For Amelie - 1a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 15
XV - Extremas revelações


Notas iniciais do capítulo

Música: Easier to run (Linkin Park)
Beta reader: Keli-chan



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_ Tá tão quieta, Mel. - comentou minha mãe durante o jantar.

_ Não é nada mãe.

_ É alguma coisa com certeza. Se quiser me contar, conta, mas não vou insistir, tá.

_ Tá.

Continuei fatiando o bife. Ela terminou e levou o prato dela pra pia.

 

It's easier to run

É mais fácil correr
Replacing this pain with something numb

Substituindo essa dor por algo insensível
It's so much easier to go

É muito mais fácil fugir
Than face all this pain here all alone

Do que encarar toda essa dor aqui sozinho

 

_ Ah mãe... Estou com medo.

_ De quê? - perguntou, virando-se e recostando na pia.

Levantei e também deixei o prato na pia. Me encostei na pia como ela fizera e comecei:

_ De fazer tudo de novo...

_ Você já não percebeu que está diferente?

_ Está, mas... Sei lá. Quando eu resolvi confiar no Thiago ano passado...

_ Ah Mel... Sei que deve ser difícil confiar novamente nas pessoas quando traem nossa confiança. Mas você tem que levar em consideração que existem pessoas e pessoas... Nem todo mundo é igual.

_ Tá, eu sei. Mas e se eu der o azar de novo?

_ Esteja preparada. Mas não perca as oportunidade por medo do que pode acontecer. Tenho certeza que você viverá melhor enquanto se arrepender do que fez, e não do que não fez.

Continuei quieta refletindo sobre o que minha mãe disse. Ela sofreu comigo. Então se ela estava preparada para enfrentar tudo novamente, por que eu não poderia estar?

_ Você tá certa, mãe. Como sempre. Obrigada.

Ela me deu um abraço e me chamou de boboca depois de me soltar.

Lavei a louça enquanto ela tomava banho, e fui dormir com a consciência mais leve.

 

Something has been taken from deep inside of me

Algo foi tirado bem do fundo de mim

The secret I've kept locked away no one can ever see

Um segredo que tenho mantido trancado, ninguém pode sequer ver
Wounds so deep they never show they never go away

Ferimentos tão profundos nunca mostrados, nunca desaparecem
Like moving pictures in my head for years and years they've played
Como figuras se movendo em minha cabeça por anos e anos elas passam

 

 

_ Bom dia, fujona!

O Aquiles estava no pé da passarela, me aguardando.

_ Bom dia, abelhudo.

Ele me fez uma de suas lindas caretas, e começamos a subir.

_ Acho que temos que começar a trabalhar naquele livro... É pra semana que vem, não é?

_ Eu já li.

_ O quê?!

_ Eu já tinha lido... Saiu uma vez na lista de livros da Fuvest, e eu li por curiosidade.

_ Mel, você é tão cult... Você leu Macunaíma por curiosidade!

_ É um livro até que engraçado. Eu recomendo.

_ Ah não... Pode deixar que eu baixo uma resenha da internet e ficamos por isso mesmo...

_ O resumo é do livro inteiro ou tem que separar por capítulo?

_ Acho que só um resumo geral né... Ela não faria isso com a gente.

_ Tá certo. Também acho. Um resumo bem feito do livro inteiro deve ser suficiente.

Quando passamos pela portaria, notamos uma garota chorando, amparada por alguns amigos. Observei a cena com curiosidade, mas não fiz comentários.

_ Conheço aquela menina... - disse o Aquiles depois de passarmos por ela.

_ Ela não parece bem.

Ele encolheu os ombros e continuamos subindo. Alguns alunos desceram apressados em grupo e pareciam tensos.

Perto da escada encontramos com outra garota também chorando. Estava abraçada a outra que também parecia muito deprimida.

_ Nossa, o que está acontecendo? - ele me perguntou quando nos afastamos.

_ Não sei, mas parece que é sério.

Apertamos o passo até chegarmos na sala de SIC. Uma rodinha havia se formado e cochichavam todos ao mesmo tempo.

