Leo se olhou no espelho pela milionésima vez naquela manhã. Roupa do Acampamento? Ok. Cabelo bagunçado? Ok. Dentes limpos? Ok. Ele até havia passado 20 minutos para escolher um perfume. Mas o que estava acontecendo com ele? Por que do nada estava se importava tanto com sua aparência? Valdez não faria nada demais hoje. Apenas um dia comum, como qualquer outro. Ele só ia pintar canoas com Piper. Pipes...

Ele olhou para o relógio e viu que já ia se atrasar se não corresse. Abriu a porta do chalé e seguiu a passos rápidos para o chalé cor de rosa. Tirou um espelho do bolso e se olhou mais uma vez. Será que estava bom? Espera...porque ele estava com um espelho no bolso?! Leo se tocou que aquilo parecia ridículo e jogou o objeto no arbusto mais próximo, pois ouviu alguém se aproximando da porta do chalé.

- Oi, Garoto de Reparos! – Piper disse, o envolvendo com um abraço.

- Oi. – ele retribuiu o gesto.

Ela estava linda com sempre. Camiseta do Acampamento, short jeans escuro, sandália rasteira. Seus cabelos estavam presos em uma trança única de lado, presos com uma liga roxa. Seu perfume era doce, mas suave. Aquilo era jasmim?

- Animado para o nosso trabalho?

- Ser pintor de canoa não está na lista das coisas que eu mais quero fazer na minha vida.

- Nem eu, mas podemos adicionar isso no nosso currículo de emprego.

- Honestamente, acho que “pintar canoas” – ele fez aspas no ar – não é exatamente uma das habilidades que um chefe procura em um funcionário.

- Cala a boca. – Piper riu. – Vamos? Ainda temos que passar na Casa Grande.

Leo passou o braço pelo braço de Piper e eles começaram a caminhar em direção à grande casa azul ao lado dos campos de morangos. Era uma manhã linda, mas ninguém ainda havia levantado. Era bem cedo. Quíron estava em sua cadeira de rodas, anotando coisas em um caderno. Estranho não estar jogando pinochle com Sr.D. Talvez ele estivesse dormindo, já que era bastante preguiçoso. O centauro os notou quando estavam subindo as escadas da Casa Grande.

- Ah, vocês estão ai.

- É, não podemos fugir desse castigo. Fazer o que?

- Não sou de dizer essas coisas, mas vocês merecem. Pegaram um de nossos Pégasus e fugiram para fazer sei lá o que.

- Nós só... – Piper ia falar, mas Quíron levantou o dedo.

- Não quero saber. – ele apontou para uma caixa aos seus pés. – Aqui tem os pincéis. As tintas já foram deixadas perto das canoas. Vocês vão começar agora. Terão uma parada para o almoço e às 17 horas terminam por hoje. Não pintem rápido para terminarem logo, quero um serviço bem feito. Se não ficar legal, vou fazer vocês pintarem tudo de novo, ouviram?

O filho de Hefesto e a filha de Afrodite assentiram com a cabeça.

- Podem ir. – ele disse, depois voltou sua atenção para o caderno.

Leo pegou os pincéis e eles foram. À beira do lago estavam trinta e quatro canoas e várias latas de tinta azul e branca.

- Como a gente vai fazer isso? – Piper perguntou colocando as mãos na cintura.

- A parte de dentro das canoas é branca e a parte de fora é azul.

- Tá. Cada um pinta uma canoa?

- Acho que assim vai demorar mais, e não é divertido. Pintamos juntos?

- Por mim tudo bem. – ela se sentou e começou a abrir uma lata de tinta branca.

Ele pegou o pincel e mergulhou no líquido branco. Começou a passar na parte de dentro da canoa. Piper fez o mesmo. Até que era legal. O ar da manhã era bem fresco. Leo olhou para Pipes. Ela passava pintava cuidadosamente, tomando cuidado com os detalhes. Como ela podia ser tão linda? Cada traço, cada pequena parte dela era simplesmente perfeita. Leo nunca havia se sentido daquela maneira antes. Talvez Nyssa estivesse certa, ele estava mesmo apaixonado.

Ela levantou a cabeça e o pegou fitando-a.

- O que foi?

- O que foi o que? – nossa, ele podia ter dito coisa mais idiota que aquela?!

- Você tava me olhando aí.

- Só estava pensando.

- Sobre o que? – a filha de Afrodite perguntou, limpando um pouco de tinta que caiu em sua mão.

Será que ele deveria contá-la o que sentia? Será que ele tinha certeza do que sentia? Digo, eles haviam quase se beijado. Leo tinha sentimentos diferentes por Piper desde aquele acidente da perda de memória. Ele havia ficado desesperado, construído uma luneta, fugido dos outros e até roubado um Pégasus para achá-la. Aquilo significava que estava apaixonado?

- Sobre...sua perda de memória. – não era mentira, mas também não era exatamente verdade.

- Ah. – ela baixou a cabeça.

- Melhorou alguma coisa? Você se lembra de algo?

- À noite vem uns flashes, sabe? Como se fossem sonhos, mas eu sei que são coisas que já aconteceram. É complicado.

