Waking Up In Vegas escrita por Hayley


Capítulo 3
Capítulo 3




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Capítulo 3

Aquele lugar em nada se parecia com a usina. Teriam me sequestrado? O pano úmido sobre minha face seria éter?

As paredes eram totalmente brancas. Olhei para o lado, e notei a presença de uma poltrona reclinável. Provavelmente alguém tinha estado ali minutos antes, pois o estofado se encontrava um pouco amassado e uma almofada teria deslizado até o chão.

Parecia que eu estava presa a um cubo de gelo. O aspecto desta sala trazia consigo uma grande frieza emocional, como se muita gente doente - física e psicologicamente - estivesse por perto. Só então , ao olhar para cima, pude notar um frasco de soro: eu estava no hospital. E, aparentemente, fora da cidade. Pela janela, a vista dava para uma ponte, o que não era muito comum no local donde eu vinha.

– Ela acordou! - Até o momento, esta voz - qual sussurrava - era desconhecida. Na porta, tudo que eu podia ver eram olhos de uma cor púrpura, que brilhavam reluzentemente, dando a entender que pertenciam a uma pessoa tímida e muito sentimental. Uma franja castanha caía-lhe sobre os olhos, dando-lhe feições de uma criança sapeca. Estaria eu imaginando fadas e duendes?

Percebi que estava numa maca. Tentei levantar-me e convidar a ilustre desconhecida a entrar, se é que ela existia. Mas, ao que tudo indicava, eu não conseguia mover minhas pernas. Meu estômago revirava, e eu pedia por socorro. Eu tentava me controlar, porém a ânsia de vômito não me deixava em paz.

A garota adentrou no recinto, removendo - com agilidade - o soro que eu recebia através da veia. Livre do mesmo, me virei para o lado. Comecei a vomitar. Credo! Não dava para acreditar que eu estava realmente fazendo aquilo. O cheiro era horrível. A suposta enfermeira mandou chamar a faxineira para limpar aquilo tudo, e me trouxe um copo de água para fazer bochecho e um prato para cuspir a água. Isso me aliviou, tirando boa parte do gosto de minha boca.

– Eu acho que esta pergunta é um tanto óbvia, e você deve ouvir isso todo dia de pacientes que chegam aqui, mas... Como!? Digo, o que aconteceu? Ah, e me desculpe.. Qual seu nome?

– Primeiramente, meu nome é Melli. Sou estagiária, e tenho dezessete anos. Bom, quanto ao que houve com você.. Alguns operários da usina na qual você trabalhava resolveram realizar alguns testes, aproveitando um desligamento de rotina, para observar o funcionamento do reator a baixa energia. Só que, os técnicos, encarregados destes testes, não seguiram o padrão de segurança. E, pelo fato de o moderador de nêutrons ser à base de grafite, o reator poderia apresentar instabilidade num curto período de tempo.. O que acabou por acontecer. Houve um incêndio.

– Quer dizer que.. houve um acidente nuclear, e agora a cidade está sob efeitos da radioatividade!?!? - Não dava para acreditar! Meu coração acelerou, pensando na possibilidade de que meu pai e os outros... NÃO! Eles estão bem, se eu me salvei, por que eles não se salvariam, não é mesmo? Só espero que Melli não me responda com ironia por causa da minha pergunta óbvia, a qual se deve ao fato de que eu ainda estava desconsertada. E se fosse uma brincadeira desesperadora e sem graça de Ambre? Ela não poderia chegar a este ponto!

– Sim.. - Respondeu cabisbaixa, num tom melancólico. Ela percebeu que deixara transparecer sua tristeza - Meu irmão, Ken, veio a falecer. Agora, é um pouco rude para comigo ter que trabalhar com pessoas que passaram pela mesma situação. Não há maneira de distrair-me, e dói agir como se tudo isso me fosse imparcial. Como se não causasse quaisquer sentimentos. Mas preciso ser forte, escolhi trabalhar com pessoas. - Suspirou ao balbuciar as últimas palavras. Fitava o chão, procurando uma toca na qual se enfiar. Lágrimas desciam lentamente dos seus olhos cor de púrpura, deixando-os com aspecto de estarem mais claros. Sua face tornara-se rubra, e ela parecia pedir a si mesma para que o choro cessasse. Soluçava, e respirava como se seu pulmão já estivesse suficientemente cheio, evitando receber mais ar.

– E.. o meu pai? Bennington. Chester Bennington.. Você sabe como ele está? - Levantei meu olhar, com um resto de esperança. Uma chama que me manteria viva. Aliás, esperança sempre fora representada por verde, minha cor favorita e também cor dos meus olhos.

– Bem, ele... Ele.. - Sua indecisão quanto as palavras que usaria para me responder me afligia. - Ele se foi.

Senti uma facada em meu peito. Estava sem meu escudo protetor, meu ombro amigo, minha propulsão e até mesmo o meu famoso "chute no traseiro" que me motivava a seguir em frente. Quantas vezes eu soube que deveríamos demonstrar nossos sentimentos - porque um dia seria tarde demais - e não o fiz?

Embora ele sempre dissesse que todos se vão, querendo ou não, isso não me consolava. Apesar de todo meu conhecimento, de saber que não poderia ser eterno e que o cara lá de cima escreve certo por linhas certas e as pessoas que as entortam, eu precisava disso. Precisava mergulhar de cabeça com toda a força no travesseiro, afogando-me numa tempestade em copo d'água.

A carência subia-me à cabeça, e eu socava o colchão, chutava os lençóis. Não me importava com o fato de que eu acabara de sofrer um acidente e estava me recuperando. Por fim, Melli sentou-se na poltrona que estava ao lado da cama, e choramos juntas. Como se fosse Bela Adormecida espetando o dedo no tear, tentei adormecer, agonizando minha dor. Decidi que choraria apenas este dia. Abraçaria suas roupas, veria seu filme favorito pela última vez. Sentiria seu perfume e, então, seguiria em frente. Nunca o esqueceria, evidentemente, era meu pai. Era não, sempre será. Um anjo que terminara sua missão por aqui, para ser a mais brilhante estrela no céu. Ele estaria lá, em cada aurora boreal. Em cada canto de passarinho, que o mesmo adorava. Passarinhos insistiam em me acordar pela manhã, na nossa antiga casa, e isso me deixava de mal humor. Meu pai ria, e aumentava o coral.

"Contamos uma piada, e as pessoas riem a primeira vez. Contamos novamente, e apenas algumas riem, mas sem tanto entusiasmo como da primeira. Já na terceira vez, a piada está chata, e ninguém mais quer ouvi-la. Assim sendo, por que chorar pelos mesmos motivos?" Meus pensamentos orbitavam ao redor desta frase. A frase-chave que decidiria de vez o que eu faria após sair deste hospital.


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Notas finais do capítulo

Não sou tãaao fã assim de Linkin Park, mas Chester Bennington me soou um ótimo nome e, principalmente, sobrenome para o pai da personagem kk E as coisas vão mudar drasticamente u.u



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