Mal tranquei a porta do quarto e desci no elevador, ouvi sussurros vindo do balcão de atendimento.
Estava a preparar-me para me virar e armar um escândalo quando notei que estavam a comentar sobre um cantor K-pop.

Fiquei notavelmente surpreendida, porque as mulheres que lá estavam não tinham cara de quem iria apreciar cantores coreanos.
Elas não eram propriamente velhas, mas tinham um estilo arrojado, como se o emprego delas dependesse muito da forma de se vestir.
A mais alta usava óculos e sorria profissionalmente á colega dela que falava aos pulinhos ao comentar uma musica que tinha saído dele.

Continuei a andar e sorri.
As pessoas aqui são diferentes. Por mais profissionais que sejam, continuam a ter uma vida que vale a pena ser vivida. Também gostava de ser assim.

Coloquei os meus óculos de sol e olhei para cima.
O céu estava acinzentado, mas o clima estava bastante agradável.

Tirei o meu telemóvel do bolso e verifiquei as minhas mensagens. Quando vi que não tinha nada, coloquei os fones nos ouvidos e comecei a caminhar em direcção ao parque.

As pessoas passavam por mim e olhavam-me duma forma curiosa e interessada, como se eu fosse de facto uma pessoa interessante...
Isso deixou-me um pouco aliviada porque tinha medo que começassem com preconceitos.
As pessoas de Nova Iorque são extravagantes, mas a maior parte não o acha agradável...

Quando cheguei ao parque, fiquei completamente chocada com a beleza daquele local.
Via-se de tudo. Desde casais de mãos dadas a pessoas a praticar exercício físico.
Mas o que eu ia fazer precisava de privacidade, já que cantar e dançar era um pouco estranho de se fazer.

Olhei a minha volta e procurei um sitio com poucas pessoas.

Não haviam muitos locais escondidos, e mesmo que houvesse, estariam ocupados por casais a namorar.
Por isso decidi separar-me da concentração de pessoas no centro do parque, atravessei a ponte e encontrei um lugar vazio perfeitamente escondido atrás de umas árvores com folhagem branca.

Coloquei o volume no máximo e comecei a dançar ao som da musica ''I Don't Care'' das 2ne1. Sempre que era a vez da Minzy cantar o meu coração começava a disparar de emoção. Sempre fui muito fã dela, já que ela tem um estilo espectacular! Embora as 2ne1 sejam um grupo incrível, eu não consigo dançar da mesma forma que elas. Gosto sempre de improvisar.

Fiquei tão concentrada no refrão que nem me dei conta duma presença muito estranha.

Conforme cantava o refrão, notei pelo canto do olho um vulto a aproximar-se. Eu fingi que não dei conta e continuei a dançar e a cantar. Quando ele estava quase a tocar-me eu preguei-lhe uma rasteira e ele caiu na relva de quatro. Eu pus-me em cima dele numa forma de incapacitar os movimentos dele.

- Ok, Ok! Apanhaste-me! Não te faço mal, só estava a ver-te dançar! Cantas mesmo bem e adoro o teu estilo. Por favor, não me mates! - Fiquei surpreendida com a sua reacção.
Ressenti-me.
Se calhar fui um pouco violenta... Conforme o soltava lentamente, ele conseguiu, de alguma forma, domar-me e virou-me ao contrário, ficando em cima de mim.

- Ahahahaha, enganei-te... Mas não te faço mal, gatinha má... Tem calma e não me arranhes.. Eu valo milhões sabes... ahahaha - Ele disse isso duma forma irónica, como se não acreditasse nas suas próprias palavras.

Eu estava com os olhos cerrados... A morder o lábio com tanta força que começou a deitar sangue.

- Va lá... Olha para mim. - Soltei o meu lábio que me doía imenso e fui lentamente abrindo os olhos.

O meu coração disparou.

Em cima de mim, estava um rapaz lindíssimo!
Usava óculos que escondiam um par de olhos misteriosos e o seu cabelo estava despenteado (ups).
Ele sorria para mim como se tivesse muito divertido em assombrar-me dessa forma. Ele tinha os dentes mais brancos que alguma vez vi. Nem que eu engolisse um corretor conseguia ter os dentes mais brancos que os dele..

