Please, Peace! escrita por Mieolchi


Capítulo 2
O primeiro sorriso


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo. Espero que gostem (ou que leiam, ao menos xD). Não sou muito boa com essas coisas, mas ok xD



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Levantei-me da cama assustada com a luz na janela que já brilhava forte. Olhei para o relógio e vi que já passava do meu horário de acordar. Apenas lavei o rosto e me vesti, pegando uma maçã para comer no caminho. Andei o mais rápido que pude até a escola, mas não chegaria lá em menos de 10 minutos.

Meu bairro não era muito movimentado essa hora da manhã, mas consegui a façanha de esbarrar em pelo menos 4 pessoas que andavam em sentido contrário do meu. A quinta pessoa andava no mesmo sentido que eu e esbarrou em mim de propósito. JongHyun era uma criatura desnecessária. Passou por mim me encarando, andando mais rápido que eu. Assustei-me com o que ele fez, mas o deixei ir. Eu já estava de mau humor o suficiente para fazê-lo engolir os próprios dentes. Continuei seguindo em frente e notei que ele ia na mesma direção que eu. Mas claro! Ele estudava na mesma escola em que eu dava aulas. Ainda bem que eu não era professora dele, senão ele ia sentir o poder de uma professora de mau humor. Era só o que faltava um bebê chorão daquele tamanho me empurrando na rua. Meu humor poirou ainda mais por pensar que hoje seria uma turma difícil de lidar na escola. Eu devia ter ficado em casa dormindo.

A aula passou, finalmente, e saí da escola para a pousada quase correndo, pois morria de fome e não tinha tomado café da manhã direito. Enquanto eu caminhava, espiava pelo canto dos olhos cada pessoa no meu campo de visão para não ser surpreendida novamente por um moleque mal educado. Avistei-o de longe, perto de onde tínhamos esbarrado, encostado em um muro. Respirei fundo e me acalmei, não queria perder a cabeça com aquela peste. Continuei andando, e, antes que eu passasse por ele, esticou o braço segurando meu ombro, fazendo-me parar. Encarei-o séria, enquanto ele apenas continuava com a cabeça baixa. Virou-se para mim e me olhou nos olhos.

– Espero que não pense que seremos amigos porque você dá aulinhas para a minha irmã.

– Não faço a mínima questão disso. Agora me deixe ir. – eu disse, sem ao menos olhá-lo, empurrando a mão que segurava meu ombro.

– O-o que você disse? – ele perguntou, parecendo abismado.

– Eu disse que não faço questão de ser sua amiga ou qualquer coisa que seja. Não estou sendo paga para isso. E se eu receber mais empurrões enquanto caminho na rua, alguém vai amanhecer sem dentes! – ele me olhava aturdido.

Virei as costas e fui apressada para casa, aquela discussão só havia aumentado a minha fome. Não entendi direito o que ele queria comigo, mas certamente ele estava cansado de pessoas que se aproximam dele. Eu mal havia me apresentado e ele já achava que eu queria amizade. Cheguei em casa, preparei um almoço rápido e comi. A única coisa boa do meu dia era o fato de que não precisaria mais trabalhar hoje, era meu dia de “folga” no horário da tarde. Pude descansar e... mentira, não consegui descansar. Só pensava naquele moleque infeliz que me deixava com mais raiva. Como pode um pirralho daqueles tomar tanto o meu tempo? Isso já estava ficando desconcertante.

A noite já chegara e eu não tinha aproveitado nada do meu dia. Não houve um minuto sequer que eu não estivesse pensando nele e em como lidar com aquela situação. Aquela senhora confiava em mim, eu não podia deixa-la, ainda mais porque me apeguei à Yoora. Resolvi finalmente que iria continuar e ignorar aquele pirralho. Enfim, peguei no sono.

~//~

Quarta-feira, dia de folga pela manhã. Consegui finalmente dormir bastante! Hoje eu estava de bom humor, apesar de ter que encontrar aquela peste de novo. Almocei, arrumei os materiais de aula e peguei alguns livros infantis que eu tinha guardado para emprestar para Yoora. Alguns eram em inglês, o que certamente ajudaria nas lições. Antes de chegar na casa da Ahjumma, passei por uma mercearia e comprei chocolates.

Vi a casa de longe, a procura de sinais do garoto por perto, mas nada dele. Ainda bem, não queria nada estragando meu dia. Fui me aproximando da casa, sempre alerta para não ser surpreendida por ele. Toquei a campainha e Yoora veio correndo ao meu encontro. Entramos e lhe dei um dos chocolates. Ela comeu e agradeceu. Na sala, Ahjumma esperava sentada no sofá, e levantou-se quando me viu.

– Ah, querida! Que bom que chegou! Estou saindo agora, eu não demoro. Chegarei antes do horário de você ir embora. – cumprimentou-me e saiu, sem ao menos dar tempo para eu responder ou cumprimentar. Ela conseguia ser bem estranha às vezes.

