A Luz Das Trevas escrita por Filha de Apolo


Capítulo 19
Décimo quinto dia


Notas iniciais do capítulo

OIE EU AQUI DE NOVO né tão cedo q vcs nem acreditam
mas é que assim eu amo vocês (1)
e 2
eu tava devendo mais um capítulo né então eu pensei "foda-se eu podia postar em setembro mas vou agilizar e postar agora"
pq vcs merecem
por mais q poucos estejam comentando, eu ainda amo vcs



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Perséfone foi a primeira a acordar. Se desfez delicadamente do abraço do deus e se levantou. Foi para o banheiro lavar o rosto e deu de frente com uma banheira absurdamente enorme. Primeiro pensou que deveria ser solitário passar éons tomando banho sozinho ali, mas logo afastou esse pensamento da cabeça ao perceber que até mergulhar ali ela conseguiria tranquilamente. Ligou a torneira e foi ao seu quarto buscar roupas limpas. Se ela iria embora dali, que ao menos aproveitasse tudo que o castelo tinha de oferecer.

No caminho, passou por um dos quartos de hóspedes e teve a impressão de ouvir uma discussão entre Poseidon e Atena. Poderia ser só costume de suas orelhas, também.

Entrou no seu quarto e sentiu como se fizesse uma eternidade desde a primeira vez que dormira ali, e ao mesmo tempo lembrava de tudo vividamente. Passou a mão na cama que um dia tanto odiou e se deitou, observando o teto. Uma incerteza se acendeu dentro dela, inquietando-a. Talvez não fosse a primeira a ser sequestrada. Balançou a cabeça para tentar afastar o pensamento, já que todos agiram como se tivesse sido, sim, a primeira vez que aquilo acontecera.

Pegou-se questionando se, caso ela tivesse se negado a casar com ele, ele raptaria outra deusa ou deus. Se era por ela mesmo, se terminaria ali. Se ele teria aceitado a eternidade sem tentar novamente. Nah. Deu de ombros. Ele não precisaria. Ela estava ali agora e se ele enjoar dela e quiser sequestrar outra, haverão consequências. Perséfone não fora criada por Hera à toa.

Ergueu-se como quem palpavelmente foge de suas reflexões e foi escolher uma muda bonita de roupa. Notou que o vestido que ela usava na primeira noite estava separado. Sorriu. Alguém sabia que ela viria, então. Separou-o junto com um conjunto delicado de joias e se preparou para voltar para o quarto de Hades (seu quarto também, agora, e não mais dele somente). Antes de ir, separou alguns livros que levaria para casa, deixando-os do lado de sua mala de roupas já pronta.

 

XxxxX

 

Ela entrou tão silenciosamente que Hades só a percebeu quando ouviu o som de espanto e a porta se fechando rapidamente. Botou a mão na cabeça e se virou. Ia sair para o quarto para pedir desculpas mas se surpreendeu vendo que ela havia se escorado na porta e a fechado com ela para o lado de dentro.

Se Hades não estivesse entrando no fim da meia idade dos deuses, ficaria encabulado. Por quase um minuto ficaram apenas se olhando até ele se dar conta de pegar uma toalha e cobrir-se, pelo menos a pelve. Curiosamente, Hades não conseguia ler a deusa naquele momento. Ela conseguira mascarar totalmente o que quer que estivesse passando pela sua cabeça, de julgamentos bons ou ruins à cara de espanto que fizera antes.

—Perdão, eu nem lembrei de ver se você estava na cama. - Ela conseguiu falar. Hades somente sorriu e deu espaço para a deusa colocar suas coisas na bancada do banheiro.

—Eu que peço perdão em tentar me apropriar do seu banho. Tomei a liberdade de fazer bolhas. - Ele acenou para a banheira. Perséfone sorriu. A espuma era tanta que estava transbordando. O deus estava começando a sair do banheiro quando ela falou novamente.

—Hades? - Ele virou e disse “sim?”, olhos serenos, quase sorridente, torcendo para que a continuação fosse o que ele queria ouvir. - Fique. A banheira é grande o suficiente para nós dois.

