Paixão Pós-morte escrita por RoBerTA


Capítulo 21
Mais um dia agradável de escola. Ou nem tanto.


Notas iniciais do capítulo

Antes do monólogo, capitulo dedicado a Caele, Hila e Msr Nanda. Ok, então, Paixão Pós-Morte está no final, e provavelmente terá mais alguns capitulos e um epílogo. Por que? Bom, eu sinto que ela não está mais tão boa assim, pois além de eu ter perdido leitores, já não recebo mais tantos reviews quanto antigamente. E eu tenho outras fics pra atualizar também. Além do mais, tudo algum dia tem um fim, certo? Bom, boa leitura.



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Escola me causa torcicolo

Sabe o que é inacreditável? Ter que levantar cedo para ir para a escola depois de tudo que passei. Sério. Isso sem falar que a escola inteira deve estar pensando que sou gay. E meu Deus, eu sou tão irresistível assim? Porque eu já sei de três garotas que estão louquinhas por mim. Que a Manu não possa ler pensamentos, caso contrário, a Morte nem precisaria gastar seu tempo comigo.

Então agora eu estou andando, sozinho, na calçada, com uma cara de zumbi-pastel horrível. Tentando arquitetar um plano para mostrar o quanto sou macho, fazer com que Gabi se desapaixone por mim, e acabar com a obsessão de Lauren por mim.

Isso é, sem esquecer-se de tentar sobreviver. Como pude esquecer esse pequeno detalhe super insignificante?

Realmente, a ironia acaba com as pessoas. É uma espécie de droga, que quanto mais se usa, mais se vicia. E se usa de novo.

Céus, o que é todo esse pensamento solto na minha mente sem nexo nem sentido?

- Felipe!

Olho para uma Lauren saltitante que vem de encontro a minha infeliz pessoa.

Graças a Deus que Manu resolveu aparecer depois na escola. Assuntos pendentes, essa
foi sua desculpa.

A
loira se joga em cima de mim, me dando um abraço que provavelmente vai acabar em uma parada respiratória.

- Seu lindo, estive com saudades.

???

- Eu sou gay, lembra?

Eu sei que é burrice usar como desculpa o boato que quero exterminar, mas que outra opção tenho? Quando se trata de ficar livre da Lauren, qualquer coisa vale.

- Que isso bobinho, - ela gira os olhos, e da uma risadinha um tanto, especulativa – eu não me importo. Aliás, - ela se aproxima mais, e de repente acho uma boa opção me jogar naquela vala ali do lado, para ver se ela esquece que existo. Mas é bem provável que ela venha atrás de mim, pensando que aquele seria nosso “ninho do amor” – eu tenho certeza que depois que ficar comigo, vai esquecer esse negócio de gay. Você vai se apaixonar por mim.

Hã? Tenho certeza que uma família de pontos de interrogação está pairando ao meu redor. Ela realmente disse isso?

- É exatamente por isso que não vou. Detesto gente convencida.

Ela faz cara de ultraje.

- Convencida, eu?! – não, minha vó que usa fio dental – O termo correto é realista.

Aham, e eu me chamo Feijão, o João. Ou seria João, o Feijão?

- Certo, certo. Fica com a tua realidade e me dá um tempo, ok?! Eu preciso ir para a escola. – quando ela abre a boca para me responder, a corto de imediato – E não, eu não quero saber se você vai para a escola também. E muito menos quero a sua companhia. Aliás, estou pouco me lixando se você fosse de carona em um caminhão de lixo.

Acho que já existiram xingamentos ou argumentos melhores que esse.

Dou as costas para ela, que fica perdida com sua bolsa extremamente grande e ridícula rosa choque. Sua cara é hilária, e desconfio que tão cedo não vá me esquecer.

- Ela fica mais apaixonada por você a cada vez que leva um fora. Masoquista.

Quase pulo quando Manu aparece do nada ao meu lado, com seu novo e estranho visual. Ela simplesmente parou de usar seus amados vestidos, e agora usa tênis All Star e jeans desbotadas. Sem falar no seu cabelo, ou com um rabo de cavalo bem alto, ou com uma trança simples.

Ela faz um barulho de desagrado com a boca. Ergo as sobrancelhas para ela.

- E o que você sugere? Que eu entregue minha virtude
para ela?

