Entre O Amor, A Razão E O Coração escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 12
Capítulo 12. Perto do limite


Notas iniciais do capítulo

Olhei para os lados, nada além do escuro pegajoso da cabana, caixas de papelão por todos os lados. E April estava dormindo no outro canto. Recomecei a chorar. Realidade.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/250215/chapter/12

Eu queria muito que meus olhos abrissem. Mas era como em um pesadelo que você se debate e forças fazem você ficar quieta. Eu estava sendo dominada por uma escuridão pegajosa, assustadora, e por um momento pensei que nuca mais fosse voltar a ver luz.

Pensei que estava morta, até perceber que eu podia sentir o chão duro embaixo de mim ser levemente amansado por algo acolchoado e quente. Um ponto fixo nas minhas costas perto da minha espinha doía, mas eu estava sem forças para tocar ali.

Quando lentamente abri os olhos eu estava em uma sala escura perto de umas caixas de papelão, um cobertor em baixo de mim e um travesseiro fino debaixo de minha cabeça. O meu campo de visão era pequeno e a luz também não ajudava muito. Eu só vi que April estava jogada no canto ao meu lado, por que ela falou comigo.

– Kath! Kath você acordou. Estou tão feliz em te ver!

Olhei para ela. Eu não sei estava contente por ela estar bem, ou zangada por ela ter que ter um motivo para ficar bem. Quer dizer, como ela teve coragem de fugir da escola e ainda dizer pros pais que estava comigo?

– April. – falei.

– me perdoe por ter fugido de você. – ela já estava em prantos.

– por que você fugiu de mim? – minha voz era fraca, o que quer que tenha sido aplicado em mim, era forte e ainda me fazia ficar meio grogue.

– eles mandaram. Não sei por que, mas eles te querem aqui também.

– como assim, April? Está... Louca? – minha voz fraquejou. – eles quem?

– são tantas perguntas. – ela disse choramingando. – eu só sei que estamos longe das pessoas que amamos.

– você sabe onde estamos?

Ela concordou com a cabeça. – estrada 28, uma pequena cabana perto do lago. Eles acharam que eu estava dormindo quando me trouxeram pra cá, mas não. E eu conheço as redondezas e a minha cidade como a palma da mão.

– pelo menos saber onde estamos já é um começo. – comentei, apoiei em minhas mãos para tentar me levantar e ficar com as costas eretas na parede, mas meu corpo estava tão fraco que eu tive de permanecer deitada. – o que eles aplicaram em mim?

– eu não sei, mas é mais forte do que o que aplicaram em mim. Por que eu estava consciente, mas apenas não podia me mexer. Você desmaiou.

– sim. – respondi, mas não era uma pergunta.

Minha cabeça doía, coloquei a mão na cabeça e ela se aproximou de mim. – está tudo bem?

– um pouco de dor de cabeça.

April fez uma expressão de dor. – não sei por que você tem de passar por isso também eu... Só... Queria... Não... Desculpe. – eu não consegui prestar atenção no que ela falava, adormeci sem nem ao menos entender o motivo do seu pedido de desculpa.


Passarinhos cantavam alegremente em uma colina cercada por pedras ornamentais e grama rasteira e verde. Ovelhas pastavam um pouco abaixo do local onde eu estava sentada. Eu não estava realmente ali, percebi isso por que Logan estava pastoreando as ovelhas. Costas nuas, suadas e bem musculosas levando as ovelhas para outro campo. Só podia ser um sonho. Me levantei da grama e corri em direção ao Logan.

Ele virou-se e quando me viu sorriu feliz. Logan limpou o suor do rosto e meio que hesitou em me abraçar, mas eu não liguei para o seu suor, eu só queria abraçá-lo. E quando eu estava encaixada em seu tórax eu me lembrei de que aquilo era apenas um sonho. Comecei a chorar. Ele não falou nada apenas ergueu meu queixo para que eu pudesse olhar em seus olhos e então enquanto eu estava sendo hipnotizada por eles senti que meu corpo estava sendo puxado mais para perto do de Logan, era como a gravidade. Nossos lábios se chocaram no que fora mais um beijo rápido. Mas quando eu abri os olhos ele não estava mais ali. Eu estava sozinha no escuro e meus olhos cheios de lágrimas. Logan, sussurrei. Logan, Logan.

– estou aqui. – eu ouvi-o de longe.

Chorei, as lágrimas estavam tão reais e a voz dele também. Me lembrei de que eu estava em um lugar desconhecido sem ninguém, sem minha mãe, sem Nick e sem Logan.

– eu estou aqui. – a voz de Logan era muito real. Quase como se ele estivesse ali comigo.

– Logan. – sussurrei mais uma vez.

– abra os olhos, Kath, pare de chorar, eu estou aqui.

Lentamente abri meus olhos. Eu não queria mais sonhar que estava sozinha. Quando os abri tive a maior surpresa do mundo.

– LOGAN!