_ Ei pessoal, o que aconteceu? - perguntou o Aquiles se infiltrando na roda.

_ Não sabemos direito, mas parece que morreu uma aluna do 3°H...

_ Sério?

Eu preferi nem me aproximar. A conversa era muito mórbida para o meu humor. O Aquiles ficou tomando mais informações com o pessoal, enquanto eu fiquei encostada na grade, aguardando o início da aula.

Logo surgiu a Bia nas escadas acompanhada da amiga Bruna.

_ Gente, gente, vocês não vão acreditar no que eu descobri.

Todos viraram-se para ela, ansiando por novas informações.

_ A Natália se matou.

Ouvi todos prenderem a respiração. Não, era impossível eu ouvir uma coisa dessas. Fui eu quem prendeu a respiração ao ouvir a notícia.

_ Como é que é? - perguntou um dos meninos que não tinham mais medo de mim.

_ É, falei com uma amiga minha da sala dela, e foi isso que ela me disse. Ela se matou ontem.

 

(If I could change I would take back the pain I would)

(Se eu pudesse mudar eu o faria, tirar a dor eu tiraria)
(Retrace every wrong move that I made I would)

(Refazer cada passo errado que eu dei, eu faria)
(If I could stand up and take the blame I would)

(Se eu pudesse ficar e levar a culpa eu o faria)
(If I could take all the shame to the grave I would)

(Se eu pudesse levar toda a vergonha pra sepultura eu o faria)
(If I could change I would take back the pain I would)

(Se eu pudesse mudar eu o faria, tirar a dor eu tiraria)
(Retrace every wrong move that I made I would)

(Refazer cada passo errado que eu dei, eu faria)
(If I could stand up and take the blame I would)

(Se eu pudesse ficar e levar a culpa eu o faria)
(I would take all my shame to the grave)
(Se eu pudesse levar toda a vergonha pra sepultura)

 

Forcei minha respiração, pois já estava ficando tonta. O pessoal se aglomerou ao redor da Bia perguntando mais sobre a garota, mas eu não ouvi nada. Senti meus joelhos amolecerem, por isso preferi não sair do lugar.

Depois de alguns minutos a professora apareceu e abriu a porta. Relutantemente os alunos adentraram a sala.

_ Vamos Mel? - chamou o Aquiles ao notar meu transe.

_ Sim.

Eu o segui e nos sentamos próximos à porta. A sala fazia um silêncio tenso.

_ Bom pessoal, acho que vocês já sabem da fatalidade, não é?

A turma consentiu em silêncio, e aguardou pelas próximas palavras.

_ A aluna Natália Gomes da turma 3°H faleceu ontem. Tivemos uma reunião com os coordenadores e a direção, e decidimos dispensá-los por hoje. As informações sobre velório e enterro foram afixadas nos murais de aviso, para quem tiver vontade de comparecer. Então acho que é isso, podem ir.

_ Professora! - chamou a Bia.

_ Sim?

_ É verdade que ela se matou cortando os pulsos?

A professora hesitou.

_ Não temos informações concretas, mas parece que ela cometeu suicídio, sim.

O pessoal ainda ficou mais alguns segundos digerindo a informação, e então começaram a sair. Eu fui uma das últimas junto com o Aquiles.

_ Espera um pouquinho Mel, assim a gente desce junto.

Ele me puxou até a rodinha que se formou no corredor.

_ Caraca, a menina se matou mesmo... - começou um.

Eu fiquei quieta apenas ouvindo os comentários. Eu não podia condená-la. Somente ela deveria saber a dor que estava sentindo.

 

It's easier to run

É mais fácil correr
Replacing this pain with something numb

Substituindo essa dor por algo insensível
It's so much easier to go

É muito mais fácil fugir
Than face all this pain here all alone

Do que encarar toda essa dor aqui sozinho

 

_ Eu não sei nem quem é... Quem era ela? - dessa vez foi o Aquiles que perguntou.

_ Era uma gordona que andava com uma magrela. - explicou a Bia.

