Eterno silêncio de alguem que te ama escrita por Miyuki Hara


Capítulo 3
Capítulo 3




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Quando acordei eram 6:08.

Ao abrir os olhos senti uma dor de cabeça horrível.
Ontem foi um dia muito cansativo, desde ter andado de avião até me ter encontrado com um rapaz mistério que teve a sua 'Vitória' comigo.

Comecei a sentir-me envergonhada.
Como é que deitei um rapaz tão bonito ao chão? Só me apetecia esconder por detrás dos cobertores da minha cama.

Olhei para o tecto e voltei a recordar-me. Do seu corpo musculado em contacto com o meu, do seu olhar divertido e pensativo... do seu sorriso descontraído que me deixara completamente bêbada....

Levantei-me num salto.

Negava-me a pensar em coisas tão perversas. Se calhar nunca mais o irei voltar a ver... Não me podia deixar iludir tão facilmente por um tipo simpático na rua. Não podia ser assim.

Peguei no meu telemóvel, que tinha deixado na mesa ao lado do despertador e verifiquei as mensagens.

O meu coração saltou quando vi que tinha uma mensagem da YG.
Ganhei coragem e abri-a. Quase berrei de nervosismo quando li o que dizia.

O dia da minha audição foi alterado para hoje as 9:15.
Nem explicava o porque, apenas dizia que tinha sido alterado...

Quase chorei de desilusão.

Ainda não tinha escolhido a musica que ia representar, muito menos a dança.

Vesti o meu fato-de-treino preferido e apertei o cabelo num rabo de cavalo.
Abri o armário e decidi escolher algo que gostasse para usar na audição.
Escolhi umas calças com padrão de tigre com um sweatshirt branco que me ficava enorme, mas que não conseguia deitar fora porque no bolso da frente estava em vermelho o sinal de perigo, o que me parecia bastante fixe.
As sapatilhas que escolhi foram umas amarelas da adidas.
Para prevenir, levei um gorro a combinar com as sapatilhas (desconfiei que conseguisse domar o meu cabelo sem o lavar).

Olhei para as horas e quase vomitei. Eram 8:46 e o edifício da YG ficava um pouco longe do hotel.

Coloquei o telemóvel no bolso, peguei no saco onde levava a roupa e sai do meu quarto sem me esquecer de fechar a porta.

Ao passar pelo balcão de atendimento, vi novamente as mulheres que estavam a falar dum cantor K-pop. Desta vez, a mais alta cantava uma musica. Por algum motivo essa musica era-me familiar, mas ignorei-a e sai do hotel, apanhando um táxi.

- Queria ir á YG enteirteinment por favor.

O homem olhou pelo retrovisor e ergueu a sobrancelha quando reparou no meu cabelo loiro.
Ele deve ter ficado a pensar que era uma sem abrigo porque passou toda a viajem até ao estúdio a olhar para mim como se a ideia de um estúdio de gravação aceitar uma sem-abrigo como eu fosse algo muito lamentável (por acaso ate é).

Quando cheguei ao meu destino, senti o meu coração a derreter. Estava na altura de enfrentar o destino. De receber um não ou um sim.
Se fosse rejeitada, não saberia o que fazer da vida. Tenho este sonho desde pequenina.

Paguei ao taxista (Que ficou surpreendido por eu ter dinheiro) e ganhei coragem para entrar.

Olhei em volta totalmente surpreendida.
A sala cheirava a produtos de limpeza, parecia um local confortável. Havia muitos sofás e musica ambiente. Até me sentiria confortável se não estivesse nervosa para a minha audição e se não corresse o risco de a Minzy me apanhar neste estado.

Respirei profundamente e aproximei-me do balcão de atendimento. Ao contrário das duas mulheres no hotel, a que estava a olhar para mim totalmente em choque não me parecia descontraída.
Era uma mulher com quarenta e poucos anos com um estilo muitíssimo profissional. Alias, nós as duas comparadas seriamos totalmente opostas.

Ela baixou o seu olhar para o computador e voltou a teclar furiosamente.

Ergui a sobrancelha totalmente desolada com a má recepção. Mas quem era eu para pedir por boas maneiras? Só uma maluca como eu para vir á YG dessa forma. ( E se a Minzy me visse?!?!).

- Hm... desculpe... - atrevi-me. - Vim aqui para audição. Sou a Stela.

A mulher parou de teclar e olhou para mim de cima a baixo totalmente chocada. Suspirou de alivio quando olhou para a mala de roupa na minha mão. Com certeza que lhe poupei de muitos gritos de terror.
Lá se foi o meu humor.

- Hun... Etto.... - Fiquei surpreendida. A mulher falava Japonês fluente e eu tinha falado em Coreano. Para não ficar mais atormentada comigo, voltei a repetir o que lhe tinha dito, mas desta vez em Japonês.

