Misery Business escrita por Rebecca Meirelles


Capítulo 12
Capítulo 11 - Coringa do Amor


Notas iniciais do capítulo

Não me matem. Eu juro que o Jonas é legal. Amo vocês.



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Lá estava ele, deitado em meu colo, o braço cobrindo os olhos, a boca movendo-se com a pronuncia de suas palavras. Jonas parecia sério, mas mesmo assim mais relaxado que antes, não tão brincalhão e zombeteiro como a alguns minutos atrás. Eu apenas o ouvia, olhava-o de cima, enquanto tentava entender como e por que tínhamos chegado a aquele ponto.

 — Eu moro com a minha avó faz oito anos. — começou — Minha mãe está em algum lugar da Itália, fingindo estudar culinária para não cuidar de mim e jogar o peso de ter um filho para as costas da pobre progenitora.

— E seu pai? —perguntei gentilmente, com medo de levar algum fora. Já não sabia mais que tipo de comentários poderiam significar um "campo minado" com o novo Jonas.

 — Minha mãe me teve nova. Dezoito anos, estudava gastronomia, era a paixão dela. Mas, depois de ter um filho, teve que largar tudo para cuidar de mim. Meu pai também era uma criança na época. Na verdade, era um mauricinho de uma família rica. Mas não deixava de ser muito jovem e muito bobo na época. Assumiu a minha paternidade e, na primeira oportunidade, fez um intercâmbio para o exterior. Depois disso, sumiu. — Jonas tirou o braço de cima dos olhos, mas manteve os mesmos fechados, não olhou para mim em nenhum momento. — Quando eu era pequeno, os pirralhos costumavam dizer que meus pais não me queriam porque ninguém quer uma criança feia e egoísta em casa. Só que aí aconteceu... 

Jonas não parecia abalado com o que dizia. Contava tudo com a frieza de quem conta a história de outra pessoa. O passado não mais lhe pertencia, nem ele e nem a dor que lhe trazia. Mesmo que ainda estivesse ali, cutucando-o com a ponta da faca, esperando que ele abrisse a mínima fresta na caixa de pandora de suas emoções.

— Tudo me era tirado bem devagar, de pouco em pouco. Me tornei apegado a tudo por isso, também fiquei seco e frio em relação as minhas emoções. —sua testa se enrugou, como se visualizasse um pesadelo por trás do escuro de suas pálpebras — Eu não queria que nada mais entrasse na minha vida, pois eu sabia que sofreria demais quando tudo me fosse tirado outra vez, fosse como fosse. Então eu me tornei a criança antissocial, abandonada, excluída, indiferente, desgostosa e sozinha. Sempre sozinha. Se tudo o que passava a fazer parte de mim parecia simplesmente desaparecer, para que deixá-las fazerem parte do que era meu? Me convenci de que só o que eu tinha era o suficiente. Só os meus avós, só as minhas lembranças , dolorosas ou não.

"As crianças eram cruéis demais, incompreensivas. Todas, menos uma. Marcela era um anjo, não me evitava, pedia para que eu trocasse o meu lanche com ela, pois ela não suportava as cenouras que sua mãe colocava no sanduíche. Um dia, no dia dos namorados, devíamos ter entorno de sete anos, ela correu até o jardim do parquinho e roubou uma flor rosa que crescia por entre os rododendros. Disse para que eu a desse a minha avó e, depois, desenhasse uma para minha mãe e a enviasse em pensamentos. Por fim me roubou um beijo, rápido demais, um estalinho bem infantil, bem mal dado. Mas que eu sonhei para sempre. Até o dia que reencontrei".

Os lábios do garoto se repuxaram em um delicado sorriso que fez o meu coração disparar - não sei se de dor ou de alegria -. Jonas mordeu seus lábios, contendo a emoção que transbordava em seu rosto. Remexeu-se, ajeitando a posição de sua cabeça em minha perna e finalmente continuou:

   — Então eu dei uma chance para mim. Uma folga para um coração pequeno demais para desacreditar no mundo. Eu a deixei fazer parte de mim, porque eu sabia que se um dia pudesse ser como ela, poderia sorrir para todos. E o meu sorriso faria o dia de todos sorrirem para eles mais uma vez, assim como Marcela sabia fazer.