Parece que um dos motivos do suicídios está bem evidente”, pensei comigo mesma, e com raiva pela forma como a Bia se referiu a ela.

Coitada...

_ Não sei, Bia.

_ Como não sabe? Era uma dos cabelos bem curtinhos do 3°H que andava com uma baixinha magricela... Andaram até dizendo que elas eram namoradas...

_ Nunca ouvi essa história...

_ Nunca sentiu o bloco vibrar também? Era ela passando por aqui... - ela não resistiu e soltou uma risadinha – Ai gente, desculpa, mas não resisti.

Que nojo que senti dela naquele momento. Os outros olharam repreensivos pra ela, mas não disseram nada.

_ Ah, convenhamos, todos vocês sabem que ela era bem gorda, não é?

_ É, isso é... - alguns concordaram.

_ Ela realmente era assustadora... Por isso estava sempre sozinha, ou com aquela outra esquisita. - continuou com aquela vozinha irritante. - Eu só falei uma vez na vida com ela, pra nunca mais... Sabe aquela impressão que você tem que a pessoa tá te olhando com fome?

_ Você não pode respeitar nem mesmo uma pessoa morta, Beatriz? - As últimas palavras saíram mais altas do que eu pretendia.

É, fui eu quem disse isso. Eu não aguentava mais aquela conversa. Poxa, a menina estava morta! Tinha cometido suicídio, e ninguém dava a mínima! E provavelmente havia se matado por culpa de pessoas como a Bia.

Ela ficou me encarando aturdida.

_ Você a conhecia? - me perguntou.

_ Não, mas não preciso conhecer pra respeitar. Se você ainda não notou, ela se matou por causa de palavras como essas que você acabou de dizer, e mesmo assim parece que você não se incomoda.

_ Tá dizendo que foi por minha culpa?

_ Estou dizendo que você é vil.

Ah, eu não suportaria continuar olhando para a cara dela. Me virei e deixei o grupo.

_ Espera Mel, vou com você...

_ Sua amiga Beatriz precisa mais da sua companhia. - disse em tom de recusa enquanto descia as escadas.

Andei depressa para deixar logo aquele lugar, aquela atmosfera... E para esquecer aquelas palavras.

Então era assim que funcionava? Se eu conseguisse me matar, viraria outra piada?

_ Que gente mais estúpida... - reclamava sozinha entre dentes.

Quase corri quando passava pela portaria. Às vezes olhava para trás. Eu queria mesmo que ele não me seguisse. Estava irritada, chateada, enjoada... Não queria ter que explicar minha atitude para ninguém.

Cheguei ao ponto e ainda me sentia acelerada. Andei de um lado a outro me perguntando porquê o trólebus demorava tanto.

Ela se matou e ninguém nem se importou... Ninguém nem sofreu.”

Bom, vimos três garotas chorando na chegada. Talvez fossem lágrimas de culpa. Quantas pessoas ali não eram culpadas pelo suicídio da menina?

_ Pare de pensar nisso... Não tem nada a ver com você... Você não vai fazer isso, não precisa pensar no que aconteceria. - murmurei a mim mesma tentando me acalmar.

Suspirei fundo para não deixar um pranto descontrolado se iniciar. Sentei no banco do ponto e escondi meu rosto entre os braços pousados no joelho.

Era inevitável fazer uma relação entre o recente acontecimento e aquela manhã em que minha mãe teve um mau pressentimento ao deixar a garagem e voltou para se certificar que era apenas um pensamento bobo.

 

Sometimes I remember the darkness of my past

Às vezes me lembro da escuridão de meu passado
Bringing back these memories I wish I didn't have

Trazendo de volta essas memórias que eu desejava nunca ter
Sometimes I think of letting go and never looking back

Às vezes penso em deixar e nunca olhar para trás
And never moving forward so there'd never be a past
Porém nunca seguir adiante nunca haveria passado

 

A Natália não teve a presença de espírito que eu tive naquele dia. Talvez ela não tinha tido tempo para pensar nas consequências... Os comprimidos levariam mais tempo do que um corte no pulso. Dava mais tempo de voltar atrás, pois certamente a Natália também voltaria. Ela com certeza se daria conta que fazendo o que fazia só estava entregando a vitória aos seus inimigos, ferindo injustamente quem se importava com ela.

