Reticências De Uma Semideusa escrita por Bruna Jackson


Capítulo 21
Uma Visita Inesperada


Notas iniciais do capítulo

EU SEI QUE VCS QUEREM ME MATAR, mas eu realmente não tive condições de escrever. não me matem.



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Era um deus, isso estava óbvio. Eu conseguia sentir sua aura de poder beijar meu rosto. Mas qual deles?

- Morfeu – disse Charlie.

- Não era exatamente o tipo de recepção que eu esperava – respondeu o deus. – Guarde essas armas, filha de Poseidon. Vim em paz.

Olhei de relance para Charlie enquanto transformava minhas armas novamente e o vi estreitar os olhos. Eu não sabia muito sobre Morfeu, mas deveria desconfiar dele?

- Olá – disse eu, estendendo a mão para o deus.

Morfeu sorriu.

- Olá, garota. Bom, esta é uma recepção mais amigável. Mas eu não acho uma boa ideia eu apertar sua mão agora. Tenho algo a dizer antes de você voltar a dormir.

Assenti. Ele abriu a mão e nela havia um frasco transparente com tampa azul, cheio de pequenas esferas. Ele o estendeu para mim e eu o peguei, me sentindo sonolenta no mesmo momento.

- São pérolas dos sonhos – disse Morfeu.-  Assim como existem as pérolas de Perséfone, existem as minhas. Estas são explosivas, ou seja, você joga no chão e ela se quebra, liberando uma fumaça que faz o ser, seja semideus, monstro, humano ou deus, cair no sono no mesmo instante. Dentro desse frasco elas não se quebram, pois ele tem proteção mágica dentro. Mas fora dele, é perigoso.

- Desculpe-me se parecer grosseiro – disse Charlie – mas por que está nos ajudando? Sou muito grato, mas é de se desconfiar... tantas dicas nos sonhos de Stefanie, tantas bênçãos para ela, ajuda vinda de Peter, de Poseidon... por que estão nos ajudando tanto?

- Não reclame de barriga cheia, garoto – avisou Morfeu. – Se estamos lhes oferecendo tanta ajuda, é por que sua missão é de grande importância. Se Apolo não tiver seu pergaminho... bom, seu temperamento é explosivo.

- Entendemos – disse eu. – muito obrigada, Morfeu.

Ele gargalhou.

- Ah, querida.  Isso não vem sem um custo. Nada é de graça. Bom, se conseguirem parar a fera sem ferir ou matar um mortal que seja que está nesse ônibus, vocês dois ganharão minha bênção e terão minha ajuda mais uma vez na missão. No momento de maior desespero, devem fazer uma prece para mim e eu os ajudarei. Agora, boa sorte.

Dizendo isso, ele evaporou em fumaça cinza, que nos fez bocejar. Então ouvimos um barulho do lado de fora do ônibus. Era o monstro, só podia ser. Tentei acordar Peter, mas ele não abria os olhos de jeito nenhum. Haley quase me deu um coice quando tentei acordá-la. Seríamos só eu e Charlie contra o... qualquer coisa que seja que estava vindo. O monstro arrebentou a porta do ônibus e entrou. Eu não fazia ideia do que era. Tinha escamas esquisitas espalhadas por todo o seu corpo, garras de vinte e cinco centímetros tão afiadas quanto minha espada e um olhar que dava medo em qualquer valentão. Transformei minha espada e meu escudo com o mínimo de movimentos possível. Mas o bicho me viu e avançou direto para mim. Ergui meu escudo para evitar ter meu pescoço perfurado por suas garras, mas se não fosse por Charlie, eu estaria morta. Com sua espada, ele afastou o mostro de mim, impedindo-o de me esmagar com seu peso. Duas garras dele se quebraram. Pensei que o monstro iria urrar de raiva, mas ele permaneceu em silêncio.

- É um monstro tão antigo quanto os pergaminhos de Quíron – disse Charlie, enquanto se defendia do animal. – Existem apenas dois desses, e deveriam estar presos no Tártaro. São como demônios silenciosos, feitos para matar sem deixar rastros e sem produzir nenhum som. São praticamente indestrutíveis.

Então eu lembrei-me do tal monstro. O Demônio do Silêncio, os bichinhos de estimação de Cronos, se esgueiravam pelas sombras para perseguir suas vítimas. Atendem apenas a Cronos, e assim que conseguem matar seu alvo, voltam para o Tártaro em sua forma viva. Não é só por causa de Hades e de seu Elmo das Trevas que os humanos temem o escuro. É também por causa desses monstros. E a única forma de mata-los era...