O deus não conseguiu conter um enorme sorriso.

 

XxxxX

 

Se ela fosse mortal, seu coração teria parado com tamanho susto que levara. A deusa virou para o lado e o viu no chão. Sem roupa. Nada de roupa. Nem uma coberta sequer cobrindo-o. Por sorte divina – —, ele ainda dormira e não notou o longo minuto que ela ficou atônita, fitando-o. Ele nunca deixaria ela esquecer daquilo se estivesse acordado.

Mas o susto que a mataria não fora esse, fora a percepção de que ela também estava nua. Só lençóis a cobriam. Ela se ergueu absurdamente rápido e voou para dentro do banheiro, puxando seu vestido - que estava, por algum motivo, jogado num canto do quarto - consigo.

A batida da porta fez Poseidon se erguer e conjurar seu tridente, apontando-o para a porta. Alguns segundos foram necessários para ele se colocar mentalmente no seu lugar e abaixar o tridente.

Casamento.

Festa.

Bebida, muita bebida.

Atena.

Atena?

Atena!

Seus olhos se arregalaram e ele sentou na cama. Havia dormido sobre uma coberta e com um travesseiro. Quando notou a falta de roupas, só fechou os olhos com força e botou a mão na cabeça. Vestiu-se e se deitou na cama, fechando os olhos. Fora uma boa noite.

Dançaram e beberam até estarem entre os dez últimos presentes no salão. Dançaram de verdade, todos os tipos de músicas, juntos. Poseidon pegou uma garrafa de vinho e eles subiram para um dos inúmeros quartos de hóspedes de Hades. Beberam até acabar o vinho e conversaram por muito tempo. Ele ficou tendo certeza de coisas que ele só sonhava esperando que fossem verdades e contou para ela coisas que ele não contava nem a si próprio.

Claro que fora porque acreditava que ela não lembraria de nada do que acontecera e, julgando pela batida da porta do banheiro e o tempo que ela estava demorando, ele estava certo. Certamente ela achava que eles haviam transado. Ele sorriu ao pensamento dela se corroendo por causa disso, mas se ergueu e bateu na porta do banheiro para conversar com ela.

—Caiu para dentro de um ralo, Atena?

Silêncio por um tempo até a porta se abrir estrondosamente.

—Não, Poseidon. - Ele sorriu e deu espaço para ela passar. Se deitou na cama novamente enquanto ela se sentava na cadeira da penteadeira para prender seus cabelos.

—Então, dormiu bem? - Ela o olhou com desprezo pelo pergunta e se virou novamente para o espelho. - Lidando bem com a amnésia alcoólica? - Desta vez a deusa o olhou com um misto de preocupação e de dúvida. O deus se levantou, conjurou um refrigerante e um pedaço de chocolate e deixou na frente da deusa. - Para a ressaca.

—Você lembra de tudo o que aconteceu ontem?

—Uhum.

—Sério?

—Uhum.

—Como?

—Querida, bebemos muito mas se você considerar que eu bebo mais do que isso praticamente quatro dias por semana, ontem não foi nada.

Ela conseguiu rir. Colocou a mão na cabeça, comeu o chocolate e bebeu o copo inteiro de uma vez.

—Nós não...

—Não. Nem um beijinho. - Atena o olhou surpresa por um momento. - Não sei se você está surpresa por nada ter acontecido o por eu não ter aproveitado o momento para brincar e mentir pra você. Acredite, eu queria fazer ambos, mas...

—Obrigada, Poseidon. - Ela ficou em silêncio um pouco antes de continuar. - E por que é que você não fez ambos, então? - Uma parte pequena e adormecida dela de éons atrás se forçou a perguntar. Ele teve a oportunidade. Talvez não a quisesse mais “de verdade”.

—Você estava bêbada, Atena. O dia que você me beijar vai ser conscientemente e com muito esforço da sua parte.

A deusa somente sorriu, revirou os olhos e deixou um “adeus, inconveniente” para trás enquanto saía pela porta para encontrar algo de melhor para fazer.

Poderia passear pelo reino, afinal, era a primeira vez que vinha aqui. E Poseidon não a acharia.