Seus olhos exibem duas fendas perigosas e azuis. Oops.

- Só por cima do meu cadáver.

O que não foi uma coisa muito agradável e inteligente de se dizer.

Por sorte, a gente já havia chegado à escola, e não seria nada bom para a minha já degradada reputação se me vissem falando sozinho. De novo.

Sinto uma coisa estranha quando os alunos passam a apontar para mim e cochichar. Por que será que sempre que estou na escola quero que um buraco se materialize perto de mim?

- Não liga. São só gente curiosa e infantil que se esquece que tem uma vida pra cuidar, que é a deles, e não dos outros.

Como não quero parecer fraco, ou pelo menos mais fraco que já sou, ergo a cabeça e empino o queixo.

- Hnm... Ok, não tanto assim. Parece que você está com torcicolo.

Rápido demais, abaixo a cabeça, a ai sim eu tenho um torcicolo.

- Au!

- Por que você esta imitando um cachorro?

Olho irritado pra ela.

- Agora sim eu tive um torcicolo. Graças a você.

- Como é que é!? Você não ta achando que vai por a culpa em mim, né?

- Nã-não!

- Acho bom.

Ter  namorada é bem legal e tal, mas pode ser um risco pra saúde também. E um ótimo jeito de aprender a controlar nossa língua.

- Entra logo, ou vai se atrasar.

- Tá bom. – respondo de má vontade.

Enquanto estou andando pelo corredor, Jonas, o marrento, me empurra. Nada proposital, é claro.

Acho que a ironia gostou de mim.

- Ei, sua bicha, por que não olha por onde anda?

Dou uma olhada a minha volta, quando de repente percebo que foi para mim que ele se dirigiu.

- Desculpe, o que foi que você disse?

- Bicha, por que, também é surdo?

Ó meu Deus, e agora? Será que eu dou um soco, ou começo a bater boca? Ou simplesmente ignoro?

Felizmente, acho, eu não precisei escolher. Gabi se postou a minha frente.

- Ele não é gay, ok? E com certeza é muito mais macho que você.

Jonas parece mais confuso do que ofendido.

- Mas você disse...

- Não interessa o que eu disse. A verdade é que eu me enganei. Afinal, todo mundo erra pelo menos uma vez na vida. Aliás, se você encostar mais um dedo que seja nele, vai se arrepender de ter ganhado a corrida ao óvulo da tua mãe, entendeu?

Ela assume uma postura ameaçadora, mas que mais parece hilária do qualquer coisa.

- Atá. E você vai me bater? To pagando pra vê.

Ele cruza os braços em desafio. Idiota. Será que ele não entende que brigar com uma garota feito Gabi é suicídio?

- Então chupa essa, otário.

E dá-lhe chute nos países baixos. Carraca, essa doeu até em mim. Na verdade, acho que todos que estavam por perto se sensibilizaram com ele, dado os barulhos de pena que emitiram.

- Que confusão é essa?!

O diretor abre caminho entre os alunos, e imediatamente penso no Bolinha. Ou era Cebolinha?

- Expliquem-se, agora!

Observando como seu rubor combina perfeitamente com a gravata vinho, me lembro de quando Manu falou que ele era um cara bacana, menos quando estava brabo. Porque aí, ele virava um bicho.

Seus olhos caem em um Jonas ajoelhado, com uma expressão de dor, que com certeza não é fingida.

- Quem fez isso com ele?!

Nossa, o cara não parava de gritar. Espera ai, porque Gabi deu um passo à frente?

- Fui eu.

Não posso deixar de admira-la, principalmente por encará-lo a altura, com sua expressão de desafio.

Acho engraçado e preocupante a veia que parece saltar da testa dele, fora sua coloração avermelhada, um pouco arroxeada também.

- Porque, Gabi?

Estranho o modo como ele fala o apelido dela, de forma tão familiar.

- Ele chamou o Felipe de bicha. Você acha que ele está certo? Ficar falando assim das pessoas?

Agora era ela quem estava se alterando.

- Não. Ele não está certo. E nem você. Não se combate preconceito com violência. Jonas, para minha sala, agora. – depois se vira para ela, e aponta um dedo de forma acusadora para a garota – e quanto a você, mocinha, a gente vai ter uma conversa em casa. – de repente ele parece se lembrar da plateia de alunos curiosos e desocupados a nossa volta - todos para suas respectivas salas, agora! Ou serão presenteados com uma detenção. Jonas, venha.