A expressão da mulher mudou completamente.
Riu-se alegremente e mostrou uma expressão mais aliviada. - Ahahaha. Eu entendi, Sr. Stela, apenas vivi muitos anos no Japão por isso é um pouco difícil esquecer os hábitos, nee? - Reparou que o tinha feito outra vez e riu-se de novo. - Ahaha. Muito bem. Vou já dizer ao Sr. Hwang Ssabu que a menina já chegou.

- Hwa-...Hwang Ssabu?! - Engoli em seco.

A mulher olhou para mim duma forma divertida. - Sim. É um excelente treinador. Ele vai avalia-la e ver se tem o essencial para entrar na YG family.

- Eu... Ele é o meu idolo... - Como é que ia conseguir dançar/cantar à sua frente? - Não vou ser capaz! Tenho medo.

A mulher olhou para mim com um olhar desaprovador. - Não tenha medo Sr. Stela. Se você dançar bem e ter uma boa voz, o Sr. Hwang Ssabu irá trata-la como uma filha. Ele é uma boa pessoa, vai ver que vai conseguir. - Antes de conseguir responder um ''Mas...'' , ela saiu do balcão e empurrou-me em direcção aos provadores femininos.

Antes de fechar a porta, virou-se para mim e sorriu amavelmente. - Esqueci-me de lhe dizer. Chamo-me Yoon Mi-rae, como aquela cantora da Jungle Entertainment. - Sorriu. - Se tudo correr bem, serei a tua gerente. Mas como sei que vai correr bem, aguardo ansiosamente para a ajudar no que poder!

Sem mais uma palavra, ela fechou a porta e deixou-me sozinha.

Senti-me um pouco mais confortável devido ao encorajamento da Yoon-sensei. Comecei a trocar de roupa sem conseguir evitar um sorriso.
Quando acabei de apertar os cordões, notei que o meu cabelo estava muito despenteado, por isso meti o gorro na cabeça e suspirei tentando evitar ficar stressada.

Mal sai do provador, vejo nada mais nada menos do que o Hwang Ssabu a olhar para mim muito sério. Retribui o olhar e ergui a cabeça, sem medo de ser criticada, por mais que pudesse magoar o meu ego.

Do nada ele sorri e mostra uma expressão divertida. Eu fico em choque total e sem reacção.

- Muito bem, vejo que tens estilo... Agora vamos ver se consegues acompanhar o mestre. - Antes que pudesse responder, ele pediu-me para o seguir. Os corredores estavam cheios de cabides com roupa e de caixas.
Demorou um pouco ate chegarmos a uma porta que dizia ''Sala de dança IV''.

Sem bater, o Hwang-Seonsaeng abre-a e sai do caminho para eu entrar.
Mas antes de ter a chance de meter um pé dentro do piso de madeira, uma música começou a dar. Eu desisti de tentar entrar e procurei a sua fonte.
Mas em vez de encontrar um radio, encontrei um rapaz.

Esse rapaz estava virado de costas, por isso não lhe conseguia ver a cara. Usava um boné e um casaco preto que combinava com umas calças demasiado justas.

Antes de perguntar ao Hwang-Seonsaeng quem ele era, encontrei finalmente o radio.

O meu coração parou por uns momentos.

Era essa a musica que o rapaz do parque tinha no telemóvel.
A musica que as mulheres do balcão do hotel tanto falavam.

Afinal não era esse rapaz que a cantava. Mas sim ele...

O meu olhar mudou-se para as suas pernas. Os seus movimentos eram como os de uma cobra, mexia-se acompanhando perfeitamente o ritmo da música.
Não precisava de olhar para os seus olhos para saber que tinha garra. Ele amava o que fazia e quando ele começou a cantar o refrão, senti o meu coração a derreter. Nunca fiquei com tanta vontade de dançar... Os seus movimentos chamavam os meus. Por mais estranho que parecesse eu queria juntar-me aquele desconhecido e dançar como ele.

Ele virou-se e finalmente consegui ver-lhe a cara. Da sua boca saíram as palavras mais tocantes que já tinha ouvido

- O inverno passou
E a primavera chegou
Nós secamos.E nossos corações
Estão cheios de saudade
Estou a cantar as minhas tristezas
Acostumado ás lágrimas azuis
Acostumados à tristeza azul

Comecei a sentir borboletas no estômago quando notei a sua expressão.
Não se via uma chama no seu olhar. Apenas um sorriso triste acompanhado por um olhar doloroso. Ele estava tão entregue a musica que nem se tinha dado conta da nossa presença.

Não aguentei mais.
Deixei o Hwang-Seonsaeng e juntei-me ao rapaz que acabava de cantar o refrão.

Antes que ele pudesse cantar a próxima parte, afastei-o com o braço e a partir desse gesto comecei a dançar, cantando a letra que me tinha ficado no ouvido por causa das recepcionistas do meu hotel:

- Eu sinto que o meu coração parou de bater.
Tu e eu, congelados, depois de uma guerra
O trauma foi cravado na minha mente.
Quando estas lágrimas secarem, vou lembrar-me do meu amor.
Não estou aflito, nem solitário
A felicidade conversa consigo mesma
Eu não posso suportar algo mais complicado
Não é grande coisa, eu não me importo
Ato inevitável,
As pessoas vem e vão...