 

XxxxX

 

Ele não sabia direito se estava realmente esperando que ele seguisse ela para dentro da banheira. Ela se despir só depois que ele virou de costas ele conseguia entender, mas ainda estava surpreso de ela entrar nua com ele na banheira. Nua.

Conversavam, cada um em uma extremidade da banheira separados por o que pareciam ser quilômetros de espuma. Hades fez surgirem duas taças de vinho para eles. Perséfone ergueu uma sobrancelha e ia questioná-lo porém ele foi mais rápido.

—Eu sei, eu sei, nem almoçamos ainda, mas o dia é incomum, certo? E merecemos um brinde só entre nós, não? - A deusa sorriu e pegou sua taça.

—É verdade, não é todo dia que estamos recém-casados. - As taças cantaram quando se encontraram, ambos beberam seus goles em sincronia. Perséfone notou que Hades se interrompeu internamente e lançou-lhe um olhar de curiosidade. Ele cedeu.

—Também não é todo dia que você acorda do lado da sua esposa e sabe que não vai dormir ao lado dela. - A deusa sorriu tristemente e sentou-se mais próxima dele na banheira, o suficiente para conseguir tomar-lhe uma das mãos na sua.

—Você sabe que eu não quero ir, não sabe? Desde que subi naquele altar eu senti um milhão de coisas mas nenhuma delas foi vontade de voltar para o Olimpo. Desperdício de lua-de-mel.

Hades assentiu, confirmou que sabia que ela não desejava ir embora – teria deixado-a ir se ela quisesse – e riu.

—Não se preocupe, a lua-de-mel faço questão que tenhamos em algum momento, se você retornar.

Se eu retornar? - A deusa ergueu uma sobrancelha.

—Sim. - Hades encheu novamente sua taça. - Uma vez no Olimpo, você não tem compromisso nenhum comigo.

—Mas, mas... fomos casados por Hera, nosso casamento vale tanto aqui quanto lá.

—Sim, meu bem, mas você não é minha escrava, não é obrigada a voltar, nem a morar comigo, muito menos a falar comigo. Alguma vez Poseidon já lhe contou sobre o casamento dele?

Perséfone ia contestar, mas foi obrigada a gargalhar com a referência. O rei dos mares morava em um castelo separado do de sua esposa, Anfitrite. Eles se encontravam apenas para ocasiões especiais (marítimas, pois às olimpianas Anfitrite nunca fez questão de comparecer). Em fases boas, até jantavam juntos. Em ruins, se viam apenas em viradas de séculos e aniversários de casamento, de batalhas, dentre outros.

—Eu sei, eu sei, mas não é isso que eu quero. Eu quero ser sua esposa. Quero um casamento como... - Silêncio desconfortável. Não havia um bom exemplo de casal no panteão inteiro para Perséfone usar? - Como os mortais fazem. - Concluiu. - Os pobres. Não os que casam por interesse. - Hades sorriu e tomou as duas mãos da deusa nas suas.

—Querida, muito obrigado por isso, e desculpe se vai parecer que eu estou duvidando das tuas palavras, eu não estou, mas...

—Sem mas.

—Com mas. Você vai voltar para a sua realidade e sua cabeça vai pensar de outro modo, seus ares serão outros, seu ponto de vista será outro, você ouvirá a opinião de pelo menos uma dúzia de outras cabeças e, por mais que eu confie na sua personalidade forte, eu não sou idiota. Consigo ver os pontos negativos de você ser minha esposa tão bem quanto todos os que não querem que nós fiquemos juntos, e você os verá em breve, também. Só quero que saibas que, independente do que acontecer, eu vou respeitar qualquer escolha que você fizer.

Silêncio. Quase quebrado pela atividade da mente da deusa.

—E se eu escolher não voltar, vou ser rainha sem ser rainha?

—Não, não. Será esposa sem ser rainha. A coroação só acontecerá se você aceitar morar comigo e governar ao meu lado. Sem fardos que você não queira ou talvez não possa carregar agora.

Perséfone assentiu e sorriu.

