In Love With Her escrita por naty


Capítulo 42
Correndo atrás do prejuízo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/247475/chapter/42

EDUARDA

Ju-Julia? – repeti, ainda sem saber como agir

Sim, acho que a Manu deve ter falado de mim, assim como eu ouvi um monte sobre você

O que aconteceu? A Manuela tá bem? Aconteceu alguma coisa com ela? – desandei a perguntar sem dar tempo para que ela respondesse, meus amigos já me encaravam com preocupação, querendo saber o que acontecia.

Hey, calma! A Manu tá bem, fica tranquila, não aconteceu nada… ainda – ela respondeu com a maior calma do mundo

Como assim ainda? Tem alguma coisa para acontecer com ela?

Isso depende…

Depende de quê? Por favor, me explica o que tá acontecendo, não tô entendendo nada

Vendo a minha aflição, Rafa pegou um copo com água e me estendeu antes que eu ouvisse a resposta de Julia:

Depende de você o que pode ou não acontecer com ela, mas calma garota, você tá nervosa – riu do outro lado da linha e eu tive vontade de atravessar o celular e bater nela. Nem conhecia a garota, mas já queria dar uns tapas nela por esse suspense sobre a Manuela. Ficava dias sem receber notícias dela (tudo bem, admito que por minha culpa), e quando alguém fala algo, é uma amiga louca do Rio que vem com um papo de depender de mim o que poderia ou não acontecer com Manuela, e como se não bastasse, além de não explicar nada, ainda ficava rindo da minha cara.

Olha, você vai me falar o que tá acontecendo ou vai ficar aí rindo? – perguntei num misto de ansiedade e nervosismo.

Eu quero te fazer uma proposta, mas antes, preciso saber o quanto você gosta da minha amiga

O suficiente – respondi em um tom de poucos amigos que fez com que Ana se sentasse ao meu lado, mandando que eu bebesse da água que ainda estava intocada em minha mão.

Ouvi outra risada antes que Julia falasse:

O suficiente para sair de Belo Horizonte agora e vir pro Rio?

Pronto!

Quase morri engasgada com a surpresa da pergunta que me foi dirigida. Vendo minha dificuldade, Ana pegou o celular e colocou no viva voz e Rafa me “ajudou” com uns “tapinhas amigáveis” nas costas.

Julia? – Ana perguntou

Sim, quem fala? Cadê a Eduarda?

Aqui é a Ana, a Duda não tá em condições de falar agora, mas pode falar comigo. Aconteceu algo com a Manu? – eu apenas observava as duas conversando, sem conseguir me manifestar, acho que a minha lerdeza estava a todo vapor naquele momento e não me deixava raciocinar direito. Também pudera! A louca vem com esse papo sem pé nem cabeça e quer que eu fique bem?

Era exatamente isso que eu estava tentando explicar. Não aconteceu nada com a Manu, com exceção da tristeza pela recusa da sua amiga em vir pro Rio

Eu só estava tentando facilitar para a Manu, ir nessa viagem seria um erro. A Manuela não me quer mais – respondi devagar, tentando me certificar de que ela entendesse

Ana? Você ainda está aí? – Julia ignorou completamente o que eu disse e dirigiu-se à minha amiga loira que só era burra quando queria

Você tá no viva voz, pode falar – A loira “não-burra” respondeu

Não sei você, mas eu já estou cansada de ouvir esse tal de “ela não me quer mais”, já tá mais usado que all star

Nem me fala! – Ana concordou – Já tentei conversar, mas nada entra na cabeça dessa aqui – continuou a falar, olhando diretamente para mim

Idem com a daqui, só sabe chorar as pitangas

A Duda se trancou em casa por uma semana, sem falar com ninguém. Não sei mais o que faço com ela

Eu sei! Manda pra cá que eu resolvo – o tom divertido e ao mesmo tempo seguro de Julia me irritou a ponto de tirar o torpor que me envolvera

– Será que dá pra vocês pararem de falar de mim como se eu não estivesse aqui?