Distraída em pensamentos, esqueci-me da fera que estava enfrentando. Meu braço esquerdo, que segurava o escudo, fraquejou por um breve momento, permitindo que o demônio aproximasse suas garras de mim. Ele me arranhou com três garras, bem no meio da bochecha. Caí no chão, e fiquei impossibilitada de me mover muito. Vi Charlie avançar bravamente sobre o monstro, desferindo muitos golpes contra a barriga desprotegida dele. Mas não adiantaria, por que o único jeito de matar o monstro era...

- Charlie, prenda a respiração. Agora. – disse eu.

Ele fez o que eu pedi, graças aos deuses. Joguei uma pérola de Morfeu aos pés do monstro. A pérola explodiu em fumaça cinzenta no mesmo instante, fazendo o demônio cair no sono. Logo que a fumaça desapareceu, eu inalei o ar com cautela, para não cair no sono também. Mas o ar estava limpo. Aproximei-me do monstro e toquei-o com o pé, mas ele continuou ressonando. Antes que o efeito da pérola passasse, peguei minha espada e enfiei em seu peito até o punho tocar sua pele escamosa. Demorou um pouco, mas o monstro transformou-se em pó amarelo, que fedia a enxofre.

Nesse momento, o motorista do ônibus acordou e o motor ligou. Alguns passageiros acordaram também, e o ônibus começou a sair do lugar. Nesse momento, eu e Charlie bocejamos, e vi uma flor avermelhada surgir acima da cabeça de Charlie, e imaginei que o mesmo estava pairando sobre mim. Devia ser a Papoula, símbolo de Morfeu. Ele havia cumprido sua promessa então.

Toquei o braço de Haley para acordá-la, pois faltavam alguns minutos para a nossa parada. Mas antes de fazê-lo, decidi testar minha nova bênção. Toquei seu braço e fechei os olhos, enviando-lhe uma mensagem sonora. Não passava de um alarme clássico de despertador. Ela mal se moveu, e isso significava que estava baixo demais. Aumentei um pouco o volume.

- ALGUÉM FAÇA O FAVOR DE DESLIGAR ESSA PORCARIA DE DESPERTADOR? – gritou Haley, despertando de seu sono, acordando Peter e atraindo olhares.

Ops, alto demais.

- O que foi isso? – Ela estava perdida. – De onde estava vindo o som do despertador? Você tem celular?

Abri um tímido sorriso.

- Não – Respondi, assim que os mortais desviaram os olhos. – Resolvi testar a bênção de Morfeu.

Fiz uma síntese da história para ela, e ela pareceu entender. Mas isso não significava que ela não estava com raiva de mim.

- Parabéns pela bênção – respondeu Haley – mas isso não te dá o direito de me acordar com essa porcaria de barulho dentro da minha mente. Da próxima vez, tente algo mais sutil, por gentileza. – Disse, fechando a cara.

Ok, não adiantaria tentar fazer mais nada. Fui para perto de Peter, que estava me observando de longe.

- Estamos quase chegando, loiro – brinquei.

Ele sorriu, mostrando suas borrachinhas azuis.

- E aí, vai cantar para abrir a entrada? – perguntou, bagunçando meus cabelos desarrumados.

Mostrei a língua para ele e respondi, enquanto amarrava o cabelo.

- Acho que sim, sou a única aqui abençoada de Apolo. Não quero que ninguém exploda as pedras que fecham a passagem com sua voz esganiçada – disse em tom de ironia, me referindo à todas as vezes que sua voz falhava e alcançava uma oitava acima do normal.

- Engraçadinha – respondeu-me.

Vi que Charlie estava sozinho conferindo as bagagens, e resolvi fazer companhia a ele. Assim que sentei a seu lado, o ônibus deu uma freada brusca. Tombei sobre Charlie, não conseguindo me equilibrar. Não sei quem ficou mais vermelho, eu ou ele.

- Desculpa – disse eu, timidamente.

Ele assentiu e olhou para fora. Olhei por cima de seu ombro e vi que tínhamos acabado de chegar ao nosso destino. Estávamos em frente ao Central Park, em plena madrugada.

E eu estava prestes a ir para o inferno. 


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Notas finais do capítulo

mereço reviews?



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