No fim das contas, Piper acabou tendo uma noite ótima. Viu a apresentação de fogos de artifício mais linda da sua vida e ainda deu um passeio com Leo. Ele era tão bom pra ela. Dizia coisas que ninguém tinha coragem de falar, coisas que eram a mais pura verdade. Ela tirou três conclusões:

1° – Os filhos de Hefesto eram verdadeiros artistas.

2 °– Nem todos a achavam bonita apenas quando ela estava cheia de maquiagem e joias.

3° – Ela era linda de qualquer jeito e não devia ter vergonha daquilo.

Era uma coisa a qual ela tinha que trabalhar, mas com o tempo provavelmente aquilo ia mudar. A filha de Afrodite estava decidida a fazer todo o possível para mudar algumas de suas atitudes. Aquela perda de memória talvez fosse um recomeço para ela.

Ainda não havia ninguém no chalé, mas Piper resolveu tomar banho assim mesmo. Tirou sua roupa e se jogou embaixo do chuveiro até todo o cansaço passar. Depois vestiu um pijama de bolinhas amarelas e foi para a cama. Estava subindo a escada do beliche, mas algo a fez voltar. Uma névoa concentrada estava bem no meio do quarto. Ela se aproximou hesitante. Ia tocar naquilo para ver o que era quando uma voz gravada a vez pular e cair para trás.

“Essa é uma Mensagem de Íris diretamente do Olimpo com assunto confidencial e de máxima urgência. Por favor, diga ‘sim’ para aceitar a mensagem e ‘não’ para descartá-la.”

Uma mensagem do Olimpo? O que ela havia feito de errado?

– S-sim.

A névoa se tornou mais clara e começou a formar uma imagem. Um jardim lindo apareceu. Pense no lugar mais lindo que você já viu. Agora multiplique isso por cinco e terá alguma ideia. Parecia infinito, diversas árvores, flores e animais passavam por ali. Ninfas e sátiros corriam um atrás do outro, num jogo de pega-pega sem fim.

Havia um balanço bem perto de onde Piper estava. Nele estava a mulher mais bonita do mundo. Ela era mais linda que todas as modelos que você imaginar. Seus cabelos caiam em camadas até sua cintura. Era magra e alta, pele clara. Seus olhos tinham todas as cores do arco íris. A mulher tomava algum líquido em um cálice incrustado de pedras preciosas. Ela ainda não havia notado a presença da garota que a olhava.

– Olá? - Piper arriscou

– Oi! – a mulher se virou animadíssima por vê-la – Ainda bem que Íris mandou minha mensagem. Pensei que ela estava com raiva de mim.

– Eu sei que é grosseria, mas... quem é você?

– Ah, esqueci. Você está sem memória. Deixe-me apresentar formalmente. Sou Afrodite. Mas pode me chamar de mãe se quiser.

Piper, que até agora estava em pé, caiu e bateu o joelho no chão. A dor atravessou seu corpo, mas ela tentou ignorar para continuar conversando com a mulher.

– Mãe?

– Sim, bobinha. Não precisava ficar tão surpresa assim. Nós temos os mesmo olhos sabia? Espero que esse machucado não fique roxo. – ela olhou com preocupação para o joelho por um segundo e depois olhou para o rosto da filha novamente – Qualquer coisa é só passar um pó ou uma base. Não queremos que todos olhem, não é mesmo? Vão pensar que você brigou com algum monstro enquanto voltava para o chalé.

– Pois é. – Piper riu sem jeito – Então... por que me mandou essa mensagem? A gravação dizia que era urgente e confidencial.

– Ah, não é tãããão urgente assim, só queria que não tivesse o perigo de você descartar a mensagem e eu ficar com cara de idiota aqui.

– Ah. Enfim, sobre o que era mesmo?

– Queria saber se você gostou da surpresinha de hoje.

– Está falando daquela benção lá na praia?

– Isso também. Eu passei algum tempo pensando sobre esse assunto, achei que ia ser o máximo!

– O máximo? - PIper se esqueceu que estava falando com uma deusa – Eu quase morri de vergonha lá e você achou que ia ser o máximo?! Eu só queria ter desaparecido ou enfiado minha cabeça na terra como um avestruz e nunca mais sair dali! Eu ainda estou com a maldita maquiagem que eu não consegui tirar!

– Filha, você estava linda! Não devia ter vergonha. Eu caprichei na benção, viu? Nunca coloquei tanto poder! E além do mais, tenho certeza que gostou da outra parte da surpresa.

– Que outra parte? - ela ainda não acreditava que teria mais!

– Você e o Valdez! Vai me dizer que não gostou de conversar com ele na floresta? Eu te conheço, sou sua mãe! Ai, aquele garoto é uma gracinha. – Afrodite disse com um ar sonhador – Um dos filhos de Hefesto mais fofos que eu já vi!

– A gente caminhou. E daí?

– Piper, Piper. – a deusa riu – Tão inocente... Ainda tenho muitos planos preparados para você.

– Mas o que...

– Ops, tenho que ir! – ela disse depois de olhar para seu pulso – Tenho um encontro com Ares. Ainda vamos nos ver em breve. Tchau!

A névoa desapareceu deixando a garota olhando para o nada.

– VOCÊ NEM MESMO ESTÁ USANDO RELÓGIO! – ela gritou mesmo depois de estar sozinha.