Sentamos e começamos o estudo. Mostrei os livros e ela ficou encantada, adorou as figuras e as palavras em inglês. Mas logo o sorriso sumiu do rosto e ela me olhou chorosa: “Unnie... eu estou triste. Não quero que a Omma saiba disso, mas não consigo disfarçar. Eu não quero ver a Omma triste de novo.” Disse, abraçando-me e não segurando mais o choro.

– Calma, querida... isso acontece. Omma só está preocupada com vocês, ela te ama muito. Apenas seja uma boa menina e cuide dela, ok? A Unnie vai te ajudar. Não se preocupe. – abracei-a até que se acalmasse.

Nesse momento, escutei uma porta batendo no segundo andar. Imaginei quem seria e não dei bola, continuei abraçando Yoora, alisando seus cabelos pretos. Ela olhou para mim e sorriu. Agora eu tinha uma responsabilidade maior do que ensinar inglês para ela. Precisava distraí-la. Mostrei um livro com a capa colorida e comecei a explicar as coisas, pois estava todo em inglês. Surpreendi-me com o aprendizado rápido da menina, que já lia algumas coisas.

Já eram 16:00h e estávamos com fome. Ajudei-a na cozinha a pegar algumas coisas que a Ahjumma havia deixado pronto e levamos para a sala. Enquanto comíamos, escutei uma porta abrindo e fechando várias vezes. Tinha um moleque nos espiando. Olhei para trás pela primeira vez quando escutei a porta abrindo, e ela se fechou rápido, fazendo mais barulho do que o esperado. Ri baixinho.

Finalmente ele deu as caras. Abriu a porta e desceu galopando nas escadas, pisando firme no chão. Não nos olhou e foi direto para a cozinha. Gritei da sala: “Olá para o senhor também, JongHyun!” Escutei as batidas que ele dava nas portas dos armários e vi que Yoora olhava assustada. “Espere aqui, querida.” Saí para a cozinha também.

Cheguei lá e dei de cara com um garoto mal encarado, com os olhos vermelhos e inchados, vestindo uma camiseta de gola V azul escuro e uma calça jeans clara, fazendo um sanduíche. Parei perto dele e me escorei na pia. Cruzei os braços e fiquei observando o que ele fazia.

–A gente pode conversar um pouco? – eu disse, mas ele nem se quer me olhou – Acho que começamos isso tudo de uma maneira ruim.

– Ruim é alguém estranho dentro da minha casa. – ele disse, com um tom firme.

– Ok, ok. Vou começar de novo. Muito prazer, eu sou a SoYoung, dou aulas de inglês para a sua irmãzinha que provavelmente está muito chateada com as suas atitudes e chorou agora pouco no meu ombro. Se não quer alguém estranho na sua casa, ajude Yoora a superar isso tudo ao invés de ser egoísta e só pensar em si mesmo. – peguei um pedaço de queijo que ele cortava para colocar no sanduíche e comi.

– Você não sabe de nada da minha vida!

– Eu não sei mesmo, mas sei que você está magoando as únicas pessoas que se preocupam de verdade com você.

Ele me olhou aturdido, algumas lágrimas caíram. Largou o sanduíche e me abraçou. Não consegui fazer nada além de abraça-lo de volta quando ele começou a chorar no meu ombro. Aquilo me surpreendeu demais, eu estava preparada para começar outra discussão. Ele me desarmou. Ou talvez eu que tenha desarmado ele.

– Fique tranquilo, vai ficar tudo bem. – foi o que eu consegui dizer. E ficamos ali por um tempo. Ele me abraçava forte demais, mas não reclamei.

Soltamo-nos devagar enquanto ele enxugava as lágrimas e acalmava a respiração. Senti que ele queria dizer algo, mas não tinha coragem. Ele sentou numa cadeira próxima e pareceu estar mais calmo, mas ainda não me olhava nos olhos. Aproximei-me dele e afaguei seus cabelos despenteados. Ele então ergueu a cabeça e finalmente me olhou nos olhos. Só então eu pude perceber o verdadeiro lado dele. A amargura era uma máscara.

– Noona... eu tenho medo... – disse, e voltou a abaixar a cabeça, chorando. Ajoelhei-me a sua frente e segurei suas mãos.

– Vai ficar tudo bem, eu já disse! Acalme-se.

– Você promete...?

– Eu prometo.

Olhamo-nos nos olhos novamente enquanto ele se aproximava e me abraçava, sussurrando um “desculpe-me” no ouvido. Limpei suas lágrimas com as mãos. Ele me olhou novamente, mas sua expressão havia mudado. Estava mais sério e parava de chorar.

– Escute... eu não preciso de ninguém. Não se meta quando não for chamada... – ele disse. – Mas... Obrigado por hoje... por... ser sincera comigo. – Levantou-se, pegou o sanduíche e saiu da cozinha.

Voltei para a sala satisfeita. Yoora me esperava enquanto tentava decifrar mais palavras em inglês no livro. Já passavam das 18:00h e a Ahjumma ainda não tinha voltado. Yoora ligou para ela, que estava presa no trânsito e demoraria a voltar, mas pediu que eu ficasse com Yoora até ela chegar. Fiquei, afinal haveria pagamento!