O meu olhar mudou para os seus braços que se encaixavam perfeitamente na minha anca. Senti o seu corpo a pesar no meu. Como eu usava uma camisola fina e ele também, conseguia sentir a sua barriga musculada, o que me deixou a delirar por completo.

Voltei aos meus sentidos. Delirar? No que raios estava eu a pensar?

Voltei a olha-lo nos olhos para ver o ver a olhar para mim pensativamente. - Vais-me soltar? - Ele voltou rapidamente aos seus sentidos e sorriu outra vez.
Levantou-se e uma parte de mim sentiu falta do seu calor corporal, mas deixei esses pensamentos para trás e rejeitei quando ele esticou a mão para me ajudar a levantar.

Ele era mais alto que eu. Usava uma camisa branca abotoada e um casaco a combinar com as suas botas e calças pretas. Tentava desesperadamente pentear o cabelo.
Os óculos dele não o faziam parecer um nerd, pelo contrario. Ele parecia ser muito fixe.Não me parece má pessoa...

Cheguei-me perto dele, pus-me de bicos dos pés e tentei dar-lhe um jeito ao cabelo.
Ele olhava para mim em choque, com certeza não espera essa atitude minha, especialmente porque à minutos atrás saltei para cima dele como uma maluca.
Deixei a minha mão escorregar pela sua cara porque fiquei curiosa em relação à sua pele. Era simplesmente perfeita.

Quando olhei par ele, ele estava a olhar para mim duma forma estranha.
Reparei tarde demais que o seu polegar estava encostado ao meu lábio.

- Estás a sangrar do lábio. - Ele passou o dedo pelo meu lábio inferior e sorriu. Senti-me um pouco desconfortável e então afastei-me um pouco.

- Desculpa por te ter feito isso, apenas fiquei assustada. - Ri-me um pouco nervosa

Ele deu a sua risada descontraída. - Não faz mal, gatinha. Foi interessante. - Senti-me a corar. - Como te chamas? Não me pareces coreana...

Eu sorri da mesma forma que ele. - Stela. A minha mãe é Japonesa. Vim de Nova York e pretendo fazer um contrato com a YG, é por isso que vim para aqui.

Ele ficou em choque durante uns segundos, mas voltou a sorrir quando notou que eu o olhava preocupada.

- Tenho certeza absoluta que vais conseguir. Tens muito talento. - Piscou-me o olho e eu senti o meu coração a disparar outra vez. - Confesso que estou um pouco ansioso para trabalhar contigo. - Sorriu para mim duma forma muito doce e antes que me atrevesse a perguntar o porque, o seu telemóvel começou a tocar.
O toque dele era dum rapaz a cantar, seria ele? As vozes pareciam-me familiares.

Ele começou a reclamar com quem estivesse a falar no telemóvel e quando terminou a chamada, olhou para mim tristemente

- Desculpa, gatinha, mas tenho que ir. Pareces ter muito talento, tenho a certeza que nos voltaremos a encontrar, já que ambos perseguimos o mesmo sonho, não é? - Passou a sua mão carinhosamente pela minha cara e virou as costas.

- Espera! Não me disseste o teu nome!

Ele vira-se para mim e sorri. - Desculpa, mas não te posso dizer o meu nome verdadeiro. - Ele olha para o chão, mas rapidamente volta a olhar-me nos olhos - ... Embora, tal como tu, tenha o meu maior atributo behind my back ahahaha. Voltaremos a encontrar-nos, Stela. Até um dia.

Desapareceu.

Caminhei de volta ao hotel, já que estava a anoitecer e não me conseguia concentrar devido ao meu encontro com aquele rapaz...
Comecei a trocar de roupa para me ir deitar e quando olho para o meu casaco finalmente consegui entender o significado das palavras dele.
O meu casaco dizia ''Musica'' em Japonês, mas quando ele me virou as costas pela ultima vez, tenho quase a certeza que nas suas costas dizia nada mais nada menos do que ''Vitória'' em inglês.

Ri-me.

Deveria ficar feliz por dizer que tenho jeito para a musica, ou ficar aborrecida por se considerar um vencedor?

Voltei a rir-me, desta vez baixinho. Encostei a minha cabeça á almofada e cobri-me até ao queixo.

- Vitory.... - Senti o 'nome' dele a sair dos meus lábios, antes de adormecer e sonhar com os seus olhos.