Entre O Amor, A Razão E O Coração escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 13
Capítulo 13. A escapada


Notas iniciais do capítulo

Não vou a lugar nenhum sem saber como é o seu rosto. Como posso confiar em alguém que eu só posso ver os olhos? Falei.
Os olhos são as janelas da alma. Argumentou.
Discordei. E o seu rosto expressa aquilo que o coração está sentindo.



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A história que ouvi do meu meio irmão não pode ser considerada para crianças dormirem. Eu estava parada perplexa por tudo o que Logan me contou. Primeiro nunca pensei que Logan e Nick fossem capazes de se envolver com algo tão estúpido quanto drogas e bebida.

Aparentemente Nick e Logan tinham uma coisa em comum, a sua aversão a pessoas. Meu irmão contou que no Canadá ele era o cara mais reservado possível, não tinha amigos, nem namoradas, era apenas um Mané, como ele mesmo se descreveu. Eu não o chamaria de “Mané”, eu também não sou o tipo de garota que anda sempre em rodinhas de fofocas. Enfim, Logan disse Nick se aproximou dele e que no início era tudo festa, tudo uma beleza até eles começarem a beber. É como eu digo adolescente e bebida não é bom.

Ouvi esse pedaço da história numa boa, batendo o pé impaciente e pensando no que aquilo poderia me convencer a achar que Nick fosse o traficante de drogas. Olhei para April no canto do quarto, quieta sem contestar uma palavra do que Logan estava dizendo. Comecei a acreditar nas suas palavras.

Ele pigarreou e eu voltei minha atenção a ele.

Logan contou que no meio dessas festinhas eles convidaram duas garotas e foram para a casa de Nick. Eu queria pular a parte em que eles estavam se agarrando com duas bêbadas no sofá da sala, mas continuei prestando atenção.

Rebecca a mais, podemos dizer, oferecida, era a que estava a fim de Logan, e isso irritou Nick, pois ela também era a mais bonita. Então ela começou a fazer joguinhos, usava meu namorado para provocar ciúmes no meu irmão. Outra coisa que não acaba bem. E com certeza não acabou bem para essa garota.

– onde quer chegar Logan, quer que eu acredite que Nick não é um cara legal por que ele fazia algumas festinhas com você? – perguntei irritada interrompendo a história.

– não, não é isso.

– então chegue logo ao ponto, por favor, estou cansada.

– ok. A questão é que Rebecca começou a passar dos limites, e eu estava realmente com ciúmes dela, então um dia eu a peguei em um canto e bem, você sabe, nós nos beijamos e tudo mais. Enfim. Estávamos no quarto de Nick quando encontramos um desses saquinhos de cocaína na cômoda dele. Eu não sabia o quanto isso poderia me afetar, então eu usei sem moderação e Rebecca usou ainda mais, o problema foi que... – ele se interrompeu meio assustado. – ela teve um ataque. Realmente entrou em overdose por causa da droga.

– uau.

– ela caiu no chão, estava com a boca meio torta e ela tremeu, depois ficou delirando. Nick apareceu com a garota no quarto, tivemos que ligar para a polícia, a ambulância. Rebecca morreu. – quando ele disse isso senti um frio na espinha. – ela não resistiu. A polícia tinha que culpar alguém, então Nick se entregou dizendo que ele estava com ela e não eu.

– como você deixou ele fazer isso, Logan?

– Nick tinha um pai influente ele ficou apenas dois dias na cadeia.

– e foi o suficiente para todos nós não confiarmos nele. – disse April.

Olhei para April. – o que quer dizer?

– bom, Nick era o dono na cocaína, ele deve ter tirado ela de algum lugar, e outra, ele foi preso, pelo meu pai e não faz questão nenhuma de ter pessoas por perto dele, a não ser o Logan, e eu nunca entendi bem o por que, agora eu sei. – ela falou. Então voltou-se pra mim. – me admira você nunca ter ouvido essa história antes, a outra garota, Alice, fez questão de espalhar aos quatro ventos que a culpa de tudo era de Nick.

– me desculpe ser tão mal informada. – ironizei com raiva. – mas você viu que a culpa não é dele, a culpa é... – me interrompi e olhei de relance para Logan.

– minha.

Me aproximei dele. – não, não é sua também, não é de ninguém!

– você não entende, não é, eu devo minha liberdade a Nick, praticamente minha vida. você não sabe o que meu pai teria feito se soubesse que a culpa da morte de Rebecca é parcialmente minha.

