Here, There And Everywhere escrita por Shorty Kate


Capítulo 2
Ringo POV


Notas iniciais do capítulo

Deixei o capítulo mais cedo já que amanhã mal terei tempo para estar aqui ao computador.
Enfim, para quem lê a minha outra fic "With A Little Help From My Friends", também fiz update...infelizmente do último capítulo :C
Mas, desta fic ainda vai haver mais. Isto é, se vocês quiserem...



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Já estou há um bom tempo a ver-me ao espelho.

Ainda estou com a roupa que visto no dia-a-dia. Preciso mudar de roupa e sair. Em menos de uma hora preciso de estar a sair para o Wembley Stadium e ainda nem pronto estou. Mas ainda não consegui parar de ver a minha imagem. Não caibo em mim de tanta felicidade.

Já ouvi dizer que no documentário, no The Beatles Anthology, que os meus olhos sorriam ao ver o Paul e o George sentados à mesma mesa. Sem discussões. Sem desentendimentos. Só três amigos partilhando memórias de outros tempos. E a verdade é que estava mais do que feliz. Aquilo para mim era o sonho já que atravessávamos uma fase horrível em que ainda tínhamos processos jurídicos pendentes. Mas só estávamos três.

Claro…

O John tinha ido tomar uma chávena de chá, como sempre me convenço todos os dias. Que ele está ali ao virar da esquina, que ele está sempre quatro passos à minha frente. Sim, porque o John sempre tinha que ser primeiro! Se nesse dia estava apenas com o Paul e o George e eu estava daquela maneira, hoje estou fora de mim. Não vejo o John seguramente há mais de trinta anos. E não vejo o George há onze anos. E muita coisa se passou.

Mas aquilo que aconteceu depois de 1970 para mim nunca teve tanto interesse. Sempre soube que ser competência do John, do Paul e do George era desvantajoso para mim. Sempre soube que nunca iria fazer tanto sucesso como eles. Até mesmo tanto sucesso como queria. Mas não foi isso que me fez baixar os braços. Até porque eu não consigo manter os braços quietos…!

Fui até ao pequeno estúdio que tenho em casa, onde tenho a minha bateria e toda a minha tralha, como a Maureen lhe chamava e como agora a Barbara lhe chama. Ah, mas eu não fico ofendido com o facto de elas chamarem as minhas coisas de “tralha”. Elas são mulheres; tudo o que é do marido é tralha e é posto numa divisão dentro de caixas de cartão! Vá lá que tive a sorte de ter uma divisão só minha, que não se chama nem cave nem sótão. Chama-se estúdio. E vá lá que tive a sorte de ter as minhas tralhas fora de caixas. E já que tudo é meu, eu faço uso e abuso do meu título de indivíduo do sexo masculino e deixo tudo espalhado no estúdio.

Eu às vezes divago um bocado, não?

Enfim, voltando ao porquê de eu ter ido para o meu estúdio. Primeiro, é o meu estúdio. Uma parte da casa que é mais minha do que mais alguém. E as pessoas sabem que eu sou um bocadinho possessivo em relação às minhas coisas. E segundo, porque é o meu refúgio. É onde tenho todas as minhas memórias dos nossos loucos dez anos.

Fui vasculhar nas prateleiras pregadas à parede, procurei por detrás de um móvel pequenino, (como se eu fosse grande para comentar um móvel que me ultrapassa a altura em meio metro! Sou divagador mesmo!!!) procurei dentro desse mesmo móvel e foi lá que encontrei a cassete. A cassete preta que tinha na tirinha de papel escrito: “The Beatles’ First US Visit, February 1964”. No fundo do meu estúdio, lá bem no cantinho tenho um pequeno sofá e uma televisão. Ainda tenho um VCR para reproduzir cassetes de vídeos e então sentei-me no sofá.

Carreguei no botão do comando remoto e o filme começou a rolar. Fui vendo o filme, avançando-o pois não queria perder tempo. E foi quando me apercebi: onde está o meu cabelo?! Deitei a mão à cabeça e senti o cabelo cortado tão curto que fazia lembrar os espinhos de um ouriço-cacheiro! Sinto falta do meu cabelo.

