“Mas e depois de realizar meu sonho o que farei?

Acho que essa é a melhor parte, você vai ter que procurar um novo sonho!”

Enrolados

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POV Rose

Eu não esperava conhecê-lo assim, não esperava vê-lo antes do dia do casamento, mas parece que alguém não pensava como eu.

Temi quando ouvi a batida na porta e o constante silêncio depois, as empregadas do castelo geralmente batiam e entravam, não esperavam que eu confirmasse algo. Então me arrumei o máximo que podia, tentei parecer autoritária e tímida ao mesmo tempo. Sussurrei um mero “entre” e esperei.

Seja quem fosse que estava do lado de fora, hesitava. Apertei o caule da pequena rosa que Scorpius deixara para mim sobre o travesseiro e me mantive firme. Eu devia isso a ele, afinal era ele quem estava tentando achar um meio de sairmos daqui e eu precisava ajudá-lo de alguma maneira.

O homem que entrou estava longe de se parecer com a minha imaginação, ele era alto e forte, cabelos negros e os olhos brilhantemente azuis. A barba estava por fazer, mas isso só o deixava mais masculino ainda, mais forte. Ele usava roupas negras e despojadas, mas continham o brasão real. Era o príncipe. Um lindo e maravilhoso príncipe.

Ele parou surpreso quando me viu em pé no meio do quarto, seus olhos demonstravam uma confusão interna enorme. Eu não conseguia entender o que havia acontecido, nem consegui falar alguma coisa, porque em menos de dois segundos de hesitação ele atravessou o quarto e segurando meu rosto me beijou.

Não foi um beijo ruim, pelo contrário, foi perfeito, doce, calmo e carinhoso. Era um beijo que toda garota sonhava em receber, ainda mais vindo de um príncipe que de malvado parecia não ter nada. Mas eu não consegui evitar as lágrimas rolando pelo meu rosto, nem o momento em que a rosa caiu por entre meus dedos e se despetalou ao atingir o chão.

O príncipe pareceu notar e me soltou olhando firmemente para mim, depois suspirou pesadamente como se estivesse desolado, murmurou um mero “desculpe” e voltando as costas me deixou novamente sozinha no quarto.

Foi então que os soluços vieram fortes e contínuos, em meio a lágrimas incessantes enquanto eu me abaixava e tentava juntar as pétalas das rosas no chão.

– Você chora demais.

Eu gritaria de alegria se aquela voz não estivesse dura e fria. Não consegui levantar os olhos para encará-lo, tudo o que eu continuei fazendo foi tentar consertar a rosa.

– Posso lhe dar outra rosa, se esse é o problema. – ele não se aproximou mais de mim, continuou parado ao longe

– Não quero outra. Quero essa. – eu disse entre soluços, eu estava ficando histérica

– É igual a todas as outras. – ele disse simplesmente

– Foi a única que você me deu. A primeira. – eu gritei olhando para ele primeiro de forma furiosa e depois desolada

O rosto dele estava marcado de fúria, raiva, mas quando me encarou pareceu ficar confuso, até mesmo com pena. E eu odiava que ele sentisse isso por mim.

Ele andou até mim e se abaixou a minha frente, tirou um lenço branco do bolso e terminou de despetalar a rosa, então guardou pétala por pétala dentro do lenço e amarrou as pontas.

– Pronto. – ele me entregou o pacote improvisado – Quando elas secarem você pode guardá-las dentro de algum livro que você tanto gosta.

Eu iria agradecer, mas quando o olhei ali tão perto só consegui chorar mais ainda.

– Você vai me contar por que está chorando? – ele pediu fazendo uma careta

– Você viu o que aconteceu. – eu dei de ombros sem conseguir encará-lo

Ele ficou tenso de repente, seu corpo se afastou levemente do meu.

– O príncipe beijou você.

– Mas ele não me ama! – eu me enfureci pelo modo displicente que ele disse isso – Nem eu o amo! E...eu não entendi nada, não sei porque ele me beijou!

– Rose... – ele tentou chamar a minha atenção, mas eu não atendi seu pedido

– Eu sei que você deve achar isso uma besteira e que já deve ter beijado milhares de garotas, mas eu esperava que fosse diferente, que fosse com que eu amo e...