Vem pro Rio, Eduarda! Tudo que a Manuela quer e precisa, é de você aqui com ela

Discordo – respondi

Tudo bem, você é que sabe…

O que você quer dizer com isso? – perguntei desconfiada

Nada, é só que… Se você não quer, tem quem queira… - fez uma pausa como se tomasse coragem para falar – Creio que você já tenha ouvido falar em uma tal de… Natalia…? – sua voz soou como algo entre a dúvida e a ironia, e mesmo sabendo que o tom usado era proposital e calculado, não pude me impedir de ficar abalada com o que ela falou. Emudeci novamente, dando o silêncio como resposta.

Natalia era um fantasma que ainda assombrava, e muito, o passado de Manuela. Tudo de ruim que pôde, ela fez contra a minha pequena, e mesmo sem conhecê-la, nutria um sentimento nada ameno para com ela. Natalia não valia nada, e saber que ela queria algo com a Manuela me desestruturou completamente.

Saber que ela talvez estava tendo algo com a Isa era uma coisa, pois, por mais que doesse admitir, eu sabia que ela era uma pessoa direita, que poderia fazer bem para a Manu; Agora, saber que talvez ela se rendesse ao veneno da cobra era outra coisa completamente diferente.

Como se entendesse o meu silêncio, Julia continuou a falar, derramando uma dúzia de informações que eu com toda a certeza, não gostaria de saber:

Amanhã é o churrasco de aniversário da Bia, uma grande amiga nossa e ela já convocou a todos, inclusive a Manu. O problema é que, sem sombra de dúvida, a Natalia estará nesse churrasco. Por termos alguns amigos em comum, é muito difícil irmos a uma festa que ela não esteja presente, destilando o seu veneno. E segundo minhas fontes, ela já sabe que a Manuela tá no Rio e está louca para ter um “remember” com a ex. O que eu não sei, é a se a Manu consegue resistir às investidas dela e me preocupa o resultado disso na vida da minha amiga... – Julia continuou falando, mas me perdeu depois dessas duas últimas frases, elas ficaram martelando na minha mente e eram tudo que eu conseguia ouvir.

Olhei para os meus amigos, que não demonstravam emoção alguma, pareciam querer não se meter no assunto, só então me dei conta que o meu celular não estava mais no viva voz e que Ana falava animadamente com Julia, elas pareciam combinar algo:

É, eu sei, são duas teimosas mesmo… Sim, claro, tenho certeza sim… Pode deixar comigo, cuida dessa daí, que com a daqui eu me entendo… Não, ela vai te ligar quando chegar aí… O prazer foi todo meu… Absoluta, vai dar tudo certo, beijos.

Assim que desligou, Ana me olhou com aquela cara típica de quem tá aprontando, mas quando falou, foi para Rafael:

– Me empresta seu notebook?

– Claro, vou pegar para você – o loiro respondeu, já saindo da sala, em direção à biblioteca e voltando em seguida com o computador nas mãos e entregando a Ana.

Ela se sentou do meu lado no sofá, e como o notebook já estava ligado, apenas abriu o navegador e começou uma pesquisa que de início eu não entendi, mas logo a compreensão bateu:

– Ana Maria, nem pense nisso, eu não vou!

– Ah, não vai? É mesmo? – perguntou cinicamente – E vai deixar o seu amor nas mãos da ex diabólica? – eu estava tão lerda que me surpreendi quando ela não reclamou do uso do seu nome composto

– Eu tenho certeza que a Julia é perfeitamente capaz de contornar a situação, se preciso

– Mas a Manuela precisa de você! Vai deixar ela sozinha? Tem certeza disso Eduarda? – Lucas interveio

– Não… Não posso…- declarei por fim, lembrando de algo que havia dito no maldito dia em que ela me viu beijando a Márcia.

Nós tínhamos acabado de fazer amor e eu tinha pedido perdão a ela pelo beijo. Manu não me perdoou naquela noite, mas pediu que eu ficasse com ela pois seus pais tinham viajado e ela estava sozinha em casa:

“– Não vai, fica comigo essa noite – pediu baixinho

Mas, e seus pais?

Viajaram… eu não quero dormir sozinha, fica aqui por favor

Claro que fico, meu bem – falei, voltando para junto dela e dando-lhe um beijo na testa – Não vou te deixar sozinha, nunca! ”

Foi aquela lembrança que me fez decidir que iria sim para o Rio, e se possível, reconquistaria a Manuela.

