Leo tocou o rosto de Piper. Enquanto se aproximava, ele observava cada detalhe. Seus olhos multicoloridos, seu nariz que parecia ter sido esculpido, sua boca perfeitamente desenhada. Aqueles lábios vermelhos, que estavam tão perto que ele poderia tocá-los e...

Piper se afastou abruptamente e estendeu a espada.

– Precisa treinar mais. Maneje melhor a sua arma, não a deixe pendurada de qualquer jeito.

– Vou lembrar. Quero uma revanche. E da próxima vez eu vou ganhar.

– Estarei esperando. – ela virou de costas e foi embora.

Leo poderia impedi-la de ir. Ele queria. Pegaria na mão dela e retomaria aquele momento que eles estavam, talvez pudesse terminar o que estavam prestes a fazer...

Espera, o que?! Como assim “terminar o que estavam prestes a fazer”? Ele ia beijá-la! O que estava acontecendo? Claro, Piper sempre fora linda, mas ele nunca havia se sentido atraído daquela maneira por ela. Mas naquele momento eles atavam tão próximos que quase havia rolado.

– Que idiota, Valdez! – ele murmurou para si mesmo.

Precisava falar com alguém. Na mesma hora foi para a floresta. Com o campeonato de canoagem ocorrendo, quase ninguém estava em outros lugares que não fossem o lago. Mas com certeza ela estaria lá. Leo chegou a grande porta do Bunker 9, seu refúgio. Mal o filho de Hefesto entrou e já foi atropelado por alguém.

– Deuses, Leo! Mil desculpas! – Nyssa disse, ajudando-o a se levantar.

– Tudo bem. Não me machuquei.

– O que aconteceu com o seu rosto? ela perguntou tocando no corte recente.

– Era exatamente sobre isso que eu vim falar com você. Mas me diz, por que estava andando pelo Bunker desse jeito?

– Ah, Leo! – a garota começou a andar de um lado para o outro novamente – O meu autômato sumiu! Sabe, aquele que a gente ia usar no Caça a Bandeira. Alguns dias atrás eu estava ajustando a placa que daria todos os comandos. Coloquei nele, mas ainda não estava terminada, teria que testar. Só que eu tive que abandonar o trabalho pela metade. E agora ele sumiu!

– Nyssa...

– O que eu faço? Todos estão contando comigo! Era a nossa arma secreta!

– Nyssa... – ele estava louco para falar sobre o que havia quase acontecido na arena de esgrima.

– Eu sou uma estúpida! – ela bateu o punho fechado com força na mesa – A pior filha de Hefesto que existe! O papai vai ficar tão decepci...

– EU QUASE BEIJEI A PIPER!

Ela parou e virou-se para o garoto abruptamente, os olhos arregalados.

– VOCÊ O QUE? - ela estava praticamente gritando.

– Isso mesmo que você ouviu. – ele suspirou.

A filha de Hefesto se sentou e começou a dar tapas em uma cadeira próxima.

– Leo, senta aqui. Me conta tudo, detalhe por detalhe.

Ele se sentou e começou a falar. Contou tudo, revivendo cada batimento cardíaco, cada respiração, cada golpe e sentimento. Nyssa apenas assentia com a cabeça e o dizia para prosseguir. Ele se lembrou de quando ficou observando o rosto de Piper quando ela estava com duas lâminas apontadas para ele. Um sorriso bobo se abriu em seu rosto.

– Você está com daquele jeito.

– Que jeito?

– Sabe, aquele jeito distraído e que sorri do nada. O jeito de quando se está apaixonado.

Leo arregalou os olhos.

– A - apaixonado? Eu não estou apaixonado pela Piper.

A irmã do garoto levantou uma sobrancelha.

– Você acha que posso estar? - ele perguntou baixinho.

– Olha, vou te dizer uma coisa muito importante: eu não podia estar mais feliz! – ela falou abrindo um largo e satisfeito sorriso.

– É o que, Nyssa? Acho que perdi alguma coisa nesse meio tempo. Você está feliz?

– Claro! Você e a Piper tem uma amizade linda, são unha e carne. Ela está sem memória, precisa de alguém que fique com ela, que a mostre como era sua vida antes. Some dois mais dois!

– Maninha, acho que você bateu a cabeça e está achando que é uma filha de Afrodite, tentando juntar casais dessa maneira!

– E você acabou de agir como Apolo, me chamando de maninha. Mas voltando ao assunto, vou contar uma coisa: sempre quis vocês dois juntos. Quer dizer, olhe para os deuses: nosso pai, Hefesto, é marido da mãe dela! Vocês dois dariam super certo!

– Wow, quem aqui falou em casar? E tenho que te lembrar de que Afrodite trai Hefesto constantemente? O casamento deles não é exatamente “sólido”. – ele fez aspas no ar.

– Ah, a Piper não faria isso com você. Ela é muito leal. Esse é um dos motivos de eu gostar dela. Ah, e ela também te faz feliz!

