Entre O Amor, A Razão E O Coração escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 21
Capítulo 21. Teste


Notas iniciais do capítulo

acabe logo com essa dúvida Kath.
Olhei para aquele objeto branco em minhas mãos, então estava ali a coisa que decidiria meu futuro.



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Minha mãe dançava frente ao espelho com seu longo vestido branco. Ela havia escolhido o mais caro da loja, por incrível que pareça meu pai prometeu que daria a ela o vestido que ela escolhesse. E minha mãe não é do tipo que rejeita um presente. Admiro Klaus por isso. Aliás, admiro meu pai por muitas coisas, ele é tão integro e bom, as vezes não entendo por que minha mãe largou dele. Mas enfim são coisas no amor que eu nunca vou entender.

Ver Emily tão feliz me dava um nó na garganta. Será que um dia eu encontraria essa felicidade que todos tanto almejam? Ultimamente eu tenho feito muitas perguntas pra mim mesma. Eu estava tão feliz, estava tudo tão bom, tão certo. Mas há duas semanas que eu não sei mais o que é sorrir.

É triste quando toda aquela admiração que você tinha por uma pessoa se transforma em uma linha rígida e firme de raiva na sua testa. Na manhã seguinte a traição meu celular apareceu na porta do apartamento com um bilhete pedindo desculpas. Joguei aquele papel no lixo antes mesmo de ler as palavras vagas e sem sentido que estariam nele.

Eu quis contar tudo para minha mãe na esperança de que ela pudesse me ajudar, me guiar, ou sei lá apenas segurar minha cabeça enquanto eu chorava, mas ela estava tão envolvida com os detalhes da cerimônia de casamento que eu me calei. Apenas confirmei para ela, eu e Nick havíamos terminado.

– então, o que achou? – ela perguntou.

– é lindo mamãe. – falei.

– é mesmo, olhe o bordado, tão delicado, o decote bem firme. Ah!

Ela me olhou. – bem, falta escolher o seu vestido.

– ah mãe, hoje não pode favor. Eu não estou me sentindo bem, estou um pouco enjoada.

– mas...

– faz assim, eu volto pra casa e você escolhe o vestido pra mim. Sem problemas, eu colocarei o que você quiser.

Ela concordou sorridente e disse: – passe na farmácia para comprar um remédio para esse seu enjôo.

Assenti.

Seria uma caminhada longa da loja de noivas até o apartamento, mas pelo menos eu distrairia minha cabeça olhando as vitrines e quem sabe comprando algo.

Pensei em passar no cemitério, aparentemente a lápide de April era a única coisa que estava ali para me ouvir chorar e lamentar, mas o clima não estava tão sombrio a ponto de eu ter que conversar com uma garota morta.

A tarde eu havia marcado de ir com Logan na natação substituir Karen. Ele havia pago todas as sessões e seria um desperdício deixar de ir por causa dela. Concordei com ele, afinal se tratava da recuperação de suas pernas e não de um lugar onde ele e Karen trocaram uns beijos quando o instrutor não estava vendo.

Pela primeira vez na minha vida ao olhar meu corpo no espelho depois do banho eu senti como se ele estivesse sujo. Eu me sentia suja. Cada toque em mim me fazia lembrar dos toques de Nick, eu estava definitivamente com nojo de mim mesma.

Abracei meu corpo e fiquei encarando as lojas de roupas, vendo se tinha algo que me interessasse nas vitrines.

Notei que na esquina perto da minha casa tinha uma farmácia e entrei ali para comprar um remédio para enjôo.

– oi, posso ajudar? – perguntou uma atendente, uma moça ruiva com sardas que pareciam estrelinhas no nariz.

– eu estou com um pouco de enjôo, algum remédio pra me indicar? – falei.

Ela assentiu. – sim temos. Mas é só enjôo?

– é, acho que peguei uma virose. – respondi.

– ok, vou buscar.

Fiquei olhando para a farmácia, é tão irônico esses remédios serem tão coloridos, olhei para a estante de esmaltes e depois para as minhas unhas. Passei rapidamente meus olhos pelos absorventes e um vento gelado me fez estremecer. Não.

Fazia quanto tempo que a minha menstruação estava atrasada? No mês passado veio no dia 5, agora era dia 18. Oh meu Deus! 13 dias. Enjôo, menstruação atrasada. Não, não podia ser.

Senti um nó na garganta e de repente fiquei enjoada. Corri até a moça que me atendeu.

– preciso de um banheiro.

– é claro. Meu Deus garota você está tão pálida, quer ajuda?

– banheiro! – falei.

Ela apontou para um corredor ao lado do caixa e eu sai correndo em direção a ele, quando encontrei a privada vomitei. Limpando os lábios com água eu comecei a chorar. Isso não podia estar acontecendo.

Me recompus molhando o rosto e pescoço pelo menos o enjôo já tinha passado.

– aconteceu alguma coisa, moça? – perguntou a atendente.

Não consegui segurar as lágrimas. – não nada.

Ela olhou em volta pela farmácia e viu que não havia nenhum cliente, olhou o relógio e falou: – acho que está na hora da minha pausa.

A moça ruiva se dirigiu até a porta da farmácia e fechou a porta alterando a plaquinha para fechado. Quando se aproximou de mim disse: – acho que você precisa de uma amiga.