—Nada impede minha mãe de me enjaular no Olimpo, também. - O deus acompanhou seu sorriso.

—Eu te raptei de baixo do nariz dela uma vez, o farei quantas vezes for preciso.

Riram e deixaram acontecer.

A deusa que, surpreendentemente, tomou iniciativa. Beijou-o levemente e, aos poucos, foi trazendo seu corpo para próximo do dele. Em alguns minutos, as peles se tocavam completamente.

XxxxX

 

Após beber o quanto ele bebeu na noite anterior, o deus esperava uma de duas situações ao acordar: ou se encontrava no chão de algum local, podendo estar nas escadas (suas costas costumavam doer muito quando isso acontecia), dentro de alguma fonte d'água (acontecera mais do que ele gostaria de lembrar), no caminho para seu quarto, ou acordava do lado de alguém (deusa, deus, ninfa, sátiro, mortais, sem distinções necessárias).

Ao se mexer levemente, notou uma dor no corpo generalizada, típica de quando ele realmente se excedia na bebida. Deu de ombros mentalmente, bebera de graça mesmo. Manteve de pé a hipótese de ter dormido em algum local esdrúxulo por sentir pontadas em suas pernas e em suas costas. Franziu o cenho, porém, ao notar que estava quente e confortável. Ele estava sim em uma cama. Procurou com as mãos outro alguém na cama e encontrou seu lado ainda quente. Alguém recém levantara.

Abriu os olhos para procurar de verdade e não deu de cara com ninguém. Virou-se com dificuldade para o outro lado para encontrá-la seminua no banheiro, uma escova penteando-lhe os cabelos magicamente para logo prendê-los enquanto a deusa terminava de tirar as roupas. Ele não soube muito bem como reagir quando percebeu o que acontecera na noite anterior, então tentou se forçar a ter alguns flash-backs.

Conseguira achar de onde as dores agudas vinham e sorriu. Ficava sempre satisfeito quando a dor vinha do sexo, principalmente de posições nunca antes exploradas. Ah, a magia. Lembrou de conversar por horas com ela, criticando o casamento, se amargurando da vida. O resto aconteceu naturalmente.

Se ergueu para ir até o banheiro (e só então notou que estava nu) e foi interrompido pela porta que fechou-se na sua cara. “Okay, ela não é do tipo que gosta de prolongar as coisas para a manhã seguinte.” Deu de ombros e achou suas roupas. Bateu na porta do banheiro quando estava pronto para ir embora e a porta se abriu sozinha. Encontrou uma Hécate nua, no chuveiro, o esperando. O chamando, para ser mais exato.

“As mulheres são confusas”.

 

XxxxX

 

Perséfone estava com a cabeça apoiada no peito nu de Hades e suas mãos corriam delicadamente a extensão do abdome do deus. Ele acariciava seu cabelo constantemente e beijava sua testa de vez em quando.

Ela achou que dessa vez ela não escaparia dele ficar bravo, porém novamente ele entendera que ela não estava pronta e pacientemente parou quando ela pediu para parar. Ela esperava que ele entendesse o quão aquele gesto significava para ela. Ela sabia que muitos homens não eram como ele, não viam as mulheres no mesmo nível dos homens e não levava em consideração suas vontades e seus limites.

Três batidas na porta afastaram os pensamentos de Perséfone. Hades grunhiu. Era hora, já.

Ela não queria ir embora, não queria se mover, sair daquele abraço. Afundou seu rosto no pescoço do deus e depois beijou-lhe a boca levemente. Hades sorriu ao separarem os lábios, porém ela encontrou apenas tristeza nos olhos dele. Abraçou-o forte antes de se erguer para colocar suas vestes enquanto ele cobria-se rudemente com sua toalha para atender à porta.

Realmente, era hora.

 

XxxxX

 

Hermes esperava perto do barco enquanto os gêmeos abraçavam e se despediam de Perséfone. Caronte fora o próximo, seguido por um brevíssimo “adeus” de Hécate. Hades estava sentado em seu trono, sua face deixando transparecer seu descontentamento monstruosamente. Hermes se afastara justamente pelas feições do rei, que escolhera fitá-lo amargamente.