- Do que você se lembra?

- Eu...lembro de como eu conheci o Frank. Ele já havia me contado, mas algumas noites atrás eu sonhei com aquilo. Ele me encontrando chorando, a nossa amizade se desenvolvendo. Era como se eu estivesse vendo um filme.

- Só isso? – ele ansiava que ela se lembrasse de alguma coisa sobre ele.

- Eu me lembro de você me chamando de Rainha da Beleza. Também lembro de uma conversa que tivemos em um helicóptero...

- Logo depois da nossa missão. – ele completou a frase.

- É. E...lembro também de outra coisa. Nós dois...em uma escola. Estávamos em um telhado. Havia estrelas cadentes.

- Tem certeza que não é com o Jason que você tem essa lembrança? Hera mudou nossas memórias, essa coisa do telhado e da estrela cadente foi com ele. Quero dizer, você pensava que havia sido com ele, mas nós nem o conhecíamos...AH! VOCÊ ME ENTENDEU!

Ela riu.

- Sim, eu entendi. Mas não, não foi com o Jason essa memória. Tenho certeza de que era você. Mas estava tudo embaçado, e foi tão rápido...mas sei que era você! Não poderia confundir esses cabelos cacheados e essa suas orelhas pontudas em lugar nenhum! – Piper disse, assanhando os cachos de Leo.

- Eu sei, sou inconfundível mesmo!

- Olha, isso não quer dizer que foi um elogio...

- E não foi?! – ele fingiu estar zangado.

- Talvez sim, talvez não. Concentre-se no seu trabalho, Valdez! – ela disse rindo, depois baixou a cabeça e continuou a pintar.

Eles passaram a manhã inteira assim. Faziam muitas brincadeiras, conversavam e acabou sendo muito legal. Quando deu meio dia e meia, pararam para almoçar. Foram para o pavilhão do refeitório. Não havia mais ninguém lá. Desde quando os campistas eram tão sincronizados e comiam tão rápido? Se serviram e sentaram juntos, na mesa do chalé de Leo.

- Ai, meu braço ta doendo.

- O meu também, Pipes. Não fazia ideia de que pintar é tão cansativo!

- Nem eu. To morrendo de fome. – ela disse, enfiando um garfo cheio de salada na boca.

- Percebi. Sério, você come tanta folha que algum dia vai fazer fotossíntese.

- E você come tanta porcaria que as suas artérias tão pedindo socorro!

- Isso é mentira! Eu tenho uma alimentação muito saudável.

- Sério? – ela disse, pegando uma das coisas que estava no prato dele – Pra que DOIS hambúrgueres?

- Pra passar a minha fome, ué!

- Você não tem jeito. – Piper balançou a cabeça e comeu uma batata frita que ela roubou dele.

O almoço foi rápido. Logo eles voltaram ao trabalho. Haviam pintado cinco canoas apenas. Ainda faltavam vinte e nove, que é um número bem grande. Teriam bastante trabalho pelos próximos dias.

~Três horas depois~

- To cansado.

- TÁ, LEO! EU JÁ ENTENDI! É A MILIONÉSIMA VEZ QUE VOCÊ FALA ISSO!

- Mas é que eu to cansado mesmo!

- E eu to cansada de você ficar reclamando! Vamos parar um pouco, pra ver se você cala a boca. – ela deixou o pincel de lado, ele fez o mesmo.

Ficaram calados. Leo estava ficando incomodado. O assunto nunca acabava entre eles. Ela fitava o lago. O que ele ia fazer? Um pânico começou a tomar conta dele. Precisava falar alguma coisa, mas o que? Ele olhou para os pincéis. O dele estava sujo de tinta até o cabo, do jeito que ele é desastrado, sujou tudo. O dela...espera, só tinha um pincel lá! Quando ele se tocou, havia uma mancha de tinta bem no nariz dele. Piper ria sem parar.

- Ah, então é guerra! – Leo pegou seu pincel e o mergulhou na tinta azul.

Piper se levantou e saiu correndo, rindo feito uma louca.

Ele a seguiu. Pegou-a pela cintura e pintou seu rosto. Ela pintou sua camiseta toda, nem pensando no fato que iria ser Valdez a lavá-la depois. Piper e Leo riam feito dois malucos à beira do lago. Alguns campistas os olharam de um jeito estranho, mas seguiram para suas atividades normais. Sem perceber, Leo tropeçou. Como estava segurando Piper pela cintura, ela caiu encima dele.

- Você. Vai. Lavar. Minha. Camisa. Depois. – o filho de Hefesto não conseguia parar de rir.

- Não. Vou. Não! – ela também não conseguia segurar a risada.

Aos poucos, eles foram se acalmando. O certo teria sido Piper sair de cima dele e o ajudar a se levantar. Mas ela não fez isso. Ficou encarando-o. Novamente, Leo observava cada detalhe de seu rosto perfeitamente desenhado. Não pode se segurar. Ele começou a se aproximar, mas dessa vez ela não se afastou. Ele tirou a franja dos olhos dela. Então, selou seus lábios com um beijo.