– Você nunca tinha beijado antes? – a pergunte dele me fez parar

Olhei-o apenas por um segundo e pude ver a surpresa em seu rosto. Eu era uma boba mesmo, uma idiota. Quem em sã consciência espera que o primeiro beijo seja com quem se ama? Eu já tinha dezessete anos e ainda sonhava como uma criança.

Abracei-me com os braços e baixei os olhos, pronta para ouvir as risadas dele, mas elas não vieram. Tudo o que ele fez foi segurar minhas mãos e me ajudar a levantar, depois me fez deitar na cama e se deitou ao meu lado.

– Meu primeiro beijo foi um fiasco. – ele disse baixinho depois de um tempo de silêncio – Eu estava no terceiro ano e ela já era do sexto, eu me achei o todo poderoso porque ela queria ficar comigo, mas não imaginei que seria difícil saber beijar. Todos os meus amigos me falaram milhares de coisas diferentes e quando aconteceu, bem...eu tentei fazer tudo ao mesmo tempo e acebei...cuspindo dentro da boca dela.

– Você o quê? – eu pedi levantando minha cabeça e olhando para ele

Scorpius ficara vermelho, mas ria baixinho.

– Eu sei, foi um desastre! Ela nunca mais olhou na minha cara! – ele deu de ombros

– Quem diria que o garanhão de Hogwarts fizesse isso... – eu voltei a deitar, mas um sorriso surgia em meus lábios

– Não sou um garanhão, não fiquei com metade das garotas que dizem que já ficaram comigo! – ele ficou sério de repente – Sempre quis um relacionamento sério, mas no fim eu sempre acabava pensando em uma certa garota que atrapalhava tudo.

Ele voltou o rosto para mim e ficou me encarando de forma séria, profunda. Eu estremeci, mas me mantive firme.

– E você é apaixonado por ela? – pedi baixinho

– Desde sempre eu acho, mas era tão impossível ocorrer algo entre nós que tentei achar um amor diferente em outras garotas. Fracassei miseravelmente. – eu tinha a leve impressão de que ele estava mais perto

– E por que nunca se declarou para ela? – pedi arfando quando seus olhos se focaram nos meus

– Tive medo...que ela dissesse não... – ele sussurrou muito baixo, mas eu pude ouvir

– Quem diria não a você? – pedi fechando meus olhos e aspirando seu cheiro de menta

Scorpius se virou de lado na cama, como eu, nossos narizes se tocaram levemente.

– Ela não é igual as outras...é diferente! – pude sentir seus lábios roçarem levemente nos meus – Ela é a garota perfeita que jamais se apaixonaria por Scorpius Malfoy.

Tantos dias olhando das janelas
Tantos anos presa sem saber
Tanto tempo nunca percebendo
Como tentei não ver?
Mas aqui, a luz das estrelas
Bem aqui, vejo o meu lugar
Sim, aqui consigo sentir
Estou onde devo estar

Senti ele hesitar e temi que fosse se afastar, abri meus olhos rapidamente só para encontrar os dele, temerosos, sobre mim. Mas eu estava ansiosa, demais. Era como se finalmente tudo o que eu sonhara se realizaria.

Scorpius soltou a respiração de forma lenta e então colocou nossos lábios. Fiquei imóvel por um momento sentindo o toque gelado dos lábios macios, então ele se inclinou ainda mais para mim e sua mão segurou meu rosto ajustando em uma posição que melhorasse ainda mais o contato.

Sua língua tocou de leve meus lábios e eu suspirei, inconscientemente, abrindo-os. Quando nossas línguas se encontraram aconteceu um choque de emoções e sentimentos que eu jamais senti antes. O passado voltava a tona cheio de brigas e gritos em numerosos corredores, mas depois vinha os olhares quentes, os sorrisos, os toques inconstantes.

O gosto dele me levava à loucura, um gosto refrescante de menta, mas com o doce do chocolate. Sua mão se embrenhando em meus cabelos me incendiava por dentro, fazia meu corpo se aproximar mais dele, como se fosse possível. E tudo o que eu queria, era jamais me separar dele, jamais acabar com aquele momento.

Ele se separou devagar, sua mão voltando a tocar meu rosto, meus lábios, meus olhos cerrados.

Vejo enfim a luz brilhar
já passou o nevoeiro
Vejo enfim a luz brilhar
Para o alto me conduz
E ela pode transformar
de uma vez o mundo inteiro
Tudo é novo pois agora eu vejo
É você a luz

– Você tem gosto de cereja. – eu podia sentir que ele estava sorrindo

– Isso é ruim? – pedi baixinho, ainda sem coragem para encará-lo

Sua mão tremeu em meu rosto, e ele se afastou ligeiramente.