Nix e Delta levaram alguns bons minutos com conselhos e palavras de carinho. Hades apenas tirou seus olhos de Hermes quando a deusa começou a se aproximar dele. Seu rosto relaxou um pouco, a raiva dando lugar integralmente à tristeza. Ele se ergueu e abraçou-a, que havia parado de braços abertos há um metro dele. Apertou-a contra seu peito e só parou para dar-lhe um tenro beijo e acariciar seus cabelos no processo.

Quando separaram seus lábios, o rosto do deus estava molhado das lágrimas da deusa. Ele delicadamente secou os olhos dela e sorriu. Beijou-a levemente mais uma vez antes de virar-se de costas para os outros, seu corpo dando-lhe a privacidade que ele queria.

Conjurou e entregou à deusa uma bolsa muito pequena de pano dourado. O rosto de Perséfone virou uma instantânea mistura de curiosidade e confusão. Ela segurou a bolsa com a boca aberta para o deus. Hades conjurou uma fruta de um tom bordô. Perséfone a reconheceu rapidamente. Não sabia que fruta era, e esquecera de perguntar ao deus, mas já havia a visto – e muito – pelos campos do reino. Era provavelmente a planta mais comum ali embaixo. Como já havia sido impedida por umas servas de chegar na árvore, Perséfone acabara esquecendo de pedir maiores informações. Imaginou que descobriria. Voilá.

—Isso é uma romã, querida. Assim como os deuses do Olimpo têm a ambrosia como alimento sagrado, nós temos ela. - Hades ergueu a fruta levemente para indicá-la. Ele sussurrava. - Ela é a fonte de nossa saúde, vividez, liberdade. É inclusive o que usamos como adubo. Nós comemos apenas suas sementes e...

—Por que estamos conversando tão baixo? - Foi só o que ela disse.

—Porque Hermes é um abutre e se ouvir vai ou roubar-lhe o que vou te entregar ou contar aos quatro cantos do Olimpo.

—E o que você vai me entregar? - Hades trocou a fruta de uma mão para outra e ela se abriu ao meio. Trocando-a novamente de mão, restaram-lhe apenas quatorze sementes. Uma para cada dia que ela permanecera ali. Ele as despejou na bolsa dourada, lacrou-a firmemente com uma fita e a entregou novamente para a deusa. - As sementes? - Perséfone franziu o cenho.

—Lembra por quê você não podia comer a comida daqui?

—Sim... Mais ou menos, na verdade. Você não deixou nada claro.

—Se você ingerisse algo do Submundo, você ficaria eternamente conectada ao Submundo.

—E estar casaca com você não faz isso também?

Hades sorriu e beijou-a novamente.

—Incrivelmente, não. Não tanto. Enfim, o que eu quero lhe dizer é que eu estou lhe dando essas sementes para você saber que se quiser voltar aqui, é só você comê-las, e eu farei o que estiver em meu alcance para te ter de volta.

—Hades...

—Eu não quero que você faça decisões agora. Eu quero que você vá para casa, que ouça todas as coisas horríveis que a sua mãe vai gritar sobre mim, que se aconselhada por um milhão de seres, que tenha tempo para pensar sozinha, e decida. Eu sei que o Submundo é traiçoeiro, pode mexer com a sua mente. Eu quero que você decida de cabeça limpa, de mente aberta.

Perséfone deu um sorriso enorme, enxugou uma lágrima e o beijou profundamente.

—Eu vou pensar com carinho.

Hades retribuiu o sorriso da deusa e a acompanhou até o barco. Mais um beijo. Suas testas estavam coladas e seus olhos fechados.

—Eu te... - O deus sussurrou. O coração de Perséfone acelerou de tal maneira que ela conseguia mais ouvir suas batidas do que seus próprios pensamentos. - Vou sentir sua falta, pequena. - Perséfone soltou o ar que estava segurando e abraçou-o forte.

Não disse nada a ele. Não conseguira dizer mais nada a ninguém. Demoraram algumas longas horas para ela conseguir conversar com Hermes, e só o fizera pois sabia que a viagem seria longa. Suspirou. Não olhou para trás nenhuma vez. Dava azar.

