No começo, eu não tinha feito nenhum amigo na escola, então eu sempre chegava, sentava em uma cadeira no canto da sala, e desenhava no meu caderno esperando o intervalo chegar. O sinal tocava, eu pegava meu lanche e sempre ia sentar na quadra ao ar livre.

Eu odiava o sol, mas pelo menos lá eu ficava em paz, sem receber nenhum olhar estranho pela forma como eu me vestia ou falava.

Para Harry eu era só a menina que pegava carona com ele. Nada mais. Assim que entrávamos na escola, nós nos separávamos e ele ia andar com os amigos dele. Depois, na hora da saída, eu esperava por ele do lado do carro.

Com o passar do tempo, os amigos de Harry passaram a me dar ‘oi’ até que dois deles tinham se tornado meus únicos amigos em Nova York. Não, Harry não era meu amigo. Ele era um ser que atrapalhava a minha vida constantemente com piadinhas ridículas e provocações que sempre acabavam em briga.

***

A minha cama estava cheia de pacotes de salgadinhos vazios e outras porcarias, e eu estava em algum lugar no meio delas mexendo no computador. Eu conseguia ouvir a voz de Harry e de alguns dos amigos dele na sala jogando vídeo game.

Meu estômago roncou me lembrando que eu não tinha comido nada por no mínimo umas sete horas. Levantei da cama e me olhei no espelho. Eu não estava com roupas muito apresentáveis, estava de pijama, que na verdade era uma blusa branca, colada, de alcinha, e um short curto, preto. E meu rosto também não estava lá essas coisas... eu parecia mais algum membro perdido e loiro da família Adam's, mas foda-se.

Para chegar à cozinha, onde tinha o telefone, eu tinha que passar pela sala, ou seja, passar pela manada de ogros (se é que ogros andam em manadas). Passei pelos garotos sem me importar em estar atrapalhando o jogo. Ouvi um assobio baixo.

– Que saúde ein Taylor... – Corei violentamente, mas consegui dizer.

– Cala a boca Matt. – Matt era um dos amigos de Harry que virou meu amigo. Ele era assim, cara de pau, meio safado, quando se conhecia melhor, você descobria que na verdade ele é exatamente um cara de pau, e safado. Mas tinha uma coisa que eu gostava em Matt (essa era nova pra mim, gostar de alguma coisa em alguém) ele era sincero. Não tinha meias palavras quando se conversava com ele. E o melhor de tudo, era que Harry ficava extremamente incomodado com a minha amizade com ele. Sempre que eu estava conversando com Matt, Harry chegava e queria saber qual era o assunto da conversa.

Eu já até pensei que fosse ciúmes, por Matt ser meio safado e às vezes dar em cima de mim, por mais que de brincadeira. Mas não podia ser, nós nos odiávamos, certo? Fui para a cozinha pedir a comida, mas consegui ouvir uma conversa aleatória entre os garotos na sala.

– Cara... eu não sei como você consegue se segurar com essa garota em casa. – algum garoto que eu não conhecia, falou.

– Como assim? – Harry perguntou confuso. Retardado. Até eu tinha entendido.

– Cara, você viu o que ela tava vestindo? – outro garoto falou.

– Hm... Não. – Harry respondeu olhando de reflexo para a cozinha. Consegui colocar o telefone no ouvido e fingir estar ocupada pedindo a comida enquanto ele olhava.

– Você é gay. Só pode ser.

– Cala a boca e continua a jogar Henry. – revirei os olhos e pedi a minha comida.

– Hey, Tay, vem jogar com a gente! – Zack, o outro amigo de Harry que virou meu amigo, disse enquanto eu passava para voltar para o meu quarto.

Zack era diferente de Matt. Era lindo, assim como Matt, mas era muito fofo. Fofo até demais. Ele era mais do tipo encontrar a garota perfeita e fazer dela a pessoa mais feliz do mundo. Eu sei, meio estranho pra um garoto.

Vivia se decepcionando nos namoros, as garotas só queriam ficar com ele, por ele ser bonito e participar do time de futebol americano da escola.

– Que? – eu perguntei me virando.

– É, vem Tay. Aposto que você não está fazendo nada lá no seu quarto. – Matt disse.

– Eu aposto que o que eu estou fazendo no meu quarto é bem mais interessante do que ganhar de um monte de idiotas no vídeo game. – Harry pausou o jogo e me encarou.

– Como é que é?

– É isso mesmo, Harry Evans. Eu consigo te ganhar nesse jogo ridículo com as mãos nas costas.

– Você não sabe o que você tá falando. - Ele disse rindo. – Eu. Sou. O. Melhor. Nesse. Jogo.

– Mas ainda não jogou comigo.

– Anda logo, Hill. Pelo visto, você ama perder. – peguei o controle da mão de um dos meninos.

– Cuidado pra não quebrar a unha. - Um garoto que eu também não conhecia falou com cara de deboche.

– Se você continuar a me tratar assim, acho que não é a minha unha que vai ficar quebrada. Sua mãe quer ter netos. Então é melhor você calar a boca. - Ouvi um 'uiiii' e revirei os olhos.

– Cara, eu avisei pra não mexer com ela. - ouvi Matt sussurrando pro grandalhão.

E Harry recomeçou o jogo.

Como eu disse, eu ganhei de Harry. Três vezes seguidas.

– Cara, ela te humilhou. – Matt disse.

– Cala a boca Matt.

– Não, pode continuar Matt. Ele pediu pra ser zoado. Eu avisei, mas ele quis bancar o fodão. Haha. – nesse momento o celular de Harry tocou. Ele atendeu e alguns minutos depois, desligou dizendo.

– Cara, que merda. A Sophie quer sair pra jantar, pra comemorar nossa primeira semana depois do término. - ele disse a segunda parte confuso. - Mas quem vai jantar pra comemorar uma semana de um namoro que já tem dois anos?

Dois anos? Eu não sabia dessa. Lembram da Sophie? A menina que foi embora quando me viu na ex cama do Harry? Pois é, ele me fez ter uma “conversinha” com ela, e eu tive que explicar que na verdade, eu era filha da amiga da mãe dele, e que só estava passando um tempo na casa dele. Ela foi estúpida o suficiente pra dar mais uma chance pro idiota.

– Cara, por que você voltou com aquela garota? Ela é nojenta. Eu preferia você com a Taylor. – Zack disse de forma super normal.

– Zack meu amor, eu prefiro você com um olho roxo. – eu disse de forma doce fazendo todos rirem.

Uma hora depois, só eu e Harry estávamos em casa. Harry estava se arrumando e eu na cozinha comendo a comida que eu tinha pedido.

– To indo lá. – Harry disse pegando a carteira e a chave.

– Foda-se.

– Nossa, educação é o seu sobrenome né? – ele disse irônico.

– Claro, depois de Sem. – eu retruquei rindo.

– Tchau Taylor Sem Educação Hill.

– Morre Evans.