Paixão Pós-morte escrita por RoBerTA


Capítulo 18
Sono nunca é bom sinal


Notas iniciais do capítulo

Nossa, postei rapidinho dessa vez ^^ Vou tentar não demorar mais tanto. Enfim, boa leitura e desculpe os erros, se tiver ^^



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- Acorda! Vamos, levanta daí!

Com muito esforço abro os olhos, e a primeira coisa que vejo é a lua, que parece estar caindo. O que me faz pensar que já é noite. Noite? Lua? Estrelas?! Caramba, o que estou fazendo aqui, deitado no chão, no meio do nada, de noite? Olho para a garota, que esta me fitando de forma preocupada. Nossa, ela é bonita. Bem maneiro essas cores diferentes no seu cabelo. Mechas, é, acho que é esse o nome.

- Quem é você?

- Ta tirando uma com a minha cara? É isso? Como assim quem sou eu?!

- Ei, não grita! Vai acordar os morcegos.

Ela me olhou com um ponto de interrogação na cara.

 Suspirei para a falta de conhecimento dela.

- Morcegos são maus. Eles podem chupar nosso sangue e nos matar de hemorragia.

- Ta legal, agora eu to preocupada.

Tento me levantar, mas volto a cair de cabeça no chão.

- Alguém pode me explicar o que to fazendo aqui, nesse chão cheio de mactérias?

- Mactérias?

- É, micróbios mais bactérias, sacou?

Ela me dá um bofetão na cara, o que me faz pensar que ela precisa visitar a Dra. Marcy imediatamente.

- Ei! Por que você me bateu?

- Para ver se teu cérebro volta pro lugar. Mas parece que você não tem cérebro.

- Obrigado pela parte que me toca.

- De nada.

Ficamos nos encarrando, eu com uma dor de cabeça ridícula, e ela de forma preocupada. Praticamente posso ouvir as engrenagens de seu cérebro funcionando, tentando descobrir o que fazer comigo.

- Ok, quem é você?

- Gabriela, seu estúpido.

- Ó!

Ponho a mão na minha cabeça, que começa a latejar. Aos poucos as lembranças vão voltando. Gabi é minha amiga, ou mais ou
menos isso. Foi ela quem disse pra todo mundo que eu era gay. Uma blasfêmia da pior espécie, com certeza. E ela é a melhor amiga da...

Manuela!

A lembrança me atinge como um tapa na cara, mais violento até do que o de Gabriela.

Levanto com alguma dificuldade, e ela me ajuda a não cair.

- Que horas são?

- Devem ser umas oito horas da noite.

Avá que é da noite. Tsc, tsc, tsc. Depois quem não tem cérebro sou eu.

- Sua mãe está super preocupada. Ta toda gambada te procurando.

 - Gambada?

- É, o povo sabe. Tipo, moradores locais.

- Hnm. E meu pai? Você o viu?

- Acho que não. Aliás, sua mãe é um doce.

- Eu sei. Mas como você me encontrou?

Ela vai me ajudando a sair daquele nada, enquanto posso ver algumas pessoas na rua, através dos galhos das árvores, chamando meu nome.

- Intuição.

Hoje é o dia. Uma resposta mais interessante que a outra. O que me faz lembrar... Sibila! Sinto um arrepio que nada tem a ver com o tempo, enquanto recordo da mulher. Paro, obrigando Gabriela a parar junto.

A voz! Foi ela quem me fez desmaiar!

Quando tento lembrar qualquer coisa sobre as quase oito horas que estive vegetando em estado vegetativo, a dor de cabeça volta.

- Você está legal?

Não.

- Sim.

-Ótimo, vamos então.

Ela volta a me puxar como se eu fosse um saco de alpiste.

- Será que eu vou receber alguma recompensa por te encontrar? – ela parece pensativa.

- Que bela amiga, já pensando nos prós do meu estado lamentável.

- Sim, sim, anda.

Ela me empurra, e percebo que a rua em que estou não é muito longe da minha casa.

- Aquela é minha casa. – ela aponta para uma casa azul céu.

- Eu perguntei?

Recebo um tapa em resposta.

Quando estamos na metade da rua, a gambada, como diz Gabi, se amontoou a minha volta.