Confusa e desamparada, Piper foi para a cama. Apenas após algumas horas ela conseguiu adormecer. Não conseguia parar de pensar na frase de sua mãe.

“Ainda tenho muitos planos preparados para você.”

– O que você quis dizer com isso, mãe? - ela murmurou pouco antes de fechar os olhos.

Os raios de sol bateram no rosto de Piper. Se levantou o mais rápido possível para tirar a luz dos olhos. Suas irmãs e irmãos ainda estavam no “sono de beleza”. Apenas algumas das mais novas que não haviam sido corrompidas já estavam acordadas. Olhou para o relógio em forma de uma nuvem cor de rosa na parede. 8:00. O café já estava servido.

Foi para o banheiro, tomou banho e vestiu sua roupa de sempre: tênis preto, camiseta do Acampamento Meio Sangue e um short jeans escuro. Fez algumas trancinhas em seu cabelo. Lavou seu rosto cinco vezes na tentativa inútil de tirar a maquiagem que ainda estava em seu rosto.

– Ugh, dane-se.

Piper saiu do chalé e foi para o pavilhão do refeitório. Serviu-se de pão e fatias de queijo. Fez sua oferenda e depois se sentou na mesa do chalé 10. Por mais incrível que parecesse, não havia ninguém lá. Todos já estavam em praticando suas atividades. Quando ela ia dar a primeira mordida em seu sanduíche, alguém o roubou de suas mãos.

– Ei! Me devolve isso. Eu to com fome.

– Eu também. – disse Leo dando uma mordida no pão recheado.

– Fala sério, Valez! Eu adoro dar a primeira mordida!

– Foi mal – ele disse de boa cheia e entregando novamente o alimento para ela – Da próxima eu me lembro.

– De qualquer maneira, o que você está fazendo aqui? Sua mesa é aquela. – Piper disse apontando para a mesa ao lado.

– Não tem ninguém aqui. Não queria te deixar sozinha.

– Você é tão caridoso!

– Sou um doce! – ele disse, fazendo uma pose de superioridade.

– Dá cárie! – a filha de Afrodite disse e começou a rir.

Ele abocanhou o sanduíche dela.

– Ei! Assim eu vou ficar sem café da manhã!

– Foi a minha vingança!

– Tá bom, eu paro. Agora eu só quero comer.

– Muito esfomeada você! Só sabe comer! – Leo disse rindo bastante alto.

Ela deu um soco em seu braço.

– Você é um cara de pau, isso sim.

– Talvez.

Ficaram conversando enquanto Piper comia o que havia restado do seu café da manhã. Ela pensou em contar o que havia acontecido na noite passada, a conversa com sua mãe. Ia abrir a boca para falar, mas desistiu. E se aqueles planos fossem sobre ele? Não se sentia confortável falando sobre aquele assunto.

Quando terminou, limpou sua boca com um guardanapo e virou-se para Leo.

– E ai? O que fazemos agora?

–Vai ter um campeonato de canoagem lá no lago.

– Você quer participar? Não acho que dê muito certo você dentro de uma canoa. Seria mais fácil você ficar preso no meio do lago.

– Ha ha. O que eu ia perguntar era se você queria praticar esgrima. Não deve ter ninguém lá.

Ela deu de ombros.

– Pode ser.

Eles caminharam até a arena. De fato, não havia ninguém. Piper tirou Katoptris do cinto. Leo pegou uma espada qualquer que ele devia ter arranjado de algum de seus irmãos.

– Tem certeza que quer lutar com a adaga, Pipes? Eu estou com uma espada, posso acabar te machucando.

– Não confia em minhas habilidades? - ela falou com sarcasmo.

– Não, é só que...

– Vamos logo com isso!

Ele respirou fundo.

– Tudo bem. Você que pediu.

Ele avançou. Piper desviou do primeiro golpe facilmente. Leo nunca fora bom com espadas. Ele segurava a arma meio sem jeito, como se fosse mais pesada que ele. O filho de Hefesto atacou novamente, mas dessa vez ela resolveu ir além de apenas se defender. Ela desviou o golpe e atacou o garoto. Como ele não era experiente, a lâmina passou em seu rosto causando um corte na bochecha.

– Ai!

– Tá doendo? - ela disse se aproximando e tocando na bochecha cortada.

– Não. Mas isso aqui vai doer. – deu uma rasteira em Piper.

– Eu avisei que ia doer!

A filha de Afrodite não iria ficar para trás. Enquanto ele se vangloriava, ela se levantou e começou a atacá-lo. Ele desviava por pouco dos golpes. Leo andava para trás enquanto a garota tentava machucá-lo. Ficaram algum tempo apenas nessa coisa, ataca e desvia. Ficariam assim a tarde inteira se Valdez não tivesse batido as costas em uma árvore. Ela aproveitou a deixa. Roubou a espada de suas mãos e colocou-a em sua garganta, a adaga apontada para a barriga dele.

– Ainda duvida de minhas habilidades?

– Não mesmo. Você venceu. Eu me rendo.

Piper olhou dentro dos olhos dele. Eles estavam tão perto. Ela podia sentir o coração do garoto acelerado, seus narizes quase se tocando. Leo tirou um cabelo de seus olhos e tocou em seu rosto. Sua mão permaneceu lá enquanto ele se aproximava.