Paixão Pós-morte escrita por RoBerTA


Capítulo 2
Bem vindo ao novo lar, Hulk


Notas iniciais do capítulo

Para uma ruiva... ^^



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–O que achou?

Eu fitei o rosto de minha mãe, marcado pela preocupação. Ainda se sentia culpada por me separar de meus ‘amigos’. Coitada, ela ainda não era capaz de entender que eu não tinha amigo nenhum para deixar para trás. Dei meu melhor sorriso para ela, e olhei em direção a casa. Não era exatamente alguém que apreciava a aparência de lugares. Mas esse era diferente. Parecia uma casa de bonecas. A casa -minha casa agora- era pintada de um tom de amarelo alegre. Nos canteiros havia lindas flores vermelhas e brancas, assim como nas janelas. Definitivamente, a casa me conquistara. Parecia vinda diretamente de um sonho.

–É magnifica, mãe. –Eu fiquei extremamente feliz por não ter precisado mentir, afinal, era verdade.

Ela pareceu aliviada.

–Ótimo. Vamos ir levando as malas para dentro que seu pai já esta chegando.

Ela afagou meus cabelos negros e rebeldes, e deu um sorriso caloroso de um jeito que só uma mãe sabia dar.

Peguei algumas das minhas malas do carro.

–Onde é meu quarto?

–Que pressa! Você ainda nem entrou na casa!

–Mãe! –Falei indignado- As malas estão pesadas!

–Ok! –Ela riu- Vamos lá meu pequeno Hulk.

Virei os olhos para ela.

Quando meus pais compraram a casa, os antigos donos a deixaram mobiliada. Não entendi direito o motivo deles, mas nem dei muita importância.

Já sabia antes mesmo de entrar na casa que por dentro seria tão lindo quanto por fora. E não me enganei.

Quando minha mãe me olhou, eu notei que seus olhinhos brilhavam para mim.

–Então querido, o que achou? –ela fez um gesto com a mão se referindo ao interior da casa.

–Tudo que eu tenho a dizer é que os antigos donos realmente tinham um bom gosto. Aliás, quem com uma mente sã iriam vender uma casa dessas?

Minha mãe me olhou de modo pensativo. Ela adorava quando eu fazia perguntas. E odiava quando não era capaz de respondê-las. Ela me o olhou com o cenho franzido.

–Realmente não sei, seu pai não falou muito sobre eles. Mas eu adoraria conhece-los. Seus olhos negros como s meus fitaram o nada com uma expressão sonhadora. Às vezes, ela agia como uma criança, como se vivesse num munda de fantasias. Eu sempre soube que esse era um dos grandes pontos fortes pelos quais meu pai havia se apaixonado por ela.

–Mãe, as malas.

Ela me olhou como se estivesse esquecido que eu estava lá, segurando as enormes malas.

–Claro, devem estar pesadas. É no segundo andar, vamos, que lhe mostro.

Tive uma vontade insana de virar os olhos para ela, é claro que o quarto estava no segundo andar, onde mais estaria?

Enquanto andava atrás dela, pude notar que tanto por dentro como por fora, parecia como aquelas casinhas de boneca, algo tipo Barbie e Polly. Corei ao me lembrar do dia em que minha tia me deu uma daquelas. Todo mundo achou a maior graça. Menos eu e meu pai, claro. Ele disse que ‘aquilo’, não era uma boa influencia no meu desenvolvimento, além de não ser nada másculo.

Estava perdido em pensamentos e quase chegando na escada, quando notei algo que me chamou atenção.

Perto da escada, havia uma mesa. Mas não era isso o que me fizera parar. Era o que estava sobre ela. Porta-retratos. Quando não me encontrei em nenhum deles, nem meus pais, e percebi que deveriam ser fotos da outra família, aquela que morou aqui antes, e que possuía um ótimo gosto.

Havia uma que chamou mais atenção que o resto.

