Paixão Pós-morte escrita por RoBerTA


Capítulo 3
Seriam superpoderes extintos? Ou paranóia?


Notas iniciais do capítulo

Dedico esse capítulo para uma linda que me motivou a terminar ele ^^



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Lá estava ela. A garota do retrato.

Ela me encarava. Sua face exibia uma expressão de confusão, como se não entendesse algo.

Fiquei tentado a perguntar quem era ela, e o que fazia ali. Mil e uma respostas passaram em minha cabeça. Talvez ela tivesse vindo pegar seus pertences. Ou quem sabe, fugiu de casa. Ou...

Antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, a garota começou a se aproximar.

Enquanto se aproximava, eu percebia detalhes, que passaram despercebidos na foto.

Os cabelos, antes pareciam chegar até suas costas. Agora, iam até a pequena cintura. Usava um vestido branco, simples. Seus olhos, antes um azul tão cheio de vida, agora pareciam carregados de tristeza. Seu sorriso perfeito fora substituído por uma linha reta.

Ela parou no lado da cama, onde me encontrava deitado. Estendeu a mão em minha direção, ou melhor, em direção ao meu rosto. Fiquei sem saber o que fazer. Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, ela atravessou a mão em meu rosto.

Sim, atravessou meu rosto. A sensação era como mergulhar a cara em um balde de água gelada. Sua expressão, antes confusa, agora estava surpresa. Os grandes olhos arregalados comprovavam que ela também não compreendia a situação.

–Quem é você?

Sua voz parecia como uma brisa, suave e sedosa.

–Felipe. Chamo-me Felipe.

–E o que está fazendo na minha cama?

Havia desconfiança e um pouco de raiva em sua voz. O mais incrível, era o fato de ela parecer ter esquecido a pequena travessia dela, através de mim.

–Sua cama? É a minha cama agora. Aliás, quem é você?

Sabia que estava agindo de modo muito mal educado, mas se não fosse assim, estaria correndo e gritando, apavorado. Embora meu coração, me entregava, batendo desesperadamente.

–Manuela. E se você não cair fora, agora, eu mesma te expulso daqui, e não será nada agradável.

–Tenta.

Ergui uma sobrancelha, desafiando-a. Seus olhos se estreitaram de modo perigoso. Antes, era apenas minha cabeça que parecia mergulhada na água gelada. Agora, era por todo meu corpo, e não sentia apenas frio. Sentia também pequenos choques percorrerem todo meu corpo. E por que tudo isso? Simples. Manuela se jogou sobre mim, numa tentativa inútil de me atirar para fora da cama. Mas ao invés de eu cair, foi ela que caiu. Através de mim, literalmente. Ela atravessou meu corpo, caindo na cama. No mesmo lugar onde eu me encontrava deitado. Não aguentei mais aquela sensação, e num pulo, sai da cama caindo em cima do tapete.

A garota me olhava apavorada. Apavorada de verdade.

O quê, é você?

Não pude acreditar que as palavras saíram da minha boca. E o modo como falei, como se ela fosse uma aberração, me fez sentir um sentimento de culpa. Justo eu, de todos os outros, era quem jamais deveria falar assim com alguém.

–E-eu n-não sei.

Manuela soluçava muito enquanto gaguejava uma resposta quase silenciosa.

Coloquei a mão sobre a testa tentando encontrar uma solução para meu aparente recém-descoberto problema. Na verdade, já estava começando a acreditar que eu era o problema, levando em consideração, que não importasse o lugar, se eu estivesse lá, alguma coisa ruim acontecia. O que era totalmente injusto, levando em consideração que
eu estava aqui para tentar um recomeço. Palavras do meu pai, não minhas.

–Olha, eu não sei quem é você, nem o que está fazendo no meu quarto a essa hora da noite, e tampouco queria ter sido desagradável com você, -fiz uma pausa para ela assimilar o que eu havia dito, e com um pouco de sorte, permitir que minhas palavras a acalmassem. Doce ilusão. Ela –se possível- arregalou ainda mais os olhos- quero dizer, está na cara que alguma coisa bizarra está acontecendo aqui. Ou vai dizer que você não notou a forma como me atravessou?

Sinceramente, eu nem sei o porquê de estar conversando tão calmamente com uma garota com aparentes superpoderes atravessivos - isso existe?-, levando em consideração que provavelmente é a mesma garota que me deixou com a boca aberta no pé da escada, a mesma que escreveu o diário que eu inocentemente li. E a mesma que pintou um prego.

–Desculpe, está bem?! Eu não sei o que estou fazendo aqui, tampouco o que você está fazendo no meu quarto. Só sei que... Não me lembro.

Adoro esse novo tipo de certeza. Quero dizer, é tão bom alguém ter certeza que não se lembra, não é mesmo? Melhor do que ter certeza que não tem certeza. Sim, provavelmente é o sono que está provocando todas essas reações estranhas em mim. Ou os hormônios. Vai sabe.