– não eu não sei mesmo. – concordei. – mas com certeza ele te apoiaria, diria que foi um erro ou sei lá. A questão é que Nick não é má pessoa, ele podia usar drogas antes, mas eu sei que ele mudou.

– não confie muito nisso, Kath. – falou Logan. – pelo o que eu sei, ele é o único com poder e dinheiro suficientes para fazer isso.

Virei para o lado olhando o fiapo de luz que vinha da janela trancada. Logan estava enganado, Nick não podia ser o culpado por tudo isso.

– precisamos sair daqui. – eu disse, senti minha voz fraquejar um pouco.

– é, alguém tem um plano? – perguntou April.

– não pensei em nada ainda. – disse Logan.

April jogou a cabeça para trás e lagrimas rolaram de seu rosto. – me desculpem, realmente eu não queria que vocês estivessem aqui. Então já que estamos falando de coisas pessoais... Eu não aguento mais a pressão que meu pai faz em mim. Ele quer que eu seja médica, alguém consegue me ver fazendo uma cirurgia? – ela disse frustrada, o cabelo louro e desgrenhado caindo sobre o ombro. – acho que não. Desde que você chegou na cidade Kath e nós nos aproximamos, eu notei o quanto eu posso ter meus próprios pensamentos e deixar a mediocridade pra trás, entende?

Concordei com a cabeça.

– então tinha essa festa, eu estava superempolgada! Queria mais é curtir, um dia sem ser a garotinha do papai e então quando estava indo pegar meu carro no estacionamento eu recebo uma agulhada e me sinto meio paralisada. – pela sua voz, aquilo a deixou muito frustrada.

– sinto muito, April.

– eu é que sinto muito, eles me obrigaram a mandar aquelas mensagens para que vocês ficassem preocupados e avisassem a polícia e a todos, mas vocês não fizeram isso, então eles mesmos fizeram. Mandaram aquela carta ridícula com nossas fotos, isso deve ter irritado meu pai.

– um pouco. – falei me lembrando de como ele ficou zangado comigo. – não culpamos você April.

– não, você não... – disse Logan se interrompendo como se dissesse “Culpo Nick”.

– de qualquer forma estamos aqui, precisamos sair daqui. – eu disse abraçando os joelhos.

– esses caras são uns idiotas, a menos que cheguem bandidos de verdade não estamos em perigo. – comentou Logan batendo em umas das caixas. Então ele pegou um estátua de Afrodite, a deusa do amor, beleza e afins e seus olhos iluminaram como se ele tivesse acabado de ter uma ideia. Ele olhou diretamente pra mim e disse: – acabei de ter um plano.


Mais tarde o céu já estava escuro e eu sabia que os dois idiotas, Bread e Gabe chegariam na casa pra nos vigiar durante a noite. Esperei em silêncio sentada a porta do quarto, Logan e April cochilavam um pouco para a grande escapada, mas eu não estava com o mínimo de sono, adrenalina corria em minhas veias como cavalos selvagens correm ao vento.

Lancei minha cabeça para trás e fechei os olhos, pela fresta da janela via-se a lua cheia e as estrelas no céu. Aquilo me reconfortava. Fiquei pensando há quanto tempo eu estava ali, acho que nenhum de nós sabia. Talvez um dia ou dois, mas algo de mim gritava que já fazia mais de dois dias desde que fomos raptados. Na quarta seria o leilão de minha mãe, queria poder estar presente. E cada molécula do meu corpo sentia saudade de Nick, dos seus beijos quentes e dos seus toques mais quentes ainda.

Com meus olhos ainda fechados eu fiquei pensando naqueles que eu amava, meu pai na Califórnia sozinho e provavelmente preocupado comigo se minha mãe tiver dito algo. Pensei até mesmo em Fred que eu não amava, mas sentia um apresso enorme. E em Dan esse sim meu coração já o considerava meu irmão, diferente de Logan que eu não sabia o que sentia. Se era amor fraternal ou... Bem, sempre coloco em minha cabeça que o nosso amor é fraternal, mesmo as vezes sonhando, pensando, imaginado o seus beijos.

Ouvi o barulho do carro, logo o tilintar da porta rangendo. Estava na hora de por a minha parte do plano em prática. Passos vindos na direção da porta do quarto, ela rangeu velha como estava e Bread apareceu com um saco de pães na mão.

