Paixão Pós-morte escrita por RoBerTA


Capítulo 17
A mulher do meu passado


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a Savanna pela recomendação ^^. Desculpem a demora e boa leitura. (leiam as notas finais.)



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-Caramba, isso foi sinistro.

Obrigo-me a concordar, enquanto continuo a olhar onde a estranha sumiu. Agora sou capaz de lembrar-me perfeitamente da mulher, que na época era mais jovem, sentada no carro verde, revelando seu gosto questionável.

Na época não me prendi a detalhes, tal como quem dirigia o carro que me tiraria a vida. Na verdade, nem dei muita importância para o fato que poderia ter morrido. Eu tinha onze anos, qual é.

-Não quero mais ficar aqui. Estou com frio.

Como se para comprovar suas palavras, ela se abraça, apertando os braços contra seu corpo. Isso não é nada bom. Se um fantasma está sentindo frio, é porque alguma coisa está muito errada.

Quando olho para ela, começo a ficar inquieto ao perceber sua palidez anormal. Tem alguma coisa muito errada acontecendo aqui.

-Você tem razão, eu acho melhor irmos. Agora.

Com isso ela começa a caminhar, passando na minha frente. Isso tudo está acabando comigo, e sem querer parecer muito suspeito, eu acho que minha aparência deve estar horrível. Fico torcendo para que nada de ruim aconteça, pois não saberia como resolver.

De repente ela para, me obrigando a parar também se não quiser atravessa-la.

-Não. Não. Não. Não!

Mal sou capaz de respirar enquanto ela se joga no chão, ajoelhada agarrando de forma desesperada seus cabelos vermelhos. Mal consigo encara-la, enquanto a vejo desaparecer diante de meus olhos, deixando nada mais que uma sensação de vazio acompanhada por um frio que só eu sinto.

-Manu!!!!!!!!!

Meu grito corta o ar, atraindo olhares curiosos. No momento não me preocupo como as pessoas me veem, apenas penso no que perdi.

Não!

Eu não posso pensar assim, eu não a perdi. Ela provavelmente está pregando alguma peça em mim, ou me testando, para ver se gosto mesmo dela. É isso, ela vai voltar. Por mim.

Tento, mas não sou capaz de comandar meu próprio corpo. Ele está congelado no lugar, impedindo qualquer movimento que não seja dos meus olhos, e do meu peito, que sobe e desce, reconhecendo o quão vivo estou.

Continuo assim, por um bom tempo, até que sinto uma mão no meu braço, que imediatamente me preenche com uma onda de aconchego. Não é o suficiente para fazer a dor passar, mas o suficiente para amenizar.

-Lipe, você ta bem?

Olho para uma Gabriela que parece bastante preocupada. Seu semblante esta sério, enquanto seus olhos tentar assimilar o quão ruim minha situação está.

Faço um sinal de afirmação com a cabeça, um completo oposto da minha negação interna. Enquanto a olho, provavelmente com uma cara de paisagem, fico repetindo uma ladainha que logo se torna uma prece.

Ela não se foi. Ela não se foi. Ela não se foi. Ela não se foi.

-Você ouviu o que eu disse?

Olho aturdido para ela, finalmente encontrando minha voz.

-O que?

Ela suspira frustrada, passa a mão nos cabelos e olha para o outro lado. Quando seu olhar volta para mim, sua expressão se ameniza.

-Você está bem? Porque, tipo, você está horrível. E muito pálido. Parece até que viu um fantasma.

Se ela soubesse...

-É, sim, estou ótimo. Fora uma pequena tontura, mas já ta passando.

Não consigo acreditar que consegui formar uma frase tão grande, e carregada de tanta mentira, mesmo estando um caco por dentro.

Seu olhar vacila, e ela parece lutar para acreditar em minhas palavras. Por fim ela aceita, mas não porque realmente acredita, mas sim porque não saberia o que fazer se de fato eu não estivesse bem.

-Eu queria então, bem, pedir desculpas. Você sabe, por tudo que eu disse ou deixei de dizer.

Dou um meio sorriso cansado para ela. Tudo que eu mais queria no momento era minha ruivinha de volta, mas sabia que ela não me perdoaria se eu tratasse sua melhor amiga mal.

-Não tem problema, aliás, só um pouquinho. Mas eu não sou gay, só para esclarecer. Eu não tenho um osso gay no meu corpo, apesar de respeita-los.

Sua expressão permanece vazia, e fico imaginando o que ela esta pensando, quando finalmente fala.

-Então acho que devo pedir duas vezes mais desculpas, por ter te compreendido errado também. É só que, sem querer ofender, – ou seja, ela vai ofender – você é tão esquisito! Está sempre sozinho, e nem teria amigos se não fosse por mim e o Tom, se é que ele conta. E eu odeio ter que admitir, mas Lauren não é de se jogar fora. Sim, ela pode ser uma piranha, mas como vocês, garotos, gostam de dizer, ela é muito “gostosa” – ela fez aspas com as mãos. 

-Tem outra garota que eu gosto.

Impressão minha ou seus olhos brilharam?

-Quem?

Como se eu pudesse responder.

-Você não conhece.

Impressão minha ao quadrado, ou eu vi algo como decepção em seus olhos?

Tão logo quanto veio, aquilo se foi, me deixando com minhas dúvidas.

-É, bem, boa sorte com ela então. Você merece. Aliás, não se preocupe, vou desinfestar a sua reputação, e vou te pintar como um super macho.