Olhei para Ana e não precisei dizer mais nada, ela me conhecia o suficiente para saber. Rapidamente, voltou a olhar no computador os horários de saídas de ônibus de BH para o Rio:

– Duda, você tem duas horas até a saída do próximo, mas eu sei que não vai levar nem metade disso porque teve a brilhante ideia de não desfazer as malas – e a Rafael – Consegue uma passagem pra ela?

– Cla-claro – o loiro falou já pegando o celular e indo em direção à área externa da casa enquanto ligava para alguém.

Rafa retornou alguns minutos depois com um sorriso de satisfação no rosto:

– Prontinho, você só tem que apresentar sua carteira de identidade na hora que entrar no ônibus, ele vai sair daqui às 16h00min e deve chegar no Rio por volta de 22h40min

– Ok, mas para quem eu vou pagar a passagem? – perguntei, confusa

– Para ninguém – Rafa respondeu simplesmente

– Rafael, nem pensa nisso, eu não vou deixar você pagar a minha passagem! – protestei

– Mas eu não vou pagar – riu – Meu pai é sócio da empresa

– De quem seu pai não é sócio Rafa? – Ana implicou

– Ele é um homem de negócios, o que eu posso fazer? – falou fingindo indiferença

Eu apenas balancei a cabeça em discordância, sabendo que não adiantaria de nada continuar protestando, Rafael e Ana separados já eram fogo, unidos então…

– Então é o seguinte – Matheus se manifestou pela primeira vez – Te levamos em casa para você arrumar tudo e de lá nós vamos para a rodoviária – simplificou tudo e todos concordamos.

Ana havia combinado com Julia que eu ligaria para ela assim que chegasse para que ela fosse me pegar na rodoviária de lá.

Quanto ao tio Jorge, eu liguei para ele, explicando que estava indo para o Rio e agradecendo novamente pelo que ele tinha feito por mim na noite anterior.

Ouvi a bronca inteira sem reclamar pois sabia que era tudo preocupação comigo e me surpreendi quando ele falou:

– Já que eu não posso fazer nada para impedir a sua ida, ao menos faça tudo certo com a Manuela, ok?

– Como é? – quase engasguei novamente, mas dessa vez sem tomar água

– Você acha mesmo que me engana Duda? Pensa que eu nunca reparei em vocês duas nas vezes em que as vi juntas? – fiquei sem fala e ele despediu-se, me mandando ter juízo e desejando boa sorte.

Foi recolhendo o meu queixo do chão que desliguei a ligação e olhei para Ana, que deu de ombros:

– Eu não tenho nada com isso, ele descobriu sozinho!

***

– Duda, eu só quero que você volte aqui carregando a Manu contigo, entendeu? – Lucas falou ao me abraçar – Se vocês não fizerem as pazes no Rio e voltarem a namorar, não precisa nem aparecer aqui em BH, tudo bem?

Sorri para ele e balancei a cabeça em concordância.

– Vai lá pegar a sua garota! – Math falou me abraçando também

– E deixa de ser cabeça dura – foi a vez de Rafa

– E teimosa – Ana completou

– Mostra pra Manu que é ela que você quer – Rafa novamente

– E que você é o que ela quer – Ana frisou

– E não faça, nem fale, nenhuma merda! – completaram juntos e me abraçaram um de cada lado

– Credo, vocês parecem duas gêmeas loiras e sinistras! – falei, fazendo com que eles me fuzilassem com o olhar

– Cala a boca, Eduarda! – responderam juntos novamente, o que só dava força à minha teoria

– Tá bom, mãe! Deixa comigo, pai! – respondi, sorrindo com a preocupação deles – Obrigada mesmo! – agradeci com toda a sinceridade antes de subir no ônibus que me levaria para o meu amor e fui à procura da minha poltrona.

Eu tinha esquecido qualquer resquício da determinação que tinha em deixá-la em paz para seguir com sua vida. A ligação de Julia me fez ver que eu deveria continuar lutando por Manuela, e o primeiro passo, seria não deixá-la cair nas garras da Natalia.

Se voltássemos, teria que ser uma decisão dela, mas eu daria o meu melhor para que assim fosse.

Esse foi o meu pensamento durante toda a viagem.