Yoora pediu uma pizza para a nossa janta, mas estava receosa em chamar o irmão para comer por causa dos barulhos que ele fez na cozinha que a assustaram, então eu o fiz. Subi as escadas e bati na porta: “JongHyun, temos pizza, você quer?”. Ele abriu a porta:

– Ah, sim... não estou com muita fome... – ele disse, enquanto fechava a porta devagar, mas foi surpreendido quando eu escancarei a porta e o puxei pelo braço.

– Vamos logo, não quero criança com fome nessa casa. – diferentemente do que eu imaginara, ele cedeu e desceu as escadas pacificamente enquanto eu o segurava pelo braço.

Sentamos na mesa de jantar e comemos. JongHyun não disse uma palavra até então, mas me encarava o tempo todo, disfarçadamente. Yoora estava feliz por jantar com o irmão e contava sobre a escola e os amigos novos que fizera, até que perguntou ao irmão sobre seus novos amigos na escola.

– Eu não tenho novos amigos, não preciso deles. Yoora, pare de se apegar a pessoas estranhas! – ele disse, batendo com a mão na mesa e deixando os talheres caírem.

Antecipei-me e peguei os talheres do chão. Entreguei-os ao menino e afaguei seus cabelos.

– Viu? As pessoas estranhas não são tão ruins assim! – olhei para ele e sorri.

Ele pareceu um pouco perturbado com o que eu disse e voltou a comer a pizza, dessa vez com as mãos. Yoora olhava toda a situação encantada. Imitou o irmão e comeu a pizza com as mãos também. Os dois irmãos agora se olhavam e riam, brincando com a pizza nas mãos. Senti que eu havia feito algo bom ali, a harmonia na casa estava diferente.

Ahjumma chegou em casa e viu a cena dos irmãos. Ela imediatamente sorriu e me olhou com os olhos brilhando. Yoora saiu da mesa correndo em direção da mãe para dar-lhe um abraço, JongHyun apenas levantou-se devagar, sorrindo, e ia timidamente  ao encontro da mãe. Suspirei como se estivesse num final feliz de um filme.

~//~

No outro dia, acordei cedo, como de costume, e me arrumei para ir à escola. Meu susto não foi pequeno quando encontrei, parado no portão, JongHyun. Achei que ele fosse ser grosseiro como da outra vez e me preveni, fazendo uma cara séria.

– Bom dia, JongHyun. O que faz aqui tão cedo?

– Ah... oi noona! – ele disse. Não acreditei quando escutei “noona” saindo da boca dele. – Obrigado por ontem... acho que entendi algumas coisas, enxerguei outras. Posso te acompanhar até a escola hoje?

– Ahm... pode! Claro! – espantei-me com a situação. Não esperava algo assim dele tão rápido. Ou ele era bipolar ou era realmente estranho... ou realmente se sentia daquela maneira.

Começamos o caminho da escola quando escutei uma voz que me chamava ao longe. Não podia ser... não. Fingi não ouvir e continuei andando, dessa vez apertei o passo e apressei JongHyun. A voz chamava cada vez mais alto, e o menino já me olhava assustado, até que uma mão alcançou meu ombro.

– Olá, SoYoung! Faz um tempo já, não? – falou um homem alto, forte e com um sorriso nos lábios.

– Ah... olá, oppa. Estou com um pouco de pressa, será que podemos conversar depois?

– Claro! Vou passar na sua casa na hora do almoço, ok? – ele disse, segurando meu rosto e beijando minha testa. – Até mais!

Ficamos os dois parados enquanto o Oppa se distanciava. Como ele conseguia aparecer nos momentos mais estranhos e se tornar mais estranho do que o próprio momento? JongHyun me olhava sem entender a situação, então eu expliquei.

– Bom... o Oppa é dono desses apartamentos de estudantes, conheci ele quando vim morar na Coreia, e desde então ele me acompanha pra ir na escola, me convida pra almoçar e jantar, me dá presentes... enfim, ele gosta de mim. Mas ele é mais velho do que eu, eu tenho 24 anos, ele tem 32. Eu chamo ele de Oppa porque ele fica bravo se eu o chamo de Ahjussi. – rimos enquanto eu falava. – Ele não é uma pessoa ruim, é até um homem muito bonito, mas não quero me envolver com ninguém agora, principalmente alguém mais velho.

– Então a noona prefere garotos mais novos? – ele disse rindo e me olhando maliciosamente, como se brincasse.

– Eu não falei isso! Ei, garoto! Veja bem como fala comigo!

Ele correu na minha frente para fugir das mochiladas que eu dava nele. Ele estava tão bonito rindo e correndo, com o cabelo bagunçando no vento e olhando para mim. Paramos de correr quando chegávamos perto da escola. Ali deveríamos nos comportar...


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Notas finais do capítulo



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