– refeição. – ele anunciou. Apenas eu me alertei. Logan e April estavam cumprindo a suas primeiras partes do plano que consistia em dormir enquanto eu cumpria a minha. Qual era a minha? Seduzir Bread.

– eles estão dormindo. – falei. Levantei e peguei o pão das mãos de Bread deixando que nossos dedos se tocassem por alguns segundos. Ele ainda estava de máscara, então só o que eu via eram seus olhos azuis e o cabelo louro. – seus olhos são tão bonitos.

Assim que falei me virei até a janela e mordi o pedaço de pão. Bread caminhou devagar até mim, o olhei por sobre o ombro.

– mais alguma coisa? – perguntei.

– você não quer tomar um ar? – ele perguntou.

Sorri com o cantos dos lábios, mas por dentro eu estava pulando de excitação. Meu plano de sedução nunca tinha dado tão certo.

Discordei com a cabeça.

– não vou a lugar nenhum sem saber como é o seu rosto. Como posso confiar em alguém que eu só posso ver os olhos? – falei.

– os olhos são as janelas da alma. – argumentou.

Discordei. – e o seu rosto expressa aquilo que o coração está sentindo.

Ele deu uma risada abafada. Olhei para April e Logan que ainda fingiam estar dormindo. O que será que eles pensavam a respeito dessa minha conversa com Bread?

– e então? – reforcei. – vai tirar essa máscara para que eu possa te conhecer?

Ele ficou em silêncio analisando meu rosto. E então o tocou. Suas mãos não eram ásperas e muito menos mal cuidadas. Ele não parecia um pé-rapado, parecia um filhinho de papai. Me afastei com um olhar travesso e um sorriso encantador nos lábios o que fez ele piscar três vezes. Naquele momento percebi o quanto é fácil seduzir alguém.

Logan se mexeu inquieto no canto do quarto, e eu percebi que estava indo longe de mais com a sedução. Embora parte de mim desejasse continuar, por que deixar Logan com ciúmes era melhor do que qualquer sensação que eu já havia experimentado na vida.

Bread não hesitou levantou a máscara aos poucos, bem devagar para que assim eu pudesse ir descobrindo seu rosto. Maxilar forte e angular, bochechas coradas e protuberantes, nariz reto com a ponta arredondada e dois grandes olhos azuis. Engoli em seco pelo cara ser mais bonito do que eu imaginava.

April mexeu-se um pouco. Estava na hora da cartada final.

– você é mais bonito do que eu imaginei. – revelei.

Ele sorriu.

Toquei a ponta do nariz e depois o toquei no rosto. Eu foquei meus olhos nos seus para que ele pudesse ser seduzido ao máximo, mordi meus lábios como se eu estivesse insegura e então puxei sua cabeça para perto da minha, nossos lábios a centímetro um do outro. O plano era fazê-lo ficar tão distraído comigo a ponto de que Logan pudesse sair pela porta e bater em Gabe com umas das estatuetas, mas Bread não estava totalmente distraído. Então eu fiz o que eu não queria fazer, o envolvi nos meus braços e o beijei. Não sei bem por quanto tempo durou, só sei que não foi nada agradável beijar um estranho. Ouvi o barulho de coisa caindo no chão e então Bread se separou de mim.

– que barulho foi esse? – ele perguntou.

Virei seu rosto para o meu. – não ouvi nada.

Ele não pareceu convencido, então o agarrei e o beijei novamente, durante esse beijo ele pareceu mais envolvido, acho que se chovesse fogo ele não teria notado. Abri os olhos e vi que Logan estava se aproximando de nós, então ele pegou uma estatueta de bateu com tudo na nuca de Bread que caiu no chão gemendo e então desmaiou.

Logan me olhou meio enraivecido e eu levantei uma sobrancelha em resposta.

– April as cordas, amarre bem as mãos desse... Desse, amarre bem. – falou Logan.

Revirei os olhos e me dirigi a April – vou te ajudar.

Viramos Bread de bruços e o colocamos no colchão. Retirei dos bolsos dele tudo o que tinha. Um celular, 20 dólares e um canivete multiuso.

– as chaves do carro. – disse April as pegando na mão.

– vamos! – eu disse a ela. Corremos em saída do quarto, Logan havia trancado o grandão no banheiro e estava achando a chave para trancar Bread.