Tentei ao máximo dançar duma forma parecida a dele, e a expressão de dor veio-me naturalmente á cara.
Porque eu conhecia esse sentimento de mágoa, e vim aqui para provar que esse sentimento era a minha força.

Ao acabar a minha parte da musica, surpreendi-me quando o rapaz se chegou ao pé de mim e começou a dançar colado a mim, cantando de novo a sua parte da musica.

Não era difícil de entender que deveria fazer o mesmo.

Os nosso movimentos encaixavam-se perfeitamente, quando ele se movia para um lado eu movia-me para o mesmo lado por puro instinto.
Era como se tivéssemos o mesmo pensamento, a mesma paixão.

Quando era para cantar o refrão, a minha voz saiu-me naturalmente e nós os dois começamos a canta-lo juntos.
As nossas vozes traziam uma melodia puramente doce. Nunca me considerei boa o suficiente para cantar, mas quando cantava com ele, era como se a minha voz derrete-se na sua e forma-se a mistura mais doce e proibida que jamais ouvi.

Era mágico.

Quando a musica estava a acabar, ele chegou-se ao pé de mim e abraçou-me com cuidado. A sensação de estar colada a ele era extremamente diferente à de estar colada ao rapaz do parque.
Era mais do que sexual.
Estar abraçada a ele, era como se tivesse encontrado o que faltava de mim.

Como se separados a coreografia estivesse incompleta.

Bastou-me dançar com ele para sentir a presença de um milhão de emoções. Uma delas era totalmente inexplicável.
Não conseguia entender o que me fazia sentir dessa forma.
As nossas vozes, sempre que se juntavam, pareciam completar algo. As nossas vozes juntas ficavam perfeitas e traziam ao meu mundo uma felicidade desconhecida que me fazia relaxar sem saber porque.

Senti lágrimas a escorrer pelo meu rosto quando finalmente notei...
Sentia-me tão conectada com este rapaz e nem o conhecia...

Ele puxou a minha cara para cima e cantou os últimos versos:

-...Estou a cantar as minhas tristezas
O amor que eu mandei embora
Junto com as nuvens flutuantes, oh oh...

Ele encostou a sua cara de tal forma na minha que apenas 3 centímetros separavam as nossas bocas.

Entrei em choque quando notei o quão certo isso me parecia.
Era isso que faltava... Essas emoções estavam definitivamente ligadas ao meu desejo de ser beijada por ele.
Conforme ele se aproximava lentamente, pensei demasiado e lembrei-me que tínhamos um espectador.

Afastei-me do rapaz e ganhei coragem para olhar para o Hwang-Seonsaeng. Ele devia estar tão zangado comigo... Era este o fim dos meus sonhos.

- Inacreditável! - gritou. Eu fiquei tão surpreendida que quase caia para trás se não fosse o rapaz a agarrar-me.
Não senti força nenhuma para o afastar porque o seu toque era confortante demais.... Olhei para a sua cara. Ele sorria docemente para mim.

O meu coração acelerou.... Ele tinha um sorriso mesmo bonito...

O Hwang-Seonsaeng tossiu para nos chamar a atenção. - Quem és tu? Quero dizer, sei quem és, mas onde é que estiveste?! És simplesmente incrível! Nunca vi ninguém tão capaz na minha vida! E a tua voz! A tua forma de dançar....

Ele mudou o seu olhar para trás de mim (para o rapaz). - E o que foi isso Taeyang? Como é te deixaste domar por uma mera iniciante?! Era suposto ser a sua audição! Ela esteve perfeitamente à tua altura. E a vossa química....

Comecei a sentir a minha cara a aquecer.

- Anda cá Solar-Ssi. - Puxou o rapaz para si, colocando um braço à volta dos seus ombros. Agarrou o seu queixo na minha direcção, obrigando-o olhar para mim. Senti borboletas no estômago quando ele me sorriu timidamente.

Rapidamente mudei o meu olhar para o chão e sorri por causa da reacção do mestre Hwang.
Ele estava completamente empolgado. Nunca esperei ver essa reacção dele. Senti uma felicidade enorme a apoderar-se de mim.

O telemóvel do mestre tocou o toque da musica das 2Ne1, o que me fez sorrir outra vez.
Ele atendeu e concordou com a pessoa que lhe falava do outro lado. Sussurrou algo ao ouvido do rapaz que olhou para ele em choque.

O Hwang-Seonsaeng virou costas para se ir embora.

- Espere! - Ele olhou para mim, rastos de humor ainda estavam presentes na sua cara. - ... Isso quer dizer que... passei??

Ele ri-se. - Bem vinda à YG Family, Stela. És uma de nós. - Ele despede-se com um sorriso torto e sai da sala com passos rápidos, deixando-me a sós com o rapaz com quem partilhei emoções estranhas.

Ora bolas....


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