Paixão Pós-morte escrita por RoBerTA


Capítulo 20
Respostas vem do Nada. Literalmente.


Notas iniciais do capítulo

Eu demorei, eu sei, e a preguiça e falta de criatividade são minhas desculpas. Capitulo pequeno mas sei lá, também não tem mas ^^ boa leitura!



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Olhei para ela estupefato. Manu só podia estar brincando, não havia outra explicação plausível. Então porque ela me encarrava com seus olhos turquesas tão cheios de preocupação? Ou porque ela parecia tão diferente, e ainda assim era a mesma?

– Você precisa voltar para casa, vamos, por favor. Eu não sou párea para a Morte, e nem posso lutar contra ela, já que faz parte de mim.

– E se ela te machucar?

De repente fiquei preocupado.

– Eu estou morta, esqueceu?

Não, eu não havia me esquecido. Como poderia?

– Mas você vem comigo?

Ela parecia nervosa por um momento, mas então sua expressão se suavizou.

– Claro que sim. Eu sempre irei com você.

Enquanto voltava para casa, ninguém falou mais nada. Mas aquele silêncio era bom, aconchegante até. Reversava entre olhar para ela e a calçada, porque sabe né, essas pedras soltas são um perigo para pessoas que já tropeçaram em uma casca de banana.

Nem preciso dizer o quão feliz fiquei ao chegar em casa, mas tão logo me lembrei de tudo, e foi como um balde de água fria na cara. Minha mãe devia estar dormindo, ou chorando. Ainda. E meu pai, ó querido papai, devia estar do outro lado da cerca. Sabe, pular a cerca, e ir parar no outro lado. Bom, tanto faz. A questão é, ele estava traindo a minha mãe.

Só percebi que estava tremendo quando Manu pediu se eu estava bem. Concordei levemente com a cabeça, abrindo a porta e inclinando a cabeça para que ela entrasse antes.

Seguimos escada acima, em um acordo silencio de não fazer barulho. Quando ela já estava dentro do quarto, fechei a porta atrás de mim, suspirando aliviado.

Deixa-me afirmar um fato sobre mim. Mesmo no fundo da fossa séptica, eu consigo me desviar da porcaria da situação em que estou metido.

– Por que você não está usando vestido? E está com o cabelo amarrado?

Ela ergueu a sobrancelha delicada em total descrença.

– Eu meio que sumi, acabei de te dizer que a Morte com “M” maiúsculo está no teu pé, e tudo em que você consegue pensar, é no por que não estou de vestido?

Encolho-me envergonhado. Olhando por esse ângulo, acabei de dar uma de Lauren. Certo, vou me redimir.

– Desculpa, é que isso é assombroso.

Quase me dei um tapa na boca. Qual é o meu problema?

– Assombroso? Ok, vou te dar um crédito, você acabou de passar por uma situação traumatizante.

– Avá.

Ela estreitou os olhos.

– O que você disse?

– Seu nariz é bonito.

– Tudo bem Lipe, cala a boca só um pouquinho, ok?

– Ta. – respondo de mal humor.

– Então, você entendeu a parte onde a Morte quer que você morra, certo?

– E como.

Ela acena com a cabeça.

– Para que você possa entender isso, eu vou ter que explicar porque eu sumi.

– E por que você sumiu?

Ela me fuzila com o olhar.

– QUER PARAR DE ME INTERROMPER??!

Um amor, como sempre.

– Sim querida.

– Ok – ela se senta ao meu lado, na cama – se lembra quando eu disse que eu não podia ficar por aqui? – concordo levemente com a cabeça – pois então, é verdade. Meu lugar não é aqui, mas fiquei por você. – sua voz se suaviza, até se transformar em um sussurro, quando está próxima o suficiente para que eu possa notar como seus olhos parecem ter desenhos intricados em um tom mais escuro de azul. Deus, como ela é linda.

– E..?

Essa porcaria de letra, que nem deveria ser chamada de sílaba, é tudo o que sai da minha boca.

– E que eu fui Chamada. É difícil tentar explicar, mas não fui para o inferno, e nem para o céu. Eu fui pra o Nada, com letra maiúscula. Eu não existia lá, porque tudo existia ao mesmo tempo. Era como uma coisa só, sabe. Como se houvesse outros iguais a mim, e que fossem eu, enquanto eu era eles. E foi nessa sub-existencia, por assim dizer, que descobri coisas muito úteis.

De repente fiquei com medo do que quer que fosse que ela havia descoberto.

– Você acredita em destino?

Olho confuso para ela. Como a garota podia mudar tão drasticamente de assunto?

– Não sei, nunca parei para pensar nisso.

– Pois deveria. Eu acabei descobrindo que certas pessoas estão destinadas a morrer. Esse é o propósito delas, morrer. Porque é através da morte dessas pessoas, que outras pessoas irão encontrar seu destino. Eu faço parte desse grupo. Eu morri para te conhecer.

Sinto um nó na garganta, e não sei o que dizer. Nem sou capaz de me lembrar de como se respira. Ar, cadê tu meu amigo?!

– E existe aqueles que não deveriam ter nascido, são erros, por falta de uma palavra mais adequada. Esses são Marcados, por nada menos do que a própria Morte. É dever dela concertar o que a vida errou. Você é um Marcado.

Tampo meus ouvidos, e me encolho, contendo o grito que se forma em meu peito. Então era isso? Eu tinha 16 anos e precisava,
não, devia morrer. Porque a própria Morte queria assim.

– Ei, não fique assim, a gente vai dar um jeito. Eu prometo.

Olho triste para ela por um segundo.

– Não faça promessas que não pode cumprir.

Só agora eu era capaz de compreender bem essa frase.

– Eu sei o que eu falo.

Fico olhando para seu olhos até que me obrigo a desviar o olhar, e passo a fitar a lua.

– Tem mais, não tem?

– Tem.

– Então me conta.

– Existem certas coisas que só devemos e podemos saber com o tempo.

Volto minha cabeça na sua direção, com um meio sorriso cansado no rosto.

– Quando foi que você mudou tanto?

– Se você tivesse ido para onde fui, também não seria mais o mesmo.

Sua expressão fica sombria, e quase fico com medo dela. Quase. Mas essa é Manuela, minha namorada fantasma, e sei que jamais me faria mal.

Tão rápido quanto apareceu, sua expressão sombria vai embora, substituída por uma expressão de carinho.

– Você precisa dormir. Eu vou ficar cuidando de você, prometo.

– Eu não quero sua proteção, eu quero você.

– Pois então terá os dois agora deite e durma.

Obedeci ela, e mesmo debaixo da coberta, sentindo o peso de seu olhar azul, dormi olhando a lua.


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Notas finais do capítulo

O que acharam da nova capa?