A Luz Das Trevas escrita por Filha de Apolo


Capítulo 20
De volta ao Olimpo


Notas iniciais do capítulo

Olha eu não sei nem por onde começar
então assim
tô de volta
aos que esperaram, meu eterno amor
não tem o que eu possa falar que explique esses três anos de hiato
eu tenho muito o que dizer mas vou direto pro capítulo
e sobre ele: é o mesmo dia do último capítulo que eu postei, excluí aquele e reescrevi porque eu achei um lixo, e como eu vou continuar a fanfic eu precisava ficar em paz com esse capítulo



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Ela achou que ia parar de respirar de tão forte que a mãe a abraçava. Recém haviam acordado, a deusa gritou quando viu a filha acordando Perséfone e o resto inteiro do Olimpo junto, provavelmente. Deméter chorava incessantemente desde então e a jovem a acompanhava. Não era porque se deixara fazer as escolhas que fez que a deusa não amasse a mãe ou não tivesse sentido sua falta. 

Ficaram ali, abraçadas envoltas em um mar de lágrimas até uma ninfa vir avisá-las que estava próximo da hora do almoço. Perséfone conseguiu fôlego para falar.

—Por favor, mãe, não dê esse almoço. Eu quero ficar com você. Se quiser, eu passo na casa de cada um depois…

—Não, meu bem. As pessoas querem vir ver que você está sã e salva, de volta a casa. - Perséfone engoliu em seco. - No mais, já está tudo pronto, é só ir, comer, dar olá e voltar.

O que era uma grande mentira. A deusa teve de ficar a tarde inteira conversando com as pessoas, aguentando as perguntas de se ela estava bem, se ele havia machucado ela, como era lá embaixo, se ele era tão cruel quanto as pessoas diziam. Ela queria responder dizendo a verdade, porém sua mãe não deixava o seu lado, respondia por ela, piorando ainda mais a situação, como se de fato tivesse sido horrível a ponto de Perséfone não querer falar sobre isso. E não fora. Queria gritar no meio de todos que tivera uma maravilhosa experiência e que nem estava certa de que havia acabado ainda.

Não o fez, em respeito a mãe. Se tivesse feito, talvez no fim do dia não estivesse a bolha de nervos que sentava afastada de todos. O almoço virou almoço-janta. Ninguém foi embora.

O alento da deusa é que, para a janta, rostos familiares apareceram, claramente ainda se recuperando da ressaca do casamento. O problema era que Deméter seguia sem soltar a deusa, o que Perséfone entendia. Não queria arriscar que ela fosse levada de novo, independente de quantas vezes a deusa assegurasse a mãe de que ele não ia buscá-la, de que ela estava bem.

Então, quando Afrodite chegou e abraçou a deusa, Deméter se aproximou e impediu que elas tivessem qualquer conversa particular. A deusa do amor fingiu demência e abraçou a Deméter também, como se estivesse preocupada com ambas desde o começo. O mesmo ocorreu com Ares e Atena, sendo que esta pelo menos a mãe deixou Perséfone conversar em particular.

Se sentaram em baixo de uma árvore, pegando o último raio de sol do dia. Atena ficou em silêncio e deixou que a irmã conduzisse a conversa. Ela entendera a situação assim que chegou no palácio das duas.

—Obrigada. - Atena sorriu e pegou uma das mãos da deusa nas suas. - Por não falar nada, você sabe. 

—Agora, ou para sua mãe? Não precisa me agradecer por agora, você parecia desesperada por um pouco de silêncio. E pela sua mãe, não se preocupe, de mim ela só vai ouvir as mesmas coisas que ouviu a vida inteira: que Hades não é e nunca foi um homem ruim, só é incompreendido. Não vou nem dizer que sei que você que escolheu se casar. 

—Obrigada. E como é que você sabia que Hades não é um homem ruim? - Perséfone ponderou. Ele era muito mal tratado no Olimpo e ela sabia que os dois deuses não mantinham nenhuma relação próxima, então como Atena saberia, sem conhecê-lo de verdade? A irmã riu frente a face de dúvida da outra.

—Eu conheço e já conheci várias pessoas ruins, cruéis, maléficas, até. Ele nunca pareceu uma dessas pessoas.

