Entre O Amor, A Razão E O Coração escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 14
Capítulo 14. Despertar


Notas iniciais do capítulo

Algo em meu silêncio fez Nick suspirar fraco e largar minha mão.
eu volto mais tarde, fico feliz que esteja bem. Eu... ele hesitou em dizer eu te amo. Ele nunca havia falado, talvez esse não fosse o momento para se falar pela primeira vez.



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Eu estava agora sendo envolvida por um calor aconchegante, diferente do frio da escuridão. Ele aquecia a ponta dos meus dedos como o sol de verão. Me imaginei em um campo de grama verde, com pássaros, sol e um lago. Um sussurro surdo do vento na minha orelha me fez serrar mais ainda os olhos e abrir um sorriso fraco. Desta vez eu havia morrido.

– ainda não! – gritou alguém. – não ela ainda não acordou.

Me senti desconfortável, não sei se no céu há agitação, me mexi um pouco. Senti meu corpo tremer. De repente algo muito forte me puxou para fora daquele turbilhão de sensações.

Havia uma luz muito intensa no meu olho, ela me fazia lembrar as luzes artificiais de Paris à noite. Ou quando havia shows na praia no Caribe, e principalmente das luzes de um hospital. Aquilo estava quase me deixando cega. E eu não conseguia me lembrar de nada do que havia acontecido, parecia que eu havia dormido por dias. Eu estava consciente, mas não conseguia abrir os olhos e nem falar. Queria me mexer, mas tinha uma força me prendendo a algo macio que mais parecia uma cama. E aquela luz, ela era muito forte mesmo, estava realmente me cegando. Fiz a maior força possível para abrir os olhos.

Ouvi um barulho de coisas caindo.

– ela se mexeu. – disse uma voz.

Continuei sem entender nada. Eu só sabia que meu corpo estava adormecido. Como se eu não me movimentasse há anos. Fiz mais força ainda para abrir os olhos. A luz que estava em mim não era algo confortável.

Mais barulho de coisas caindo e passos, passos apressados que cada vez se aproximavam mais. E eu durante todo esse tempo só queria que desligassem aquela luz infernal em cima de mim.

– Kath?

É sim, esse era meu nome. Estavam me chamando ali. Tentei falar, mas eu nem conseguia separar os lábios um do outro. Tentei movimentar os dedos da mão com todas as minhas forças. Em vão. Por que eu não conseguia fazer nada? Eu estava ali, estava consciente, mas parece que meu corpo não estava em sintonia com a minha cabeça.

– mas eu vi, ela tentou abrir os olhos. – era a voz de um homem. Meu pai?

– Nick, acho melhor você ir pra casa descansar. – essa voz feminina era familiar, muito familiar, minha mãe.

Nick? Mãe? Eu precisava acordar, lentamente senti que podia abrir meus olhos. E foi como ver o mundo pela primeira vez, os semicerrei por causa da luz forte em cima de mim.

Abri os lábios. – mãe?

– ah meu Deus! Nick chame a enfermeira e diga que ela acordou. – falou minha mãe gesticulando para além da porta do quarto.

– Logan. – sussurrei. Notei que Nick parou no meio do caminho até a porta e olhou por sobre o ombro, serrou os punhos e continuou.

Minha mãe pôs os dedos frios sobre minha testa e falou doce, como o sussurro do vento. – ele está descansando, minha querida.

Me remexi um pouco na cama. – April?

Seus olhos ficaram estáticos por alguns segundos, e ela não sabia o que dizer, senti meu peito ficar em frangalhos.

– April? – repeti.

Ela umedeceu os lábios. Senti uma lágrima silenciosa rolar em meu rosto, no fundo eu já sabia, April havia morrido.


– estamos procurando os suspeitos. – essa era a voz da policial duas horas depois de eu ter acordado. Eu estava beliscando umas uvas trazidas pela enfermeira e escutava atentamente e respondia todas as perguntas. A pior parte foi descrever como agimos no carro, os tiros o acidente tudo aquilo parecia um pesadelo pra mim e eu não queria recordar.

– quanto tempo durou tudo isso? – perguntei.

– vocês foram dados como desaparecidos há dois dias. – respondeu minha mãe. – foram os piores dias da minha vida e da de Fred. E suponho que o pai de April também esteja mal.

Fechei os olhos e larguei as uvas na bandeja em minha frente. Eu ainda podia ouvir a voz de April em minha cabeça, pedindo desculpas e falando que estava feliz em me ver. Não entendi por que ela surtou atacando o volante do carro e fazendo a gente bater no acostamento, por quê? Estava tudo bem! Comecei a chorar.