–Ok, me deixa ver se entendi. Tem uma garota no meu quarto, de madrugada, motivo suficiente para me preocupar com a minha vida, quero dizer, meu bem estar, caso a minha mãe descubra. Mas isso é irrelevante, certo? –dei de ombros, pra mostrar como isso não era importante- E tem também o fato de que você sabe que não se lembra. Mas veja bem, como você pode saber que não se lembra, se supostamente se esqueceu do que se lembra, logo, você não pode ter certeza se realmente tinha alguma coisa para esquecer, levando em consideração que o esquecimento é a falta de memórias.

Ela me encarou confusa.

–Por que você tem que falar tanto?

Agora sim estava me sentindo insultado. Porque sinceramente, não sou uma pessoa que fala muito. Só quando estou com sono ou tomo muito café. Infelizmente, agora era um dos dois casos.

–Olha só garota...

Seja lá o que eu ia falar, ninguém nunca irá saber. Porque uma coisa horrível aconteceu naquele momento.

Minha mãe abriu a porta. E entrou no meu quarto.

Qual era a cor que eu queria para o meu caixão mesmo?

–Filho, com quem você está falando?

Espera um pouco, como assim com quem eu estava falando? A garota estava claramente parada do meu lado, no campo de visão da minha mãe, que há essas horas, estava bem acordada, e até a luz já havia ligado. O meu Deus! Talvez a garota também possuísse o poder de invisibilidade alternativa.

Manuela me olhou assustada, esperando que eu resolvesse o problema. Como se fosse minha culpa ela ter invadido o meu quarto.

–Olha mãe, eu posso explicar. Não é o que você está pensando...

Ela me olhou irritada. Sim, minha doce mãe estava irritada. O sono tinha esse poder sobre a nossa família, nos mudava completamente. Até meu pai.

–Como assim não é o que eu estou pensando? Eu e seu pai estamos tentando dormir, e de repente você começa a falar, não, a discutir de forma nada discreta no teu quarto. E eu venho aqui e o que encontro? O meu filho. Parado no meio do quarto, como quem aparenta ter problemas mentais, –essa doeu- falando com o nada!

Eu a encarei sem saber o que dizer. Então ela realmente não tinha visto a garota. Talvez minha teoria dos superpoderes estivesse correta.

Aliás, essa garota não estava servindo de nenhuma ajuda, pelo fato de ter se abraçado como quem realmente possuísse problemas mentais, e se inclinasse para frente e para trás, num ritmo de gelar a espinha. Fora o fato de ela estar murmurando “ela também não me vê” como uma ladainha, sempre repetindo baixinho as mesmas palavras.

–Mas mãe, como você não consegue vê-la! Ela está aqui –apontei freneticamente para o lugar onde ela estava- bem aqui!

–Felipe, se você não parar agora mesmo com essa paranóia, e ir para a cama imediatamente, eu vou ligar para a Dra. Marcy.

Essas palavras obtiveram exatamente o efeito esperado sobre mim. Sentindo toda a cor sumir do meu rosto, apenas abaixei a cabeça e disse um inaudível “boa noite”. Andei em direção à cama, sem saber o que fazer. Mas com a certeza de que eu não queria falar com a Dra. Marcy. Ignorei o suspiro da minha mãe, antes dela fechar a porta.

–Quem é a Dra. Marcy?

Já de olhos fechados, falei num fio de voz:

–Você não iria querer conhece-la. Pelo menos se fosse normal. Mas se fosse normal, não precisaria.

–Eu não entendo.

–Sorte a sua.

Mesmo de olhos fechados, podia sentir ela se aproximando. Abri os olhos alarmado.

–Você não vai tocar em mim, né?

Ela simplesmente balançou a cabeça. Seu olhar encarava a parede atrás de mim, apesar de estar escuro o suficiente para não poder enxergar completamente bem qualquer coisa no quarto. A luz da lua cheia que adentrava o quarto pela janela, era suficiente apenas para distinguir a garota. E notar algo que não havia visto antes. Uma luz suave envolvia todo seu corpo, tornando-a surreal. Era um tom prata, simples, mas hipnotizante.

–Que dia é hoje?

Olhei confuso pra ela. Por que diabos ela queria saber que dia era hoje?

–6 de julho.

Ela me encarou livre de expressões.

–Não, -sua voz era autoritária- hoje é 10 de junho.

Suspirei cansado. Definitivamente a situação estava fugindo do meu controle.

Dei um pulo na cama com seu gritinho. Pelo menos não precisava me preocupar com o fato da minha mãe ouvir.

–Agora eu lembro.

Olhei cético para ela. Ela lembra, é?

Antes que eu pudesse dizer algo sarcástico, ou até mesmo expulsa-la do meu, meu e meu quarto, ela sumiu. Simples assim.

Encarei o lugar onde segundos atrás uma maluca dizia maluquices.

Agora me diz, eu estou realmente louco, ou ela possuía poderes telesportativos espontâneos também?


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Notas finais do capítulo

Eu adoraria um reviewzinho ;-)