– E se ela achar que... sei lá, estou tentando me aproveitar dela porque ela perdeu a memória? Não quero perder a amizade dela, Nyssa!

– Bom, isso você só vai saber tentando. Mas não acho que isso vá acontecer. Agora – a garota disse se levantando – vou continuar procurando meu autômato. Preciso achá-lo antes da sexta feira!

– Ok. Te vejo por ai. – Leo disse isso antes de sair do Bunker.

Será que era isso? Ele estava apaixonado por Piper? Era bem difícil de acreditar. Não queria tomar decisões precipitadas, por isso deixou quieto. Quem sabe aquela perda de memória pudesse despertar alguma coisa nova?

Durante o restante do dia ele não a viu mais. Por mais que não quisesse admitir, estava inquieto. Ele queria vê-la, mas sabia que se ela aparecesse ele provavelmente sairia correndo como um garotinho assustado. Leo temia esse sentimento que talvez estivesse sentindo. Apaixonado por sua melhor amiga. Isso soava clichê, mas é que ela era tão...urgh! Já estava agindo como um daqueles caras bobos de filmes. Ele não temia o amor, muito pelo contrário. Já havia cantado milhares de garotas, não que alguma delas tivesse reconhecido que ele era o cara. Mas é que agora era diferente. Ela era diferente.

Querendo afastar esses pensamentos de sua mente, Leo foi jantar. Sim, comida era um ótimo consolo. Ele entrou na fila de seu chalé e se serviu, como de costume, do máximo que pode. Dois cachorros quentes, uma fatia de pizza e um pedaço de bolo de chocolate.

Após se sentar, ele não pode se conter mais e olhou para a mesa do chalé 10. Lá estava ela. Vestia uma camiseta preta folgada, um short jeans claro e uma sandália rasteirinha. Seus cabelos estavam soltos e meio ondulados, como se ela tivesse acabado de desfazer as tranças que normalmente usa. Piper o pegou observando e acenou dando um sorriso. Primeiro, Leo corou, mas logo se lembrou de que tinha de fingir que estava tudo bem, então também acenou. Rapidamente, voltou sua atenção para a comida. Durante o restante do jantar, Valdez de vez em quando olhava para ela. Só que nessas vezes, ele fez questão de ser mais discreto.

Após a refeição, todos foram para a fogueira. Leo se sentou com seus irmãos, mas um pouco mais afastado. Procurou-a entre suas irmãs, mas ela não estava lá. De repente, sentiu duas mãos em seus ombros o sacudirem.

– Buuuuu!

– Ai, deuses! Assim você me mata de susto!

– Que foi, Valdez? Virou franguinho agora, foi? - Piper disse se sentando ao lado dele.

– Não, Pipes. Você só me assustou.

– Ok, não faço mais isso, seu franguinho. – ela colocou o braço numa posição como se fossem asas e começou a rir da cara dele.

– Só porque eu sou muito bom, não vou te deixar fazer papel de idiota sozinha. – ele fez a mesma posição e os dois começaram a rir um do outro.

Alguns campistas olharam, mas eles não ligaram. Após algum tempo Quíron chegou e bateu a pata no chão para indicar que queria atenção. Leo e Piper pararam de imitar aves e voltaram sua atenção para o centauro, ainda rindo um pouco.

– Quero informar que por pedido de alguns campistas, nas fogueiras dos dias que quarta feira vocês poderão cantar as músicas que quiserem. Está liberado qualquer uma, desde que não tenha nenhuma obscenidade na letra. E são só nas quartas, todos os outros dias vocês cantarão apenas músicas de acampamento, entendido?

Todos os campistas vibraram com aquilo. Apesar de gostarem das músicas que sempre cantavam, era bom variar um pouco, não? Uma filha e um filho de Afrodite se ofereceram para começarem. Chamaram um filho de Apolo que os acompanhou no violão. A música era bem legal, animada e tudo mais. Os semideuses começaram a bater palmas e acompanhar o ritmo, pena que a maioria deles não entendia. Era em francês.

– Queria entender alguma coisa. – Valdez murmurou para Piper.

Ela riu.

– Acredite em mim, a letra é bem legal.

A garota deitou a cabeça no peito de Leo. Por um momento, ele ficou sem saber o que fazer. Mas era tão bom. Ele sentia sua respiração regular. Ela ouvia o coração dele batendo. Valdez começou a fazer carinho em seus cabelos. O shampoo dela cheirava a melancia. Ele poderia ficar naquela posição para sempre.

– Gostei desse verso. – ela disse.

– Traduz pra mim?

– “E baixo você me sussurra, você me promete tudo o que eu amo. E em suas derrotas você me promete, que um novo dia virá amanhã.”

– É lindo.

– Leo?

– Oi.

– Me promete? ela falou baixinho.

– Prometer o que?

– Que um dia novo vem amanhã.

Ele suspirou. Sabia que a perda de memória a devia estar deixando um pouco chateada.

– Eu prometo, Pipes. Farei de tudo para que o dia de amanhã valha a pena.