- Lipe, meu Lipe! Ó meu Deus, eu fiquei tão preocupada contigo! – Lauren pula em mim, quase quebrando minhas costelas com seu abraço de parasita. A para! Ela ta chorando! Não creio nisso.

- Ô sua loira de esquina, larga ele.

Gabriela da um chega pra lá nela, que a fuzila com os olhos. O que a pobre Lauren não sabe, é que em matéria de fuzilamento, Gabriela é campeã.

Pra sorte da elegância, que estava prestes a fugir e ser substituída pelo barraco, minha mãe chega e me abraça de forma amorosa. Agora eu fico aqui pensando, o que é que precisa acontecer para meu pai se lembrar que existo? Sim, porque parece que sumir por oito horas não é nada demais para ele.

- Eu quero ir para casa mãe.

Ela não me interroga nem nada do tipo, querendo saber onde estava. Apenas concorda e agradece por todos que a ajudaram a me procurar. No fim, sobra apenas eu, minha mãe, a Gabi e a Lauren no meio da rua.

- Bom fofo, segunda a gente se vê. Me liga. – ela faz um gesto de telefone e tasca um beijo no meu rosto. Eca, to me sentindo melado.

Minha mãe ergue as sobrancelhas pra mim.

- To pensando em me benzer.

Ela rola os olhos, mas posso ver como está feliz. Passa o braço sobre meus ombros, enquanto Gabi fica ali, parada e sozinha.

- Acho melhor eu ir também.

Ela já está indo em direção à sua casa quando um impulso toma conta de mim.

- Espera!

Ela para e se vira para mim.

 A luz fraca do poste acima dela projeta sombras em seu rosto. Mesmo assim pude ver seus olhos. Estão carregados de dor e tristeza que não sou capaz de compreender, quanto mais tentar ajuda-la.

Faço a única coisa que posso no momento.

Vou até ela e dou um abraço. Num primeiro momento ela fica imóvel, mas depois corresponde, e sinto suas lágrimas molharem minha camisa.

- Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Acabo de descobrir que sou o garoto das promessas. Aquele que promete o mundo pras pessoas, mas é incapaz de dar um jeito na própria vida.

- Você não pode me ajudar. Mas mesmo assim obrigado.

A brisa noturna carrega suas palavras até mim. Pisco os olhos, enquanto a vejo entrar na sua casa, mas não antes de me olhar uma última vez. Um último olhar de adeus.

- Vamos filho?

Até aquele momento havia me esquecido que minha mãe também estava li, nos observando. Concordo e me aconchego no calor de seu abraço.

Enquanto caminhamos rumo ao nosso lar, as sombras parecem se esticar, querendo me tocar. É com muita dificuldade que me convenço que estou delirando, e sombras não se movem por alguém.

- Você está bem?

- Não – sou incapaz de mentir para ela.

- Talvez devêssemos marcar uma consulta antes.

- Não. – dessa vez minha negação sai cansada, e minha voz parece de um velho. Sinto com se tivesse mil anos e o peso do mundo sobre minhas costas. Luto contra o impulso de fechar as pálpebras e tirar um cochilo ali mesmo, no portão de minha casa.

- Onde você estava?

- Dormindo.

Ela franze o cenho para mim.

- Dormindo? Onde?

- No aconchego de seu abraço.

Agora nem eu sei o que estou falando. Aposto que fui picado por uma arranha naquele chão imundo, e agora estou delirando.

- Daquela garota, a Gabriela?

Dou uma risadinha sem graça.

- Gabriela é apenas uma amiga. Agora boa noite, mãe. Estou com sono e preciso dormir.

Me desvencilho de seu abraço, e entro na casa destrancada. Sinto o peso de seu olhar nas minhas costas, mas ignoro. Sua confusão é praticamente palpável. Ela nunca sabe como lidar com meus problemas. Às vezes tenho até pena dela.

Quando entro no quarto, a janela está aberta, e o luar banha o quarto, quase me fazendo esquecer o sono. Quase.

Me jogo na cama, sem me importar com a roupa que estou vestindo.

Meus olhos estão fechados, e é como se alguém tivesse posto mel neles. A cama parece areia movediça, me paralisando e me guiando rumo à inconsciência.

Felipe, meu menino. Preciso que faça algo por mim. Vamos, levante. Você será muito bem recompensado...

E que venha a Terceira Noite.

E dessa, algo me diz que não vou me esquecer.   


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?