Era de uma garota, cuja idade devia ser a mesma que a minha. Seus longos cabelos eram de um ruivo quase vermelho, e seus cachos –aparentemente naturais- davam a ela um ar de boneca. Vestia um vestido simples azul turquesa, uma combinação perfeita para seus olhos, praticamente da mesma cor, porém mais escuros. Sua pele, tão pálida quanto a minha. O sorriso que exibia em seu rosto era lindo, talvez o mais lindo que já vi. Um pensamento estranho me ocorreu. Ela combina perfeitamente com a mobília. Afastei rapidamente esse pensamento ridículo da cabeça.

Minha mãe, já tendo subido as escadas, olhou para baixo, em minha direção, claramente curiosa pela minha demora, sendo que antes, era eu quem estava a apressando. Quando olhou para o meu rosto, me fitava com a expressão um tanto cômica.

Fiquei me perguntando se eu estava babando ou algo do tipo. Mas só estava com a boca aberta. Fechei-a rapidamente.

–Quem é ela?

–Hnm, -minha mãe olhou para a foto- acho que deve ser a filha dos antigos donos.

Antes que eu começasse a olhar para o resto das fotos dela, subi o mais rápido possível, com todas as malas, e parei diante do quarto onde minha mãe se encontrava escorada no lado da porta já aberta. Ela me exibia um sorriso maroto.

Quando entrei entendi o porquê.

O quarto era como todo o resto da casa, lindamente decorado. Mas havia um pequeno problema, ok, talvez nem tão pequeno assim. Mas eu devia ter imaginado.

Era o quarto de uma garota.

Tudo mostrava indícios disso, desde o estilo de cama dossel até a penteadeira num canto, onde as garotas ficam fazendo sei lá o que.

–Mãe... –Eu gemi frustrado.

–Não esquenta semana que vem a gente reforma seu quarto, ok? Daí você irá poder escolher por si mesmo. Aliás, se lembra daquela sua casinha, ficaria linda aqui. Você ainda tem ela?

Eu a encarei incrédulo. Ela realmente havia me perguntado aquilo?

Como percebeu que não ganharia uma resposta, apenas deu de ombros.

–Não se esqueça de pegar o resto das suas coisas lá no carro. Vou arrumar minhas coisas também. Se precisar de algo, grite.

Ela saiu antes que eu pudesse responder.

Olhei para o quarto, essa seria uma longa semana.

*** *** ***

Já tendo trazido todas as minhas bagagens, comecei a explorar meu novo quarto. Franzi a testa. A garota parecia ter deixado tudo para trás. Na penteadeira, havia muitos tipos de acessórios de cabelos, e joias, principalmente pulseiras. Também havia maquiagem, talvez mamãe fizesse algo com ela do que eu. Então me lembrei de que ela não usava maquiagem. Resolvi cuidar da penteadeira e seu conteúdo em uma hora mais oportuna.

Encaminhei-me para o guarda-roupa. Ele estava cheio. De roupas, é claro.

A maioria era vestidos. De varias cores e estilos. Fiquei sem saber o que fazer, quase chamei minha mãe, mas resolvi deixar para mais tarde. Fechei o guarda-roupa com cuidado, e decidi deixar minhas roupas na mala, por hora.

Estava indo para o criado-mudo, quando tropecei num tapete que não havia visto antes. Cai um tombo feio, no lado da cama. Comecei a me virar lentamente, quando vi alguma coisa, embaixo da cama.

O meu lado curioso me dominou. Mesmo dolorido, me arrastei até a cama e puxei seja lá o que fosse.

Admito que fiquei muito surpreso. Eram telas, daquelas que agente pinta em cima. Olhei uma por uma. Eram lindas. A habilidade de quem as criou era incontestável. A maioria era abstrata. Parei em uma, e com grande esforço não ri. Era um garfo. Se não fosse tão bem desenhado e eu não conseguisse pintar um risco reto, eu teria rido. Mas minha força de vontade sumiu quando vi a próxima. Era um prego! Quem pintaria um prego?! Essa pessoa, aparentemente. Depois de rir muito, terminei de ver as pinturas. Com um cuidado no qual e não sabia de onde vinha, coloquei-as em seus respectivos lugares, debaixo da cama.