Passei a maior parte do tempo acordada, olhando para a estrada, onde só se podia observar a vegetação passando dos dois lados. Devo ter adormecido faltando cerca de umas duas horas para chegar ao Rio.

Quando dei por mim, o ônibus já tinha parado no Terminal Rodoviário. As pessoas já se levantavam para pegar suas coisas e se encaminhavam para o lado de fora do ônibus, onde pegaríamos as nossas bagagens.

Assim que percebi onde estava, uma sensação de ansiedade e expectativa tomou conta de mim. Era algo bom, por saber que logo veria Manuela, mas, por outro lado, me causava a sensação de estranheza, eu não sabia como ela reagiria ao me ver.

Saí de Belo Horizonte com a intenção de não deixar Natalia mexer com o psicológico de Manuela, mesmo isso me causando uma pontinha de dor por saber que a ex ainda poderia ter esse poder sobre ela. E a quem eu queria enganar? Não era segredo que eu tentaria reconquistá-la mais uma última vez.

Talvez eu tivesse mais problemas com isso do que gostaria, talvez ela estivesse mesmo com a tal Isabella e nem a Natalia poderia afetá-la. Mas, ao contrário do que eu afirmei a mim mesma ao me recusar a ir para o Rio com Manuela e dona Marina – e o que eu afirmei para os outros durante a semana que passou depois disso – eu não queria deixar a Manu em paz para seguir em frente com outra.

Tentei não deixar o meu egoísmo falar mais alto, e consegui da primeira vez. Mas agora, eu sabia que não conseguiria me segurar para não tentar nada com ela. Iria com calma, e se ela me dissesse outro não, eu pegaria as minhas coisas e voltaria para BH, mas, ao mínimo sinal de indecisão dela, eu insistiria.

Assim que peguei minha mala e agradeci ao motorista do ônibus pela ajuda, peguei meu celular, procurando o número da Júlia, enquanto andava pelo terminal. Quando finalmente encontrei o número e iniciaria a chamada, alguém tocou meu ombro:

– Você é a Duda? – uma garota perguntou e eu afirmei, ainda meio confusa até que a compreensão me atingiu

– Julia? – ela me respondeu com um sorriso e estendeu a mão para mim

– Em carne e osso – segurei sua mão meio sem jeito

– Eu já ia te ligar… Como sabia que eu já estava aqui? – perguntei, e antes que ela pudesse responder, a resposta veio clara na minha cabeça, quem mais seria?

– Ana! – dissemos juntas e ela riu concordando

– Bem, vamos indo? – acenei em concordância e caminhamos lado a lado até onde ela tinha estacionado.

Julia acionou o alarme, destravando o carro e pegando minha mala para colocar no porta-malas.

Logo já estávamos a caminho de sua casa, onde eu passaria a noite. De lá, iríamos direto para o tal churrasco da amiga dela e da Manu. No caminho, Julia mantinha uma postura gentil e amigável, me mostrando alguns lugares e falando seus nomes, confesso que não prestei muita atenção, todos os meus pensamentos estavam voltados para o momento em que eu encontraria Manuela.

Será que ela estava nos esperando na casa da Julia? Como será que ela reagiu quando a Julia contou da minha vinda ao Rio? Será que ela ficou brava por eu ter vindo?

Não tive coragem de perguntar, mas mantive as esperanças.

– Alô! Terra para Eduarda? – olhei para Julia, que me encarava com uma expressão divertida

– Desculpa, eu estava distraída

– Eu percebi – riu – Já chegamos – declarou antes de descer do carro

– Mas já? – perguntei, saindo e parando ao seu lado

– Você viajou mesmo hein garota? Vem, vamos entrar – e saiu andando em direção à casa a nossa frente.

Tirou a chave do bolso, destrancou o portão e me deu passagem. Passei pelo portão e esperei que ela tomasse a frente, as luzes estavam acesas e eu não sabia o que encontraria lá dentro.

