Premonição: Encurralados escrita por PeehWill


Capítulo 3
Capítulo 02: Sobreviventes


Notas iniciais do capítulo

Bem, este segundo capítulo é bem morno e com mais diálogos.
Aproveitem!



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26 de junho de 2011

Um dia se passou após o terrível acidente na caverna da montanha McKinley. Talvez Chase tenha esperado tanto pela viagem errada. Por que aquilo aconteceu realmente? Ele sentia-se com a mente pesada, carregado pela culpa de não ter conseguido retirar todos os jovens de dentro da caverna a tempo de se salvarem do trágico e assustador deslizamento. Estava sofrendo insônia e se sentia muito exausto durante todo tempo. Na semana que viria, não haveriam aulas, devido às perdas dos doze alunos mortos no acidente. Três corpos continuaram desaparecidos, mas logo foram dados como mortos pelo resgate e pelo departamento de polícia local.

Chase ligou a tevê, era uma manhã nebulosa e fria. O céu estava calmo, mas trazia a sensação de que o dia seria inquieto e não dava garantia de que ficaria instável. Sua mãe, Lily, havia saído. A televisão estava sintonizada no noticiário do canal sete, e ele ouvia atentamente a notícia:

"Achados os três corpos desaparecidos no deslizamento na caverna da montanha McKinley. Os corpos de Bryan Simons, Liza Hutcher e Colton Stanley foram encontrados esta manhã, depois de longas horas de busca realizada pelo resgate do corpo de bombeiros e pelos guardas da reserva florestal. As vítimas já haviam sido dadas como mortas..."

As imagens mostradas da caverna totalmente desmoronada e dos três corpos sendo carregados pelo resgate, em sacos pretos, trouxeram à tona lembranças incômodas que Chase fazia questão de não recordar. Estava muito confuso. Por que ele teve a visão do acidente antes mesmo dele acontecer? Seria uma coincidência ele ter conseguido salvar sete pessoas junto dele?  Como seria sua vida dali em diante? Não obteve respostas na própria consciência.

O repórter continuou:

"Alguns alunos confirmam o boato de que um dos adolescentes que estava na caverna avisou todos sobre o acidente, antes mesmo dele acontecer. E com isso, conseguiu retirar mais sete jovens do local, salvando suas vidas."

x-x-x

Em sua residência, Shane desligou a tevê com indignação. Sentia-se intrigado, mas ao mesmo tempo aborrecido com a situação em que o jovem de sua classe o colocara. Sua turma do futebol, quase por completa, havia morrido no desabamento. Se Chase pudesse tê-los retirado de lá a tempo, nada disso estaria acometendo sobre o grupo. Se Shane pudesse culpar alguém pelas suas perdas, esse alguém era seu colega de classe, Chase.

x-x-x

Naquela mesma manhã, por meio de uma carta, Chase recebeu o comunicado do memorial para os alunos formandos. Não fazia tanta questão de comparecer. Talvez fosse sua mente lhe avisando que ele seria bombardeado com indagações sem respostas. Inclusive, poderiam ser as mesmas que fizera para si este tempo todo.

Sua mãe não havia chegado e tudo estava um tédio. Resolvera deitar-se um pouco, o cansaço ainda se fazia persistente. Foi quando ouviu batidas insistentes na porta de sua casa. Ele rapidamente fora atendê-la, arrastando-se pelos cômodos. Era Oliver e sua amigável expressão de indiferença, que falhava em esconder seu desconforto.

— Cara, posso entrar? – Ele franziu a testa.

— Claro, entra. – Chase abriu a porta e deu passagem para o amigo entrar.

Oliver sentou-se no sofá, um pouco inconformado, tentando entender o que havia se passado. Chase sentou-se na outra poltrona, ficando ao lado do amigo e esperando que ele começasse o que tinha ido fazer ali.

— Cara, eu fiquei pensando no acidente de ontem, eu ainda não acredito no que aconteceu. – Oliver baixou a cabeça.

