Overpass escrita por itsmeclarag


Capítulo 3
Life Sucks




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POV Justin


Estava vestindo a farda em frente ao espelho. Eu não queria fazer aquilo, estava fazendo apenas por pura obrigação e tinha certeza que já havia passado da minha hora. Estar dentro daquele uniforme ia contra a tudo que um dia eu preguei como filosofia de vida.


– Justin! O café está na mesa. - ouvi a voz de minha mãe um pouco abafada porque a posta do meu quarto estava fechada e não respondi, continuei me arrumando calmamente como se eu não tivesse hora marcada pra chegar ao meu batalhão.


Terminei de vestir a calça, pus o cinto e me encarava com a testa franzida no espelho. Que merda de vida. Eu sempre fui um causador de problemas e agora aqui estava eu, Justin, vestido de policial, pois foi o único emprego que me restou, precisava de grana. Sempre detestei os tiras e mal sabia onde isso ia dar, mas tudo bem pelo menos eu poderia segurar uma arma e isso me animava.

Terminei de me arrumar a passei a mão nos fios do cabelo para poder dar um jeito. Chequei mais uma vez o visual e dei de ombros. Eu não precisava estar cem por cento perfeito pra ir fazer uma coisa que eu não estava nem um pouco afim de fazer.

Desci as escadas correndo e minha mãe abriu um largo sorriso assim que surgi na cozinha.


– Olha você nessa farda, quem diria! - disse orgulhosa e eu revirei os olhos.

– Quem diria mesmo! - reclamei.

– Pelo menos você não vai mais aprontar e me dar mais fios brancos. - disse começando a me servir um pedaço de bolo.


Sentei na cadeira e apoiei meus braços no balcão da cozinha.


– Tem certeza? - sorri malicioso e ela me fitou séria.

– Nem ouse, Justin! Você já tem 21 anos, já é um homem e digamos que pichação é coisa de adolescente rebelde. - reclamou colocando o prato com o pedaço de bolo na minha frente.

– Grafite! - rolei os olhos.

– Tanto faz, se quisessem que você pintasse as ruas iriam te pagar por isso. - disse séria e eu me calei não querendo prolongar aquilo.


Não era inteligente ter esse tipo de discussão com a minha mãe, ela nunca entendia minha filosofia de vida e aquilo apenas nos levaria aos berros. Enfiei o bolo na minha boca para não falar mais nada.

– Olhe esse braço, olha esse corpo. - disse começando a me tocar. - Tudo pintado, você parece um índio, um selvagem, um sei lá o quê. - disse como se tivesse nojo e eu ri.

– São tatuagens. - falei de boca cheia.

– São horríveis! - esbravejou ainda me analisando enquanto eu terminava de comer o bolo.

– As garotas gostam. - falei debochado dando um sorriso torto e ela sorriu de volta me dando um tapa no ombro.

– Anda, seu bobo. Termina de comer esse bolo que você já está atrasado.

– Não precisa me lembrar de que hoje é meu primeiro dia no inferno. - bufei.

– Não, hoje é seu primeiro dia num emprego digno, finalmente. - sorriu orgulhosa.


***


– Chefe, esse é o Justin. - disse o Ralph me apresentando ao delegado da delegacia e o cara me olhou de cima abaixo.

– Bom, muito bom. - disse por fim se levantando da grande cadeira de couro espumada. - Mas o senhor esta quarenta e cinco minutos atrasado. - disse com um peso da voz.


Pensei em mandar ele se fuder e garantir minha primeira demissão, mas Ralph - meu melhor amigo também policial - se prontificou a respondê-lo antes já sabendo que eu estava prestes a falar algo.


– Foi um problema no transito, mas especificadamente na rua 15. O senhor passou por lá hoje? Houve uma batida. - disse um pouco nervoso, era notório que estava mentindo, mas o velho caiu.

– Não, não estou sabendo. - disse verificando alguns papéis e eu bufei tedioso. - Vocês estão dispensados, podem ir para a rua. - disse sem nos encarar e Ralph me puxou para que eu saísse da sala.

– Você é um ótimo mentioso. - o sacaneei quando já estávamos no corredor indo para fora da delegacia.

– Idiota. - disse irritado me dando um soco no estômago de leve. - Vê se não se atrasa mais.


Entramos no carro e praticamente ficamos o dia todo rondando as ruas do Canadá, mas tudo estava em paz. Parecia um dia sossegado, mas Ralph falou para que eu não me acostumasse com aquilo porque tinha dias em que parecia que todas as coisas aconteciam na mesma hora. Até que não foi tão ruim assim. Roubei a arma do Ralph sem ele ver e fiquei brincando dentro do carro enquanto ele buscava o café para a gente e o vi surtar assim que notou que eu estava com ela na mão. Ralph era do tipo certinho que não gosta de problemas com seus superiores e eu adorava tirar onda com a cara dele.

Voltamos para a delegacia já no final da noite para batermos os nossos pontos e ouvimos uma agitação assim que entramos no local.


– Ela deve ter aproximadamente 18 anos, nada mais que isso. - disse um policial para o outro que parecia pensativo e preocupado.

– Eu não posso ir, não há outros policiais disponíveis?

– O que aconteceu? - Ralph se meteu vendo que eles estavam um pouco preocupados e estressados e eu apenas me manti de longe prestando atenção neles. Só queria ir pra casa, me jogar na cama e dormir.

– Tem uma menina sentada no viado na avenida Cristyn ao norte. - disse um deles com a mão na cintura um pouco confuso.

– Suicídio? - Ralph perguntou também se preocupando.

– Parece que sim. Algumas pessoas ligaram para avisar o ocorrido, mas não temos homens suficientes para irem lá. O Max está dispensado e eu tenho que ir averiguar outros casos.


Ralph me olhou e eu já havia entendido tudo, mas nem fodendo eu iria fazer hora extra para resgatar uma suicida de merda. Seria um favor se ela se matasse logo, assim eu poderia ir para casa de uma vez.


– Negativo. - falei sério.

– Justin é uma ocorrencia séria!

– Meu sono é uma ocorrencia séria também. - dei de ombros.

– Po, pra que você quis entrar na polícia? - esbravejou nervoso enquanto os outros dois nos olhavam sérios.

– Com certeza não foi pra impedir uma garota idiota de se jogar do viaduto. Deixa ela se matar, todos tem livre arbítrio. - dei de ombros.

– Justin, você já não causou boa imprensão pro delegado hoje, você pode mudar isso. - insistiu com um sorriso de canto.

– Eu quero que se fo...


Falei e antes de terminar, a voz foi caindo pois eu percebi que o delegado se aproximava.


– Ralph, que bom que você chegou. Você e Justin vão no viaduto investigar isso. Estou indo daqui a pouco. Não se aproximem da garota para ela nao tomar uma atitude drástica. Apenas converse com as pessoas e procurem saber o motivos disso tudo e a quanto tempo ela esta ali.

– Sim, senhor. - disse Ralph abrindo a porta de vidro da delegacia. - Vamos, Justin. - disse debochado enquanto eu encarava o delegado que retribuía o meu olhar esperando que eu agisse.


Não tinha mais para onde correr e lá estava eu indo averiguar porque uma retardada estava sentada no viaduto. Vida de merda!


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