Não sei se senti alívio ou decepção por encontrar somente a mãe de Julia no interior da casa. Helô, (sem o “dona”, ela enfatizava) como gostava de ser chamada, era a mãe mais… Mais… diferente, excêntrica e incrível que eu já conheci na vida. Ela mesma se definia como uma louca intratável e incurável. Uma pessoa extremamente divertida, bondosa e compreensiva, e isso eu pude perceber nos primeiros dois minutos de uma animada conversa que iniciamos até Júlia nos interromper:

– Mãe, a Eduarda deve estar cansada da viagem e com fome. Depois vocês conversam sobre o seu estranho modo de viver, se ela estiver interessada nesse seu papo pra boi dormir

– Imagina Júlia! A conversa está ótima, eu poderia fica a noite inteira falando com a sua mãe – falei com sinceridade

– Ah, disse bem! Poderia! Mas não vai, agora você vai tomar um banho, comer algo e cair na cama. Não quero recolher a sua dignidade do chão, amanhã quando a Manuela te ver toda acabada por não ter descansado

– Oh, minha filha! Ela tem razão, você deve descansar para repor as energias e ficar com uma vibe positiva para reconquistar a sua namorada

Corri o olhar entre as duas, tentando entender o que eu estava perdendo ali. Com certeza estava faltando alguma informação.

Percebendo meu olhar especulativo, Júlia logo tratou de se explicar:

– A Manu passava mais tempo aqui do que na própria casa, desde que ela se descobriu, minha mãe sempre a apoiou, assim como fez comigo. Portanto, a sua história com a Manuela não é segredo nenhum pra dona Helô aqui, né mãe? – falou, sorrindo com carinho para a senhora que devia ter mais ou menos a mesma idade que a minha mãe

– Não se preocupe Duda, prometo que nessa casa, ninguém vai te olhar atravessado!

Eu apenas sorri, agradecida não só pela acolhida delas, mas também pela força que estavam me dando para tentar reconquistar minha namorada.

– Vem, Duda, você vai dormir no meu quarto, mas não se preocupe, eu não mordo… Só quando pedem – Júlia debochou

– Minha filha, olha os modos! Assim a menina pensa que você é uma pervertida e que seus pais não te deram educação – dona Helô falou séria – Não te ensinei nada não garota? Essas coisas a gente guarda para falar entre quatro paredes! – emendou com uma expressão tão debochada quanto a da filha.

Deixei minhas coisas no quarto de Júlia e segui para o banho, assim como ela me orientou, e logo eu já estava vestida com um short e uma camiseta de dormir e me juntei a elas para comermos algo.

Foi decidido que uma pizza seria a melhor opção para a noite bastante quente no Rio de Janeiro. Eu estava me sentindo bem à vontade, o que era, no mínimo incomum para mim, levando em consideração que eu tinha acabado de conhecer aquelas duas. Em pouco tempo, eu já estava jogada no sofá enquanto ria das ideias mirabolantes de Helô para fazer a Manuela voltar para mim.

Conversa vai, conversa vem, Júlia me contou que a Manu não fazia ideia que eu estava no Rio. Saber disso fez meu estômago parecer cheio de gelo, que ia se derretendo aos poucos. Eu não fazia ideia de qual seria a reação de manu ao me ver chegar com a amiga dela na festa do outro dia. Talvez ela ficasse feliz, talvez não. Talvez ela me beijasse, ou eu poderia ganhar uns belos tapas, e essa possibilidade em particular, não me animava nem um pouco. Manuela podia ser pequena, mas tinha uma mão bem pesadinha para o meu gosto.

Parando para pensar, eu percebi que fui uma mula de ter perdido a chance de ir para o Rio com a Manuela, para só depois ir até lá atrás dela. Minha cabeça era algo a ser estudado! Juro que nem eu me entendia.

Não demorei muito para ir dormir, afinal, por mais que tentasse negar, eu estava bastante cansada da viagem. Passar o dia dentro de um ônibus não é das melhores sensações da vida, mas eu faria quantas vezes fosse preciso para ter a Manu de volta.

Júlia improvisou uma cama no chão para mim:

– Olha, não me leve a mal, não vejo problema algum em compartilhar a cama com você. Mas a Manuela me mataria se soubesse que eu dormi abraçadinha com a garota dela – falou séria, explicando o motivo de arrumar a cama no chão

– Não se preocupe comigo, esse colchão é bem confortável – falei, já me deitando e jogando apenas um lençol sobre o corpo, o calor no Rio estava demais para mim

Acho que não demorei nem 5 minutos para cair no sono depois de ter dado boa noite a Júlia e virar para o outro lado do quarto. A última coisa de que tenho consciência é de ter observado uma prateleira com algumas bonecas Barbie bem estranhas.