— Eu também não, Oli, foi tudo tão rápido... Foi tudo em um piscar de olhos. – Chase também baixou o olhar.

— Como... – Fez uma pausa –... Como soube o que iria acontecer?

A pergunta de um milhão de dólares.

— Como eu soube? Eu não sei exatamente... Sei que eu vi a caverna desmoronando, os gritos de pavor, todo o sangue... Tudo! – Seus olhos encheram-se de lágrimas.

— Sério, isso tudo foi muito estranho.

— Eu não gosto de lembrar nem um pouco disso, pena que não dá pra esquecer tão fácil. – Chase conseguira lembrar novamente do momento em que saíram da caverna, o rosto e as expressões de surpresa de todos do lado de fora, vendo tudo desmoronar diante de seus olhos.

O clima permanecia esfriando a cada momento, diferente do dia anterior. Estranhamente parecia tudo mais medonho e sufocante.

— Além do que, Oliver, eu sinto que algo vem me acompanhando desde ontem. – Olhou para a janela.

— Tipo? – Oliver falou em um tom de curiosidade, interessado.

— Algo que eu não sei explicar. É como se tudo se tornasse frio e como se eu estivesse sentindo uma obscuridade que não faço ideia de onde vem. Eu não sei... Não consegui dormir. Tive insônia, estou exausto e... – Passou as mãos nas têmporas.

Chase sentia que uma dor de cabeça viria em breve. Então, resolveu ficar com um analgésico à altura das mãos, para que não fosse pego desprevinido ou pudesse remediá-la antes que o atacasse repentinamente.

O celular de Oliver tocou. Era sua mãe, Mariah.

— Fala, mãe! – Fez uma longa pausa – Mãe? Eu sei, mãe... Tá, mãe... Não, mãe... Eu faço isso para a senhora. Tá! Abraço. Tchau! – Desligou, suspirando. Se tinha alguém que conseguia falar mais do que ele, era sua mãe. – É... Preciso ir, Chase. Amanhã, no memorial, a gente se fala. Você vai, não é?

— Claro! Vou sim. – Chase assentiu, mantendo sua decisão de ir na celebração apenas por cordialidade.

Chase viu Oliver sair pela porta. Depois de um abraço amigável, ele resolveu descansar um pouco, antes que outra pessoa impedisse que ele o fizesse. Logo mais à noite, sua mãe prepararia o jantar. Ele comeria e dormiria novamente, acordando assim, somente na segunda. Foi o ciclo que ele aceitou.

x-x-x

27 de junho de 2011

A noite havia se passado como uma tormenta. Mais uma vez, o jovem Chase havia tido insônia. Estava menos exausto e a dor de cabeça já havia partido. Mas a sensação de estar sendo seguido ainda não sumira. Ele preparava-se para ir até o ginásio da escola, onde o memorial aconteceria, para prestarem homenagem à vida estudantil dos alunos falecidos.

Depois que acabou de arrumar a blusa social branca de botões, sugestão de sua mãe, recebeu uma ligação de sua amiga, Allison. Demorou, até.

— Oi, Allie. – Permanecia sério.

Oi, Chase, como você está? Estava tão abalado, que pensei que não seria uma boa ideia te ligar ontem. Não queria atrapalhar, me desculpa. — Sua voz nervosa dizia muito mais do que as palavras.

— Tudo bem. Estou melhor que antes, mas ainda um pouco preocupado.

Bom, liguei para saber se você vem ao memorial. Eu já estou aqui com o Oliver. A gente fez questão de chegar antes da cerimônia e do discurso do diretor. Não que eu goste de ouvi-lo falar.

Um sorriso de canto brotou nos lábios do rapaz.

— Estou a caminho, saindo de casa. Até mais, beijo. – Chase desligou.

Sua mãe o viu atravessando a sala de maneira apressada.

— Já vai, meu filho? – Lily sentou-se no sofá.