O abracei. Quer dizer que eu estava em casa e aquilo tudo não tinha passado de um sonho, um pesadelo melhor dizendo.

– Kath, como é bom saber que você está bem.

– como é bom estar em casa. – falei.

Ele afastou meu corpo do seu para podermos nos olhar nos olhos. Por um segundo me lembrei do sonho. Do beijo do sonho que veio logo depois dele me hipnotizar com seus olhos acinzentados.

– casa? – ele perguntou.

– sim.

Olhei para os lados, nada além do escuro pegajoso da cabana, caixas de papelão por todos os lados. E April estava dormindo no outro canto. Recomecei a chorar. Realidade.

– eu quero a minha casa.

Ele me abraçou. – calma. Eu estou aqui com você.

Parei de chorar, de soluçar e subitamente me afastei dele.

– pois é, estamos os três aqui. Logan, April está onde nós estamos. – falei. Ele assentiu, mas não parecia surpreso, é claro. Logan sempre parecia saber de tudo antes de mim e eu me irritava as vezes como ele conseguia me deixar tranquila com esse fato. – há quanto tempo está aqui?

– há algumas horas, eles bateram na minha cabeça e eu lembro de acordar olhando pra você. Pensei que eu estivesse sonhando, fiquei feliz em te ver, mas com raiva por ter de ficar feliz em te ver.

– você parece frustrado com alguma coisa. – observei.

Ele apoiou a cabeça na parede.

– muito. – olhei para ele. – eu tinha um plano lembra? E agora do que adianta, estamos aqui.

– você não me contou qual era o plano. – lembrei.

– eu sei, não culpo você. – ele disse com os olhos fechados. Sua cabeça devia estar doendo com a pancada, minhas costas ainda doíam por causa da injeção.

– culpo Nick.

Ele abriu os olhos para me observar atentamente e seus olhos eram curiosos e meio negativos. Ele estava vendo se era seguro me falar que desconfiava de Nick assim como todos na cidade desconfiavam. E isso me irritava tão profundamente quando estar presa ali. Pensei que Logan fosse amigo de Nick, mas pelo jeito além de mim ele não tem mais ninguém. Isso é triste. Não conheço a família do meu namorado, ainda, mas acho que o pai não é presente e ele não tem mais contato com os tios e primos que eu vi na pesquisa. Nick é sozinho e ninguém faz questão que isso mude.

Me afastei de perto de Logan um pouco, fiquei na outra extremidade do colchão com as pernas entre os meus braços. Ele me olhou sem dizer uma palavra. O silêncio consentia Logan não confiava em Nick e estava com raiva dele por algum motivo.

– me desculpe, Kath.

– pelo que? – perguntei apoiando o queixo no joelho.

– por não confiar no seu namorado.

– você não é o único, estou tão acostumada que você nem imagina. Mas por que você não confia nele?

– ele nunca me inspirou confiança. Sempre fez coisas imprudentes até conhecer você.

– ele mudou. – falei.

– eu sei. E é por isso que sinto raiva. Ele é pra você o que... – ele se interrompeu.

– o que...?

Um barulho forte de porta abrindo fez com que eu pulasse para o lado de Logan tão rapidamente que até ele se assustou. Escondi o rosto em seu peito, morta de medo.

– calma.

Passos vindo em nossa direção, comecei a tremer, cada vez se aproximava mais, olhei de relance para April que ainda dormia no outro canto do quarto, as caixas impediam que nós víssemos quem estava na casa. Segurei Logan pelo colarinho da camisa e fiquei com o rosto escondido, ele me envolveu com os braços e não me largou nem por um minuto até que dois caras com mascaras pretas apareceram.

– eles estão acordados, menos a loura. – disse um deles que olhava no quarto. Tremi da cabeça aos pés. Logan me apertou mais ainda contra seu corpo.

– ora, ora, ora. – disse um deles olhando pra mim. – você até que é bonitinha garota.

Logan lhe lançou um olhar ameaçador e o cara deu uma recuada. – mas acho que já tem seu par, não é mesmo? Você é um garoto de sorte.

Eu não ia explicar que não éramos namorados e sim irmãos, então fiquei olhando para seus rostos com máscara mais assustada que um filhotinho de gato.

– o que vocês querem com a gente? – perguntou Logan.

– garantias. – respondeu um deles rindo.

Lágrimas de pavor começaram a rolar em meu rosto. A camisa que Logan estava usando já estava ensopada, mas ele não parecia incomodado, acariciava minhas costas enquanto encarava os dois caras e esperava por respostas.

– garantias de que?

O cara mais baixo riu. – acha que vamos responder?

Levantei o rosto em sua direção. – você realmente é muito bonita garota. – ele falou novamente. – é uma pena que... É uma pena que... Bom. Deixa pra lá! Qual o seu nome?

– Katherina. – respondi.

– hum.

– e o seu? – perguntei me afastando um pouco de Logan.

– acha que vou responder essa também? – ele disse rindo.

