Acordo em meu quarto novamente. Os aparelhos estavam todos ligados outra vez. Com certeza, tive outra parada cardíaca.

 Tiro a máscara de ar que haviam colocado em mim, e sento na cama, me sentindo desconfortável. Olho para a mesinha de cabeceira e abro a gaveta onde eu guardava os lápis e papéis. Eu também guardava ali os aviões de papel que o garoto havia escrito para mim.

 Me pergunto se ele não se preocupou com a minha ausência.

 Lembro do primeiro dia que nós nos falamos. Ele havia falado que eu era a primeira pessoa que ele confiava. Talvez eu houvesse traído a confiança dele, agora.

 Passo a mão nos aviões de papel, e pego um aleatório, abrindo-o. Sinto meus olhos encherem de lágrimas. Eu provavelmente não conseguiria sair daqui tão cedo de novo.

 Eu quero vê-lo.

- Senhorita – Uma das enfermeiras me chamou, e eu a olhei. Meu pai havia vindo me visitar. Eu estava feliz, mas ao mesmo tempo...

...Ele era a última pessoa que eu queria ver.

 Ele havia prendido o garoto que não havia feito nada errado, além de tentar continuar vivo na rua. Ele maltratava os presos. Ele era uma pessoa horrível.

 Agora que eu sabia a verdade, eu não queria que ele sorrisse gentilmente para mim. Mas eu também queria que ele simplesmente falasse que aquilo era outra pessoa, eu não sei. Eu o amo, mas eu o odeio ao mesmo tempo agora.

 Ele se sentou do meu lado.

- Como está se sentindo?

 Não respondi, apenas olhei para a janela.

- ... – Ele parou, mas logo olhou para o papel em minha mão – O que é isso? – Ele perguntou tirando de mim, lendo-o em seguida.

 Eu o olhei, apavorada. Qual seria a reação dele.

 Vejo seu rosto sorridente se distorcer em raiva.

- Quando você saiu daqui?! Você fugiu do hospital?! Você tem noção do quanto isso é perigoso?!

- E-Eu...

- Você não vai vê-lo mais. Nunca mais – E dito isso, ele amassou o papel, jogando-o no chão. E então eu senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, e meu estomago revirar.

 Não, não, não, por favor, diga que isso é mentira...

 E então ele saiu do quarto, berrando com os enfermeiros, mandando dobrar, triplicar as pessoas que tomavam conta de mim. Xingava eles e os chamava de inúteis. Eu me levantei da cama, desamassando desesperadamente o papel e logo depois, apertando-o contra mim, enquanto chorava.

 Eu sabia que meu tempo havia diminuído por causa das fugas, mas eu não me arrependia. Eu sabia que não podia mais me mover como da primeira vez, mas ainda assim...Eu queria o ver de novo, apenas uma última vez...

 Porque ele havia virado o motivo de eu querer continuar respirando...