Agora, cuidando para não tropeçar, me aproximei do criado-mudo e abri a gaveta. Havia muitas coisas lá dentro, mas só uma chamou minha atenção. Um diário, e eu não tinha dúvidas de quem era. Parei um momento, para dar atenção a guerra interna que esta se desenrolando dentro de mim. Sabia que era errado ler o diário de alguém, mas uma vozinha na minha cabeça sussurrou se fosse tão importante, ela não o teria deixado para trás. Finalmente meu lado ruim venceu, e eu peguei pequeno objeto que pareceu pesar toneladas em minha mão e me dirigi para a cama, que por sinal, era muito macia.

Quando terminei de me acomodar, abri o diário.

Não sei o que esperava, então não posso dizer se fiquei ou não decepcionado.

10 de fevereiro,

Hoje fui ao casamento de minha tia. Como ela pode estar no 6° casamento?! Eu não entendo e nem faço questão. Se algum dia me casar, será com alguém que amo, e será uma vez só. Mudando o rumo do assunto, hoje eu estive muito pensativa enquanto fixava o olhar naquele vestido horroroso da minha tia. Ela parecia um pacote empacotado, ou um rolo de papel higiênico. Enfim, como eu ia dizendo, eu estive refletindo sobre a minha breve vida. E foi nessa reflexão que eu cheguei a uma conclusão: vou escrever um livro!

Meu tio disse que era difícil e todas essas coisas. Mas eu sei que sou capaz. Agora só falta saber sobre o que eu vou escrever. Estou indecisa sobre a vida das formigas e um romance bem meloso. Decido isso mais tarde. Agora vou dormir e sonhar com alguma coisa bem legal.

Boa Noite”

Nunca escrevi um diário ou algo do gênero, mas não tenho certeza se o padrão normal é assim. Porque caramba, essa garota é maluca.

–Filho, desce. Teu pai chego!

–Já vou!

Coloquei o diário de volta na gaveta e desci as escadas correndo. Meu pai estava sentado na mesa da cozinha, mexendo no nó da gravata enquanto minha mão fazia panquecas no fogão. A única coisa que ela sabia fazer comestível e que dava certo.

–E aí filhão, o que achou da casa?

–Linda, eu estava dizendo para a mãe que os antigos donos tinham um ótimo bom gosto. Aliás, como podem ser tão loucos a ponte de se mudarem daqui?

Meu pai pareceu ter ficado nervoso por um instante, mas logo se recuperou e apenas deu de ombros.

–Essas panquecas parecem estar deliciosas.

Minha mãe sorriu radiante enquanto eu me sentava em frente ao meu pai analisando a cozinha, cuja decoração acompanhava o restante da casa.

–Parecem não, elas estão.

Comemos nossas panquecas em um clima animado. Meu pai reversando, hora contando piadas, e outra falando sobre o trabalho. Minha mãe apenas ouvia atenciosamente e eu me engasgava com o suco de laranja.

–Eu estou cansado, vou subir.

–Boa noite filhão.

–Durma bem meu anjo, depois mamãe da uma passadinha no teu quarto.

–Boa noite.- Eu já desisti de fazer ela não me chamar mais de anjo, mas não tem jeito.

Quando passei ao lado dos porta-retratos, parei para olha-los. Novamente a garota estava lá, mas dessa vez seu cabelo estava amarrado de modo torto e um avental manchado com várias cores cobria seu corpo. Em sua frente se encontrava uma tela com uma pintura abstrata inacabada. Aparentemente a foto foi tirada sem que ela soubesse, só de suas costas. Balancei a cabeça, tentando tira-la de meus pensamentos, em vão.

Subi para o quarto, tentado a ler mais do diário. Desisti no último segundo, com ele em mãos. Me atirei na cama com as mesmas roupas com que cheguei, sem nem me importar em escovar os dentes. Tomara que eu não tenha cáries... O sono veio rápido, mas eu jamais podia imaginar o que aconteceria em seguida.


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Notas finais do capítulo

Aceito reviews ^^