Saímos em retirada da casa, o céu estava se armando em uma chuva pesada. Não fazíamos ideia de onde nos estávamos com certeza. Na rua havia dois carros, um carro prata e uma caminhonete. Entramos na caminhonete preta com os vidros escurecidos e lá encontramos uma arma de fogo. Jogamos ela no porta-luvas e partimos, eu Logan na frente, April no banco de trás.

Logan dirigia tão rápido que eu fiquei com muito medo, eu tenho pavor de que corram. Logan pisou no acelerador para encontrar a saída daquele lugar, mas estava escuro e começou a chover, nada se via. De repente um farol atrás de nós. Se aproximava com muita velocidade, um tiro.

– ah meu Deus! São eles! – gritei.

Logan acelerou mais ainda, corria e fazia as curvas com muita rapidez, até que encontramos a saída para a estrada 28. O carro prata se aproximava cada vez mais.

– April se abaixe. Você também Kath. – disse Logan. Nos obedecemos. Um tiro em nossa direção. Atravessou o vidro do carro e foi parar no banco traseiro, April gritou.

– calma April.

Olhei pelo retrovisor do carro. Não era Bread e nem Gabe que estavam dirigindo.

– Logan, não são os dois idiotas. O que a gente vai fazer? Estamos realmente encrencados. – falei.

– eu não sei. April use o telefone de Bread e chame a polícia, tente localizar onde estamos. – ele olhou pra mim. – sabe usar uma arma?

– é claro que não! – falei.

– vai ter de aprender.

O olhei assustada. Peguei a arma no porta-luvas. – eu não consigo.

Apenas de olhar para a arma eu tremia de medo.

– você vai ter que conseguir. – ele disse. – eu sei que consegue.

– ok. – falei hesitante.

Abri a janela do carro sentindo o vendo bater em meu rosto o carro prata estava a metros de nós, eles atiraram saltou no porta-malas. Gritei. Logan mandou que eu ficasse calma. Mordi os lábios posicionei a arma e puxei o gatilho.

Bum!

Foi como se algo tivesse puxado meu braço para trás, doeu em mim, mas após ver que o tiro havia trincado o vidro do carro eu sorri com satisfação.

– ótimo! – falei a mim mesma, notei que a arma tinha me picado, talvez quando o gatilho fosse solto a pressão a faz ir pra trás e isso cortou minha mão. Da próxima vez eu devia segurar mais embaixo. O clima e a adrenalina me fizeram pôr o braço para fora outra vez e puxar o gatilho novamente. Dessa vez eu fiz corretamente. Mas o tiro passou reto pelo carro. – droga!

– calma!

Eles atiraram mais uma vez, a bala atravessou o vidro de trás e o da frente. Eu e April gritamos. Pus o braço para fora e atirei novamente. A bala ricocheteou e atravessou o vidro do carro atingindo um deles. Pus os dedos nos lábios morrendo de remorso, eu não queria matar ninguém. Ah meu Deus, por que isso está acontecendo?

– April, você conseguiu falar com a polícia? – perguntou Logan.

– não! Eles não atendem. – ela respondeu nervosa.

– tente novamente.

O ritmo deles diminuíra atrás de nós e então eles pararam. Anotei a placa do carro mentalmente, quando chegássemos até a polícia e contássemos tudo eu teria ao menos algo para falar além de tremer de medo.

Suspirei. O pesadelo com armas havia acabado. Joguei a arma no chão e limpei o sangue rubi que corria por minhas mãos.

– está tudo bem? – Logan me perguntou.

– está.

– não podemos parar, Logan, continue correndo. – disse April.

– é melhor diminuir a velocidade. – disse Logan.

– não diminua, continue dirigindo. – gritava April assustada.

– calma, eles não vão vir mais, April calma. – falei.

Ela começou a gritar os olhos arregalados de medo. – corra!

– April... – ele foi interrompido por ela que se jogou entre os bancos da frente e pegou no volante. – largue, April. Solte.

O carro atravessou a pista contrária rodopiou três vezes e então bateu na parede de pedra na estrada, ele deu mais um giro e então capotou. Ouvi barulho de vidro quebrado e coisas caindo, até que olhei o corpo de April jogado no asfalto. Ela foi lançada há alguns metros do carro quando ele capotou. Eu e Logan estávamos presos no cinto de segurança com a cabeça para baixo. Fiquei sem reação. Tudo doía.

Ele me olhou. – eu te amo. – sussurrou e então inclinou a cabeça e me beijou. Fui tomada uma escuridão pegajosa e fria e então eu fechei os olhos.



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