Com isso ela me deixa sozinho novamente, mas com controle sobre meus membros e minha voz. Voltar para casa não é uma opção, embora devesse ir lá primeiro, ver se Manu está. Algo dentro de mim, provavelmente um escudo contra a dor, me diz para não ir. E se ela não estiver?

Esse mesmo algo me diz que talvez, mas apenas talvez, aquela mulher maluca saiba de algo que pode me devolver Manu. E muito mais coisas sobre mim.

Se ao menos eu soubesse onde encontra-la...

É impossível tudo ser uma simples coincidência, o fato dessa mulher do passado aparecer justamente agora, com todas as respostas de minhas perguntas não ditas. E justamente quando ela aparece, Manu ter tido esse ataque e então desaparecer, mas diferente dessa vez. Porque dessa vez, não foi escolha dela. Isso fora o fato da mulher tê-la visto também. E caramba, que história é essa de Marcado?

Já decidido, volto o caminho para o cemitério, tentando, em vão, ignorar o buraco recém-formado em meu peito.

Aspiro o ar gelado e puro que o cemitério trás, junto com aquela sensação de lar. Loucura, eu sei.

Mais por impulso do que por qualquer outra coisa, deixo que meus instintos me dominem, ordenando que meus pés me levem a um destino desconhecido. Me sinto um imã atraído para um grande pedaço de ferro. Péssima comparação, eu sei, mas é a única forma de descrever o momento.

Fecho meus olhos, e meus pés simplesmente continuam a me guiar. É loucura, mas não sinto medo. Por que deveria? É, eu sei que isso ta parecendo possessão e todos aqueles trecos de exorcismo e tal, mas me sinto bem, tão bem quanto poderia estar.

Meu corpo para, e meus olhos se abrem, ignorando a luminosidade inesperada.

Estou no meio do nada, um lugar onde é verde em cima, e marrom embaixo. Não vejo ninguém a minha volta, ou era isso que eu pensava, até ver um vulto se escondendo por detrás de uma árvore.

Corro em direção ao vulto, e comparo a semelhança dessa árvore, com o salgueiro lutador do Harry Potter. Assustador.

Paro, e respiro, quase sem folego.

-Tem alguém ai?

Idiotice minha, eu sei. Poderia muito bem ser um maluco psicopata e assassino.

-VÁ EMBORA!

Pulo para trás, com o susto que aquela voz me causa. Inconfundível, era óbvio que pertencia à mulher cujo nome ainda desconhecia.

-Eu não vou embora até que me diga tudo que sabe. Tudo mesmo.

Quase como uma cobra, ela se esgueirou para frente da árvore, passando a mão em seu tronco áspero e seco.

Percebo que sua postura é defensiva, como se esperasse um ataque da minha parte.

-Tolo, por que me procurou?

-Eu já disse, preciso de respostas.

Frustação é pouco para descrever minha situação.

-Pois aqui está sua resposta. Vá embora, e torça para que ela se esqueça de você. Embora isso não sege possível.

Ela parece estar engasgando, quando percebo com certo horror que é o som de sua risada.

-Ela, quem é essa ela de quem você tanto fala?

-Aquela que decide. Aquela que todos temem. Aquela que Marca, e caça.

Quando sorri, percebo a falta de alguns dentes. Inconscientemente, dou um passo para trás. No cemitério, ela parecia bonita até. Mas agora, parecia que a idade pesava em suas costas. E não havia qualquer sinal de que algum dia já foi bela.

Alucinações, é isso que estou tendo.

E hormônios, é claro. Sempre culpe os hormônios, eles são maus.

-Por que não responde direto?

Eu estava começando a ficar brabo, de verdade.

-Resposta é resposta, independente da qualidade.

Resolvi desistir dessa tal de ‘ela’.

-Você viu a Manu, eu sei que viu. E depois ela sumiu. O que você fez com ela?

Ela me deu um sorriso quase solidário.

-Não foi de mim que ela fugiu. É do que está em mim. E logo estará em você.

-Olha senhora, para de ficar dando essas evasivas. Simplesmente fale o que sabe.

-Eu não posso. Ela não deixa.

Bufei irritado.

-De novo essa ela? Afinal, quem é essa ela?

-Nossa dona.

Ignorei o frio na nuca, e o peso da verdade que suas palavras carregavam.

-Como eu faço para a Manu voltar?

-Ela mesma vai encontrar uma maneira. Eu vi força dentro dela. Nem mesmo ela, pode ignorar isso.

 Balanço a cabeça indignado, e me preparo para dizer algo extremamente desagradável, quando a mulher levanta a mão, me interrompendo.

-Eu preciso ir. Posso senti-la. Ela não vai gostar de ver a nós dois juntos.

Ela se virou para ir.

-Espere! Qual é o seu nome?

Quando se virou, parecia decidir se contava, ou não.

-Pode me chamar de Sibila.

Então Sibila desaparece entre as árvores.

Logo quando não a vejo mais, sinto aquele frio familiar.

Felipe...

A escuridão se fecha ao meu redor, e me sinto cair.


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Notas finais do capítulo

Então, eu realmente adoraria se vocês pudessem dar uma passadinha nessa fic, http://fanfiction.com.br/historia/278103/Amor_A_19_Vista/, ela é muito especial para mim, foi a 1ª fic que comecei a escrever ^^. Besooooooooos