Thor abriu a porta e adentrou na cela, seus passos firmes e decididos, talvez até inexoráveis, o levaram diretamente para Loki, agarrando-o pelo colarinho das roupas que usava e puxando-o com si para fora da cela, enquanto Rose saia correndo atrás deles, apenas para ser barrada pela porta que Thor fechou assim que ele passou com o irmão, impedindo-a de sair.

- Não! – Ela gritou, mas eles já estavam longe.

- Solte-me, Thor! – exigiu Loki, tentando furiosamente fazer com que Thor soltasse-lhe o braço. O modo como o louro o segurava o estava machucando, de forma que em sua luta para escapar do não-irmão, mal lhe conseguisse acompanhar os passos. – Eu disse SOLTE-ME!

No final vazio do corredor ao qual o Deus do Trovão o levou, ele praticamente jogou o moreno contra a parede de ferro. A mão enfaixada de Loki latejou de forma infernal quando, por impulso, a usou para ajudar a evitar o impacto do seu corpo atingindo a parede.

- Seu idiota – gritou. – O que você quer?!

A mão de Thor estava em seu pescoço. Os rostos dos dois quase se tocando. Quando Thor falou, foi entredentes. A tempestade martelava com força lá fora.

- O quê, por Valhalla, você pensa que estava fazendo com a mortal, Trapaceiro? Terei que lembrá-lo do motivo pelo qual eu o fiz recobrar a memória? Esqueceu-se?!

Claro que Loki lembrava. Os momentos dos dois juntos. A junção de ambos em um só... Mas isso não vinha ao caso agora. Ele odiava Thor! O louro o havia deixado para estar com aquela midgardiana cientista! Agora Loki estava em seu direito de estar com Rose – pagar na mesma moeda.

- Você está me machucando, Thor – disse ele, quase sufocado, sob o aperto constante do outro deus. – Deixe-me, seu grande idiota! Deixe-me!

Isso apenas serviu para que Thor aplicasse mais força na mão que fechava no pescoço do menor, fazendo-o calar-se para procurar obter mais ar, já que estava sendo sufocado.

- E vou machucá-lo ainda mais, seu... seu Jötun repugnante! – Thor cuspiu as palavras.

Imediatamente, Loki ficou sem qualquer reação. Sentiu as lágrimas querendo trair-lhe o choque que as palavras do asgardiniano lhe haviam proporcionado, mas a parte racional e calculista de seu cérebro lutou contra isso, fazendo com que ele retornasse à tentativa de escapar das garras do grandalhão.

Será que Thor tinha se esquecido que agora ele não era forte como um deus, e que realmente ele poderia sufocar e morrer? Era possível, terrivelmente possível.

Mas quando sua visão começou a escurecer, o aperto se foi, e enquanto Loki escorregava para o chão, tossindo o terrível gosto metálico do sangue em sua boca, ele viu Thor se afastar para observá-lo de uma distância mais segura.

O moreno viu o sangue que espirrou de sua tosse com um verdadeiro horror. Detestava a fragilidade mortal à qual estava condenado... Recusou-se a encontrar o olhar do seu agressor – não lhe daria esse gosto, já era o suficiente ser visto como um animal ferido e acuado.

Contudo, Thor se aproximou, e sem qualquer aviso, abraçou o mais novo, balbuciando pedidos de desculpa. No começo, Loki tentou fugir dos braços fortes do irmão, mas acabou, muito a contragosto, se entregando à esse momento tão íntimo, tão reconfortante, que era estar nos braços de alguém que conhecia e de quem sabia que cuidaria dele até o final dos tempos, embora isso não fizesse qualquer sentido.

E mais uma vez, ele chorou. Andava fazendo muito isso nos últimos dias. Talvez fosse uma forma de compensar as lágrimas que passara uma vida toda reprimindo enquanto vivia nas sombras do primogênito de Asgard, mas não importava, não agora.

E quando finalmente os soluços pararam, eles permaneceram apenas abraçados. Os braços de Thor envolta de Loki, que por sua vez se recostava ao seu peito.

- Você a ama, Loki?

A pergunta veio tão de repente que não soube sobre o que Thor estava falando. Ele estreitou os olhos verdes agora avermelhados pelo choro recente.

- Rose – Thor explicou. – Você ama ela, não é?

- O que quer dizer com isso?

- Vocês estavam se beijando, irmãozinho. E também vi a forma como vocês dois se olham... Não tente me enganar com suas mentiras, Deus da Mentira. Também não minta para você mesmo, por favor.

Loki não sabia o que dizer. Ainda não tinha pensado nisso. Olhou para Thor.

- Você me arrastou até aqui... quase me matou sufocado... por ciúmes?

Ele se desvencilhou dos braços de Thor e ficou de pé, encarando o mais velho.

- Loki...

- Você é ridículo, Thor, eu já lhe disse isso, não disse?

Thor estava de pé agora também, a expressão dos dois irmãos séria.

- Qual o seu problema?

- Não! Qual o seu problema, Thor? Será que o Filho Dourado de Asgard não aguenta uma pequena competição? – Zombou Loki. – Rose esteve ao meu Aldo quando ninguém mais esteve, droga! Ninguém, nem mesmo você! Volte para sua cientista no Novo México!

Gritar não lhe fazia bem, depois de tanto tempo e tendo acabado de despertar do sedativo que lhe haviam aplicado. O gosto do sangue continuava em sua boca, e embora não fosse admitir, sua cabeça e ombro doíam fortemente do encontro com a parede que Thor lhe proporcionara.

- Eu sou um “Jötun repugnante”, lembre-se? – falou com mais calma. – Leve-me de volta para Rose agora, por favor.