Perséfone apenas assentiu e descansou a cabeça no ombro da irmã. De cinco em cinco minutos a mãe vinha espiar se ela ainda estava ali. Atena sorria e assegurava que a menina estava a salvo. Só se levantaram quando a janta fora servida.

—____________

Ele não fez questão de levantar nem para almoçar. Trabalhou o mínimo que pôde sem nem sair da cama. Comeu muito pouco. Sabia que ia sentir falta dela, não sabia que ia ser daquele jeito. Suspirou, chegando de fato à conclusão de que independente da sua idade e experiência, era um adolescente para essas questões amorosas. Se contentou com isso. Iria se agarrar a qualquer coisa que explicasse o porquê de ele sentir que um pedaço de seu corpo estava faltando, nem que fosse necessário aceitar que ele parecia uma criança.

No meio da tarde foi até o pátio, conversou com os juízes e se sentou ao lado da caminha de Cérbero. Uma de suas cabeças dormia enquanto as outras duas olhavam para Hades, chorando.

—Eu sei, garotão. Eu sinto falta dela também. Faz só um dia, nós vamos sobreviver. - Ele se limitou a dizer. Acariciou a barriga do cão e jogou pedaços de carne no pote de comida. Voltou para seu quarto sem falar com mais ninguém.

Estava tão absorto que nem notou quando a titânide se sentou na cama ao seu lado. Ela quase nunca ia visitá-lo, surpreendendo Hades com sua presença ali. Na verdade, quase nunca ia visitar ninguém, vivia sempre em sua própria casa, com seus hobbies, seus humanos. Ele descansou a cabeça sobre o colo dela e fechou os olhos quando ela acariciou seus cabelos. Deixou que as lágrimas que ele tanto estivera segurando rolassem com liberdade. Se ela estava ali é porque ele tinha direito de sofrer.

—________

Aproveitou que agora a mãe já estava levemente embriagada e não a cuidava mais para avisar as ninfas e se recolher para o seu quarto. Deitou em posição fetal, olhando as estrelas por entre sua janela aberta. Parecia engasgada, como se fosse parar de respirar a qualquer momento. Não demorou muito para que Deméter a encontrasse. 

—Você está bem, meu amor?

—Uhum. Cansada, apenas. 

—Tem certeza? - A deusa inquiriu, franzindo o cenho.

—Uhum. - Perséfone murmurou. 

—Você tem uma visita. - A deusa virou-se rapidamente e conseguiu sorrir ao ver a deusa que esperava atrás de sua mãe. Se sentou na cama. Deméter se virou para a irmã e sussurrou. - Não a deixe fora de sua vista.

—Pode deixar. - Hera respondeu. Entrou e fechou a porta depois de Deméter explicar que iria ficar mais um pouco com os convidados. Andou até ela e sentou ao seu lado. Abraçaram-se. - Como você está? - Pela primeira vez naquele dia Perséfone sentiu aquela pergunta do jeito que queria que ela tivesse sido feita: sobre o presente. Sobre aquele dia, o turbilhão de emoções, ter voltado. E não com pena, como se ela tivesse sofrido torturas horríveis nos últimos dias.

—Muito, muito estranha. - A deusa mais velha assentiu.

—Eu só imagino. Não conseguimos conversar, mas parabéns. A festa estava linda e você, radiante. - Sorriram. Não percebera até então que não tinha comentado com ninguém sobre o casamento ainda.

—Foi lindo mesmo, não é? Fiquei muito feliz que você pôde ir. 

—Não perderia por nada, meu bem. - Hera botou para trás da orelha uma mecha do cabelo da enteada. - Deméter ainda não sabe que eu fui, viu? Que seja nosso segredinho até que ela aceite melhor sua nova situação. - Perséfone assentiu. - Falando nisso, e entendo se ainda for cedo demais, porém já pensou sobre o que vai fazer?

—Não. - Ela baixou os olhos e fitou suas mãos. - Sinceramente, não consegui ficar sozinha com meus pensamentos. Atena me concedeu um pouco de silêncio hoje de tarde. Além do mais, minha mãe está tão aliviada que me sinto culpada só de lembrar dele, imagina pensar se vou ou não voltar. Achei que vir para cá iria clarear meus pensamentos, entretanto pareço ainda mais confusa.