Levantei uma sobrancelha e ele revirou os olhos. – ok! Meu nome é Bread. Vocês não me conhecem mesmo.

O outro cara apareceu, era mais alto, forte e musculoso e tinha cabelos negros pelo o que vi, diferente do mais baixo que era louro e um pouco magrelo.

Apontei com a cabeça para o outro. – e o dele?

Bread mexeu na mascara preta e falou. – Gabe.

– o que? – perguntou o outro meio aéreo.

– nada, seu idiota, vai vigiar a porta.

– mas não tem ninguém la fora, estamos em Sea Beach, é deserto! – disse Gabe.

– cale a boca imbecil, eles não precisavam saber onde estávamos. – gritou Bread.

Eu e Logan nos entreolhamos. Sea Beach ficava perto da nossa cidade, uns 20 km. Ou esses caras eram muito burros, ou então tinham um plano melhor a cumprir como pedir nosso resgate ou coisa parecida. Mas eles queriam garantias, só que não faço idéia de que tipos de garantia eles falavam.

Logan entrelaçou meus dedos nos dele.

– ok, vamos falar com o chefe. – disse Bread a gabe.

– o tio George vai ficar feliz em saber que os três estão aqui. – disse Gabe.

Bread deu um tapa na própria testa e depois um tapa na nuca de Gabe indignado pelo cara ser tão burro e saiu cambaleando pela porta do quarto.

Olhei pra Logan. Eu já não estava mais sentido medo, quem quer que fossem Bread e Gabe eles eram muito bobinhos para serem assassinos ou seqüestradores profissionais.

– ok, talvez eu não esteja mais com medo desses dois. – falei.

– eles não têm armas, apenas um cassetete de policial na cintura de Bread e o grandão tinha correntes.

Não notei isso.

– precisamos sair daqui, precisamos de um plano. – falei.

– vou acordar April. – falou Logan se levantando e indo em direção ao colchão de April, ela dormia toda enroscada e tremia de vez em quando. Logan tocou seu ombro lentamente e ela acordou rápido assustada olhando pra todos os lados, quando viu Logan fez o que eu e nem ele esperávamos, lhe roubou um beijo muito, muito urgente, como se ele fosse exatamente que ela queria ver naquela hora.

Vendo a cena eu comecei a suar frio, queria ir ali e terminar com beijo, dar um tapa bem dado em April e dizer que Logan não era pra ela. Mas por que eu faria aquilo? Ele é meu irmão e não meu namorado. Virei o rosto pro lado para as caixas de papelão cheia de raiva e frustração. Quando vi o rótulo das caixas eu gritei.

– Logan!

Ele já estava do meu lado e eu nem tinha percebido, quando nossos olhares se cruzaram foi como se ele estivesse me pedindo desculpas. Desviei o olhar e apontei para a caixa.

– museu de arte? – ele perguntou a si mesmo.

Nos pusemos de pé os três e começamos a vasculhar as caixas, todas elas tinham papéis, fotos e esculturas pequenas de museus de arte de Londres, Paris e Brasil. Esculturas valiosas, documentos valiosos e que estavam ali jogados em caixas naquela cabana no meio do nada.

– o que eles querem com arte?

– eu não sei. – disse April andando até nós meio envergonhada. Evitei olhar para ela.

– parece que estamos encrencados. – comentei. – esses caras não são tão inexperientes quanto pensei.

– por que diz isso, Kath?

– veja isso! – falei apontando para uma escultura pequena de um anjo. – é do Louvre!

Logan pegou o objeto nas mãos, não sei por que mais quando olhei os detalhes mal feitos achei algo estranho. Tomei o objeto nas mãos e comecei a tocá-lo. Havia uma pequena abertura embaixo da estátua. Apertei em um botãozinho em falso e a abertura abriu. E lá dentro estavam saquinhos de alguma coisa branca.

April rapidamente pegou nas mãos.

– ah meu Deus é droga! Cocaína.

Eu e Logan nos entreolhamos.

– como sabe disso April?

– meu pai é policial, Lembram?

Logan fez uma expressão como se algo tivesse iluminado sua mente. – garotas, eu saquei tudo.

– o que? – perguntei.

– April você é filha do chefe de polícia. Eles precisavam de uma garantia de que iriam sair limpos da situação. Eu sou filho de um cara influente na prefeitura, eles precisavam de garantias com o prefeito.

– e eu?

Ele me olhou tentando escolher as palavras certas par falar.

– você é namorada do contrabandista.

– só pode ser brincadeira! – esbravejei. – é sério, só pode ser brincadeira. Logan como pode dizer que Nick tenha mandado nos seqüestrar, como pode dizer que ele tenha falsificado arte para poder levar drogas dentro delas! Ele é seu amigo! Ele é meu namorado!

April se afastou.

– ele não é tão confiável quanto pensa. Mas devo a ele.

– por quê?



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre O Amor, A Razão E O Coração" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.