Saí do meu momento transe, assim que o garoto chamado Peeta parou a minha frente. Fique tranquila Katniss, afinal, qual é o problema? Tranquilizei-me antes de tudo. Já não me sentia muito bem. Artes fazia lembrar minha mãe, o que me trazia diversas saudades de certo tempo atrás.

- O que você vai desenhar? – O garoto me perguntou.

Nem precisei pensar muito ao falar:

- Meu lazer é cantar, então...

- Ah claro, tinha que ser. – Ele disse.

As palavras me fizeram ficar meio não à vontade. A tanto que nem disse nada, me calei, sentindo que seria o melhor a fazer.

Ele indicou um quadro que ainda estava vazio. Ao lado tinha uns lápis, tintas, pincéis, borrachas e todos os tipos de materiais de pinturas. Ok. Olhei para tudo e peguei um simples lápis e fiquei a frente de tudo. Agora meu pensamento estava diretamente no caso de Por onde começar meu deus? Acho que o máximo de desenho que fazia era quando estava no ensino fundamental e tinha que desenhar coisas que na época eu achava incrível, como casinhas, flores e corações com olhos. Pelos deuses! Eu nem poderia desenhar isso agora, fora de questão. Então minha não experiência fez falta.

O garoto que estava ao meu lado, e que não parecia muito interessado em mim, percebeu a minha grande dificuldade.

- Imagino que não sabe por onde começar. – Ele disse.

- Acertou em cheio. – Respondi.

O professor passou por perto no mesmo momento e disse:

- Srta. Everdeen pode fazer um desenho mais simples, o que desejar para começar na prática, depois eu irei avaliar e próxima aula eu lhe ajudarei, certo?

Assenti grata.

- Certo.

- Porque então, não desenha uma paisagem de um lugar que você goste. É mais fácil. – Ele falou.

- Tá bom. – Falei.

Ele pegou seu quadro, ficando perto caso eu precisasse de ajuda e voltou sua atenção ao desenho. E eu segurei firmemente o lápis, pensando em algo, em um lugar especial. Era difícil, eu ia para shows diferentes, em cidades diferentes, gravo vídeos, canto em um Studio e vou para festas dos famosos, mas realmente nunca passei uma tarde, ou um dia se quer em um lugar diferente, um lugar que todos costumam ficar, como um parque, um campo, ir fazer pique niques. Eu não tinha tempo pra isso, eu não fazia isso.

Então imaginei um lugar bonito, um lugar que eu gostaria de estar. E iniciei o desenho. Não foi tão fácil, mas fiz do meu jeito, apagando, refazendo, todas as coisas que não saiam do jeito que eu queria. O tempo passou, e o professor indicou final da aula. Faltavam poucos detalhes, porém já estava bem nítido. Era um campo bem verde. Flores, árvores, espalhadas. Algumas folhas que voavam como se houvesse uma corrente de ar. O sol e as nuvens em uma ótima sincronia. Não ficou desenho tipo profissional igual os outros da sala, mas eu gostei, e senti vontade de estar ali.

Olhei para o lado, onde estava o desenho do Peeta. Era incrível, um desenho lindo, ele tinha desenhado ele mesmo desenhando em um quadro. Seu lazer era o desenho, estava tão na cara, parecia que ele era profissional na arte.

Ele olhou para o meu desenho.

- Você já esteve ai? – Ele perguntou.

Sinceramente, eu esperava um elogio.

- Não. – Falei normalmente. – Não tenho tempo para essas coisas.

- Essas coisas? – Ele perguntou intrigado.

- Para os lazeres desse tipo, uma tarde em um campo, um pique nique, essas coisas. – falei.

- Não é de se estranhar.

- O que quer dizer com isso? – Perguntei agora eu, intrigada.

Ele arqueou a sobrancelha dizendo:

- Seu lazer é cantar e ser famosa, porque só faz isso.

- Não é verdade. – Protestei.

- Pelo visto é.

- Pessoas normais, tem outras diversões.

- Então quer dizer que eu não sou normal? – Perguntei sentindo o sangue esquentar.