– acho melhor voltarmos mais tarde... – disse a policial.

Minha mãe segurou em minhas mãos. O que mais doía em mim, não eram os machucados pela batida, o meu braço quebrado, ou a torção no pé, doía meu coração. Eu não estava preparada para perder alguém. Não uma amiga. Chorei baixinho até adormecer novamente, eu queria dormir e acordar pensando que aquilo não passava de um pesadelo. Quando acordei Nick estava segurando em minhas mãos sentado á cama me observando. Sorri ao vê-lo.

Ele balançou a cabeça como se não soubesse por onde começar a falar.

– sinto muito. – ele disse. Notei que se referia a minha perda.

– eu também sinto.

– eu senti tanto medo apenas de ouvir o que o policial contou. – ele pegou a mão que estava com o corte do gatilho e fez uma expressão de dor e no fundo de culpa.

– pensei que eu nunca fosse tocar em uma arma. – comentei me aconchegando nos travesseiros.

– você fugiu de mim aquele dia, não devia ter feito aquilo. Tudo poderia ter sido diferente se você tivesse...

– Nick! Olha pra mim agora, não me faça sentir mais dor e culpa do que eu já estou sentindo. Essa frase não combina com o momento. – interrompi com raiva sentido as lágrimas brotarem furtivamente de mim.

– eu sei é que...

– April está morta. Logan ainda não acordou, como acha que eu me sinto? – falei um tom mais alto do que o dele.

– eu só não quero te perder. – ela sussurrou baixinho, os olhos repleto de lágrimas com olheiras profundas. Ele não devia dormir a horas.

Apertei sua mão. Eu não tinha fala, estava começando a choramingar outra vez. Como dizer a ele que ele não estava me perdendo se era isso o que eu estava sentindo? Desde que acordei eu não conseguia parar de pensar em tudo o que tinha acontecido, e uma remota parte de mim, pensava que tudo aquilo poderia ser culpa de Nick.

Algo em meu silêncio fez Nick suspirar fraco e largar minha mão.

– eu volto mais tarde, fico feliz que esteja bem. Eu... – ele hesitou em dizer eu te amo. Ele nunca havia falado, talvez esse não fosse o momento para se falar pela primeira vez.

– espero que volte, Nick. – interrompi.

Ele assentiu se debruçou sobre a cama e deu um beijo em minha testa. Fechei os olhos e quando abri novamente eu estava sozinha no quarto.


Foi um alívio estar em casa novamente e poder descansar na minha cama macia e aconchegante. Uma noite bem dormida e eu estava super disposta a encarar um novo dia. Claro, eu não estava em condições de andar muito bem, a torção no pé me limitava e meu braço esquerdo quebrado também, mas aquela sensação de quase normalidade me deixava bem.

Um turbilhão de notícias boas naquela manhã de sábado me deixaram mais feliz do que eu imaginara com as circunstâncias. Logan estava voltando pra casa! Aquela foi a melhor coisa que eu ouvi em três dias. Talvez fosse a melhor coisa que eu ouvi na minha vida! Ele estava bem, recebeu alta e ia voltar pra casa. Eu o veria outra vez, nada poderia ser melhor aquilo a não ser a outra notícia. Capturaram os suspeitos. Aquela notícia assim me deixou deliciosamente satisfeita, foi como saborear a minha refeição preferida depois de quase morrer de fome.

Cheguei à sala mancando e logo Dan veio correndo me abraçar.

– Logan vai voltar! Ele vai voltar! – disse o pequeno.

– ah meu amor, estou tão feliz também. – falei a ele e o abracei.

– eu fiquei com tanto medo por vocês, orei todas as noites para que ficassem bem. – disse ele.

Senti meus olhos encherem de lágrimas e deixei que elas escorressem. “Deus ouviu suas orações meu pequeno, estamos bem”. Fiz uma prece silenciosa de agradecimento e então as lágrimas cessaram.

Meu coração estava palpitando de felicidade, logo Logan entraria por aquela porta e correria em minha direção e nós daríamos um abraço de felicidade, amor e de certa forma alivio. Ver ele seria muito, saber que eu não havia o perdido me deixava mais que feliz.

Enquanto ouvia o barulho do elevador esperei por longos minutos saboreando a excitação que corria livre em minhas veias. A porta se abriu e ele estava chegando. Sorri com a maior felicidade do mundo, mas meu sorriso levemente se apagou quando notei... Que ele estava em uma cadeira de rodas.



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