Here, There And Everywhere escrita por Shorty Kate


Capítulo 1
John POV


Notas iniciais do capítulo

Dá uma hipótese aí. Eu não sei para onde é que isto vai parar. Espero que a algum lugar bom!!!



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Fito o teto branco. Estou deitado sobre a cama a olhá-lo, nervoso, perdido, sem saber o que sentir ao certo. Um misto de sentimentos quer se apoderar de mim, mas eu não deixo e continuo calmo. Este é quase o final do segundo dia.

Já vi a minha mulher.

Que diferente que ela está. O cabelo curto, o chapéu, os óculos escuros na ponta do nariz. Não a reconheço como Yoko, como a mulher com quem casei, por isso simplesmente a visitei, e assim ficamos. Nem eu nem ela conseguimos dizer uma palavra. Passaram-se trinta e dois anos. Eu não a amo como amava. Ela acostumou-se a não me ter. Nunca ninguém se acostuma a viver sem outra pessoa, mas sentimento da perda atenua-se. Mas eu não a reconheço mais como a mulher com quem casei, e a verdade é que olhando para trás, sinto que mudei tanto por ela. Sinto até que ela me mudou, não propositadamente. Não era mais o John que costumava ser. Dos meus vinte até aos meus trinta anos, eu era rebelde, indomável, sarcástico. Dos meus trinta até aos meus quarenta, eu mudei radicalmente. Tornei-me um ativista, lutador pela liberdade e pelos direitos. Tornei-me numa pessoa diferente, que nem eu próprio conhecia. Foi como se uma nova personalidade de mim tivesse aparecido.

Tinha há pouco tempo feito quarenta anos...

Se algum dia alguém me puder explicar porque é que aquilo aconteceu...Fui assim tão ingrato e mau? Irritei assim tantas pessoas? Enfim, fechei os olhos para afastar esses pensamentos. Ainda me doem as costas, ainda lá tenho duas feridas. Ainda me dói o ombro esquerdo, ainda lá tenho duas feridas. Que mal fiz eu? E choro, pensando nisso. As lágrimas escorrem pelo rosto. Mas parei, recordei risadas. As risadas do Julian, as risadas do Sean. E sorri...

Já vi os meus filhos.

Que diferentes que eles estão. Estão crescidos. Em Dezembro de 1980, Julian tinha dezassete anos. Agora tem quarenta e nove. QUARENTA E NOVE! É mais velho do que a idade que eu consegui atingir. Ele parecesse comigo quando eu era jovem. Cabelos claros, olhos escuros e curiosos. E Sean tinha cinco anos apenas. Agora está com trinta e seis. Também ele quase tão velho do que a idade que eu nunca consegui atingir. Ele parecesse comigo quando tinha a mesma idade dele. Os óculos, as feições, o cabelo meio crespo. E ambos seguiram os caminhos da música, como eu. Julian tem aquele lado mais artístico que eu partilhava com Cynthia; sei que escreveu um livro e que gosta de fotografia. Já Sean parece mesmo só se dedicar à música, tal como eu e mãe.

Fui a essa coisa chamada internet. Vi então quem mais me faltava ver. Pelo menos, tive uma primeira impressão. Eles ficaram velhos também, constatei. Não fui só eu!

Vi como o George mudou. Como ele deixou crescer uma barba grossa. E nós que gozávamos por ele ser um garoto que ainda nem tinha atingido a puberdade e que nunca conseguiria crescer barba! Fiquei desolado por saber que ele deixou o mundo em 2001. Foi o tabaco, Georgie… Porque foste? Fazias falta ao mundo. Mas sei que ele sempre esteve acompanhado pela Olivia e pelo Dhani. Ui, até me arrepio a ver fotos do miúdo. Ele é uma réplica autêntica do George.

Ringo me impressionou. Para ele os anos parecessem não ter passado. Cortou o cabelo bem curto. Rapou o bigode que eu sempre lhe disse ficar ridículo. Passou a usar óculos todos os dias, continua com os mesmos quatro anéis e furou uma das orelhas. Achei que a Maureen estive entre os vivos também, mas não…Foi-se em 1994 e ele casou outra vez. Fez ele bem e foi avô bem cedo. Bem, ele sempre que foi o mais velho. Agora que se sinta velho!

E o Paul. Ah, agora quer ver quantas mulheres berram por ti, Macca! Ficaste velho, é inevitável. Todos ficamos velhos. Fiquei com pena dele. Foi ele quem segurou mais tempo um casamento e ele realmente amava a Linda e ela também teve que ir. Mas, o sacaninha gosta de mulheres mesmo. Já se casou duas vezes depois dela! E agora é pai de cinco e avô de seis…O que dizer a isto senão que ele é o Paul McCartney! Aquele Paul que eu tão bem conhecia.

E pensar que nos zangamos tanto…por nada. Dizes que fui o teu herói. Escreveste-me uma música. A minha reação foi deitar a mão ao ecrã. Queria chegar-lhe para um abraço.

E quis ainda mais depois de ver aquele vídeo dele. Aquele no concerto de tributo aos meus setenta anos. Quando ele apontou para cima e perguntou se eu o ouvia…chorei. E pensei no quão estúpido fui. Sempre foste meu amigo. Dediquei um pouco do meu tempo a ouvir-te a falar de mim e percebi que nunca me quiseste mal. Percebi que se tivéssemos tido uma oportunidade, resolveríamos tudo. Porque tudo foi agravado pelos media em cima de nós.

Mas hoje temos essa oportunidade.

Levantei-me da cama. A minha Rickenbacker estava a meu lado, ainda intacta e perfeita, tantos anos depois. Mal podia esperar por tocar nela outra vez. Mas agora tinha dores nas costas, e por mais que quisesse culpar a cama, não podia. Era hotel de cinco estrelas, o problema era meu. Eu é que estou velho. Setenta e um anos é muita coisa. Vi-me ao espelho. O meu cabelo está com algumas brancas entre os meus cabelos castanhos-claros, estou enrugado, mas ainda me vejo como o John de vinte anos. E era assim que queria aparecer em público.

Ao fundo da cama estava aquele que ia ser o meu fardamento para o concerto. Jeans, uma camisa azul clara e um par de sapatilhas. Olhei a cidade de Londres pela janela. Estava mais moderna, mas ainda era a cidade da qual tinha memória. Pelo menos isso não tinha mudado muito.

Vesti a roupa e vi-me outra vez ao espelho. Ri bem alto, sozinho naquele quarto. Mães, mantenham em casa as vossas filhas, John Lennon está de volta! Mães, fiquem em casa também! O que é que eu estava a pensar? Eu agora só tinha idade para avozinhas! Mas senti-me revitalizado. Senti-me novo outra vez. E tirei os óculos. Queria lá saber se era cego que nem um morcego. Isso nunca me impediu de dar concertos. Hoje não ia ser exceção.

Agora ia sair para o Wembley Stadium. Todos os bilhetes estavam esgotados. 15 Mil pessoas iam ficar de pé, a esmagarem-se umas às outras para um concerto nosso de duas horas e meia. Sim, um concerto nosso. O lance dos Beatles estava de volta por apenas uma noite. E nós íamos dar o nosso melhor, como sempre fizemos. E ver que passados cinquenta anos e ainda somos lembrados…


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Notas finais do capítulo

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