Uma mão acariciava seu rosto, seus cabelos... Uma mão pequena e macia e quente...

Ele quase chorou com a ideia de ter que despertar mais uma vez para aquela realidade angustiante à qual fora submetido sem seu consentimento.

Lábios tocaram sua testa bem levemente, um instante muito breve.

- Loki?

Ele abriu os olhos. Sorriu, por mais difícil que fosse fazer isso agora. Contudo, não queria assustá-la ainda mais do que já fizera, embora não soubesse por que queria isso.

- Há quanto tempo estou apagado? – perguntou, ainda meio “grogue”.

- Eu não sei. Eles o trouxeram de volta faz uns dez minutos. O que fizeram com você?

- Não sei exatamente. Enfaixaram minha mão – a ergueu para mostrar à companheira – e depois me fizeram perder a consciência, dizendo que tirariam meu sangue... Porque estamos na mesma cela?

- Disseram que queriam ver o que acontece. Eu não sei o que isso significa. Vai me matar?

Loki sentou-se e a encarou, sério, quase não acreditando que ela havia lhe feito tal pergunta absurdamente extravagante. Rose baixou os olhos e corou com a intensidade do olhar que ele lhe dirigia.

- Acha que eu farei isso?

- Eu...

Ela hesitou.

- Rose, por favor. Olhe para mim. Acha que eu a poderia matar, depois de tudo o que fez por mim?

- Não sei o quê pensar, Loki – ela confessou. – Uma hora você é a pessoa mais adorável que eu jamais conheci, e então de repente você é o super vilão que ameaça a vida de todo mundo...

- Qual deles você quer que eu seja?

Ela não respondeu, mais uma vez baixando os olhos. Então ele segurou de forma delicada o seu queixo, fazendo-a erguer o olhar para ele.

- Qual deles? – insistiu.

- O Tom. – A voz de Rose saiu num sussurro abafado, tímido.

O moreno assentiu. Claro que ela queria seu lado “bom”, se é que este realmente existia. Ninguém nunca lhe gostara pelo que era de verdade, nem mesmo quando bebê, ao ponto de fazer Laufey abandoná-lo para morrer... Mas ele podia viver com isso – ou, pelo menos, podia sobreviver, o que era diferente.

Então ele fez uma coisa que surpreendeu aos dois.

Lentamente, muito letamente, para que ela pudesse se afastar caso não desejasse que aquilo acontecesse, ele se aproximou dela, de forma que seus rostos estavam cada vez mais próximos. Mas Rose não se afastou.

De forma muito gentil, seus lábios se tocaram por um instante muito, muito breve. Loki a observou fechar os olhos enquanto isso acontecia. Afastou-se e ela tornou a abri-los. Ninguém disse nada. Tudo o que havia era o ruído de suas respirações.

Mais uma vez aquela suave junção dos lábios de ambos unindo-se de leve.

Era uma sensação tão diferente das outras vezes que Loki experimentara o ato. Tão mais confortável... Talvez fosse pelo fato de ser com a mortal, ou talvez por ele próprio estar na condição humana. Não sabia e também, naquele momento, não importava. Quando mais uma vez eles se separaram, os dois sorriam.

- Desculpe por não pedir sua permissão – disse ele, baixinho, para não quebrar o encanto do momento.

- Está tudo bem...

E dessa vez foi diferente, um pouco mais furioso, com mais contato, algumas mãos envolvidas, e mesmo assim ainda suave, gentil, sem medo. Todo o resto esquecido – um mundo à parte.

- Loki?

O gelo desceu no ambiente que tinha esquentado quando eles se separaram e, pela parede de vidro, Thor os encarava. A expressão séria.

- Droga.

Lá fora, além das paredes do hellicarrier, um trovão soou alto. Uma chuva gélida e tempestuosa começava a cair.