Entre O Amor, A Razão E O Coração escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 2
Capítulo 2. Surpresinha!


Notas iniciais do capítulo

"O trinque da porta sendo aberto. Um, dois, três e lá estava ela parada me olhando com o maior sorriso do mundo. Emily não tinha mudado nada, continuava com a mesma aparência jovial de sempre."



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Dentro o prédio estava diferente também, estava mais despojado e sem a aparência pobre que eu me lembrava. Passei pelo porteiro, pelo menos ele ainda era o mesmo. Nunca ia me esquecer dos cabelos brancos do Bekster. Aquele velhinho era forte, anos se passaram e ele não mudara uma ruga sequer.

– Kitty Kath? – perguntou ele atrás dos óculos de grau. Devia ser difícil me reconhecer, mas ele me reconheceu. Saiu de trás do balcão e foi ao meu encontro.

– oi senhor Bekster!

– nossa! Menina! Há quanto tempo eu não te via? – ele me abraçou, o abracei também, suas roupas cheiravam a pinho e tabaco, uma mistura não muito agradável, mas era bom sentir um cheiro familiar. Ele afagou o pelo de Cat que ainda estava enroscado em meu colo com medo.

– creio eu que faz uns cinco anos que não nos vemos, nossa, nem sei como me reconheceu.

– reconheço a Kitty Kath em qualquer lugar – ele falou sorridente. Os olhos castanhos, quase cegos, me observando cautelosamente. – veio ver sua mãe?

Concordei com a cabeça e acrescente um “morar”. Ele arregalou os olhos, surpreso.

– cobertura.

– como? – questionei.

– sim, cobertura, sua mãe se mudou para lá logo depois do casamento. – ele explicou.

– ca-casamento? – gaguejei. Olhei para meu pai que balançava a cabeça discordando de tudo.

– Kath, vamos.

Obedeci. – até mais Sr. Bekster.

– até mais Kitty Kath.

Entrei no elevador bufando com muita raiva. Eu sabia que devia ter um motivo para eu me mudar. Eu sabia! Minha mãe se... Casou! Como ela pode fazer isso sem pelo menos ter me dito? Ah! Ela faz tudo errado! Meu pai não falou uma palavra até chegarmos ao décimo andar e quando chegamos lá o que ele disse foi:

– seja boazinha.

– eu sempre sou. – respondi irritada.

Digamos que eu fiquei meio receosa na hora que Klaus tocou a campainha, a ansiedade toma conta na hora que você vai morar com sua mãe e o novo marido dela. Marido na qual eu nem sabia da existência. Santo senhor Bekster! Deus o abençoe por ter me dito. Fico imaginando, que reação eu teria quando abrisse a porta e visse minha mãe com um cara? Bom, eu já a vi com muitos, e sinceramente nunca pensei que ela fosse se casar novamente, não é do feitio dela.

O trinque da porta sendo aberto. Um, dois, três e lá estava ela parada me olhando com o maior sorriso do mundo. Emily não tinha mudado nada, continuava com a mesma aparência jovial de sempre. Os cabelos curtos e repicados, muito diferentes dos meus. O tom era de um castanho bem escuro, o oposto do meu castanho dourado. Os olhos, inconfundíveis olhos verdes, esses sim iguais aos meus, acho que o único traço que herdei dela. De repente me senti uma garotinha outra vez. A velha insegurança em ver minha mãe.

– Kath! – ela disse. Seus braços abertos para um abraço. Engoli toda a raiva por ela não ter contado do casamento e a abracei meio hesitante. – você está linda! Mudou tanto desde o natal.

– é mamãe, já faz nove meses desde o natal. – falei.

Ela escondeu um constrangimento e se dirigiu ao meu pai.

– oi Klaus, como foi a viajem?

– foi ótima, Emily. – ele respondeu.

Minha mãe sorriu e pediu que nós entrássemos. A princípio nada de estranho, o apartamento era bonito, aliás, era lindo. Estava decorado com muitos dos quadros que ela pintou, lembro de todos eles. Havia muitas janelas, muito vidro. Não me dou muito bem com vidro. A sala era desnivelada com a cozinha, ficava um degrau abaixo, tinha um sofá enorme na cor azul escuro, e algumas almofadas amarelas e laranjas. Tinha – isso sim me chamou muito a atenção – uma TV enorme de 50 polegadas grudada na parede. Na ala esquerda tinha um corredor imagino que ele desse para os quartos.

Nunca imaginei minha mãe em um lugar daqueles, ela sempre fora tão simples e meio desleixada, o antigo apartamento dela era uma bagunça, com tintas e telas por todo lado.

– gostou? – ela me perguntou super animada.

– é lindo.

– então filha, animada para vir morar aqui? – definitivamente ela não devia ter me feito essa pergunta.

Encolhi os ombros e virei meu rosto, eu não queria que ninguém visse minha narina direita tremer. Respondi um singelo “aham”.

– Cat pareceu gostar do lugar. – comentou meu pai. Olhei para meu gato que cheirava tudo com curiosidade no chão. Cheiros estranhos, pensei.

– er... Mãe, por que você se mudou?

Pela cara dela, eu não devia ter feito essa pergunta, ficou evidente que ela não sabia como dizer “filha me casei” e eu não estava preparada para ouvir isso também. Mas então ela tomou uma coragem súbita, estufou o peito e me mostrou o dedo com a aliança.

– casei.

Mordi os lábios. – hum.

– é só o que tem a me dizer? “hum”? – ela perguntou arqueando uma sobrancelha castanha.

– o que espera que eu diga, mãe? Meus parabéns? Está sonhando se pensa que eu vou dizer isso algum dia.

– Katherina. – meu pai.

– quando vocês esperavam me contar? Assim só pra saber.

– foi decidido de imediato, o Fred me pediu em casamento, nós estávamos perto do cartório e nos casamos! Foi uma surpresa para os filhos dele também.

– filhos dele?

– meu bem, meu bem, apenas me escute, não quero que se zangue comigo, e nem com seu pai. Já faz dois meses que me casei, na hora eu quis te contar, liguei para sua casa, mas você não estava, então eu e Klaus conversamos e decidimos tudo. – ela falou, tão rápido. Era como se ela quisesse que tudo ficasse bem logo. Não ia ficar.

– onde está seu... Marido?

– pedi que ele saísse, pelo menos por uma hora. Precisávamos conversar com você. – me explicou.

Eu estava terminantemente decidida a não aceitar tudo aquilo, mentiras, odeio mentiras. Mas eu me importo com a felicidade dos meus pais, e com certeza meu pai era mais feliz sozinho, e minha mãe com o novo marido, ou devo dizer, a nova família. Pela primeira vez me senti deslocada, uma sem teto. Ele não me quer lá, ela não me quer verdadeiramente aqui.

Embaixo da ponte, lá vou eu!

Posso estar sendo um pouco dramática, mas a situação é crítica.

– Kath?

A olhei. – você está feliz?

– muito! – respondeu ela sorrindo.

– então não precisa me explicar mais nada. – falei. Mas havia magoa nas minhas palavras.

Meu pai me olhou, certamente percebendo tudo. Mas ele ficou em silêncio, passou a mão nos cabelos pretos e ajeitou o blazer.

Por que as coisas têm que ser tão difíceis na minha família? Não seria mais fácil se minha mãe tivesse ficado na Califórnia comigo e meu pai. Acho que eu teria sido mais feliz com isso.



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