– O que foi? – abri os olhos quando senti ele sentar na cama

– Preciso te contar uma coisa. – ele se voltou para mim, seus olhos cheios de angustia

Meu coração pesou de vê-lo assim, mas nada apagava a felicidade que eu senti pelo beijo que trocamos segundos atrás.

– Rosalie...eu a conheci hoje. – ele deu de ombros – Eu sei porque o príncipe te beijou.

Aprumei-me na cama e prendi a respiração, aquilo estava me deixando nervosa, com medo.

– Vocês duas...são idênticas! – foi ele quem prendeu a respiração agora

– Então ele a ama! Achou que fosse ela aqui no quarto e a beijou! – eu sorri, feliz, mas parei ao ver que ele continuava sério demais – Você também achou que ela...era eu?

– Não. O príncipe se afastou de você hoje porque o gosto dos lábios de vocês é diferente, por isso ele viu que você não era a Rosalie dele. – ele disse isso com extrema dificuldade, com medo em seus olhos

– Você a beijou. – eu constatei e senti aquela felicidade se esvair de mim

– Ela me beijou e eu não correspondi Rose! – ele ficou exaltado, segurou minhas mãos de forma firme – Ela só fez isso para ver se eu gostava mesmo de você...eu estava confuso demais com tudo o que aconteceu! Mas eu não a retribuí, quando senti o gosto de mel dos lábios dela era como se não combinasse comigo, como se fosse doce demais para mim.

Eu abaixei o olhar, triste. Ele suspirou pesadamente e começou a acariciar minhas mãos.

Tantos dias, sonhando acordado
Tantos anos, vivendo a vida em vão
Tanto tempo nunca enxergando
as coisas do jeito que são
Ela, aqui,à luz das estrelas
Com ela aqui, vejo quem eu sou
Ela que me faz sentir que eu sei pra onde vou

– Mas agora, quando senti o seu gosto. Cerejas. Eu sabia que era tudo o que eu sempre quis desde que me apaixonei por você! – ele segurou meu rosto e levantou com delicadeza até que eu o encarasse – E sabe por que não confundi você com ela? Seus olhos, Rose...seus olhos tem um tom mais escuro do que os dela. Parece uma noite turbulenta depois de uma tempestade e combinam perfeitamente com os meus, já que eles são a própria tempestade.

E fiquei fitando aqueles olhos cinzas, imaginando o céu enquanto chovia torrencialmente. Só eu sabia o quanto eu me lembrava daqueles olhos enquanto olhava as tempestades em Hogwarts.

– Eu sei...eu também imaginava seus olhos quando as tempestades passavam. – ele disse simplesmente

Eu sorri levemente, fazendo ele soltar o ar que segurava e parecer menos angustiado. Seu rosto se aproximou novamente do meu e ele tocou nossos lábios em um beijo casto, depois encostou sua testa na minha em um gesto de carinho.

– Amanhã é o casamento.

– Posso roubar você se não der nada certo. – ele sorriu

– E vamos ficar aqui para sempre. – eu o repreendi

– Se for para ter você, não me importo. – ele estava sério, suspirei sorrindo – Acha que o príncipe realmente ama a Rosalie?

– Acho. Ele pareceu muito confuso, depois aliviado e quando me beijou, estava mais angustiado do que nunca. Ele a ama, mas por algum motivo tem de se casar com a princesa. – eu me afastei dele, mas segurei suas mãos querendo manter nosso toque

– Consegue levá-lo para passear hoje? – Scorpius perguntou de repente – Depois da nove, perto do rio...ele vai aceitar porque está confuso com você!

– Você vai estar lá? – pedi segurando mais forte suas mãos

– Vou sim, e Rosalie também! – ele disse com cuidado – Vamos resolver isso de uma vez por todas! E eu tenho a solução para voltarmos para casa! Juntos!

E eu confiava nele. Era a primeira vez que eu via Scorpius Malfoy como ele realmente era e eu sabia que esse Scorpius era meu, completamente meu.

Vejo enfim a luz brilhar
Já passou o nevoeiro
Vejo enfim a luz brilhar
Para o alto me conduz
E ela pode transformar
de uma vez o mundo inteiro
Tudo é novo pois agora eu vejo
É você a luz
É você a luz