Minhas pernas estavam soltas rendidas a gravidade. O vento gelado cortava minha pele enquanto balançava o meu cabelo ao seu ritmo. Estava sentada sobre o mármore do viaduto e meu olhar se perdia em alguma direção distante ao horizonte escuro. A luz da lua iluminava pouco aquela cidade ou até mesmo meu rosto. Mas tudo bem, ninguém se importava em me encarar nos olhos.

Tinha que haver uma maneira de cessar aquela dor. As vozes em minha cabeça falavam cada vez mais altas e ensurdecedoras. Grandes gotas de lágrimas desciam do centro dos meus olhos sem ao menos eu piscar. Minha voz estava entalada há tanto tempo em minha garganta, que eu já estava acostumada a viver como se houvesse algo preso em minha laringe. Se eu deixasse sair tudo que estava preso, as pessoas apenas ouviriam um grito saindo ao encontro do alivio, mas eu estaria apenas chamando por socorro. Mais uma vez.

Uma movimentação na rua começou e eu abaixei meus olhos enxergando além dos meus próprios pés e analisei toda aquela gente se aglomerando para me olhar como um quadro em exposição ou talvez como apenas uma louca querendo chamar atenção. A princípio, relutei para acreditar que toda aquela atenção estava voltada para mim. Por quê? Ninguém nunca se importou, porque estavam ali agindo, correndo, alguns até mesmo com as mãos levadas a boca, outros gritando algo que a distância me impedia de ouvir. Só Por quê? Por que agora? A pequena cidade de Stratford perderia sua chacota. Talvez fosse esse o grande motivo pelo qual aquelas pessoas gritavam e acenavam lá de baixo.

Eu já estava sentada ali a cerca de algumas horas. O trânsito já havia parado e o frio estava cortante. Abracei minha barriga numa tentativa de me livrar do frio enquanto o vento forte secava minhas lágrimas deixando-as marcadas na pele do meu rosto. Estava ali pensando sobre o motivo da minha existência enquanto as lembranças vinham uma a uma em meus pensamentos.