Aquilo era tão injusto... Um grupinho de adolescentes medonhos tendo tanto poder sobre a vida de outra pessoa...

_ Oi...

Levantei a cabeça, mas olhei para a direção oposta. Não respondi nada.

_ Tá tudo bem?

_ Sim.

Ele ficou quieto por alguns segundos, então sentou-se ao meu lado.

_ O que foi Mel? Você não a conhecia mesmo?

_ Não.

_ Então o que foi?

_ Nada.

Ele suspirou.

_ Certo. Se quiser falar, estarei aqui.

 

(If I could change I would take back the pain I would)

(Se eu pudesse mudar eu o faria, tirar a dor eu tiraria)
(Retrace every wrong move that I made I would)

(Refazer cada passo errado que eu dei, eu faria)
(If I could stand up and take the blame I would)

(Se eu pudesse ficar e levar a culpa eu o faria)
(If I could take all the shame to the grave I would)

(Se eu pudesse levar toda a vergonha pra sepultura eu o faria)
(If I could change I would take back the pain I would)

(Se eu pudesse mudar eu o faria, tirar a dor eu tiraria)
(Retrace every wrong move that I made I would)

(Refazer cada passo errado que eu dei, eu faria)
(If I could stand up and take the blame I would)

(Se eu pudesse ficar e levar a culpa eu o faria)
(I would take all my shame to the grave)
(Se eu pudesse levar toda a vergonha pra sepultura)


Ficamos ambos imóveis e em silêncio. Um trólebus se aproximou, mas era o dele. E ele continuou onde estava. E o trólebus foi embora.

Logo outro se aproximou, e dessa vez era o meu. Mas eu não queria ir para casa. Queria ficar ali com o Aquiles, mesmo que fosse em silêncio. O trólebus foi embora, então ele disse:

_ Perdemos um trólebus.

_ Eu notei.

_ Vem.

_ Hum?

Ele agarrou minha mão e me puxou.

_ Aonde você está indo?

_ Estamos indo ao shopping tomar um milk-shake.

_ Não, eu não quero...

_ Você vai querer assim que chegar lá, vai, vamos logo.

Preferi não discutir. Não estava em condições de vencer um debate.

Subimos a passarela em silêncio e caminhamos em direção ao shopping. Fizemos todo o trajeto da mesma forma até a praça de alimentação.

Fiquei aguardando-o numa mesa enquanto ele pegava dois milk-shakes.

_ São de ovomaltine. Uma delícia.

_ Não está meio cedo para o shopping estar aberto?

_ É, a maioria dos shoppings só abre às dez, mas o pessoal daqui começou a servir café da manhã e lucrou com os alunos.

_ Ahn. - Provei um gole do treco que ele me trouxe. - É mesmo muito bom.

_ É uma maravilha!

 

Just washing it aside

Apenas lavando
All of the helplessness inside

O desamparo profundo
Pretending I don't feel misplaced

Fingir que não estou fora do lugar
It's so much simpler than change

É muito mais simples que mudar

 

Ele tomou um grande gole do dele, enquanto eu remexia meu copo de um lado a outro. Ele tirou o celular do bolso e discou para alguém.

_ Pai? Sou eu. - Silêncio – Tá sim. Posso ir amanhã? - Mais uma pausa – Nada sério. Depois conversamos. Tá. Outro, pai. - E desligou.

Ele continuou tomando o milk-shake fingindo não estar preocupado comigo. Eu acabei sorrindo sem querer.

_ Ahh, isso é muito bom! - disse, apontando para o meu rosto.

_ Seu besta.

_ Quer mais um?

_ Nem terminei esse aqui...

_ Vou pegar um pretzel. Não saia daí!

Como ele era bobo, meu Deus... Mas tudo bem. Apesar disso, era a pessoa mais amável que eu já conheci na vida. Logo ele estava de volta com uma caixinha de pretzel de chocolate.