Recomecei a chorar, só que desta vez no ombro dela, definitivamente aquele não era o meu dia, talvez minha semana, quem sabe até o meu mês. Eu estava tão agradecida por ainda existirem pessoas como essas no mundo. Eu me senti tão carente, tão desprotegida que até um colo de um estranho era reconfortante.

– meu nome é Rebecca. E o seu? – perguntou.

– Kath.

– então, Kath, me conte o que aconteceu.

Hesitei me afastando. – acho melhor não, eu não sei.

– é sério, pode me falar, eu juro que não sou o tipo de pessoa que sai espalhando os segredos dos outros na internet.

Umedeci os lábios. – ok. Acho que depois de hoje nada mais me acontecerá.

Respirei fundo.

– meu namorado me traiu. Peguei ele com outra na banheira.

Ela abriu os lábios surpresa.

– ah sinto tanto. – ela disse, vi que estava sendo sincera

– é, e o pior é que eu não tenho com quem conversar, minha amiga morreu. Meu irmão está apaixonado por mim. Minha mãe vai se casar mês que vem e meu pai mora na Califórnia. Me sinto sozinha!

– seu irmão está apaixonado por você? – ela perguntou espantada.

– não, ele não é do meu sangue, é filho do atual marido da minha mãe.

– ah. Mas e você sente algo por ele?

Segurei a cabeça entre as mãos. – eu não sei! Estou tão confusa, tão frágil.

Ela passou a mão no meu cabelo. – acalme-se, com o tempo as coisas vão se resolver, é só ter paciência, nada pior pode acontecer. – ela disse.

Quase acreditei nas suas palavras.

– acho que estou grávida.

– oh meu Deus. – falou. – e por que acha isso?

Engoli em seco.

– esses enjôos, e agora pouco me deparei com a triste realidade de que estou atrasada.

– mas não há certeza, quer dizer, você não sabe se realmente está, não é?

– não sei. Mas tudo se encaixa sabe.

– e se você tivesse certeza, o que faria?

– primeiro preciso ter certeza e depois saber o que vou fazer.

Rebecca se aproximou de um armário onde retirou um produto dentro de uma caixinha branca. Ela entregou o objeto em minha mão. Era um teste de gravidez.

– acabe logo com essa dúvida Kath.

Olhei para aquele objeto branco em minhas mãos, então estava ali a coisa que decidiria meu futuro.


– o casamento vai ser na fazenda do meu avô. – disse Logan.

– xiu, não pode conversar enquanto estou trabalhando. – disse o instrutor.

– desculpe

Fiquei dentro da piscina enorme observando Logan mexer sua perna. Eu fiquei tão feliz em vê-lo progredir.

– olha rapaz, daqui a alguns dias você vai estar novinho em folha!

– ah que ótimo! – se exaltou Logan. Quase dei um sorriso, quase.

– então, Kath, agora é sua vez, repita esses movimentos com ele continuamente que eu vou ali ver como andam os outros.

Concordei com a cabeça. Imitando os movimentos do professor na perna esquerda de Logan.

– estou curiosa para conhecer a fazenda do seu avô.

– você vai adorar! Eu prometo! Estou feliz que vá ser lá o casamento.

– por quê?

– eu adoro aquele lugar.

Dei um sorriso fraco.

– ah você sorriu. Quanto tempo eu não via você sorrir.

Dei outro sorriso. – desculpe estar tão distante, é que eu ainda estou um pouquinho triste com tudo aquilo que aconteceu.

– entendo. Você conversou com Nick?

– não, mas sinto que agora terei de conversar. – deixei escapar.

Ele me olhou meio confuso. – por quê?

– nada.

Ele me encarou meio pensativo, mas deixou quieto o assunto, começou a falar de como era bom cavalgar na fazenda, da varanda com redes e de todo o frescor do campo. Me senti bem ouvindo sua voz. Quando estávamos no carro indo para casa ele resolveu tocar no assunto conversa com Nick.

– Kath, por que você não me conta o que está acontecendo?

– eu não posso falar.

– por quê?

– por que você não ia gostar de ouvir. – falei.

– pare o carro. – ele disse.

– o que?

– pare o carro. – repetiu em um tom mais firme.

Estávamos na avenida beira-mar, estacionei o carro no acostamento e olhei bem séria pra ele. O céu estava cinza como os olhos dele.

– me conte o que está acontecendo. – ele disse.

– nada.

– pelo amor de deus Katherina. Você sabe que tem! – ele se exaltou chacoalhando as mãos. Me encolhi no banco, a ponto de chorar.

– não está acontecendo nada, Logan. – falei.

Uma primeira gota caiu no pára-brisa e depois mais algumas seguiram aquela. Em um minuto o carro estava ensopado, na rua uma chuva de verão lavava a areia da praia. Fiquei olhando nervosa para o mar agitado, definitivamente imitando o meu estado de espírito.

– escute, eu não quero que pense que não pode conversar comigo, só por que eu gosto de você, ainda sou o seu... Irmão. – ele falou a palavra como se não acreditasse muito nela.

– não consigo falar.

– Kath, é só falar, abra a boca e fale.

Meu peito parecia que ia explodir. Tomei a mais íntima coragem que tinha dentro de mim e falei.

– estou grávida! – gritei com raiva.



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