 "Só que como todas as coisas boas em minha vida, o torpor da alegria durou pouco. Marcela se mudou para um bairro mais longe, mudou de colégio, de telefone, de vida. Mas eu, enquanto ela esteve comigo, também mudei. Decidi que guardaria toda a minha dor no lugar mais fundo, pois sabia que ela não interessava a ninguém mais além de mim. Decidi que sorriria mais, falaria mais, conversaria mais, estudaria, me esforçaria em algum hobbie, alguma atividade. Aulas de futebol, violão, natação, aulas particulares. Eu queria ser alguém que todos quisessem por perto, mas não queria estar sempre com pessoas a minha volta. "

 — Porque você sabia que não aguentaria disfarçar a sua dor tendo-as tão próximas a você. —completei, colocando, em um ato completamente inconsciente, a mão nos cabelos de Jonas. O mesmo não protestou ao meu gesto, apenas riu com o meu comentário e concordou positivamente uma vez.

 — Sim, sim. E eu consegui. Não havia sequer um dia em que eu chegasse em casa e não chorasse até dormir, depois acordava para comer, estudar e todas essas coisas. Extravasei metade dessas emoções na música, em coisas para fazer durante o dia. Saía com os meus novos amigos ou dedicava-me a algum passatempo, manter a mente ocupada me impedia de pensar em coisas dolorosas. E isso parecia realmente fácil, até eu entrar nesse colégio e na temida fase da "adolescência".

 Senti, com a ponta dos dedos, os finos fios dos cabelos de Jonas, o quanto eram macios e emaranhavam-se de uma forma fofinha quando eu os bagunçava em meu afago. Não havia bagunça que eu fizesse que o deixasse feio ou estranho. De vez em quando ele bocejava, mas quando eu ameaçava parar, Jonas apertava minha mão e entreabria os olhos para me encarar, enquanto sorria.

 — Comecei a perceber mais as garotas e elas começaram a me perceber, a personalidade das pessoas passou a me irritar, algumas me faziam perder a paciência, mas eu sabia que não poderia ser grosseiro, não queria que me odiassem ou qualquer coisa assim. Minha fama aumentou, eu era o menino gentil e, com a troca de salas, eu te encontrei. —disse Jonas, por fim, abrindo os olhos para olhar-me. Eu já estava completamente hipnotizada pela serenidade de seu rosto em aparência adormecida, não desviei o olhar, nem mesmo quando ele me encarou. — Você era gentil, misteriosa, doce, tinha um Q de rebeldia e era até... Sexy? —ele riu — Era esperta demais, por isso quando olhávamos nos seus olhos, era como se você soubesse sobre todos os nossos pensamentos. E isso a tornava assustadora e fascinante. Mas, para mim, era apenas assustador. Você era atraente, mas também era exatamente o que eu queria evitar. E mesmo assim, mesmo de longe, eu a observava, quando você não viraria e me flagraria. Apenas quando eu sabia que meus olhos não se encontrariam com os seus e você me decifraria.

 Jonas levantou-se de meu colo, ajeitou-se do meu lado na parede, abraçando as pernas, ainda me encarava. A eletricidade de nossos olhares descia em choques por minha espinha, me impedia de perder sequer uma respiração por entre nossas palavras que, agora, pareciam quase sussurradas.

 — Mas então você foi mais forte do que todos os meus impulsos. E você me folheou como a um livro, lambeu a ponta dos dedos, virou página por página, das boas até as piores partes. E, logo no clímax —Jonas se aproximou de meu rosto — Não havia nada mais a ser lido. —seu nariz tocou a ponta do meu, levemente. Fechei os olhos e, simplesmente, esperei até sentir seus lábios colarem aos meus. Tão macios, leves e quentes, habilidosos e vagarosos. Quase saborosos e levemente entorpecentes. Eram afrodisíacos e com a doce sensação de surpresa — Você sabia sobre o que estava escrito em cada uma das páginas, mas não sabia o mais importante. Não sabia o que eu já havia lido em seus olhos antes mesmo que eu lesse nos seus. Um: Eu te amo; Dois: Eu nunca achei que fosse encontrar a Hell Girl.


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Notas finais do capítulo

Que confusão! Mas ele não disse que não gostava dela? Então por que eles se beijaram? Por que o Jonas gosta dela? Ele não gostava de outra pessoa? QUE HISTÓRIA CONFUSAAAAAAAA. :x
Calma, calma... Tudo se esclarecerá.



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