Terapia escrita por Rafaela


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Todos os dias ás 17:00 em ponto aquele som estridente que eu tanto odiava soava pela sala de paredes brancas com desenhos abstratos. Eu achava estranho o fato de as outras crianças ficarem eufóricas com o sinal da saída.

Elas pareciam gostar de ir pra casa. Na minha cabeça aquilo era masoquismo, na época eu não conhecia a palavra então apenas achava-os imbecis . O relógio de números grandes acima da lousa me incomodava, o tic tac que ele fazia era ameaçador porque era ele quem anunciava a hora de voltar ao inferno. 
E eu não pestanejava, ele mandava e eu obedecia. Colocava a mochila nas costas e ia embora. Mas não sem antes cumprimentar a professora com um aceno de cabeça, ela apenas esticava os lábios em resposta. Uma vez cheguei a mudar, acenei um tchau com a mão, e os lábios esticados estavam lá outra vez. Então cheguei a conclusão de que eu estava certa, ela não sabia sorrir.

O percurso até minha casa não era  longe mas eu fazia o caminho da forma mais demorada possível. Tudo o que eu mais queria era me perder no percurso, talvez pegar carona em um caminhão ou fugir com o circo. Vi isso na tv.  A ideia era tentadora, pena que caminhões não costumam entrar em becos e não tinha circo naquele lado da cidade. Na verdade não era tanta pena assim, palhaços me dão medo.

Eu não sei. É claro que se eu soubesse o motivo dava um jeito de acabar com ele. Sei que na minha idade isso é ridículo, mas não consigo evitar. Eles estão sempre sorrindo e felizes... é muito forçado. Se palhaços são tão alegres assim, por que passam um caminhão de tinta  na cara? Na certa estão tentando esconder alguma coisa. Você também não acha?

Você faz as perguntas, ok. Mas só pra deixar claro, eu gosto da democracia.

A melhor parte, não, a única melhor parte em cruzar o portão de madeira - que estava quebrado e era escorado por uma tábua tão velha o quanto - era o alívio de tirar o tênis. Meus dedos ficavam encolhidos dentro dele. Nos dias de ed. física chegavam a sangrar, mas nada que me levasse a visitar a enfermaria.
Eu não reclamava, seria muita ingratidão de minha parte já que o calçado foi ganhado. Meu vizinho, o senhor Lockwood, me deu quando a esposa o abandonou e levou a filha com ela. O problema é que a garota era um ano mais nova que eu.E ao menos que as solas descolassem eu não teria tênis novos tão cedo. Minha mãe disse isso assim que o senhor Lockwood virou as costas. Por isso tratei de usa-los todos os dias pra desgasta-lo logo.Uma coisa eu afirmo com toda a certeza: Não se faz tênis como antigamente.

Sempre quando eu chegava em casa minha mãe estava na cozinha preparando o jantar. Eu me juntava a ela e lhe contava as cores que o céu teve durante a minha ida e volta da escola. Então depois de uma concentração para fazer a leitura das tonalidades de azul, eu dizia se ia chover no dia seguinte. Minha previsão do tempo não era muito confiável então ela sempre dizia " amanhã é um bom dia pra lavar a calçada".

Sentar no balcão da cozinha e dizer a previsão do tempo enquanto minha mãe terminava o jantar era quase como se fosse uma obrigação. Pelo menos era o que eu pensava. Sabe, o momento mãe e filha do dia.


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Notas finais do capítulo

Eaw docinho ^^
Review?