_ Pedi cobertura extra, por 50 centavos. Pega aí. - disse quando colocou a caixinha sobre a mesa.

_ Eu tentei me matar ano passado.

Eu não sabia como contar, então era melhor ir direto ao ponto. Ele me fitou mas não disse nada. Nem mesmo parecia surpreso. Bom, seria mais fácil assim.

 

It's easier to run

É mais fácil correr
Replacing this pain with something numb

Substituindo essa dor por algo insensível
It's so much easier to go

É muito mais fácil fugir
Than face all this pain here all alone
Do que encarar toda essa dor aqui sozinho

 

_ Eu tomei doze comprimidos de paracetamol. Sabe, aquele pra dor...

_ Sim...

_ Então, tomei doze de 750 mg. Ou seja, nove gramas. Mais que o dobro do máximo diário permitido.

Fiz mais uma pausa, para o caso dele ter alguma dúvida, mas isso não aconteceu. E eu não sabia se ele estava muito chocado ou confuso...

_ Mas eu logo recobrei a consciência, e vomitei todos eles. Então minha mãe chegou e me levou ao médico.

Ele continuou me encarando sem reação. Coitado, era realmente uma situação desconcertante. Eu não saberia o que dizer a alguém que me revelasse tendências suicidas.

Ele pegou um pedaço do doce e perguntou:

_ Por que você fez isso?

_ Porque eu não estava dando conta. Minha mãe também estava sofrendo. As pessoas da minha escola faziam piadas sobre mim. Me xingavam, vandalizavam meus materiais, passavam trotes para minha casa... Até pra minha mãe falavam besteiras. Ela foi conversar com a diretora muitas vezes, mas isso não adianta... Nessas horas, é tudo brincadeira de criança.

Ele pegou mais um pedaço.

_ Por que faziam isso?

_ Eu não sei Aquiles. Mas não deve ser difícil notar que tenho o estereótipo do bobo da corte.

_ Pelo amor de Deus Mel! O que você está dizendo?! Tá me dizendo que você mesma se entrega para esse tipo de situação? Percebeu que é você mesma quem se rotula como esse tipo de pessoa?

_ Ah tá! Então agora está me dizendo que eu pedi para ser o Judas da escola?

_ Não! Estou dizendo que você permitiu isso.

_ É, eu não devia ter te contado isso.

_ Ei, calma! Tá, me precipitei. Fiquei irritado com o que você me contou...

_ Eu não deveria ter te contado, assim você não ficaria irritado e tudo continuaria como era antes.

_ Muito pelo contrário. Foi melhor assim, Mel. Agora eu entendo um pouco dessa sua aversão pelas pessoas... Mas... Como isso começou?

_ Ah, sei lá... Eu sempre tive esse ar arrogante. É inconsciente... Então acho que resolveram me dar uma lição. Tá certo que às vezes eu acho que mereço mesmo uns corretivos, mas... Foram muitos corretivos. Muito cruéis, eu diria.

_ Hum-hum.

Ele pegou mais um pedaço do doce. Eu arrisquei pegar um pedaço também. Mastigamos por alguns segundos, e ficamos quietos mais alguns.

_ Mas... Toda essa sua proteção que você criou ao seu redor... É tudo por culpa das brincadeiras de mau gosto? Ou fizeram alguma coisa em especial?

Como ele sabia? Estava tão evidente assim? Ruborizei ao pensar no que contar.

_ Ahn... É, eles exageraram um pouco nas brincadeiras.

_ O que houve? - perguntou imediatamente.

Pensei um pouco, escolhendo as palavras.

_ Nem todos os meninos faziam isso. Um deles era meu amigo. Ele até me defendia de vez em quando...

_ Hum.

_ Acabei me apaixonando por ele. E então nós namoramos por um tempo.

_ E não deu certo?

_ Não. Era mais uma brincadeira.

_ Hã?

_ Era uma brincadeira. Eles fizeram um acordo, um trato, sei lá... Pra escolher quem ia me namorar. E depois se divertirem com os fatos... Sei lá o que eles queriam de verdade... Mas foi isso. O nome dele era Thiago. Era não né... Afinal ele não morreu. - sorri entre nervosa e encabulada.

