Please, Peace! escrita por Mieolchi


Capítulo 1
A primeira aula


Notas iniciais do capítulo

Desculpem qualquer coisa, são só devaneios organizados em forma de palavras.



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O despertador toca. Mais um dia de trabalho na escola e mais um dia que não terei tempo de almoçar. Trabalhar em vários lugares ao mesmo tempo é cansativo, mas por enquanto é necessário. Levantei, tomei banho, comi e saí. Estava um pouco frio, então coloquei qualquer roupa por baixo de um casaco grande e comprido.

Estou provisoriamente numa pensão de estudantes até que eu consiga o dinheiro necessário para me mudar dali. É um lugar grande, até, e não ficava longe da escola, meus trajetos poderiam ser feitos a pé tranquilamente. De manhã dou aulas de inglês para crianças numa escola, e à tarde dou aulas particulares. Hoje eu conheceria minha nova aluna das segundas, quartas e sextas-feiras. Não era longe da escola, então era tranquilo.

Cheguei na escola e fui recebida com abraços dos pequeninos, alguns puxavam meu braço para baixo para que eu os beijasse. Era desconfortável, mas gratificante. Sentei-me na sala dos professores esperando o sinal e abri o caderno, revisando o que teria hoje de matéria.

A aula foi tranquila, como sempre. A turma de hoje era mais crescida, então não houve grandes problemas. Corri para casa na esperança de conseguir almoçar antes de ir para a casa da minha nova aluna. Não entendi direito o motivo de começar a aula às 13:00h, mas eles pagam bem, isso que importa. Aliás, acho que a família deve ter bastante dinheiro, eu não cobro barato, ainda mais para ter 3 aulas por semana e ainda começar às 13:00h e terminar às 17:00h. Quatro horas de aula é pra matar!

Cheguei em casa e esquentei a janta de ontem no micro-ondas, eu ainda tinha 40 minutos para comer e chegar lá. Comi em 10 minutos, escovei os dentes, me arrumei e saí apressada, quase troteando. A uma quadra de distância da casa eu já podia vê-la de tão grande. Era realmente enorme, com pilares, um jardim grande na frente e janelas enormes. Senti-me estranha quando olhei para mim mesma vestindo uma calça jeans, um casaco tipo sobretudo reto e um tênis. Ok, agora era tarde demais para se enfeitar.

Apertei a campainha. Uma mulher de aparência jovem me atendeu com um sorriso: “Olá! Você é SoYoung? Entre!” ela disse, transbordando simpatia e delicadeza comigo. Percebi que ela usava um avental colorido por cima da roupa, mas, julgando pela aparência, não parecia ser a empregada.

— Olá, querida! Muito prazer! Eu sou Kim SunHee, mas pode me chamar de Ahjuma! – disse, estendendo a mão para me cumprimentar. – Esta é Kim YooRa, sua aluna a partir de hoje. – olhando para a filha, disse: - comporte-se, viu? Essa é a Unnie que vai te ensinar inglês, seja boazinha!

A menina balançou a cabeça em sinal afirmativo e olhou para mim com um sorriso. Ela tem 8 anos e é calma e gentil como a mãe, isso era maravilhoso! As crianças da idade dela sempre têm problemas para prestar atenção nas coisas da escola.

— Unnie, muito prazer! – disse Yoora, com um sorriso no rosto. – Venha, vou te mostrar a sala onde vamos estudar! – me puxou pela mão e corremos para dentro da casa.

A sala era enorme e tinha uma mesa de centro retangular. Será ótimo dar aulas aqui. Ela me apresentou a casa apontando o dedo em direção aos cômodos. “E ali fica o banheiro do andar de baixo, ali é a cozinha, lá em cima tem meu quarto, o quarto dos hóspedes, o da mamãe e do papai, e tem o do Oppa também.”

— Ah, então você tem um irmão também? – eu disse.

— Tenho sim, unnie... mas ele não é legal. Queria ter uma noona para brincar comigo!

— Uhm, ok. Serei sua unnie emprestada quando tivermos tempo!

Ela ficou com os olhinhos brilhando com minha última frase. Sentamo-nos no tapete e pegamos os livros e os cadernos para começar os estudos. Depois de 2 horas, já estávamos cansadas e resolvemos dar uma pausa. Na mesma hora, Ahjuma chegou na sala com uma bandeja de lanche, com suco e guloseimas. Ela era realmente atenciosa, e fiquei me perguntando se ela cuidava da casa sozinha. Era muito grande para uma pessoa só limpar. Ela sentou conosco e lanchamos juntas.