No dia seguinte, acordei com a Júlia me chamando, ou melhor, berrando meu nome.

Nota mental: avisar a Manu que essa garota tem sérios problemas!

Meio a contragosto, abri os olhos e encarei a garota com o corpo bronzeado que estava parada à minha frente, com uma cara divertida.

– Você ronca! – zombou

– Não ronco não – protestei, me sentando no colchão

– Sim, você ronca – falou rindo

– Que horas são? – mudei de assunto deliberadamente, pois sabia que não roncava.

“Quer dizer, se eu nunca me ouvi roncando, significa que não ronco não é?”- me perguntei e em seguida dei de ombros mentalmente, o assunto era irrelevante.

– Já passa das onze – Júlia me informou

– Nossa! Eu dormi tanto assim?

– É, e roncou a maior parte do tempo – insistiu na coisa do ronco e eu revirei os olhos – Vamos, levanta logo dessa cama, você tem que se arrumar porque uma baixinha impaciente já ligou umas vinte vezes desde a hora que eu acordei – foi só falar em Manuela que eu me levantei na hora, tentando amenizar a situação do meu cabelo com as mãos.

– O que a Manu disse?

– Não sei – Júlia estava distraída, digitando algo em seu celular

– Como não sabe? Você acabou de dizer que ela ligou

– Sim, e eu não atendi – deu de ombros e me olhou dos pés à cabeça, como se eu fosse uma boneca que ela vestiria e eu não gostei nem um pouquinho desse olhar...

… E estava certa. Júlia me tratou como uma criança enquanto revirou minha mala atrás de algo para eu vestir. Tudo isso só porque eu escolhi uma camiseta e uma calça jeans para vestir. Sabe aquela expressão “se olhar matasse”? Me senti exatamente assim quando Júlia viu minhas roupas.

Louca. Esse foi o adjetivo mais leva que ela usou antes de começar sua busca pela roupa perfeita.

– Você trouxe biquíni, né?- Perguntou

– Trouxe

– Ótimo! Só espero que não sejam aquelas coisas que parecem ter 50 metros de tecido. Você veio para seduzir e conquistar, não para ganhar um prêmio por ser puritana. Churrasco à beira da piscina e calça jeans… - resmungou a última frase

No final, acabei vestida só com um microshorts jeans, um chinelo Havaianas e uma camiseta branca por cima do meu biquíni vermelho, e para completar o visual, óculos Rayban com armação também vermelha. Júlia também usava algo no mesmo estilo que eu.

Fui orientada a usar bastante protetor solar com as seguintes palavras de Júlia:

– Pode “besuntar” protetor nessa pele linda – ai que inveja – Você não vai querer fazer sexo toda ardendo de sol, vai por mim, não é nada agradável – falou calmamente, com quem comenta sobre o tempo.

Senti meu rosto queimar com a vergonha, não gostava nem um pouco de falar sobre esse assunto com as pessoas. Nem mesmo com a Ana eu conversava direito sobre isso, que dirá com uma garota louca que tinha acabado de conhecer.

Dei logo um jeito de mudar de assunto, mas claro que segui seu conselho. Não que eu tivesse alguma intenção de fazer sexo, mas ficar queimada de sol também não estava em meus planos.

****

Chegamos à casa da tal Bia passava de uma da tarde. Da rua já dava para perceber o quanto a festa estava lotada, havia carros parados por toda a extensão do quarteirão. Assim que saímos do carro, pude ouvir a música alta que vinha da casa enorme.

Eu estava uma pilha de nervos pela iminência de encontrar Manuela. Tentava prever a reação dela ao me ver ali, mas não conseguia imaginar uma recepção calorosa de forma alguma. E para ajudar ainda mais, eu não fazia ideia do que dizer a ela.

Ao ver que eu permanecia parada, olhando para o nada na frente da casa enquanto ela já estava do lado de dentro do portão, Júlia voltou e me puxou pela mão, me levando junto com ela.

A música estava alta e a festa lotada, como eu já tinha previsto. Várias pessoas ao redor de uma piscina enorme e bem convidativa, alguns já aproveitavam a água fria para aplacar o calor que estava fazendo. Assim que reparei nas pessoas, percebi que a Júlia tinha me prestado um enorme favor ao “me vestir”, todos estavam em trajes semelhantes aos nossos.

