto pode, eu nunca reclamei, não estou reclamando e agora... Agora eu tenho certeza de que não vou reclamar nunca!

Mas ela continuou chorando.

– mãe...

– Kath, como pode ser tão compreensiva? – me interrompeu abruptamente se afastado de mim. – 17 namorados! Esse foi o numero de caras que eu me envolvi nesse tempo todo. 17!

O número parecia assustar mais a ela do que a mim verdadeiramente.

– foi escolha sua mãe, eu enten...

– não entenda! Não aceite, não compreenda! – ela interrompeu outra vez.

Agora as lágrimas fluíam livremente na pele branca e quase sem rugas do seu rosto. Os olhos vermelhos e inchados.

Engoli em seco outra vez. Meu coração estava angustiado. Não conseguia vê-la assim... Tão fragilizada. 

– por quê?

– por que eu me sinto uma péssima mãe.

– fique calma. – a tranquilizei afagando seus cabelos com carinho.

Ela ergueu seus olhos verdes e perguntou:

– você me odeia?

– é claro que não!

E eu não estava mentindo.

– vergonha.

– o quê?

– foi por vergonha que eu não te procurei mais. Sempre pensei que eu não podia ser a figura materna mais adequada a você.

Seu olhar era triste e isso me deixava do mesmo modo. Só quem já passou por isso, sabe o quanto é triste ser o motivo das lagrimas da sua mãe.

– você mudou mãe. Está casada, é uma mulher responsável e assumiu ser mãe de um garotinho de quatro anos! E tem mais, agora eu estou aqui. Com você!

Uma lágrima teimosa rolou em meu rosto enquanto o silêncio fazia minha mãe se acalmar. Todos os anos que eu passei sem ela, em um piscar de olhos pareceram sumir. Tudo o que me importava ali era o agora, o presente.

– você me perdoa?

– sim mãe.

Nos abraçamos por um longo momento e ficamos  curtindo aquilo. A esperança era suprimir todos os abraços não dados e o afeto negado. Era bom.

Nunca em minha vida, eu culparia a minha mãe por suas decisões. Por mais mal tomadas que elas tenham sido eram dela e eu não tinha direto de interferir ou julgar. Poxa! É a minha mãe! A primeira pessoa que eu tive contato na vida eu só tinha a que agradecer e não culpar.

Ao ver que ela estava mais calma, meu coração se aquietou. Eu estava sendo eu. A garota boazinha. E isso era bem mais costumeiro.  

Logo mais a noite no apartamento, eu estava em meu quarto fazendo o dever de matemática, Cat dormia preguiçosamente ao meu lado na cama e então ouvi o toc-toc na porta do banheiro. Meio que hesitante eu falei ‘entre’.

Logan já estava de pijama, um pijama de calças compridas e listradas. O peito nu me deixou pouco a vontade e logo já senti as bochechas corarem.

Ele se sentou no sofá que tinha no canto do quarto.

– não vi você na aula hoje. – comentou.

– pois é. – concordei me sentando na cama para ficar frente a ele.

– sua mãe falou tanto de você que é como se eu já te conhecesse. – continuou como se aquilo fosse normal.

– parece que todo mundo se sente assim em relação a mim.

– estão sendo muito hospitaleiros na escola? – ele riu.

Ri também.

– até de mais. – admiti.

– é normal, você é a garota nova, todo mundo espera algo novo de você. Algo extraordinário!

– vou mostrar algo que vai deixá-los bem surpresos, o meu grande e incrível... Jeito comum.

Logan riu de novo.

– eu já fui o cara novo.

– sério? Você não é daqui, aliás, vocês? – perguntei.

– na verdade não, nós somos do Canadá. Chegamos à cidade uns dois anos atrás. E pode crer, eu era o cara novo que todos queriam conhecer. Mas a curiosidade de todo mundo é passageira, as fofoquinhas também.

– que bom saber. Fui alvo de muitas delas hoje.

Ele sorriu. – conheceu alguém hoje?

– na verdade sim, uma garota chamada April.

– ah sei, tenho aula com ela. – ele pausou. – e com você também.

O olhei incrédula. – jura? De que? Nossa eu estava tão atordoada que nem notei.

– sociologia e educação física.

– uau.

– conheci outra pessoa também, alguém um pouco menos receptivo que os demais. – continuei  com um certo desdém na voz.

– me deixe adivinhar, Nicolas Riddle? – perguntou como se aquilo fosse obvio. Na hora eu não entendi.

– bom, eu só o conheço como Nick, foi como ele se apresentou. – respondi.

Até que conversar com Logan não era tão ruim. Tenho que admitir, também me sentia como se já o conhecesse.

– hm, Nick foi é o cara mais estranho que eu conheço e também o mais maneiro. É um dos poucos amigos que eu fiz aqui.

– uau duplo.

– é sério acredite, ele é um pouco neurótico e exibido, mas acho que é apenas um pretexto para afastar as pessoas dele. – disse Logan.

– não imagino você andando com ele. Sinceramente. – e nem por que ele gostaria de afastar as pessoas. Acrescentei em pensamento.

Logan riu. – por quê?

– por que você é tão legal. Ele é tão... É tão... Irritante!

– o que ele te fez?

Agora sua risada era alta, como se ele soubesse o que Nick era capaz de fazer.

– pode parecer um motivo idiota, mas quando eu cheguei à escola, estava preparada para estacionar a Joaninha na vaga e...

– estacionar quem? – perguntou rindo.

– a Joaninha, é como apelidei o New Beetle da minha mãe. – expliquei.

– ah.

– enfim. Ele me deu uma cortada violenta na frente do carro, pegou a minha vaga e ainda saiu rindo como se nada tivesse acontecido! Achei aquilo tão mal educado. – levantei as mãos expressando a minha frustração, ergui o dedo e continuei – e tem mais! Ele depois estava com o uniforme do time de futebol e sem os óculos, e eu não o reconheci! Ele foi todo legal comigo me ajudando a achar a sala de sociologia.

– típico dele.

– como assim?

– ele gosta de joguinhos. – respondeu.

– e você ainda o acha maneiro? – perguntei incrédula.

– ele me ajudou muito. – sua expressão de repente mudara para pensativa e não mais risonha. – enfim, o pessoal não gosta muito dele. Acham ele um pouco perigoso.

– perigoso? Por que ele seria?

– todo mundo que tem um pouco de controle e poder nas mãos pode ser considerado perigoso. – ele disse. – mas enfim, tá tarde né, vou dormir, te vejo no café da amanhã Kath.

Sorri.

– boa noite.

Depois que Logan saiu do quarto eu comecei a pensar... O que tinha de tão perigoso nesse tal Nicolas Riddle? Para mim ele não passava de um riquinho. Ah então era isso talvez? A riqueza o deixava perigoso. Controle e poder nas mãos, qualquer rico tem um pouco disso, e se ele fosse filho de alguém importante poderia ter isso em dobro.

Deixei as especulações para mais tarde. Estava na hora de ir dormir. 


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