 

XxxxX

 

Apesar de terem saído do Mundo Inferior antes do café da manhã, já era noite quando saíram para o exterior e já era madrugada quando chegaram ao Olimpo. Perséfone foi diretamente para o seu quarto, sem falar com ninguém. Suas coisas foram para seu armário, as novas e as antigas.

Tirou do bolso o pacote dourado. Procurou algum local que nem as servas nem sua mãe achariam e escondeu-o lá, a salvo de todos.

Sentou-se na cama e suspirou. Sentia uma mistura de saudade com raiva. Não queria estar ali, mas sentia falta do Olimpo. Sabia que deveria ir ver sua mãe, mas estava exausta, não queria lidar com suas perguntas tão tarde.

Deméter dormia na cadeira de seu quarto. Sabia que dormira esperando a deusa chegar e seu coração se encheu de culpa por querer passar tanto tempo longe da mãe. Deixou seus sentimentos para depois, conduzindo a mãe até a cama sem despertá-la totalmente. Ela balbuciava algumas palavras, dissera o nome de Perséfone algumas vezes, mas ainda dormia quando a jovem a deitou na cama.

Deitada ao lado da mãe, abraçada fortemente nela, Perséfone apenas esperava que Deméter nem entrasse em um surto de superproteção nem a repreendesse muito por ter voltado ao Hades – e se casado com ele por livre e espontânea vontade. Ela só queria matar a saudade da mãe e conversar sobre o que acontecera.

E sobre o que aconteceria.

 

XxxxX

 

O sol estava nascendo e lá estava ele, em sua varanda. Bêbado. Três garrafas de vinho vazias e inteiras no chão ao seu lado, duas estraçalhadas contra a parede atrás dele. Uma pela metade em sua mão. A taça também já estava estraçalhada.

Não conseguira dormir. Nem a bebida estava lhe dando sono mais. Geralmente estava roncando alto depois da quarta garrafa. O desespero fora tanto – e o álcool também – que ele ligara para Poseidon para esbravejar na sua língua materna, antiga, usada pelos titãs.

Precisava desabafar e se distrair, e Poseidon cumprira bem o papel. Falaram sobre o casamento, Poseidon contou sobre Atena. Hades disse ao irmão que eles acabariam juntos. Falaram algumas besteiras aleatórias. Poseidon dormiu, Hades abriu mais uma garrafa.

Seria um longo dia. Dias, na verdade.

Ele estava velho demais para esses sentimentos de adolescente. Bufou.

Não podia mais fazer mais nada. Deixara nas mãos dela. Nem brigar com Zeus ele queria mais. Nem Deméter. Não sabia o que queria. Sempre se sentira vazio, mas não sabia muito bem o que era. Agora sabia.

Era melhor se sentir vazio do que sentir saudade.

Lá se ia mais uma garrafa.


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Notas finais do capítulo

Juro que um dia vai rolar um oneshot dessa noite do Poseidon e da Atena odinfcadlkf
oi gente amo vocês pfvr não me odeiem voltem a comentar eu fico com saudade n sei se tô fazendo direitinho
tem 100+ cabeças teoricamente acompanhando a fic (pelo menos uns 50 eu sei que tem de vdd) e só 4 coments, fico sem saber se o resto também está gostando
e aos que comentam (nem que não seja em todos os capítulos, que seja de vez em quando, só pra eu saber que vocês existem): amo mto vocês, vocês me inspiram muito cada vez que comentam ♥

se não quiserem comentar podem me mandar mensagem, eu amo falar com vocês gente osianddofkvas
tá fui

PERDÃO MAS: vamos nos ver só 1 de outubro. Vamos voltar pro esquema de um capítulo a cada dois meses porque né, voltei das férias e got nothing ready, então vou tentar com muito carinho tirar um tempo do meu estudo pra deixar um caps prontinho.
E MAIS UM PERDÃO: provavelmente os capítulos vão ser menores agora mas é porque vamos pra uma outra fase da fic né, pfvr entendam.

Amo todos vocês, beijão ♥



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