—Tudo bem, querida, dê tempo ao tempo. Tenho certeza que ninguém está com pressa. Não quero parecer muito Afrodite, mas ela está certa quando diz que as coisas vão acontecer se forem para acontecer. 

A deusa apenas assentiu, se abraçaram e ficaram ali, em silêncio até Deméter voltar para chamar a filha para dormir com ela. Esperou a madrasta sair e avisou a mãe que já iria.

Abriu a última gaveta de seu criado mudo, abriu o fundo falso que construíra às pressas alguns anos atrás, retirou dele o saquinho dourado. Abriu, retirou uma semente e a olhou, pequena em sua delicada mão. Guardou o resto no lugar e caminhou até a janela. Fitou as estrelas e sorriu. Sentira falta delas.

Suspirou.

“Que Afrodite esteja certa.”

Com isso, esmagou a semente e a arremessou para fora do pátio.

—___________

—Não me olhe assim. Odeio quando você me julga.

—Eu estou sempre te julgando. - A deusa respondeu o marido, tirando o robe e deitando, sua camisola vermelha eriçando os pelos de Zeus ao mero olhar. 

—Mesmo assim, sigo odiando. Acabou agora. Ela está de volta, meu ouvido vai se regenerar e eu vou construir fones à prova dos gritos de Deméter para futuras ocasiões.

—É bom mesmo, porque se você acha que acabou, está muito enganado.

Ele pulou na cama ao lado dela e a virou para que fitasse ele nos olhos, seu corpo quase todo por cima do dela.

—Por que? Ouviu algo? - O sorriso de fofoqueiro dele fez Hera gargalhar.

—Eu conversei com Perséfone. E eu estive lá no casamento, por mais que você escolha ignorar. Eu vi eles. Não acho que vai acabar tão fácil. 

—Hum, é verdade. Bom saber, vou aproveitar e arrancar o resto dos meus ouvidos então. Deixo crescer de novo quando acabar. 

—Boa ideia. - Ela empurrou ele, que liberou o corpo dela e caiu deitado ao seu lado. Não perdeu tempo e se enfiou de baixo das cobertas, colando as costas dela no seu peito e as coxas dele no seu quadril.

—Você não quer que eu ignore então vou ser obrigado a perguntar. Como foi o casamento? - Ela se endireitou nos braços dele antes de responder.

—Muito bonito, ambos têm muito bom gosto. O Submundo iria te surpreender, não é como imaginamos. 

—E como foi estar numa festa sem minha ilustre presença para te acompanhar? - Ela gargalhou muito alto e se virou para fitar o deus.

—Muito bom, libertador. - Seu olhar malicioso fez ele perder a compostura. Éons depois e ele não aprendera que era ele quem traía, não ela. 

—Para, estou falando sério.

—Foi tranquilo, Zeus. Depois eu sou a ciumenta…

—E não é?

—Você me dá motivos! Eu nunca fiz nada. 

—Justo. Eu já lhe disse que vou melhorar?

—Essa semana ainda não disse, não. - Ele mostrou a língua para o deboche dela e a abraçou, colando seus rostos.

—Eu juro que vou tentar. - Ela revirou os olhos e beijou ele. Preferia aproveitar o momento em que ele não estava dando mais nenhum motivo para ela brigar com ele ao invés de acreditar que ele ia se comportar. Amaldiçoou Afrodite por seus sentimentos. Era sempre melhor ter alguém para culpar por sua inocência.

—___________

—Vem, você parece um bebê. Vai jantar direito sentado na mesa. Vem. Agora. Hades.

Ele levantou só ao tom imperativo que ela disse seu nome. Foram até a sala de jantar e sentaram, comeram em silêncio vigiados pelos olhos intrigados das servas. Caronte entrou perto do fim da sobremesa.

—Ah, senhor, não sabia que você tinha companhia. Olá, milady.

—Boa noite. - A titânide respondeu.

—Algo de errado?