— Sim. Quanto mais cedo essa formalidade acabar, melhor. – Ele apontou para a gravata preta em seu pescoço.

Sua mãe assentiu, sorrindo e acenando em seguida. Não era segredo que ela estava contente de ver o filho se recuperando de alguma forma. Não poderia negar que pensamentos obscuros passaram pela sua cabeça e que no estado em que se encontrava, Chase era um alvo fácil de problemas como depressão.

x-x-x

Chegando ao ginásio da Ashford High School, Chase avistou Oliver e Allison acenando e sorrindo para ele. Então, calmamente, ele se encaminhou à arquibancada onde seus amigos estavam, enquanto passava pelos outros assentos.

Avistou o mural enfeitado com flores coloridas e as fotografias dos doze falecidos no trágico acidente. Ele respirou fundo e subiu os degraus da escada. Passou por vários alunos que aguardavam o início da cerimônia.

Também avistou Shane e Briana, o casal o encarava de longe. Eles estavam juntos de Jayden. E por último, se pudesse erguer o olhar, nos acentos de cima encontrou Katie e Preston. Os dois permaneciam calados, aparentemente temendo qualquer tipo de interação com ele, mesmo que fosse um aceno.

Ele sorriu de lado, meio desconsertado por todos estarem lhe encarando. E finalmente, conseguiu encontrar seus amigos camuflados em mais um dúzia de adolescentes.

Ele sentou-se ao lado de Allison, vendo Oliver se inclinar para mostrar um sorriso em sua direção.

— Oi. – Alisson cumprimentou.

— Oi.

— O que foi aquilo?

— Aquilo... O quê?

Allison não queria ser tão direta, mas não achava sua paciência uma característica admirável.

— Aquilo que você fez, no dia do cidente. Você nos avisou. Como isso aconteceu? Como sabia? – Ela falava baixo para não despertar atenção dos outros alunos.

— Como eu já disse ao Oliver. Allie, eu não sei explicar. Tive uma visão do acidente, foi isso. – Colocou as mãos sobre os joelhos.

— Essas coisas inexplicáveis são estranhas demais até pra você. – Ela continuou tremendo e tentando esconder o nervismo de estar ao seu lado.

— Não vai dar um treco aqui, Allison. – Oliver brincou.

— Não enche, Oliver! – Olhou para o homem que se aproximava do púlpito, ao lado dos enfeites.

O diretor Quentin Sprinter era um diretor correto e sério. Sempre dando sermões e avisando seus alunos sobre os perigos que a vida os proporcionava. Era tudo um jogo para ele, chamando-o de "O Jogo da Vida". Era um homem mediano, carregando uma barriga grande. Tinha calvície, além de um bigode não-convencional e uma barba rala já grisalha. Vivia com sua gravata listrada e com um lenço no bolso esquerdo da blusa, mas o paletó preto disfarçava o acessório.

— Prezados pais e alunos, estamos todos aqui reunidos para orar pelas vidas dos jovens que tiveram suas vidas arrancadas dias atrás. Sentimos muito, mas cada um deixou seu marco nesta escola...

Chase podia ver claramente mães e pais sendo consolados por outros familiares. Alunos muito sentidos com toda aquela situação. Mulheres com seus lenços, sendo acalentadas. Tudo estava sendo difícil para todos. Aquele dia seria um dia muito difícil para ele também.

Talvez, o mais difícil para todos.

x-x-x

Alguns minutos se passaram desde o fim da cerimônia e os jovens se viram conversando no refeitório da escola. Suas mentes estavam embaralhadas com todo aquele turbilhão de pensamentos pessimistas.

— Eu ainda não entendo... Por que tivemos uma nova chance? – Intrigada, Allison se encolheu na cadeira.

— Porque o destino deve gostar muito da gente. Por esse motivo, é melhor a gente aproveitar enquanto há tempo. Estamos aqui vivos, quer prova maior que isso? – Oliver abriu os braços, abrindo um sorriso cínico em seguida.

