Terapia escrita por Rafaela


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!
Bjos.



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Os gritos? Homem bêbado e mulher submissa.

Quando meus pais brigavam eram algo mais parecido com uma sessão de luta livre. Qualquer motivo por menor que fosse era o suficiente pra começar o round. Meu pai era uma pessoa completamente autoritária e fora de controle, só faltava termos que bater continência pra ele. 

Quando eu ouvia o barulho do portão velho sendo aberto logo corria para o quarto e ficava lá até ter certeza de que ele estava sóbrio. O problema é que ele nunca estava.E não muito depois começava as discussões.

Lembro-me de meu irmão dizer que era briga de gente grande. Então eu sentava na cama e balançava os pés pra frente e pra trás... pra frente e pra trás... eu gostava de ver os tênis apertados indo e vindo, de um lado para o outro. Eu sentia meus pés exprimidos dentro deles e pensava que eu estava crescendo e teria que brigar feito gente grande também. Nada de chiclete na cadeira ou cola no cabelo, apenas socos, chutes e meia dúzia de palavras que eu não sabia o significado. Isso me assustava um pouco, eu pensava que essa era lei da natureza. Nascer, crescer, apanhar, bater e morrer.

Meu pai realmente morreu. Pelo menos eu não estava completamente errada. 

Eu não gosto de falar sobre esse episódio da minha vida. Eu não queria ter presenciado nada mas não me deram escolha alguma. Mas agora eu evito relembrar  as coisas que faço questão de fingir que não as vivi.

Depois que meu pai faleceu Martin e eu fomos para um orfanato. Eu gostava das bolachas que serviam lá... ficava pensando se para o orfanato que meu irmão foi tinha bolachas tão boas quanto aquelas. Só mais tarde descobri que ele foi logo adotado por uma família "dentro dos padrões exigidos". Não chegou a ficar duas semanas no sistema.

Já eu não tive a mesma sorte, me devolveram várias vezes. " M e devolveram", que ridículo! Enfim, passei por vários lares antes de ser adotada definitivamente por uma família, até que nos dávamos bem, eles me suportavam e eu não os tirava do sério.  Quando vim para Vegas perdi totalmente o contato que já não era lá essas coisas.

Não era de todo mal eu ficar perambulando de casa em casa. Aprendi a fingir muito bem que eu nunca precisei de um lugar só meu. E pensando bem, isso é meio que positivo. Não estou dizendo que eu gostava de ser devolvida constantemente, não é isso, ninguém gosta de ser rejeitada uma pá de vezes. Mas com certeza isso me fez forte, aprendi a esperar por um "sim" quando o "não" é lançado em mim frequentemente. Por isso continuo persistindo.

Mas sabe o quê eu gostava menos do que ser devolvida ao remetente? Do natal. Ainda não gosto. Sempre achei a ideia de um homem entrando pela chaminé muito fantasiosa, e ainda por cima um homem gordo. Caso fosse verdade isso seria um agravante. 

Eu odiava o natal - agora apenas ignoro - porque sempre me levavam pra casa de uma família diferente. Algo a ver com a boa ação natalina. Então me davam um presente barato e me esqueciam perto da árvore enquanto brindavam com champanhe qualquer motivo falso.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo 0/