—Recado de Nix, milorde. - Caronte se aproximou após Hades acenar-lhe com a cabeça. Entregou um pequeno envelope, menor do que a palma da mão dele, se despediu e saiu.

Foram até o escritório dele e se sentaram nas poltronas, de frente um para o outro, ela com uma das mãos dele nas suas. 

—Foi Nix que me dedurou?

—Não, querido, mas me confirmou quando perguntei. Você sabe que vigio vocês todos de longe. Tive que consolar seus irmãos, nunca achei que viria visitá-lo também. Muito menos agora que você já está bem crescido.

—Eu sei, é criancisse minha estar assim.

—O amor deixa as pessoas imaturas, Hades, mas nem por isso é imaturo por si. Vai fazer você crescer. Evoluir, digamos assim. - Ela riu frente à face de confusão do deus. - Deixa para lá. Me diga, foi uma flecha de Afrodite? Porque sei que esse seu coração não é tão acessível e que você não deve ter ficado cortejando essa moça por muito tempo.

—Eu acho que sim? Não sei dizer. Afrodite não me responde nem que sim nem que não, apenas diz que independente disso, as flechas só funcionam em casais que já estão predestinados, e que se não estivéssemos eu teria desistido da ideia em uma ou duas semanas.

—E faz quanto tempo que você começou a se sentir assim?

—Alguns meses… fiquei observando ela, conversei com Zeus, e há duas semanas trouxe ela para cá. 

—Ah, pois é, até minhas plantas sentiram a desolação de Deméter.

—Você foi falar com ela? 

—Não, não. Ia ir, mas vou guardar essa cartada para caso a menina volte aqui.

Hades remexeu o pequeno pedaço de papel, o leu, suspirou e fechou os olhos.

—Ela não vai voltar.

—Você não sabe disso.

—Mãe… - Ele disse, entregando o papel para a titânide. 

“Ela jogou uma fora. Sinto muito. N.”

—Uma…? - Reia perguntou, um olhar confuso para o deus.

—Semente de Romã. A entreguei algumas quando fora embora e expliquei que se quisesse voltar, era só comer que ela estaria para sempre ligada ao Submundo.

—Quantas você entregou?

—Quatorze.

—Então ela ainda tem treze. Não seja tão pessimista. Aqui, - ela o entregou um pequeno vidro com líquido esverdeado dentro. - vá descansar. Volte para sua rotina. Esse estilo depressivo não combina tanto com você quanto você pensa. - Ele foi obrigado a rir. - Vou embora quando você dormir, e eu odeio dormir tarde, então…

—Você é impossível.

—Eu sei, e você é metade meu, o que quer dizer que você é no mínimo 50% impossível também. - Ela sorriu e o abraçou. - Você vai ficar bem, as Parcas me mostraram o seu futuro. Não posso dizer se essa menina está nele, antes que você pergunte. Sei dizer que você ficar se preocupando não vai lhe levar a lugar nenhum.

Ficaram um pouco em silêncio até ele exibir um sorriso debochado no rosto. 

—E sobre essas vezes que você foi visitar meus irmãos… alguma chance das Parcas quererem que você me conte isso… assim, para me alegrar, sabe? - Ela gargalhou. 

—Eu estava errada, você é no mínimo 75% impossível. Zeus foi quando ele tinha de decidir se casaria com Métis ou cortejava sua própria irmã.

—Qual delas?

—Hera. Sempre foi Hera. E Poseidon… bom, por onde eu começo?


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Notas finais do capítulo

é isso
eu tô morrendo de saudades daqui
eu queria postar esse só quando eu tivesse o próximo encaminhado, mas não consegui me segurar
outra coisa, eu estou trabalhando (finalmente) em reescrever Posena, e spoilers: já tenho 5 capítulos inteiros prontos
só me falta coragem e uma boa sinopse

espero que vocês não estejam muito bravos comigo e que gostem do novo capítulo
sintam-se livres pra me mandar mensagem se quiserem conversar, nem que seja pra me xingar, eu me explico pra cada um de vocês se quiserem

eu não desisto mais de vocês
agora eu vou com essa fanfic até o final

ah, e agradeçam a Rafa M. por ser o amor da minha vida e nunca desistir de mim
é isto
até o próximo!



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