Entre O Amor, A Razão E O Coração escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 15
Capítulo 15. Dois corações


Notas iniciais do capítulo

Uma dor do peito, uma saudade e uma sensação esquisita me fez ir até o cemitério da cidade um dia depois da aula. Dirigi o carro na maior velocidade possível esperando que assim aquele turbilhão de emoções evaporasse.



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Senti como se tivessem tirado meu chão, meu ar, eu arfei, não consegui chorar, não consegui falar nem me mexer. Fred entrara porta adentro empurrando a cadeira de Logan, pálido, triste, desiludido, doente era essa a imagem que eu vi. Me retrai a correr em sua direção, olhei para meu simples braço quebrado ou o meu pé torcido, o que aquilo poderia significar para alguém que não podia andar?  Ele olhou em meus olhos, vi um lampejo de felicidade e quase um sorriso, mas tudo foi tomado pela dor do momento.

Logan virou o rosto e pediu que o levassem para o quarto, ele estava cansado de mais para poder conversar queria dormir e precisava de ajuda pra isso. Talvez aquilo fosse passageiro, pensei. Apenas enquanto suas pernas se recuperavam, meses, anos, não sei. Outra ideia passou em minha cabeça, e se fosse pra vida toda? E se fosse pra sempre?

Afastei esse pensamento pra longe.

Os dias que se passaram ao que Logan chegou em casa, foram confusos e meio tristes. Eu não conversei com ele sequer um dia, apenas nos víamos nos horários de refeição e de vez em quando na escola. As pessoas evitavam falar com ele, o único que se aproximava era Nick, até eu resolvi dar um tempo a ele, e esperar que ele se aproximasse de mim. Eu não me esqueci do beijou, ou do que ele havia me dito. Mas achei melhor não mencionar no assunto.

Frente ao armário de April havia bilhetes, flores e ursinhos de pelúcia, todos sentiam a falta dela inclusive eu. Meio que culparam Logan pelo acidente, gente burra! Ninguém sabe o que realmente aconteceu lá.

Além de tudo, havia Nick, nós ainda não tínhamos terminado, mas não agimos como se tivéssemos sido separados por seqüestradores. Eu ainda ansiava por ele, e queria estar perto dele a todo custo, mas meu coração estava divido entre o que seria verdade, ou o que seria mentira. Eu estava reclusa, embora rodeada de pessoas.

Virei novamente uma espécie de celebridade. A garota que sobreviveu sem seqüelas. A mulher-maravilha. A super-heroína.

Nas rodinhas de conversa, como dizia April, só o que falavam era “o acidente” “o seqüestro” e o motivo de tudo o que aconteceu.

Uma dor do peito, uma saudade e uma sensação esquisita me fez ir até o cemitério da cidade um dia depois da aula. Dirigi o carro na maior velocidade possível esperando que assim aquele turbilhão de emoções evaporasse.

Caminhando por entre as lápides das famílias fundadoras, das pessoas importantes, dos simples pescadores eu cheguei até a lápide da família Carter. April Marie Carter 1995-2012. Toquei na inscrição que estava seu nome, desejando que aquilo fosse mentira. Parte de mim não acreditava que April estivesse morta e Logan em uma cadeira de rodas e eu aqui viva, podendo correr, andar, dirigir. Isso me deixava irritada.

Sentei no gramado ao lado da lápide dela. Abracei meus joelhos e abaixei minha cabeça sentindo as lágrimas quentes rolarem no me rosto estragando qualquer vestígio de maquiagem. Era só o que dava vontade de fazer ultimamente, chorar.

– era a hora dela. – levantei a cabeça na direção da voz de Logan.

– como chegou aqui? – perguntei espantada.

Ele apontou para trás e vi Nick ao longe com as mãos nos bolsos observando uma lápide que parecia ser a da sua família. Sua mãe talvez, eu e ele nunca conversamos sobre isso.

Logan empurrou a cadeira para perto de mim e eu me mantive intacta embora aquele movimento tivesse me assustado um pouco.

– eu tenho te evitado, Kath, mas não é isso o que eu quero. – ele falou.

Permaneci em silêncio e ele continuou: – fiz isso por que imagino que me culpe pela morte de April.

– não! – protestei. – de maneira alguma. Você tem que parar de se culpar por tudo! eu nunca te culparia, Logan você é meu irmão.

Aquela palavra me soava tão distante sendo dita em voz alta.

Ele virou o rosto. – imaginei que fosse assim para você. Desculpe pelo beijo aquele dia, acho que foi precipitado, é que eu pensei que iria morrer. Eu... – ele se interrompeu e olhou para a cadeira de rodas. – acho que teria sido melhor se eu tivesse morrido.

– não diga isso. – me ajoelhei perto da cadeira de rodas e segurei suas mãos, meu movimento o deixou surpreso. – você não tem noção o quanto eu estou feliz por você estar vivo!

– me sinto um morto-vivo. – ele lamentou-se.

– minha mãe disse que pode não ser definitivo. Tem a fisioterapia, os tratamentos, ouvi dizer que a natação ajuda, eu...

– pra que eu faria tudo isso?  Me diz um motivo. Para meu pai? Para meu irmão?

– por você! – falei.

Ele fez um som irônico. – um motivo melhor.

Mordi os lábios. – por mim. – sussurrei.

Ele me olhou surpreso. – por que eu faria por você?

Hesitei em responder que era por que eu o amava. Não sei se ele receberia essas palavras tão bem quanto ele as disse pra mim.

– por que eu quero que você volte a ser como era antes.

Ele ficou em silêncio por um longo momento, o vento agitava as flores nas lápides e deixava o aspecto meio sinistro. Olhei para o nome de April e ele seguiu meu olhar.

– farei isso por você. – ele disse.

Sorri fraco.

– escute, Kath, acho melhor esquecer aquele beijo. Deixar tudo como estava. – ele falou cheio de pausas, então olhou por sobre o ombro para Nick lá trás e continuou: – ele é um cara legal e ama você. Quero que me prometa uma coisa.

– o que? – perguntei.

– eu posso não confiar nele, mas isso não é motivo suficiente para que você mude de ideia, promete que não vai terminar com ele.

Arregalei os olhos, mais espantada do que nunca.

– se eu posso fazer uma coisa por você, você pode fazer uma coisa por mim. – falou. – é como uma troca de favores. Ou melhor, é como uma troca de segredos. Será você e eu e algo para trabalharmos.

Assenti com a cabeça. Eu não estava em condições de abrir minha boca.


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