Fizemos uma viagem silenciosa até o hospital. Eu estava com dor demais pra tentar puxar assunto no momento, e eu tinha certeza que Harry viu que eu não estava com muita cabeça para conversar.

Chegamos ao hospital que estava lotado. Parecia que a cidade inteira estava ali. Depois de um século de espera, o médico finalmente me atendeu.

Eu não tinha quebrado o braço, como havia pensado. Só torci com muita força. Mas o médico preferiu engessar mesmo assim. Eu estava prestes a sair do consultório, quando senti uma onda de enjoo, e como se eu tivesse perdido o chão.

Me segurei em Harry, e avistei o banheiro mais próximo. Antes que ele pudesse perguntar o que estava acontecendo eu já havia me trancado no banheiro, e a vodca da noite passada estava dando "olá" para o vaso. Para os mais lentos, eu estava vomitando meus rins.

Eu podia ouvir Harry gritando e batendo na porta para que eu a abrisse, mas parecia distante demais. A voz dele não passava de um sussurro vindo de quilômetros de distância, e as batidas na porta eram tão leves que daria no mesmo se ele estivesse fazendo carinho.

Depois de me assegurar de que eu estava bem, abri a porta e vi Harry, que estava com uma expressão preocupada.

– Taylor, o que foi isso? - sua voz ainda parecia distante, e eu não conseguia vê-lo muito bem.

– Ah... acho que... foi a bebida. - foi tudo o que eu consegui dizer antes que eu mergulhasse no escuro.

Não fiquei surpresa quando acordei em cima de uma maca em um quarto com paredes brancas e vários aparelhos ligados à mim. Mas fiquei surpresa quando vi a pessoa que estava deitava no pequeno sofá verde claro que tinha ali.

– Taylor? - Harry disse com a voz rouca. Parecia ter acabado de acordar. Quando percebeu que eu havia acordado, ele foi até a minha cama e começou a jorrar as palavras rápido demais para eu entender qualquer coisa. - Que merda você fez na noite passada? O que aconteceu pra vocês estar assim? Você queria morrer? Ou me matar? Como você ficou tão fraca? Hoje de manhã você estava bem!

Deixei que Harry terminasse seu discurso sobre a minha falta de responsabilidade e preocupação dele. Depois do que me pareceu um século, finalmente ele se calou, e meu deu a oportunidade de falar. Eu poderia ter falado qualquer coisa. Brigado com ele, xingado, agradecido, me justificado ou me desculpado... mas de todas as palavras no mundo, as que eu escolhi usar justamente naquele momento foram:

– Eu estou com fome. - minha voz estava grossa e áspera pela falta de uso, mas isso não impediu de surgir um sorriso nos lábios de Harry. Ele foi até a mesinha e pegou um pacote, o trazendo até mim.

– O médico disse que você provavelmente estaria faminta quando acordasse.

Dentro do pacote tinha uma lata de Coca-Cola, um sanduíche natural, pro qual eu fiz uma careta, e vários pacotinhos de M&M. Sorri como uma criança que acaba de ganhar um doce, e comecei a devorar o sanduíche.

Eu nem ofereci um pedaço à ele. Mas como um pedido de desculpa, dei um dos meus pacotinhos de M&M pra ele.

– Agora você pode me explicar o que você fez pra ficar assim? - dei de ombros.

– Bebi demais ontem. - ele revirou os olhos.

– Eu devia ter imaginado.

Algumas horas mais tarde, estávamos sentados na minha maca (sim, eu dividi a minha maca com Harry), assistindo Friends, na TV que tinha ali no quarto.

– Quando eu vou poder ir embora daqui? - perguntei.

– Não sei - Harry suspirou - Por que? Está ansiosa pra voltar pra casa da Sophie? - ele perguntou com ar divertido. Fiz uma careta.

– Não. Mas também não quero ficar aqui com esses tubos dentro de mim. - apontei para o meu braço. - E estou entediada. - eu me senti uma criança mimada ao falar aquilo.

– Pensa pelo lado bom, - ele disse aproximando nossos rostos, o que não era muito difícil de fazer, já que estávamos sentados um do lado do outro, em uma maca apertada - pelo menos você está a sós comigo... - Harry aproximou mais seu rosto do meu, e eu podia sentir o roçar dos seus lábios nos meus... - e eu posso inventar algumas formas de te tirar do tédio. - ele sorriu malicioso.

A porta se abriu e em uma atitude desesperada eu empurrei Harry da maca, o fazendo cair no chão.