- Isso, você é uma cantora famosa, vive em uma vida fútil de famosos.

A minha irritação só ficou mais forte. O garoto perdeu todo o meu conceito sobre ele em questão de Interessante. Ele não era mais interessante, como pode falar uma coisa dessas?

Recolhi minhas coisas rapidamente. Queria logo estar em casa. Logo meus amigos estariam chegando e eu não queria me atrasar, perdendo meu tempo, discutindo com um garoto que fala isso de mim.

- Então. – Comecei já de saída. – Me dê licença, porque eu estou de saída para minha vida fútil, como uns dizem, sem ao menos saber de nada. – Terminei saindo da sala a passos longos.

Após sair do colégio, ainda me sentindo levemente irritada, entrei no carro e fui para casa.

Pov Madge.

Caramba, meu irmão demora muito para chegar em casa. Quero avisar logo que vou para a casa da Katniss, e ver sua reação. Só que ele tem um curso de Artes. Meu deus, agora que fui pensar. A Katniss também foi fazer esse curso.

- Oi Madge. – Ele disse finalmente chegando em casa e se sentando no sofá da sala.

- Finalmente. – Exclamei impaciente. – Estava esperando você chegar, para dizer que eu estou de saída. – Falei.

- Pra onde? – Ele perguntou.

- Casa da Katniss, nem dá pra acreditar não é.

- Eu mereço. – Ele ironizou irritado.

- Affs, até mais, quando nossos pais chegarem fala que não vou demorar muito não. – Falo já saindo.

Após sair, chamo um táxi, já que a casa da diva é muito longe da minha. Não demora muito para passar um. Entro e falo o endereço.

Demoram uns 20 minutos até chegar. Pago com o dinheiro que eu ganhei trabalhando na padaria com meu irmão e paro em frente aos portões da mansão Everdeen, onde estão parados dois guardas.

- Como se chama? – Um deles perguntou.

Quase pulei de susto quando esse falou, mas tratei de responder.

- Madge. – Falei simplesmente.

- Pode entrar. – Confirmou o outro.

Os portões se abriram e eu entrei maravilhada demais com aquilo tudo. Tinha um jardim enorme, com quadras de esporte, piscinas, e tudo que se pode imaginar de uma mansão. Era muito incrível. Eu já estava atrasada. Então uma voz me surpreendeu.

- Madge?

Virei-me e encontrei Gale. Eu tinha conhecido ele hoje mesmo. Pareceu-me bem legal, e simpático.

- Oi Gale. – Falei sem graça.

- A Katniss já está te esperando lá dentro. Todos já chegaram. – Ele me informou.

- Ah ok, eu meio que atrasei um pouquinho. Estava esperando meu irmão. – Falei.

- Atah. Só cuidado viu. A Katniss está irritada. – Gale disse.

- Tá bom. – Ri um pouco, e fomos entrar na mansão.

Tentei conter meu espanto, porque o lugar era um luxo que só. Subimos uma escada em silencio. E já dava para escutar as meninas no quarto. Assim que abri a porta para o quarto de Katniss, quase dei um pulo. O lugar era muito perfeito. Preferi nem comentar nada, para o quarto de uma diva também.

Johanna, Annie e Katniss estavam conversando. Vi que a namorada do Gale me fuzilava com o olhar. Mas nem liguei, afinal, não fiz nada de errado.

- Oi gente. – Falei com simplicidade.

- Oi Madge, demorou. – Katniss disse.

- Um atrasinho, sorry. – falei me sentando ao lado delas.

- Ok, então nós vamos por em prática, para tudo sair perfeitamente sábado, para a chegada do meu priminho querido. – Katniss disse com um pouco de empolgação, mas dava para notar o quão ela parecia irritada com algo.

- Certo. Tenho umas ideias para a festa. – Annie disse.

- Pode falar. – Katniss disse.

- Vai ser boate, certo? – Annie perguntou.

- Aham, podemos meio que colocar uns balões. – Katniss sugeriu.

- Sim, tive a mesma ideia. – Johanna disse.

