Acordo, olhando para o teto branco. Será que ele estaria preocupado comigo? Eu sentia meus olhos marejarem novamente. Já fazia duas semanas que eu não o via.

 Eu precisava vê-lo. Não queria deixá-lo preocupado.

 Levanto da cama, apesar do desconforto e da dor. Tiro os fios de mim um por um. Coloco o meu chapéu e saio do quarto, correndo, com todas as minhas forças.

 Assim que passo pela saída do hospital, vou caminhando rapidamente até a enorme cerca que eu tanto conhecia. A cerca que me separava do garoto que eu gostava.

 Será que ele vai estar lá, me esperando mesmo depois de todo esse tempo?

 Quando chego mais perto, o vejo sentado encostado no edifício. Assim que me vê sorri e fica de pé, correndo até a cerca. Sinto meu coração acelerar uma batida. Eu amava aquele sorriso.

 Mas era a última vez que eu iria vê-lo.

 Minha vontade de chorar volta, mas eu a controlo, sorrindo de volta pra ele. Pego um papel no bloco com as minhas mãos trêmulas, e começo a escrever.

‘’Desculpe não ter vindo nas últimas semanas. Eu estava ocupada organizando as coisas para ir pra casa. Mas, como eu estou indo pra longe, pelo visto não irei mais voltar a te ver outra vez. Só vim me despedir de você hoje...Sentirei a sua falta...’’

 Assim que ele lê, olha pra mim confuso, e podia ver que também estava triste. Viro de costas, pronta pra começar a andar de volta para o hospital.

- Estarei te esperando! – Ele gritou.

 Olho pra ele confusa. Nós não podíamos falar ou iam puni-lo. Porque ele estava fazendo isso agora?

- Eu confio em você...Sei que iremos nos encontrar de novo...Não é? – Ele continuava falando para mim.

 E com os olhos marejados, eu acenti, mentindo pela primeira vez, e segurando as minhas lágrimas. Eu não queria que ele as visse, não queria que se preocupasse.

 E assim, com o coração doendo, eu voltei para o hospital, de onde nunca mais sairia.

***

 ‘Quanto tempo já se passou?’, eu me perguntava.

 Eu já não conseguia mexer nenhuma parte do meu corpo. Eu apenas sentia que ainda estava segurando firmemente o último avião de papel que ele havia me mandado. E as palavras dele daquele dia ecoavam na minha cabeça.

 Escuto uma das máquinas começar a perder o barulho compassado, que marcava as batidas do meu coração.

 Dessa vez eu sabia que ele ia parar de bater permanentemente.

 E, pela primeira vez eu sinto o desespero. Eu não queria morrer. Eu queria te-lo aqui junto comigo.

 Eu escutava alguns enfermeiros gritando histericamente que eu precisava de ajuda. Sinto alguém segurando a minha mão, provavelmente meu pai. E sinto as minhas lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

 Eu me arrependia. Agora eu chorava, mas queria não ter segurado minhas lágrimas na frente do garoto. Queria ter dito tudo a ele.

 Mas já era tarde.

 Eu já me sentia fraca, já não ouvia quase nada. As imagens do garoto passavam repetidas vezes pela minha cabeça.

‘Eu te amo’ – foi a última coisa que eu pensei antes de tudo ficar completamente escuro.

 E de relance, eu podia jurar tê-lo visto estendendo a mão pra mim, e sorrindo.

 E eu também sorri. Pela última vez.