Enquanto Júlia me apresentava a diversas pessoas das quais não lembro nem o nome, eu escaneava o ambiente atrás de certa baixinha, mas não a encontrei num primeiro momento, o que só aumentava o meu nervosismo. Júlia nos guiou para uma mesa onde haviam dois rapazes morenos, uma garota ruiva acompanhada de um bombadão de academia e uma outra garota que conversava com eles.

– Ô, cambada! A gostosa chegou! – Júlia brincou, chamando a atenção de todos, que sorriram em nossa direção.

– Gostosa mesmo hein, Julinha – o que parecia o mais velho dos garotos falou

– Mas não é pro teu bico! – a ruiva falou, antes que Júlia pudesse responder e logo seus olhos caíram sobre mim de forma interrogativa. Só então notei que a amiga de Manu ainda segurava minha mão e dei um jeito de me soltar.

– Foi mal, Juninho, mas tenho que concordar com a Alice: da fruta que você gosta… Ah, deixa pra lá – fez uma cara de cafajeste, dando a entender o que ela queria dizer e o garoto riu, também parando seu olhar sobre mim, fazendo Júlia completar – Ah galera, essa aqui é a Duda. Duda, esses são Caio e Juninho – os dois garotos morenos acenaram – Aquela ali é a Jack – apontou para a garota que estava ao lado dos meninos e voltou-se para o casal – Essa é Alice e o...

– Pablo – o rapaz bombado que estava com a ruiva que eu agora sabia se chamar Alice respondeu

Cumprimentei a todos de forma educada e contida, mas continuei olhando à minha volta, procurando Manuela.

– Quem é essa? - eu ouvi Alice direcionar a pergunta a Júlia, sem se importar muito se eu estava logo ao lado delas. Ela parecia uma namorada com ciúme, o que me deixou confusa pois o tal Pablo, claramente estava ali como seu acompanhante.

– Como assim que é essa? Vai me dizer agora que nunca ouviu falar na Duda? - Júlia falou alto, sua expressão era divertida

– Não! Você não fez isso, Júlia! – Jack exclamou do outro lado da mesa

– É o que eu estou pensando? – o que se chamava Caio perguntou

– Será que alguém aqui pode me dizer onde a Manuela está? - Júlia ignorou os amigos, confirmando as suspeitas deles

– Júlia, você é o cara! - Juninho falou, todo sorrisos, e virou-se para mim – É um prazer conhecer você, Duda

– Igualmente – respondi

Estávamos numa área um pouco afastada da piscina, mas que nos dava uma perfeita visão do ambiente, e foi então que eu a vi. Manu parecia estar mais linda que nunca, com os cabelos presos em um rabo de cavalo e usando apenas um vestidinho florido enquanto conversava com uma garota que me incomodou assim que bati os olhos nela.

Elas estavam perto da churrasqueira e pareciam ter uma conversa não muito agradável. Nem precisei olhar para Júlia para ter a confirmação:

– Vai lá! – falou, incentivando

MANUELA

– Vamos lá, Manu… Em nome dos velhos tempos – Natalia deu um passo à frente, tentando investir pela milésima vez naquele dia – Qual é gata? Eu sei que você também quer... Admite que sente falta dos meus beijos – tentou segurar minha cintura, mas eu me desvencilhei com raiva

– Eu já disse que a única coisa que eu sinto em relação a você é nojo, sai de perto de mim, Natalia!

– Porque? Minha presença te incomoda? Eu ainda mexo com você não é?

Eu já estava prestes a responder quando senti um braço passando pela minha cintura, no mesmo lugar onde Natalia tentara colocar o seu.

Um arrepio tomou conta do meu corpo quando ouvi aquela voz falando próxima ao meu ouvido, porém, alto o suficiente para que a proximidade de Natalia permitisse que ela ouvisse perfeitamente:

– Desculpa a demora, amor! – aquela voz era inconfundível, assim como o cheiro único que tomou conta de minhas narinas e as reações que a proximidade daquele corpo colado às minhas costas provocou em mim. Não precisava me virar para saber que era Eduarda. Mas não podia acreditar que ela estava ali.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!