Uma moça alta e uniformizada trouxe uma bandeja com três sucos de diferentes sabores. Os jovens esperavam que fossem tranquilizados ao tomarem algo gelado. Mas na verdade, não seria fácil pararem de pensar no acidente envolvendo seus colegas de classe. Eles eram os adolescentes com quem conviviam todos os dias.

Repentinamente, Katie se aproximou dos três, uma face aliviada. Aparentava estar tranquila, mas por dentro, afogava-se em um mar de medo.

— Obrigada, Chase. – Ela sorriu, surpreendendo-os ao sentar-se à mesa.

— Pelo quê? – Ele encarou-a, confuso.

— Por ter me tirado da caverna, eu estou viva por causa de você.

— Olha aí, nosso herói! – Oliver tocou seu ombro.

— Sem gracinhas, Oli. – Chase fuzilou o amigo com o olhar. – Por nada Katie, mesmo que eu não me ache um herói.

Realmente Chase não possuía motivos para se achar um herói. Pelo contrário, lamentava por ter tido uma visão horrenda. Seria tão mais fácil se não tivesse sido daquela forma. Eles morreriam rapidamente e tudo se resolveria seguindo seu curso normal. Seria doloroso, teria mas teria evitado muitas outras sensações ruins. Agora, isso iria afetá-los muito mais do que pensavam.

— Fala aí, parceiro! – Jayden anunciou sua chegada antes mesmo de se aproximar da mesa. – Desculpa por chamar atenção e tal... Sei que você não quer isso.

Allison não conseguiu esconder a expressão de desgosto e revirou os olhos. Entreolhou-se com Katie, vendo a oriental suspirar, orando para não ter que aturar a personalidade de Jayden por muito tempo. Mas é muito cara-de-pau mesmo. Pensou. Katie já vira várias vezes Jayden fazer coisas que ela não julgava certas, sabia do que ele era capaz de fazer, tendo provas do seu caráter duvidoso.

— Estou surpreso. Você nunca foi de falar comigo, se dirigir diretamente a mim, sabe? – Chase estreitou os olhos.

— Vamos esquecer as mágoas do passado, parceiro, zerar o placar. Eu vim agradecer por ter me tirado daquela roubada. Vai ver, se não tivesse dado chilique, eu estaria morto. – Fez uma pausa dramática. – Não poderia curtir minhas noites, fumar... Isso seria ruim.

— Ah não... – Allison torceu o nariz, enquanto tentava não erguer sua tez para encará-lo.

— Sai daqui, Jayden, por favor! – Katie hesitou muito, antes de pedir.

Jayden, apesar de ser um dos artilheiros do time de futebol ao lado de Shane, e de pegar muitas garotas, costumava agradar, em sua maioria, às líderes de torcida e garotas ingênuas, que não sabiam o risco de se machucarem ao se envolverem com um jovem popular e intenso como ele. Muitas delas aceitavam a condição pela sonhada reputação e por conta das vantagens sociais que lhe eram garantidas dentro da escola. Jayden estava bastante ciente disso.

— Falou, então! Depois a gente conversa, parceiro. – Ele apertou a mão de Chase, que retribuiu indiferente.

Depois que Jayden saiu, as duas garotas ficaram comentando sobre o jogador e Oliver ouvia tudo, dividindo a atenção com seu suco. Simplesmente o campo estava amplo para ele. Isso, porque segundo ele, depois dos jogadores do time de futebol, ele fazia parte de um grupo indispensável na cadeia alimentar e seu narcisismo não o deixaria desacreditar naquele pensamento.

O quarteto ficou ali conversando até o horário do almoço. Foi quando se despediram e se dividiram, cada um para sua respectiva casa. Cada um deles precisava refletir e digerir sobre tudo o que viveram. Alguns mais do que os outros.

Afinal, eles obtiveram uma nova vida.

 


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Notas finais do capítulo

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