O garoto sai mancando atrás do diretor, não sem antes lançar um olhar de pura raiva para Gabi.

Aproximo-me dela, um pouco atordoado por tudo que acabou de acontecer. E claro, não deixo de notar que Manu simplesmente desapareceu, no meio de toda essa confusão.

- Em casa? – de todas as perguntas que eu poderia ter feito, foi essa que eu fiz.

- Não te disseram? – nego com a cabeça, e ela suspira – o diretor Vicente é meu pai.

Olho pra ela descrente.

- Você está brincando, certo?

- De jeito nenhum. Meu pai, de carne e osso.

Avá.

- Bom, de qualquer forma, obrigado por me defender.

- Era minha obrigação, principalmente por ter sido minha culpa. Você sabe, fui eu quem começou o boato e tal.

De repente me sinto desconfortável, sob seu olhar verde penetrante. Ela parece estar tentando me dizer algo, mas não estou certo de que quero saber. Desvio o olhar, e me concentro numa rachadura de forma irregular na parede direita.

- Aham, mesmo assim obrigado. De qualquer forma, é melhor eu ir. Tenho química. Tchau.

E corro em direção ao laboratório, usando a desculpa de estar atrasado, para evitar ficar mais tempo com ela.

Já no laboratório, fico olhando para o relógio e xingando o tempo, enquanto que a professora passa instruções, e eu nem presto atenção, o que é bastante óbvio.

- Ouvi pessoas falando sobre o pequeno incidente de antes. A Gabi não tem mais jeito mesmo.

Não me assusto e tampouco desvio o olhar do relógio quando ela reaparece ao meu lado. Quando fala de Gabriela, noto orgulho em sua voz. Tsc tsc tsc, essas nasceram pra máfia mesmo.

- É, legal da parte dela e tudo mais. Aliás, porque não contou sobre o diretor ser o pai dela?

Ignoro um garoto olhando pra mim como se eu fosse louco, por estar falando sozinho. Convenhamos, pior minha situação não pode ficar.

- Achei que não fosse relevante.

- Hnm.

Continuo encarrando o relógio.

- E agora, turma, podem começar.

Hã?

- Parece que alguém não prestou atenção na professora. Diga-me, namorado, como pretende fazer a pequena experiência, quando desconfio que nem o nome você saiba?

Dou de ombros para ela, completamente desinteressado.

- Tudo bem, - ela suspira – eu vou te ajudar, mas só porque você parece realmente desesperado.

Ela sabe ser chata quando quer. E até quando essa não é sua intensão.

Manu começa a me explicar o que devo fazer, e quando digo que já entendi, ela me manda por aquele óculos lá, por precaução.

Estava tudo indo super bem, sabe. Eu estava fazendo todas aquelas misturebas de forma bem eficiente, quando algo começou a dar errado. Um cheiro esquisito acompanhado de uma fumaça escura começou a sair daquele potinho lá, onde eu
estava fazendo uma ‘experiência’.

Quase gritei, quando vi a forma destorcida de um rosto agonizando na fumaça, e uma tontura começou a se espalhar em mim. Mas isso não foi nada comparado à dor que veio a seguir. Joguei-me no chão sobre os joelhos, enquanto agulhas pareciam perfurar meus ouvidos, obstruindo minha audição. Agarrei minha cabeça com ambas as mãos, e quase nem percebi o vidro arranhando minhas costas, e alguns se enterrando a minha pele. É, química com certeza não é meu forte. A gororoba que eu criei com certeza era terrível, pois além de explodir, ardia onde o vidro cortara.

De repente era meu corpo todo que mantinha contato com o chão, e eu estava virado de barriga para cima, me debatendo.

Alguns colegas vieram me segurar, enquanto a professora gritava com outros, e logo depois vinha na minha direção. Mas o que eu realmente via, entre meus espasmos, era Manuela. Ela me encarava com amor, e parecia estar dizendo palavras doces e calmas, mas nem isso era suficiente.

A escuridão passou a consumir minha visão pelas bordas, até tudo estar completamente negro, e eu me perder, enquanto uma enxurrada de lembranças assumia as rédeas da situação.


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