Conversávamos sobre muitas coisas quando a porta se escancarou, e um garoto de mais ou menos 18 anos apareceu, com uma cara de poucos amigos. Ele não desviou o olhar para nós um único segundo, indo direto para as escadas. “JongHyun! Deixe de ser mal-educado e cumprimente! Estamos com visita!” gritou a mãe, mas, vendo que ele fingiu não ouvir, apenas colocou a mão sobre a testa.

— Uhm, não se incomode com ele, tudo bem? É o irmão mais velho da Yoora. Ele está assim desde que nos mudamos para cá. Já tentei conversar, mas sabe como são os jovens, né? – disse a Ahjumma.

— É verdade, Omma... – disse Yoora. – Omma... vou ali conversar com o Oppa e já volto. – saiu, deixando-nos sozinhas na sala.

— SoYoung-ssi... Espero que não se assuste com o meu pedido! Não te chamei aqui só por causa das aulas de inglês. Eu vou precisar sair todos os dias à tarde e tenho medo de deixar os dois sozinhos. Você não se importa, não é? Yoora é muito educada e não dá trabalho algum. Vou sempre deixar lanches prontos e tudo o que precisarem. Foi por isso que te chamei tão cedo. Ah! Algumas vezes vou precisar que você fique até mais tarde, tudo bem?

— Tudo bem, Ahjumma. Isso não será difícil. Ela é muito agradável. – eu disse, já imaginando como as pessoas conseguiam confundir o trabalho de professora com o trabalho de babá.

— Obrigada, querida... Estou confiando em você. Muito obrigada! Depois podemos conversar sobre pagamento e... – Yoora interrompeu a mãe com os barulhos que fazia enquanto descia as escadas, puxando seu irmão pelo braço.

— Já acalmei o mocinho, mamãe! – disse, piscando para Ahjumma. JongHyun olhava para baixo, desviando o olhar. – Oppa, cumprimente a minha unnie! Ela se chama SoYoung e vai me dar aulas de inglês! Isso não é legal?

Fiquei de pé antes de ela parar de falar enquanto ele me olhava aturdido, senti algo estranho no seu olhar. Yoora puxava a barra de sua camiseta para que ele me cumprimentasse. Ele era mais alto do que eu, devia ter quase 1,80 de altura, era muito bonito, cabelo preto, com a franja caída sobre um dos olhos que ele insistia em tentar afastar com as mãos, vestia uma calça preta, camiseta branca e meias. Ele parecia muito com Yoora. Ahjumma também levantou-se e ficou de pé atrás do garoto, empurrando seus ombros para perto de mim, para que ele me cumprimentasse.

— Uhm... Muito prazer, meu nome é SoYoung. – estendi a mão e me apresentei, vendo que nada sairia espontâneo daquela criatura estranha. Esperei uns 5 segundos até que ele segurasse a minha mão, me cumprimentando.

— M-muito prazer. – ele disse com os olhos baixos, parecendo não gostar do que estava fazendo.

Olhei nos olhos dele, forçando um sorriso simpático. Vi nos olhos da mãe e da irmã uma pequena esperança que só fui entender depois. Ele soltou minha mão e me encarou, falando com a mãe: “já posso voltar?”, e saiu da sala, ainda me encarando.

Sentamos novamente e elas me explicaram a situação do garoto. Ele não tinha muitos amigos nessa escola, tinham se mudado para cá quando o pai morreu e ele não aceitou a mudança. Ele tinha uma namorada e muitos amigos lá. Ele não aceitava que ninguém mais se aproximasse dele, não queria amigos, não queria ninguém. E sempre que alguém tentava se aproximar, ele agredia verbalmente ou lançando olhares matadores.

Era uma pena alguém tão novo ser tão amargurado. Não acreditei muito que esse fosse o real motivo, ele era realmente agressivo, mesmo dentro de casa. Tinha algo estranho. Não me ative muito aos pensamentos, já eram 16:30h, ainda tinha meia hora para estudar.

— Ah, unnie... – disse Yoora, fazendo bico. – Vamos usar essa meia hora para fazer algo mais divertido! Por favor!

— Ok, Yoora. Que tal eu ler um livro para você?

— Não gosto muito de livros, unnie...

— Então vamos aprender a gostar! – tirei da mochila um exemplar do “Pequeno Príncipe”.

Li para ela, que pareceu se encantar. Ficou chateada que não pudemos terminar de ler o livro, mas lembrei-a de que na quarta-feira eu estaria de volta. Voltei para casa com aquele garoto na cabeça. O maldito não saía dos meus pensamentos... Eu matutava algo que explicasse aquele comportamento. Minha chata mania de “ler” as pessoas me prendia agora, e talvez eu nem conseguisse dormir por isso.

 


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Notas finais do capítulo



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