Terapia escrita por Rafaela


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos reviews suas lindas.
Boa leitura :)



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Pouco tempo depois meu irmão chegava do trabalho, sempre reclamando do incomodo que as botinas causavam.

Martin é cinco anos mais velho que eu. Trabalhava meio período em uma quitanda na rua principal. Todo o serviço pesado era feito por ele, como descarregar os caminhões de frutas e verduras, dividir os sacos de feijão em quilos, fazer a entrega de encomendas, pra isso ele usava uma bicicleta. As vezes tinha que cruzar o centro inteiro e estar de volta antes do por do sol que era quando a quitanda abaixava as portas.


Pela manhã ele estudava, era dois anos atrasado.

De vez em quando ele passava lá em casa no horário de eu ir pra escola só pra me carregar na cesta da bicicleta. Fazíamos o caminho pela praia, eu gostava de ver as ondas quebrando enquanto o vento fazia meu cabelo chicotear em meu rosto.

Desde quando ele arranjou esse emprego eu passei a levar maçã como lanche. Era a única fruta que ele ganhava sem precisar fazer trabalho extra. Após uma ou duas semanas eu não suportava ver aquela coisa vermelha na minha frente. Então juntava-as até ter uma quantidade boa o suficiente pra trocar por qualquer coisa em uma venda que tinha no caminho do colégio. Geralmente eu trocava por doces. Dez maçãs por um saquinho de alcaçuz.Eu levava pra casa e esperava Martin chegar pra comermos juntos.

Na maioria dos dias ele chegava em casa com algum hematoma novo. Se metia em muitas brigas na escola - ele é uma grandíssima cópia do meu pai, isso sim - . Não aceitava que os outros zombassem dele por causa da calça curta que não combinava em nada com as botina horrenda. Pelo menos essa era a desculpa que ele dava quando exibia um sangramento no nariz ou um belo olho roxo.


Mas em pouco tempo ele foi aprimorando a arte de socar o primeiro que o olhasse torto. E ficou bom nisso, os outros garotos do quarteirão não se atreviam a não abaixar a cabeça ou até mesmo prender a respiração quando ele passava.

Claro que com uma fama dessas não demorou muito pra ele se envolver com o tipo de companhia que gosta de exibir um cigarro entre os dedos.

Certo dia até encontrei uma coisa estranha em baixo da cama dele, pensei que fosse lixo e entreguei a minha mãe. Era maconha. Martin ficou um ano de castigo, quer dizer, teria ficado um ano se não tivesse acontecido o que aconteceu.

Se não se importa, eu não gosto de falar sobre o que aconteceu. Aliás, eu não gosto de falar nada sobre o que estou dizendo aqui.

Acho que esquecer seria bom...

Posso?

Lembro- me que antes dele se envolver com essas coisas, em uma noite enquanto comíamos alcaçuz eu pressionava uma bolsa de gelo no ferimento que ele tinha na testa. Então perguntei " Martin, por que não compra calças novas e acaba com isso ? ". Então ele me lembrou que todo o salário dele era entregue a meu pai. Eu logo disse " então pare de trabalhar, isso é errado ". A resposta que recebi foi que qualquer coisa em qualquer lugar era melhor que estar naquela casa.

E ouvindo os gritos intercalados pelo som de objetos sendo jogados contra a parede eu não pude fazer outra coisa além de concordar com ele.


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Notas finais do capítulo

OMG!