– Que mer... Ah, oi Matt, oi Zack.

– Ah não, que droga! Eu atrapalhei o momento de vocês! Foi mal cara. - Matt começou a rir, mas eu corei muito, e pude ouvir meus batimentos se acelerando.

– Tay, o que aconteceu com você? - eu ia me explicar, mas Harry foi mais rápido.

– Eu vou comprar algo para comer. Já volto Tay...lor. - Harry olhou pra mim e piscou. Eu entendi o que ele quis dizer. Se ele continuasse ali, com certeza Matt começaria a fazer perguntas inconvenientes.

– Ah, eu vou com você. To morrendo de fome, dude. - Zack me deu um beijo na bochecha e acrescentou - eu já volto Tay.

Harry ficou encarando Zack com um olhar do tipo "cara, você é muito tapado." e eu me limitei a prender o riso.

Depois que Harry saiu com Zack, olhei pra Matt, que estava do lado da minha maca.

– Menina, o que você aprontou? - dei a mesma desculpa que dera pra Harry.

– Bebi demais ontem à noite.

– Haha, típico de você. Vou ter que te ensinar a beber também... - Antes que eu pudesse rebater o que ele falou, outra pessoa abriu a porta do meu quarto. E dessa vez eu tive que me segurar pra não ter um infarto. Ok, eu sei que isso foi exagero.

– Ben?! O que você está fazendo aqui?

– O que você está fazendo aqui, Tay? O que aconteceu com você?

– Ah... acho que eu vou ali comer algo com o Harry. Depois eu volto Tay...

– NÃO! Quer dizer... é melhor não, lembra que a enfermeira disse que... - ótimo Taylor, e agora?

– Que? - Matt quis saber.

– Que seria bom para o seu estágio de enfermeiro que você ficasse e observasse meus batimentos cardíacos!

– É o que? Tay, devem estar te dando remédios demais... - dei um soco nos países baixos de Matt e ele se calou. - ta bom... ta bom... estágio... observação... é isso mesmo. - ele disse gemendo de dor.

Ben não estava entendendo muita coisa, e eu também não... mas eu entendia uma coisa: eu precisava tirá-lo dali antes que Harry voltasse. Fui direto ao ponto.

– Ben, eu sinto muito, mas você não pode ficar aqui.

– E por que não? - ele se aproximou da minha cama.

– Olha, eu não posso explicar agora, mas eu te ligo assim que eu sair daqui e as coisas se acalmarem, ok? Eu prometo. - fiz a primeira coisa que pensei pra tirá-lo dali. Puxei sua blusa e o beijei.

É, parabéns para mim. Acabei de ganhar o prêmio vadia do ano. Não foi um beijo. Só um selinho demorado. Mas isso foi suficiente para fazê-lo querer mais. E me fazer querer mais.

Eu sentia falta de Ben. Do seu jeito de resolver as coisas, do seu senso de humor, dos seus sorrisos... Ok, podem me crucificar.

Me afastei dele e o empurrei para que ele fosse embora. E foi o que ele fez. Assim que saiu, eu suspirei e me joguei na minha maca de olhos fechados. Até que me lembrei da presença de outra pessoa naquele ambiente.

Abri os olhos e encontrei Matt com a boca formando um perfeito 'O'.

– O que foi? Eu precisava me livrar dele!

– Você precisa se livrar de mim também? - ele perguntou levantando uma sobrancelha. Esse era o Matt que eu conhecia. Ele começou a rir e eu o acompanhei.

– Olha, seria bom se você não contasse nada do que aconteceu agora para o Harry, ok? - Matt assentiu.

– Mas Tay, qual é a sua? Eu achei que você estava naquele lance romance escondido com o Harry e tudo mais... quem é esse agora? - É Tay, qual é a sua? Perguntei pra mim mesma. Acontece que nem eu mesma sabia qual era a minha.

– Olha Matt, eu te explico tudo assim que eu sair daqui, ok? - e assim que eu conseguir explicar isso tudo pra mim mesma. - Agora o Harry deve estar prestes a chegar a qualquer momento, e não dá tempo de explicar tudo.

– Ok. Mas eu não vou esquecer isso. - assim que Matt falou isso, Harry e Zack entraram no quarto, acompanhados do médico que meu deu alta do hospital algumas horas mais tarde.

Fui para o estacionamento com Harry e me joguei no banco do carona assim que entramos no carro. Apaguei alguns minutos depois desejando estar na minha cama do meu apartamento velho e mofado em Nova York.