POV Narradora

            Todos foram dormir. Mais um dia nascia. E outro e outro. Julie estava cada vez mais preocupada com várias coisas. Os amigos continuavam a brigar pelo mesmo motivo. E ele tinha nome: Julie. Daniel não aceitava ouvir os amigos falarem mal da garota que, agora, ele tinha certeza que estava apaixonado. Os dois amigos lhe diziam que ele estava iludido, que um dia ele iria acabar “quebrando a cara” com ela. Daniel dizia que eles estavam errados. Mas será que Martim e Félix não estavam certos? Talvez sim... Talvez não... Mas mesmo com uma pulginha atrás da orelha, os amigos não iriam deixar de apoiar as decisões do Daniel, sejam elas quais forem.

            A única coisa que sabiam e que já era um fato, era que Daniel está mesmo muito apaixonado. Meio precipitado talvez, mas para ele isso não importava agora. A única coisa que ele queria era conquistar o pobre coração gelado da garota. Gelado, sim, porém ele não sabia. Julie tinha medo de se apegar demais ao seu ídolo. Quer dizer... Corrigindo: Ela já estava apegada a ele, mesmo não querendo admitir para si mesma. Ela não sabia dizer se estava começando a se apaixonar por ele. Só sabia que isso não daria certo. Ela acha que não é uma “garota certa para ele”. Ela logo voltaria pra casa e nunca mais o veria outra vez. E ficaria ainda pior se ele soubesse de tudo.

            Daniel, Martim e Félix estavam dando outro passeio no iate fretado exclusivamente para eles. Julie estava na sacada do seu quarto, vendo de longe o iate em pleno mar. Dora observava a atenção fissurada que Julie tinha por algo que ela não sabia o que era. Não sabia, até caminhar até ela e seguir o caminho que os olhos de Julie seguiam. O iate. Julie sequer percebeu que Dora estava logo atrás dela por estar tão distraída. No fundo, Julie queria estar lá. Com ELE. Estava tão distraída que até se assustou quando sentiu a mão de Dora em seu ombro.

            - Você gosta dele, não gosta? – Dora disse sorrindo meigamente.

            - O quê? Não sei do que está falando. Sinceramente, não sei. – Julie disse, dando de ombros.

            - Sabe. Sabe sim. Confesse que gosta dele.

            Julie não respondeu. Isso arrancou um novo sorriso em Dora.

            - Sabe de uma coisa Julie? Eu já vivi muito nessa vida. Tenho muita experiência de vida. Sei de muita coisa. E eu sei reconhecer uma pessoa apaixonada quando vejo uma. E eu tenho certeza que você está amando aquele rapaz.

            - Apaixonada? Amando? – Julie pausou. – São sentimentos muito fortes para se sentir por uma pessoa que eu convivi em tão pouco tempo.

            - Eu não duvido de nada, Julie. Eu, particularmente, acredito em amor à primeira vista.

            - Você falando isso fica parecendo uma adolescente que acredita em contos de fadas e príncipes encantados. – Julie disse rindo um pouco.

            - E daí? Eu posso sonhar né? Você também. Você ainda é tão jovem. Tem tanto pra viver pela frente. Sonhar com isso de vez em quando não faz mal. – Dora disse acarinhando o rosto de Julie, que sorriu.

            Na praia, os rapazes saiam do iate. Daniel saia na frente, Félix logo atrás acompanhado da namorada Bia e Martim, por último, ao telefone, com certeza falando com uma garota. Daniel chegou ao seu andar e bateu na porta do quarto de Julie, que abriu segundos depois. Ela arregalou os olhos, visivelmente surpresa com inesperada visita.

            - Oi... Quer entrar?

            - Oi. Não. Só vim te ver mesmo. Ainda não tinha te visto hoje. – pausou. – Ta tudo bem contigo?

            - Aham. E com você?

            - Estou bem também. – ele levou a mão até o queixo de Julie e acarinhou com o polegar.

            Aproximou-se e eles se beijaram. Julie levou a mão até os cachos de Daniel. Ele abraçou a cintura dela e a trouxe para mais perto. Ouviram o som do elevador se abrir. Julie tentou se soltar de Daniel, mas ele a apertou mais. Numa segunda tentativa, conseguiu se desvencilhar dos braços de Daniel e mordeu o lábio inferior deste, encerrando o beijo.

            Daniel olhou para trás e se deparou com Félix e Martim. Julie olhou na mesma direção e os viu chegando também. Félix viu Daniel com Julie e revirou os olhos diante daquela cena. Martim não agiu muito diferente. Daniel, obviamente não gostou da atitude dos amigos. Julie se sentiu intimidada, mas não demonstrou. Daniel se despediu e Julie entrou no quarto.

            - Você continua falando com ela, cara. – Félix disse.

            - Me erra Félix. – Daniel disse grosso entrando em seu quarto.

            No quarto de Julie, o seu celular tocou.

            - (Julie, seu tempo está acabando e você ainda não fez nada que prestasse.) – Demétrius dizia alto ao telefone e ainda era possível ouvir a voz nada feliz de Leona ao fundo.

            - Como não. Eu fiz tudo o que me mandou. E até então, nada deu errado.

            - (Só aquela história da foto. Mas, tudo ainda não foi o suficiente para mim. Você só tem mais três dias. Se continuar assim, não vai dar tempo.) – pausou. – (Você ainda não fez o que eu te mandei. O plano desde o início era ganhar a confiança do rapaz, apagá-lo por algumas horas e depois trazer ele pra mim. Leona tirava algumas fotos e eu o manteria aqui por um tempo. O cara é muito famoso. Nós iríamos conseguir muito dinheiro com ele, mas você é muito burra, não consegue fazer nada direito. Você está amolecendo. Acho que você está gostando dele... Se você tiver...).

            - Não diz besteira. Não estou gostando de ninguém. Só que está sendo bem difícil. Eles são mais espertos do que eu pensei. – Julie disse bem nervosa, respirando fundo por fim, se acalmando.

            - (É bom mesmo. É melhor correr. Ligo depois.) – e desligou.

            - Ah, Julie. Isso está ficando pior a cada dia. Nem sei o que pode acontecer se... – Dora parou e balançou a cabeça, como se negando algo.

            - Eu estou com medo, como eu nunca senti antes. – Julie bufou, se jogando pra trás na cama.

            O resto do dia passou bem tenso para Julie e Dora. À noite, dormiram.