Ele continuou sem ação.

_ Quando ele terminou comigo ele me contou. Bem, ele não chegou a terminar de fato, ele simplesmente me contou, então eu deveria entender que estava terminado... A última coisa que ele me disse foi que a única coisa bonita de verdade em mim era o meu cabelo. Ele sempre elogiava o meu cabelo quando estávamos juntos. Era isso que ele elogiava.

Bem, eu tinha terminado. Havia conseguido cumprir minha missão. Não tinha mais nada para contar. Mais nada que precisava ser contado.

 

It's easier to run

É mais fácil correr
(If I could change I would take back the pain I would)

(Se eu pudesse mudar eu o faria, tirar a dor eu tiraria)
(Retrace every wrong move that I made)

(Refazer cada passo errado que eu dei)
It's easier to go

É mais fácil correr
(If I could change I would take back the pain I would)

(Se eu pudesse mudar eu o faria, tirar a dor eu tiraria)
(Retrace every wrong move that I made I would)

(Refazer cada passo errado que eu dei, eu faria)
(If I could stand up and take the blame I would)

(Se eu pudesse ficar e levar a culpa eu o faria)
(I would take all my shame to the grave)
(Se eu pudesse levar toda a vergonha pra sepultura)

 

_ Eu terminei. Se quiser, pode falar. - depois disso fui obrigada a rir, de desespero, claro.

Mas ele continuava sem saber o que dizer.

_ Eu vou trabalhar com meu pai toda segunda, quarta e sexta. Você percebeu que eu troquei meu turno né? - riu de uma forma diferente.

_ É, eu notei... Ele te paga como um funcionário?

Decidimos os dois fingir que nada havia acontecido?

_ Sim... Mas o salário é compatível com minha carga horária, então não é lá essas coisas...

_ Mas já é alguma coisa. Fora a experiência profissional, não é mesmo...

_ Desculpa falar disso, mas é que eu não quero xingar essas pessoas na sua frente Mel. Você não merece ouvir o que estou pensando.

_ Continue falando do seu serviço Aquiles, estou interessada.

Ele colocou uma das mãos sobre meu braço e sorriu gentil.

_ Meu pai é analista de risco. Ele quer que eu trabalhe com segurança de informação.

_ Isso é muito... Bom...

Eu estava falando do serviço dele. Também.

Continua

 

 

 

~*~

Notas esclarecedoras:

Pessoal, desculpa não ter explicado anteriormente, é que geralmente o que usamos com frequência, imaginamos que seja natural em qualquer lugar! ^^ //erromeu,sorry!

Trólebus: É um ônibus movido a eletricidade. Similar aos ônibus convencionais, roda por meio de pneus de borracha e não sobre trilhos, como o fazem a maioria dos veículos elétricos (como trens ou bondes). A energia chega através de hastes, denominadas tecnicamente como alavancas que ficam sobre a carroceria, em permanente contato com a fiação específica que acompanha o percurso. Os trólebus têm parte de sua estrutura elétrica baseada nos bondes que nos Estados Unidos são conhecidos como trolleys, daí o nome trólebus. Fonte: Wikipédia

Na fic: Menciono o corredor metropolitano operado pela empresa Metra, que vai de Ferrazópolis (em São Bernardo) até São Mateus (em São Paulo), ou até Jabaquara (São Paulo tb). Curiosamente é o meio de transporte que uso pra ir trabalhar. Só curiosamente! ^^

Mas ele realmente passa em frente à ETE Lauro Gomes, onde curiosamente cursei meu ensino médio. E onde curiosamente faço faculdade, pois inauguraram uma FATEC no último bloco da ETE. //¬¬

Curiosamente estou escrevendo curiosamente.

É uma linha normal de transporte coletivo, passa a cada 5 ou 10 minutos, mas claro demora mais quando você está com pressa. Curiosamente!

Fotinho: http://www.abve.org.br/destaques/2009/Trolebus11Metra.jpg


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