Lembro tão bem que eu abanava de lado para lado depois de o pentear. Avancei mais a fita e lá estávamos nós no quarto de hotel em Miami. O George a fazer a sua incidental música, o Paul a mostrar-me pinturas que tinha feito e a tentar alimentar as gaivotas à varada, que já agora foi total falhanço! E depois eu a pentear o cabelo em frente do espelho. Alisei os fiozinhos de cabelo todos e depois abanei a cabeça. Eu agora rio-me. Agora sim, já tinha o cabelo ao estilo de Ringo Starr. Se calhar vou voltar a deixá-lo crescer. Se calhar já não me ficava bem. Já não tenho aquela idade. Provavelmente ia ficar ridículo, mas é só uma questão de tentar…

Tirei a cassete do VCR e voltei a guardá-la no sítio. Ia-me vestir até que outra coisa me chamou à atenção. “A Hard Day’s Night”. É, o nosso primeiro filme. E aquele no qual estávamos “normais”, digamos assim. Não consegui resistir a voltar a sentar-me e a ver pelo menos duas cenas. As minhas favoritas: a cena na qual interpretamos a canção “I’m happy just to dance with you” e aquela em que nos divertimos no campo ao som de “Can’t buy me love”.

Assim que tirei a cassete para a voltar a guardar, desviei o olhar do móvel. E se eu encontrava outras cassetes? Ou outros filmes que fizemos? Assim não saía de casa nem amanhã de manhã! Podia ver um pouco do “Help!”, quer dizer, eu sou o “protagonista” desse filme, mas eu só queria era ver o George e o John. E o Paul também. Porque eu tenho saudades de tudo, mas a vida continua mesmo que eu não queira. Agora tenho mesmo é que caminhar para o quarto e começar a vestir a roupa antes que chegue atrasado. Isso até que ia ter uma piada: eu, que combinei este concerto, chegar atrasado!

Sim, assim que soube que o John e o George estavam de volta por três dias, tratei logo de dar a mim e ao Paul e aos nossos fãs o momento mais extraordinário das últimas décadas. E se calhar também ao mundo. Eu estou demasiado entusiasmado, demasiado contente. Tratei logo de pessoalmente ligar para o Wembley Stadium para saber se podíamos atuar lá. Logo quem me atendeu o telefonema disse que dois Beatles não iam chegar.

Quando lhe disse que os quatro de nós iam lá estar, senti a hesitação na respiração dele. Eu sabia que ele achava que eu estava a gozar com ele. Mas, charme de Ringo Starr, ou lá o que foi, eu dei a volta ao moço! Ele adiou o concerto do Justin Bieber só para nós. Pelos visto uns milhares de garotas choraram, berraram e insultaram a organização. Tentaram entrar à força para bater na primeira pessoa que encontrassem. Garotinhas de sete, oito anos! Mundo, o que é que te aconteceu? Espera, eu acabei de nos comparar ao Justin Bieber? Ao mais comercial do pop enjoativo do momento? Não acredito! Nós, os Beatles, fomos melhores. O rapaz pode e provavelmente é muito boa pessoa, mas não para a música! Não precisamos de mais coisas iguais! Não quero soar gabarolas, mas nós éramos uma banda de rock que tocava, mas que sabia tocar. Que escrevia as suas próprias coisas. Que revolucionou o mundo, porque, hei, passaram-se cinquenta anos e ainda nos conhecem! Cujo legado permanece, mesmo que nós já não estejamos cá…

Na minha altura, as garotas também berravam e choravam e desmaiavam por nós, mas elas já eram grandinhas. Se calhar algumas grandes o suficiente para saber que atitudes daquelas eram embaraçantes. Tinham idade suficiente para que nós pudemos fazer se- Ok, Ringo, estás a divagar outra vez!!! Mas elas eram umas formosuras, umas mais atrevidas- Quarto, homem! Caminha para o quarto! Quarto!

Fiquei com os jeans pretos e troquei apenas de camisa, por uma branca. Vesti por cima o blazer negro. Deixei os óculos em casa. As pessoas não conheciam o Ringo de vinte anos a tocar de óculos. Nem de argolas nas orelhas. Então deixei isso tudo em casa. Só me faltava mesmo o cabelo! Porque a minha alegria, o meu entusiasmo, a minha energia iam comigo.



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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: George POV! Curiosas? Ainda bem!!!
Agora, vá, comenta! Acho que soei como o Ringo! Pelo menos soei como eu mesma, isso vos garanto!