- Eu também. – Annie concordou.

- Que tal então, balões prateados? – Propus

- Gostei. – Katniss disse.

E ali ficamos discutindo por um bom tempo. No final, estávamos com ideias brilhantes, parecia ser a festa do ano. Claro, seria a festa na casa de uma cantora. Eu fiquei encarregada de cuidar dos convites para o pessoal do colégio. Johanna ficou com os convites dos amigos de fora, já que ela e Katniss conheciam mais ou menos as mesmas pessoas fora. Annie ficou com a decoração da pista. Gale ajudaria a Katniss com a música, colocariam um DJ, e separariam as músicas para tocar, além de ver as comidas e bebidas.

Quando já era 19h30, terminamos de ver tudo. Eu começaria a fazer os convites hoje à noite. Johanna e Gale foram embora. Só sobrou Annie e Madge.

- Vou pedir para meu motorista levar vocês para casa, já está tarde, pra voltar no escuro. – Katniss disse com um pequeno sorriso. – E obrigada pela ajuda. – Ela disse.

Fiquei quase honrada ali. O motorista iria levar a gente em casa, motorista dela. Que sonho.

- Obrigada. – Annie disse.

- É, e foi bem legal ajudar. – Complementei.

- Ok. Então sexta vocês vão vir aqui novamente. Meu estilista vai vir pessoalmente para nos mostrar uns modelos para a festa. – Katniss disse.

Eu sabia bem quem era o estilista dela. Muito famoso, seria um sonho estar com um vestido do Cinna, mas como era o melhor estilista, o vestido seria uma fortuna. Annie tenho certeza que compraria, mas já eu? Bem difícil.

- Ah, pra mim nem precisa, eu tenho um vestido lindo, lindo na minha casa, e queria usar sabe, vocês vão adorar. – Falei inventando uma desculpa. Arrumaria um vestido claro, e eu tinha minhas maneiras.

- Ok, como quiser. – Katniss disse com um pequeno sorriso.

- Eu aceito ver os modelos do seu estilista. Devem ser perfeitos. – Annie disse.

- E são. Incríveis, garanto que vão... Não, que vai gostar Annie. – Ela disse se corrigindo.

- Certo.

Despedimo-nos da Katniss e o motorista dela nos deixou mesmo em casa. O dia foi incrível.

Pov Katniss.

Depois que as meninas foram embora, me senti bastante cansada. A casa estava em um silencio absoluto, já que meu pai e Prim ainda estavam fora. Fui tomar um banho de banheira imediatamente.

Assim que já estava dentro da água, me senti relaxada. A reunião teve algo positivo. Todos iriam ajudar para a festa, mesmo sendo muito fácil para mim. Sempre deixei minhas festas nas mãos de alguém, nunca realmente me preocupei. Porém dessa vez, era a chegada do meu primo, de sua turnê por uns países.

Uma frase me veio em mente, uma maldita frase. Pessoas normais, tem outras diversões. Nem preciso dizer à raiva que me subiu. Claro que eu era normal, porém canto e gosto disso. Sou sim famosa, mas... Já me irritei o suficiente com esse garoto pelo dia. Pensar em suas palavras já era demais. A insensibilidade em uns são grandes.

Terminei meu banho, coloquei um pijama e fiquei deitada no meu quarto. Meu pai não demorou em chegar. Prim também não. Olhei para o teto, esperando que sábado chegasse logo. A festa ficaria ótima, pela primeira vez, com a ajuda de novas amigas. Até poderia apresentar Annie e Madge para Finnick, e meus outros amigos. Enfim. Ouvi meu celular começar a tocar o refrão da minha nova música. Alguém me ligava. Pego o celular e vejo que é número desconhecido. Mesmo assim decido atender, afinal de saber quem é.

- Alô, quem é? – Perguntei assim que atendi ao telefone.

- Alô, priminha, quanto tempo. – A voz falou.

Nossa, no mesmo momento em que pensava na festa, meu primo liga. Abri um pequeno sorriso. Fazia tempo que não falava com Finnick Odair.