A casa estava cheia como poucas vezes estivera. Era o começo de uma nova era. Uma era de relativa paz, em que a família e até alguns amigos poderiam ter instantes de convivência tranquila, sem se preocupar com ataques demoníacos repentinos.

Phoebe, Paige e Piper conversavam no sótão e, embora não mencionassem, estavam envolvidas por essa ideia, pela constante ciência de que dali pra frente haveria bem menos batalhas, entremeadas por longos períodos de paz.

– Mas eu sabia, querida, que não havia razão para apressar as coisas. Uma premonição como aquela que você teve, de que sua filha viria, não tinha como falhar, Phoebe.

– Ah, Piper! Mas tantas vezes vimos o futuro de um jeito que sabemos que não acontecerá mais. Já fizemos com que tantas de minhas premonições não se realizassem, que eu tive medo que a minha precipitação...

– Ora, pare com isso! – disse Paige – Você perdeu seus poderes ativos, mas nada no universo faria uma mãe inata como você perder o direito de entregar seu amor. Não seria justo depois de tudo pelo que passamos.

– Tem razão, já perdemos demais. Mas falando em perda, como será que está Billie? – perguntou Phoebe, suspirando.

– Não sei e, francamente, quero aquela traidora longe de nossa família! – disse Piper.

– Piper, não diga isso! Ela é só uma criança, tão mais jovem do que nós quando descobrimos nossos poderes...

– Não, Phoebe! Eu não tenho mais forças para segurar o corpo de uma irmã morta nos braços. Você não tem ideia do que passei para trazê-las de volta!

– Não, querida, não tenho, mas se alguém tem é Billie. E você nos tem aqui, do seu lado. Ela não pôde salvar a irmã. Pelo contrário, acabou sendo responsável por sua morte. Um sofrimento como esse, nós só podemos imaginar o que seja.

– É, talvez você tenha razão. Mas eu ainda preciso de um tempo para digerir essa história toda!

– Concordo com vocês duas – disse Paige – Sei que ela estava perdida e confusa quando nos causou todo o mal pelo que passamos. Posso perdoá-la, mas também preciso de um tempo. Se te deixa mais tranquila, eu ainda posso senti-la e sei que ela está em segurança agora, embora esteja sofrendo muito. Se quiser, posso orbitar você até ela...

– Não tudo bem. Acho que ela precisa de tempo de luto agora. Talvez, quando se sentir pronta, ela nos procure. Talvez eu a procure antes disso. Não sei ainda.

Subitamente, um vento entrou pela janela soprando as páginas do Livro das Sombras.

– “Para chamar um Espírito” – lê Phoebe em voz alta – Vocês acham que vovó quer nos dizer alguma coisa?

– Certamente, mas o quê? Definitivamente, não estou com humor para más notícias! – diz Piper.

– Ei, talvez seja sobre o bebê. Vovó deve ter sabido sobre ele e quer te dar os parabéns – supõe Paige, tentando ser otimista.

– Sim, mas vovó não costuma precisar do feitiço para visitar-nos. Isso é estranho – constata PIper.

– Bem, só há um jeito de descobrir! - diz Phoebe ajeitando os cristais enquanto as irmãs se aproximam e lhe estendem as mãos:

“Ouça essas palavras,

Ouça meu chamado,

Espírito do outro lado.

Venha a mim que vos convoco

Cruze agora, eu vos invoco.”

Luzes brancas iluminaram os rostos das Encantadas, tornando ainda mais evidentes seus olhares surpresos.